Finalmente, cai a ficha sobre o risco Bolsonaro, por Luis Nassif

New york, USA – August 18, 2017: Microsoft excel menu on laptop screen close-up

Nos anos 90, já havia identificado esse modelo de propagação da notícia.

A primeira onda é dos especialistas, que enxergam novos fatos ou novas maneiras de analisar uma questão. Ficam sozinhos por algum tempo até aparecer uma segunda onda, de analistas de primeira linha assimilando e difundindo os conceitos pioneiros.

O caso vai ganhando forma e, então, é assimilado pelo analista fast-food, o que responde exclusivamente às demandas do momento. Esparrama dos jornais para as rádios e TVs. O fast food pega a bandeira e sai desfilando pela avenida.

É o que acontece com a constatação tardia e, agora, na moda – de que a família Bolsonaro está montando um grupo paramilitar com os escalões inferiores da polícia e com seus aliados milicianos. Daqui a pouco, se não houver uma ação firme das instituições, haverá a adesão de empresas de segurança, dos garimpeiros e clubes de tiro.

No caso atual do Brasil, a onda inicial, de minimização dos arroubos de Bolsonaro, se deveu a dois elementos.

O primeiro, a má consciência coletiva do período anterior, de escandalização visando preparar o clima de confronto, tempos em que até mudanças em perfis de jornalistas em Wikipedia eram tratados como atentado à imprensa e compras de tapioca com cartão corporativo como crimes contra o patrimônio público.

Se fosse aplicar para o período Bolsonaro o critério da proporcionalidade, o estoque de adjetivação seria insuficiente. E poderia desmascarar o ativismo midiático do período anterior.

O segundo ponto a explicar a leniência com Bolsonaro foram as tais reformas. Dar corda a Bolsonaro seria um risco calculado para se obter a destruição final de qualquer forma de estado de bem-estar. Depois, ele seria jogado de volta à jaula. Só agora descobrem que a fera pouco se lixa para o chicote do domador-mídia.

Esses movimentos, de minimização do risco Bolsonaro, foram potencializados por uma nova praga que assola o país, os analistas políticos online – e não está se falando dos terraplanistas, mas de analistas com currículo.

Antes, eram fontes em permanente disponibilidade para a mídia, sempre dispostas a observações de senso comum, cobertas com o creme de leite dos currículos, sobre temas do momento. Agora, as demandas do Twitter obrigam a várias intervenções diárias. Como o desafio é ganhar curtidas e adesões, o analista não enfrenta as ondas. Só faz apostas pró-cíclicas, de confirmação da onda. E não poder mostrar dúvidas: o Twitter exige certezas cegas; dúvida é sinal de fraqueza.

Cria-se o cenário estático. Tipo, o futuro é o retrato do presente. Se as instituições seguraram hoje os Bolsonaro, significa que segurarão amanhã. Como eles gostam de dizer: é um dado, como se o conhecimento científico fosse decorrência da descrição estática do fato.

Análises de cenário exigem duas características básicas, que vão muito além do conhecimento das pesquisas eleitorais. Uma, o conhecimento e discernimento para identificar as forças determinantes, entender seus limites e potencialidades; pesquisas eleitorais são apenas um dos elementos de análise O segundo, a imaginação criadora de tentar prever a resultante final desse jogo de forças. São qualidades que não se aprende na escola.

Não é tarefa fácil. A maneira de separar o especialista do chutador é através da análise das premissas utilizadas e das conclusões finais. Não se trata de mero conhecimento especialista sobre pesquisas de opinião, mas da capacidade de entender múltiplos cenários, o dos diversos grupos de militantes bolsonaristas, dos fatores de impacto na opinião pública, os efeitos da economia, a maior ou menor coragem do STF e chegar intuitivamente à resultante final.

E não se trata de conclusões taxativas, mas de alertas, sinalizações. Tipo, se nenhum desses fatores for alterado, o carro irá em direção ao precipício.

