Fora de Pauta

O espaço para os temas livres e variados.

Redação

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  1. No meio do caminho tinha uma

    No meio do caminho tinha uma algema
    Tinha uma algema no meio do caminho
    Tinha uma algema
    No meio do caminho tinha uma algema

    Nunca me esquecerei desse acontecimento
    Na vida de minhas retinas tão fatigadas
    Nunca me esquecerei que no meio do caminho
    Tinha uma algema
    Tinha uma algema no meio do caminho
    No meio do caminho tinha uma algema

    A pedra que havia no meio do caminho
    É a que apedreja
    Que cobre a vergonha pudica
    Mas no fim do caminho tinha uma algema
    E tem uma rocha no fim do caminho.

    (com o perdão de Drummond)

  2. O SENADOR MAC CARTHY E O

    O SENADOR MAC CARTHY E O MENSALÃO : PARALELOS HISTORICOS

    Joseph Mac Carthy foi um Senador americano eleito pelo Estado de Wisconsin em 1947. Juiz de carreira

    compensava a mediocridade e a falta de cultura juridica com rispidez e rapidez nos julgamentos.

    Chegando ao Senado em 1947, não se destacou pelo brilhantismo até que pegou um filão do qual extraiu capital de PATRIOTISMO, criando uma ideia de conspiração comunista no Departamento de Estado. Destruiu a carreira de veteranos diplomatas sob a acusação de filo-comunistas, sem nenhuma base mas seus discursos histéricos e desbalanceados INTIMIDAVAM o Senado, ninguem tinha coragem de enfrenta-lo porque ela atacava quem se lhe opusesse, dando a entender que qualquer oponente dele estava ajudando os comunistas e portanto podia ser comunista. A Comissão de Atividades Anti-Americanas que ele criou e presidiu não tinha limites ou contrapesos.

    Seu discurso inical que desencadeou uma campanha violenta foi em fevereiro de 1950, com diplomatas como primeiro alvo. Depois virou a artilharia do patriotismo contra artistas e diretores de cinema, jornalistas, escritores, dramaturgos, roteiristas, cientistas, mais de 1.000 pessoas foram submetidas a seus interrogatorios,

    sempre na tecla de uma “conspiração comunista”. Provocou grande quantidade de dramas pessoais, carreiras destruidas, exilios, como o de Charles Chaplin, que vivia há 35 anos nos EUA. Os ataques iam em um crescendo de histeria e agressividade, provocando tambem suicidios, como o do Senador Lester Hunt. Mas ai Mac Carthy partiru para atacar o Exercito e começou sua queda. Como não tinha noção de limites, era um sujeito agressivo mas pouco inteligente, não percebeu que o Exercito era um alvo muito mais poderosos que ele, o proprio Senado viu que suas teses e provas eram falsas e muito de seus discursos eram invencionices fantasiosas. Por uma moção votada em 2 de dezembro de 1954, por 67 a 22 o Senado lhe deu um voto de CENSURA, que é muito raro e que significa o fim politico de um congresista. Morreu tres anos depois de morte oficial por hepatite, na verdade alcoolismo.

    Mac Carthy teve um apogeu incrivel, apoiado por grande parte da  imprensa, temido por todos, até no Executivo, ninguem lhe enfrentava, mesmo os que percebiam que era um crapula. Ate hoje nos EUA se debate porque deixaram Mac Carthy ir tão longe e  desgraçar tanta gente boa.A explicação mais pausivel é o medo de alguem que se opusesse a ele passasse por IMPATRIOTA. Como dizia um grande filosofo ” O mundo seria um lugar melhor se os homens justos tivessem a audacia dos canalhas”.

