Em primeira entrevista ao jornalista Luis Nassif desde sua ascensão e queda da 13ª Vara Federal de Curitiba, o juiz federal Eduardo Appio revelou detalhes dos batidores da batalha para tentar passar um pente-fino na Operação Lava Jato.
Appio foi removido em definitivo da Lava Jato após um acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), motivado por uma representação com as digitais de Sergio Moro e do desembargador Marcelo Malucci (pai do genro e sócio do canal Moro). Hoje, Appio atua numa vara cível, enquanto Moro aguarda julgamento no CNJ por atos envolvendo o “orçamento secreto” de cerca de 5 bilhões que ele mantinha sob sigilo na 13ª Vara.
Na entrevista exclusiva para o GGN, Appio avaliou que a imprensa foi a principal responsável por catapultar as figuras salientes da Lava Jato, como Moro e Deltan Dallagnol. O empoderamento artificial subiu à cabeça e levou a uma série de irregularidades que ainda hoje são investigadas e reavalidas pelo Judiciário.
Para Appio, “Sergio Moro é um peão no tabuleiro, como outros agentes políticos foram. Ele não é o homem por trás da cena. Não é o articulador maior que detém o domínio de tudo que acontece no Brasil. Isso é uma redução da complexidade dos fatos. Existe uma conjulgação – e o título do seu livro não poderia ser mais apropriado, ‘a cospiração lava jato’ – uma conjunção de fatores que levaram a tudo que ocorreu.”
Sem rabo preso com o lavajatismo, Appio sofreu resistência da turma leal a Moro e Dallagnol desde o momento em que decidiu se candidatar para substituir Luis Antonio Bonat. Houve pedido de remoção impugnado por lavajatistas que usaram, entre outros motivos, a participação de Appio no programa semanal TVGGN Justiça, onde Appio, como professor de Direito, fazia análises críticas a Lava Jato.
Uma vez dentro da 13ª Vara de Curitiba, Appio constatou que não teria vida fácil como juiz titular. “Os servidores eram a memória viva da Lava Jato desde 2014”, mas seu time de assessores diretos foi esvaziado de propósito.
“O fato é que eu cheguei e só tinha uma assessora, que tive que colocar em indisponibilidade porque o Tacla Duran alegou que ela cometeu uma espécie de infidelidade funcional”, jogando nas mãos da Gabriela Hardt uma ação que questionava justamente sua atuação no caso dele, comentou Appio.
Depois de meses sobrecarregado, Appio pediu reforços à direção geral, à superintendência, ao TRF-4. “Eles nunca ajudaram em nada, lavaram as mãos. Depois tiraram as gratificações aos servidores da Vara, deixando todos com o salário pela metade de uma hora para outra. Depois, mandaram distribuir mais processos para a vara. Foi o caos. Em 2023 eu notifiquei o CNJ de que estávamos entrando em colapso e não sabia mais o que fazer.”
Mas tampouco o CNJ agiu para desafogar o juiz que prometia revirar os esqueletos no armário de Sergio Moro.
TACLA DURAN
Entre os esqueletos deixados por Moro em Curitiba, está o caso Tacla Duran, que acabou sendo o pivô do afastamento de Appio da Lava Jato.
Tacla Duran foi advogado da Odebrecht, uma das empresas investigadas na Lava Jato, e acusou Moro e seu padrinho de casamento, Carlos Zucolotto, de ter tentato extorção em troca de negociar um acordo de delação premiada com os procuradores liderados por Dallagnol.
Appio tentou viabilizar as condições para Tacla Duran depor sobre o caso, mas o desembargador Malucelli – cujo filho é sócio e genro do casal Moro – passou a decidir contrariamente. Foi quando Appio tentou apurar as ligações familiares entre os Moro e os Malucelli, colocando a suspeição do desembargador em pauta.
Quando lembra do caso Tacla Duran, Appio se pergunta: “se Tacla Duran não tivesse nada de relevante, por que essa resistência titânica em ouvi-lo?”
O juiz também conversou com Nassif sobre outros casos embaraçosos para Moro, como o do doleiro Dario Messer, do empresario Tony Garcia e do advogado Roberto Bertholdo.
Segundo Appio, a Lava Jato fez investigações seletivas, muitas vezes poupando doleiros ou grandes bancos, e em outras, perseguindo seus desafetos ou alvos políticos. E o pior: desvirtuando a aplicação das leis e lançando mão de expedientes como a tortura, para conseguir os famigerados acordos de delação premiada.
Appio lembrou que ao tomar posse da 13ª Vara, se deparou com casos de réus qe ficavam cinco dias sem tomar banho ou tomar sol, e eram isolados nas piores condições possiveis na carceragem da PF do Paraná, tendo familiaes ameçados pelas autoridades o tempo tudo. Tudo com a finalidade de induzir o investigado a delatar. “Chegamos a esse tipo de selvageria”, disse.
Para o juiz, foi o trabalho do ministro Luis Felipe Salomão que abriu caminho para que as figuras mais proeminentes da Lava Jato respondam por eventuais erros. “Agora uma luz se abriu.”
Appio narrou mais bastidores da Lava Jato no livro “Tudo Por Dinheiro: a ganância da Lavajato segundo Eduardo Appio”, de autoria de Salvio Kotter, a ser lançado pela editora Kotter a partir de outubro. A obra está em pré-venda e pode ser encomendado aqui.
Assista a entrevista completa de Eduardo Appio no canal TV GGN abaixo:
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Nasif:
Houve um comentário do juiz Appio sobre a prescrição do processo contra o moro por conta do Banestado;
Não se corre o risco desse sujeito e toda turma lesa pátria de acontecer o mesmo e sairem livres leves e soltos?