É por isso que alertas de Marcos Nobre, filósofo, conseguem ir muito além das conclusões de cientistas políticos que se alimentam exclusivamente de pesquisas eleitorais e de fatos do momento.

Espera-se que a constatação do risco Bolsonaro estimule decisões dos demais poderes. Antes que o poder das milícias se torne irreversível.

 

 

Luis Nassif

17 Comentários

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  1. Sem ilusões. O ocupante da presidência da República não é causa,é efeito.
    Um ponto fora da curva desses não seria eleito se o terreno não estivesse preparado, é não estou me referindo somente ao período pré-golpe da presidenta Dilma e sim da nossa formação cultural,quase toda feita em períodos ditatoriais.
    Mesmo nas análises mais a esquerda, quando se fala nos milicos,existe uma crítica que traveste-se em admiração.
    Racionalidade e disciplina são palavras fáceis nessas análises, coisa que justamente não possuem e nunca demonstraram ter.
    Os milicos, é tem esse nome justamente por cadastre-se de suas características militares,são o principal pilar de sustentação desse governo, pilar construído ,infelizmente, com este tipo de análise míope, daí a admiração de parte da população.
    Assim,dizer que a ficha caiu,é uma tremenda ilusão que não resiste até o início desta próxima eleição, onde muitos tentarão, novamente, explicar o fenômeno do crescimento da extrema-direita ,só que,como já começaram a fazer,culparão
    a esquerda e não a sua campanha diuturna contra essa esquerda.

  2. O Bolsonaro não foi um ponto fora da curva, ele foi o resultado natural do ambiente criado pela mídia para aniquilar o governo. O que fazer agora que a imbecilidade tomou conta do país em todos os níveis? As trevas tomam conta do país às vésperas de uma das maiores crises econômicas mundiais! O cenário não podia ser mais desanimador!

  3. achas mesmo que isso poderá ser revertido? Suponhamos que derrubem o bozo qual a certeza de mudança que podemos vislumbrar? Depois de tudo o que fizeram e nenhuma tentativa para pará-los foi efetivamente feita, nem mesmo o uso de robôs foi barrado, desculpe Nassif mas estas a sonhar.

  4. Não vão reagir. Não agora; QUE TALVEZ AINDA DÊ TEMPO.
    Ainda estão preocupados com Lula.
    Temo que estejamos entrando num grande ciclo chinês pós-Revolução Taiping.

  5. Esta história dos descuido no estilo “deixa a vida me levar”, conforme foi visto em entrevista do próprio Zeca Pagodinho não funciona: “tá tudo muito chato, cara” palavras do próprio artista. O grave do descuido da mídia representante da elite atrasada é que deixaram correr e agora o câncer está avançado. Bolsonaro é apenas uma metástase. A coisa já vinha de tempos vindouros. Há 30 anos o sectário e nada democrático presidente da fiesp, Mário Amato, já praticava o terrorismo (auxiliado pela divulgação massiva da mídia) ao expor que 800.000 empresários deixariam o país se o Lula à época, fosse eleito (a mesma mídia que amplificou o tal twitter do general golpista que ameaçava o STF). A época, entrou o Collor e eles o impediram de governar. Depois de uma ditadura e uma velhaca nova república, não foi difícil ir implantando a intolerância e o cultivo do ódio. Agora o câncer vai tomando os órgãos, já tão enfraquecidos.

  6. Ainda tem o fator das eleições americanas.

    Em caso de derrota do atual presidente dos EUA. O Brasil ficará totalmente isolado no mundo. Principalmente se vencer o democrata Sanders.

    Longe dos EUA e da China por questões ideológicas, da Europa por questões econômicas, da África por questões raciais.

    Até na América Latina caminha para o isolamento.