    O julgamento do mensalão foi inteiramente orientado na direção de um linchamento politico. As penas são aberrantes no sistema juridico brasileiro. Como pode ser possivel Marcos Valerio ser apenado com 40 anos, o dobro da maioria dos assassinos, o goleiro Bruno que matou e sumiu com o cadaver de uma moça e por pouco não mata o

    filho dela teve metade da pena do operador do mensalão, uma empregada de agencia de Valerio foi apenada com mais de 10 anos, obviamente uma pessoa que estava lá pelo emprego e que recebia ordens do patrão. A teoria de “dominio do fato” é uma bizarrice juridica, alguem construi essa ideia mas ela está muito longe de ter aceitação importante nos sistemas juridicos, uma tese tirada da biblioteca para esse julgamento, nunca foi aplicada antes em casos de corrupção e veremos se será plicada no caso dos fiscais da Prefeitura.

    O julgamento de um colegiado como é uma Suprema Corte para ter legitimidade deve obedecer aos rituais tradicionais, onde cada um do colegiado dá sua posição e ao final se coletam os votos. Juiz de suprema corte contestar votos de outros juizes é algo inédito e contestar grosseiramente, agressivamente, passando lição é um constrangimento moral, viciando o processo. Mac Carthy tambem fazia isso, não admitia constestação a suas teses e quem lhe contestasse era submetido a agressão grosseira, essa era sua força, um mediocre que aterrorizava os demais Senadores porque ele punha na mesa a tese “quem me contesta é impatriota e vendido aos comunistas”. Esse terrorismo moral com apoio da imprensa especialmente da revista TIME e do jornal Chicago Tribune

    garantiu a ele 4 anos de glorificação pela midia, era uma celebridade nacional, capa de revistas e jornais, desde o inicio muitos bons cerebros percebiam a falsidade e a demagogia do Senador Mac Carthy mas ninguem tinha sua ousadia, essa era sua maior arma, tipos como Mac Carthy avançam sem limites enquanto ninguem lhe barra a passagem, esse processo é relativamente comum nas democracias, cometas que surgem do nada e chocam pela novidade, pelo imprevisivel, pela surpresa, pela audacia sem limites, pela prepotencia até esfumarem no ar.

    Qualquer semlehança é mera coincidencia, como diziam os filmes da MGM.

     

    http://historymatters.gmu.edu/d/6456

  3. Os falsos justiceiros deixam soltos os verdadeios bandidos
     Carlinhos cachoeira, bicheiro envolvido em vários crimes  Demóstenes Torres Cúmplice de cachoeira 

     

    Dadá, outro cúmplice de cachoeira

     

     

    Daniel Dantas, banqueiro preso na operação Satiagraha, entre outros crimes ofereceu suborno à um policial, fato gravado em vídeo, solto miraculosamente por dois HCs seguidos.

     

      Naji Nahas tambem preso na Satiagraha   Mandante da morte da missionária Dorothy Stang , solto pelo STF  STF mantém solto mandante da morte de Dorothy (Foto: Adauto Rodrigues/Arquivo)  Antonio Marcos Pimenta Neves, assassino da jornalista Sandra Gomide   Roger Abdelmassih, Médico que abusava de pacientes  José Roberto Arruda, Governador preso por corrupção logo solto pelo STF, pretende se candidatar em 2014 CONF-01-IE-2289.jpg

    1. Protegidos
       Esses ai são alguns dos protegidos da República da Globo, inaugurada ontem por Barbosa, e o Barbo ainda chama isso de “Refundação da República”: O tucano que matou vários fiscais do trabalho tá solto,  FHC tá solto pq seus crimes nem chegaram a Justiça, nem foram denunciados, o Azeredo tá bem tranquilo na tal “República Afundada”, ops, “Refundada” de Barbosa.,.., então tá!

    2. Dois pesos e duas medidas.

      “Aos vencedores, as batatas”

      Num país no qual o Poder Judiciário, obedece intrinsicamente ao poder economico, e à mídia, estas figuras acima, gozam da liberdade permitida pelo STF, e riem dos reus da AP-470, que estavam no poder, porem não eram “abençoados” pela direita.

  4. A beleza das “flores algorítmicas”

    Você acredita que estas flores são apenas códigos de programação?

