Educação e questão nacional

A crise instalada no estado do Rio de Janeiro é séria e tem como um dos resultados mais visíveis a ocorrência de greve dos professores da educação básica e superior, há quase quatro meses.

Longe de constituir um fenômeno limitado ao povo fluminense e carioca, a crise é bastante reveladora de traços característicos da preocupante cena política e econômica nacional.

O governo fluminense, bem como os espúrios agentes que se apossaram do governo federal, por meio de um grotesco golpe parlamentar-judicial-midiático, são expressões odientas da lastimável condição brasileira, remota e atual.

A crise, a qual experimentam o estado do Rio de Janeiro e o país, está longe de ser momentânea. Entre outros, é manifestação aguda da inserção subordinada do país na divisão internacional do trabalho.

O nosso crítico cenário deriva da acentuada queda dos preços dos produtos primários – o país e o RJ vivem deles –, reduzindo drasticamente as receitas obtidas com exportações.

Por outro lado, no Rio de Janeiro, a irrefletida e subserviente política de desonerações ao grande capital nacional e internacional compromete decisivamente a capacidade de arrecadação pública. Como exemplos, Nissan e Land Rover ficarão até o ano de 2050 com “tratamento tributário especial”.

Ao fim e ao cabo, produção de conhecimento, educação e pesquisa, se já não eram prioridade até pouco tempo atrás, no estado e no país, tenderão a pagar ainda mais a fatura dessa desafortunada opção pela dependência e a subalternidade externa.

Basicamente, o país e o estado desconsideram a produção autóctone de maquinário, equipamentos e recursos humanos dotados de capacidade criativa, devido à dependência externa e à sistemática importação tecnológica.

Com isso, inibem demasiadamente as potencialidades da escola e da universidade pública, amesquinhando os investimentos na educação, assim como a capacidade de geração de empregos adensados, que requeiram formação, saberes e talentos mais sofisticados.

Nesse sentido, a primeira medida que os testas de ferro do capital estrangeiro e da lumpemburguesia “nacional” está promovendo – é o que realmente são os vende pátria dos governos estadual e federal –  é a mais absoluta depreciação da educação pública.

Nos últimos anos foram fechadas cerca de 300 escolas da Secretaria Estadual de Educação. A Uerj e a Faetec encontram-se absolutamente inviabilizadas para o funcionamento.

Destruir o parco, mas importante, sistema público de ensino que temos no Rio de Janeiro não é uma ação episódica, apenas para satisfazer os pseudocompromissos da realização das Olimpíadas, deslocando recursos úteis para inutilidades, do ponto de vista social. Muito menos consiste em fenômeno restrito às divisas fluminenses.

Trata-se, isso sim, de uma ação exemplar e deliberadamente voltada ao obscurecimento de qualquer projeto de estado e nação.

O governo fluminense e o golpista governo Temer pretendem incrementar o status neocolonial brasileiro, entregando o nosso país e estado, com uma subserviência atroz, aos interesses dos conglomerados internacionais e do imperialismo, que apenas nos veem como fornecedores de mão de obra superexplorada e de matérias-primas e fontes de energia.

Acabar e retirar qualquer horizonte de futuro para a inteligência e a juventude brasileira é o projeto desses vende pátria. Para o capital, tal como constituído no sistema produtivo brasileiro – agro-minério-exportador e indústria desnacionalizada –, não há interesse em investimentos públicos na educação. Apenas visa ampliar a apropriação do orçamento para o ensino.

Somente a participação e a mobilização de professores e estudantes na defesa da educação pública não darão conta dos enormes desafios e riscos que se insinuam e já estão em curso no projeto entreguista e antinacional de tais agrupamentos no poder.

É necessário amplo envolvimento e interesse da parte esclarecida do povo brasileiro e fluminense, ciosa com os anseios e as necessidades da nossa gente e do nosso país.

Qualquer projeto de nação passa, forçosamente, pela educação. E ela, com não poucos problemas e limitações, encontra-se em franco processo de destruição.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

Redação

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