  7. Há preocupações, principalmente, nas Forças Armadas, garantidoras de tudo, no Parlamento, no Judiciário e nas Procuradorias, todos enredados no golpe que se concretizou em 2016, tendo o apoio da mídia liderada pela Globo. Bolsonaro, que restou como opção para o golpe, após o turno do traidor, Michel Temer na Presidência, foi levado ao poder por essa gente, que com Paulo Guedes à frente da economia, continuaria a fazer as modificações necessárias para implantar uma nova estrutura, que resultaria em melhoria das condições de vida da população como um todo. Esse era discurso, leviano e enganador. Mesmo assim, a expectativa é implantar um estado autoritário, basta ver o discurso, os arroubos para dar mais poderes aos órgãos de repressão, às polícias, tendo sido criado o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que na prática possibilita agilidade na intervenção nos entes da Federação, onde, agora, está à frente uma das estrelas de primeira grandeza do golpe de 2016: Sérgio Moro. Três anos se passaram com essa gente no poder, e a realidade é bem distinta, já que os principais indicadores são decepcionantes: a economia não cresce (PIB próximo de 1% ao ano, ou abaixo), desemprego e subemprego generalizado, já envolvendo mais de 40 milhões de trabalhadores, dólar a R$ 4,40, saída de capitais (mais de US$ 20 bilhões), com investidores estrangeiros fugindo da BOVESPA, perda do grau de investimento que o país ostentava, aumento da pobreza e da miséria. Bolsa Família drasticamente reduzido e Minha Casa Minha Vida estagnado. Sérios problemas na área da saúde, educação e previdência. Tanto é que o poder de fato, que tem à frente as Forças Armadas, praticamente já ocuparam a Presidência da República, tendo o Bozo todo cercado de generais, porque está ficando claro que não demora, pela deterioração da economia, que está repercutindo na política, serão necessárias correções, que podem resultar no afastamento de Paulo Guedes e, no limite, a depender da evolução dos acontecimentos, o próprio segundo presidente do golpe, Jair Bolsonaro. Todos os golpistas estão agora envolvidos em salvar o projeto neoliberal-autoritário, que estão implantando, que está ameaçado, restando ainda colocar o Vice-Presidente, o também golpista, general Hamilton Mourão, para tentar levar o barco até 2022. Tudo está em forte ebulição, na extrema-direita no poder. Já existem fortes divergências em suas hostes, já foi perdida a segurança, quase certeza esperançosa que ostentavam. Estão com pouco ou nada para oferecer. O desfecho, ao menos esse passo intermediário (mudança no Ministério da Economia), talvez não demore. Os arroubos, agora, de certo modo oposicionista na política, e a continuação da forte sustentação da mídia, com as Organização Globo à frente, ao modelo de favorecimento do grande capital (internacional e no Brasil, liderado pelos EUA), este pode mudar desde que fique a mesma coisa, digamos uma renovação de promessas para ver se não assusta a patuleia, é o objetivo dos golpistas para continuarem no poder. É: a maré não está para peixe.

  8. Caro Nassif,
    O maluco obteve 58 milhões de votos nas urnas!!! Sim, regados a muita fake news. Mas deixaram o “mito” ser diplomado naquele 10 de dezembro. Com fake news e tudo. E, claro, com a benção da Grande Mídia que se sentia premiada naquele momento. Por isso pergunto: como extirpar um sujeito deste do poder com tanto voto na cacunda? Com milhões de seguidores achando que ele é o Salvador e não o destruidor da pátria! Com uma mídia dúbia que bate de manhã e assopra logo depois do almoço. Uma mídia que para mim basta um “piscarzinho” de olhos do Jair e correm todos para os braços dele. Lá tem o conforto da grana. Sinceramente? olha tô cético de tudo…

  9. Enquanto dizem que Lula está morto, ao mesmo tempo não param de chutá-lo.
    Alguém chuta cachorro morto? Eles se cagam de medo do Lula!!!
    E ele vai voltar a governar este País!

  10. É o jornalismo quântico, consciente de que a cada nova decisão abrem-se novas possibilidades, bastando escolher uma delas ou algumas delas para torná-las reais.
    Assim, nem o analista imediato nem o mediato estão certos ou errados.
    Falando sério, nenhum analista chegará a uma conclusão confiável a menos que tenha vivência, informação privilegiada ou meios infalíveis de impor a realidade prevista por ele.

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