Edgar Morin, um dos maiores pensadores contemporâneos, participou este fim-de-semana no “Encontro sobre Educação”, promovido pelo Instituto Piaget, no campus universitário de Almada, para falar sobre a complexidade humana. Segundo o sociólogo, nunca se soube tão pouco sobre o ser humano, com os estudiosos a dedicarem-se ao estudo fragmentado do Homem: “O conhecimento do ser humano encontra-se em migalhas.”
Edgar Morin, pseudônimo de Edgar Nahoum, é um antropólogo, sociólogo e filósofo francês judeu de origem sefardita, pesquisador emérito do CNRS, formado em Direito, História e Geografia, realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia, discursou perante uma plateia de mais de 500 participantes sobre a pluralidade do ser humano – o ser económico, religioso, etc. – e explicou que “vivemos uma aventura de equilíbrio entre forças de união e forças de rutura.”
No final da sua intervenção, o pensador e humanista francês, atualmente com 98 anos, foi homenageado pelo Instituto Piaget, com o descerramento de uma placa à entrada da Aula Magna do campus universitário de Almada que passa, a partir de agora, a ter o seu nome. Autor de mais de meia centena de livros, a principal obra de Morin é constituída por seis volumes, La Méthode (O Método), escrita durante três décadas e meia. Trata-se de uma das maiores obras de epistemologia disponível no mundo.
Jérome Bindé, secretário-geral do Conselho do Futuro, outro dos oradores internacionais presentes no evento, alertou para os perigos do “apartheid educativo” atual, que alimenta o crime organizado e põe em causa o sistema democrático. De acordo com o escritor e futurista, a educação universal, pilar da democracia, tornou-se um negócio cada vez mais lucrativo e exclusivo das camadas mais ricas da população. “Há cada vez mais excluídos da globalização, uma triagem que arruina a promessa de educação universal, para todos, e ao longo de toda a vida, que deveria ser a grande prioridade. A nova economia da educação está a criar uma ‘bolha’ que pode potenciar uma crise financeira mundial e já está na origem de muitos movimentos de contestação no mundo.”
O professor A. Reis Monteiro, com mais de duas dezenas de livros publicados em Portugal e no estrangeiro, aproveitou o Encontro para lançar um desafio aos docentes: “O professor pode fazer muito mais do que faz, se não se resignar a ser apenas um funcionário público. A profissão de docente, tal como existe, não tem futuro. A educação é o maior poder e responsabilidade do mundo.”
Pelo seu lado, o professor David Rodrigues, conselheiro nacional de Educação desde 2015, falou sobre a contribuição das emoções na aprendizagem e no crescimento das crianças, tantas vezes descuradas pelo sistema de educação atual, que sobrevaloriza conhecimentos e palavras utilitárias. “Nesta ‘fast education’ está tudo pronto e descura-se a imaginação, o brincar, a previsão, o faz de conta, tão importantes para potenciar a autoconfiança, empatia, cidadania, solidariedade, dos mais jovens”, explicou.
Falando sobre a poética da educação e o futuro, António Oliveira Cruz, fundador e presidente do Instituto Piaget, concluiu: “Temos de repensar a infância, porque esta faz parte de nós adultos, e só crescemos porque temos a infância dentro de nós.”
O “Encontro sobre Educação”, promovido pelo Instituto Piaget, começou ontem e encerra hoje em Almada, com a participação dos pais da sociologia e da educação modernas e de inúmeros especialistas nacionais e internacionais. Por um auditório sempre cheio passaram este fim de semana cerca de duas dezenas de oradores. Ontem, na abertura dos trabalhos, o evento contou com a presença da presidente da Câmara Municipal de Almada, Inês de Medeiros.
O “Encontro sobre Educação” encerra as comemorações do 40.º aniversário do Instituto Piaget que sempre teve um papel preponderante na formação de educadores e professores, entre muitos outros profissionais de diversas áreas do saber, sobretudo no Interior e nas zonas periféricas dos grandes centros urbanos, em Portugal e ainda nos países da CPLP.
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Parabéns pela matéria. Grande tema, grandes autores. Edgar Morin aos 98 e ainda nos ajudando a entender o inapreensível ser humano.
Educar precisa voltar a ser ensinar a viver e não apenas a vencer...
um dos que passaram por várias vidas já me falou uma vez que educar para vencer é apenas preencher um vazio, apenas o seu vazio, sem incluir o daquele que foi vencido........................já educar para viver é detectar instabilidades no interior desse vazio para assim poder corrigi-las ou neutralizá-las
e todos com os quais cruzei, venceram na vida e seguiram sem tomar conhecimento dos vencidos
outro me falou, quase aos prantos, sem fim, que a vitória a partir daí é solitária
deles e delas, que passam, eu cuido ao meu modo, dentro deles e delas sendo eu........................................
se sentem saudades de campos floridos, eu crio um trem
se gostam de fotos, eu coloco o trem no meio, dividindo o campo e dobrando o número de fotos diferentes
e se morreram de amores em lágrimas, eu crio trilhas perfumadas com flores para que sejam inundadas de cores, até onde a vista alcança....................................eu vivo muitos, sonho muito
vidas em altares, em alturas para o êxtase da minha agonia de viver sem me conhecer
Além mar está muito além, como a educação nossa de cada dia não nos dão hoje, "éguas" que somos.