    Sistema deixa softwares de edição de imagem de lado e aplica algoritmos para a composição das obras de arte Por Renan Hamann em 15 de Novembro de 2013

    (Fonte da imagem: Reprodução/Daniel Browns)

     

    À primeira vista, você pode achar que está diante de fotografias de flores. Olhando mais de perto, é possível perceber que se trata de uma obra criada em computador. Não é estranho imaginar que se trata de uma imagem montada em softwares de edição de imagens, mas a verdade é bem diferente: todas as flores presentes nesta notícia foram criadas com algoritmos e são compostas por puro código de programação.

    Isso mesmo, trata-se de uma fórmula de codificação que utiliza modelos matemáticos que não se repetem, o que gera as flores no final do processo. Como afirma o site Gizmodo, são apenas “bits coloridos e ordenados em rosas, orquídeas e inflorescências imaginárias”. Todo o material foi criado para o Museu de Zoologia D’Arcy Thompson, que fica localizado em Dundee (na Escócia).

    O site Creative Applications revela que os materiais não são fixos e podem ser recalculados com frequência. Isso permite que as flores geradas pelo trabalho virtual sejam facilmente alteradas para que se encaixem melhor nas diferentes exposições que possam estar acontecendo no museu. De acordo com o site, “utilizam-se formas e texturas retiradas e inspiradas pelas exibições no museu para produzir flores que crescem na tela como fotografias em um documentário com timelapse”.

    Galeria de Imagens

    (Fonte das imagens: Reprodução/Daniel Browns)

    O que se espera agora é que os jardins virtuais presentes no D’Arcy Thompson continuem evoluindo e ganhando novas formas por vários anos. De acordo com a variedade de exposições que são realizadas por lá, é bem provável que isso gere uma quantidade enorme de flores, cores e muitas outras variações pelos próximos anos. Se quiser saber mais sobre o artista responsável pelo projeto, você pode acessar o site dele por este link.

     

     

     

    Leia mais em: http://www.tecmundo.com.br/curiosidade/47108-voce-acredita-que-estas-flores-sao-apenas-codigos-de-programacao-.htm#ixzz2knTpF05S

  5. O VINHO BRASILEIRO

    Rio, 11 de novembro de 2013: O Vinho Brasileiro cada vez melhor

    O Brasil já conheceu a aristocracia do açúcar, os barões do café e da soja — está vendo agora prosperar a era dos CEOs do vinho.
    Proprietários, da família ou executivos, contratados pelas vinícolas brasileiras.

    Tudo a ver: dos ciclos produtivos que mudaram a economia do nosso país para melhor, nesses últimos vinte e poucos anos, um deles foi o negócio do vinho brasileiro. 

    E nem por acaso, negócio vem do latim: negar o ócio! 

    Porque a heróica legião de “oriundi” que deixou o Trentino, a Toscana, o Veneto e o Bergamo, por volta de 1870, para produzir o “fermentado da uva” na serra gaúcha, trabalhou muito para chegarmos a este estágio.
    Parênteses: além da parreira, plantavam árvores frutíferas, como a da tangerina, por isso o gaúcho chama essa fruta de bergamota! 

    x-x-x-x-x-x-x

    Chovia “cats and dogs” (os telhados ingleses são íngrimes para a neve e o granizo não os derrubarem, mas quando chove muito rolam lá de cima gatos e cachorros…) e a nossa simpática Yoná Adler nos aguardava para almoço no Aprazível, em Santa Teresa. 

    Pela casa, o atencioso Pedro Hermeto, proprietário (filho da Ana), sommelier e um bom RP.

    Do lado convidados, o Ricardo Farias, presidente da ABS-Rio; o Romeu Valadares, jornalista de Niterói e do mundo; o Schiffini e a mulher, Cecília; a Yoná, a Marianne (ambas Mistral) e eu.

    E, do lado “de lá”, a proprietária e diretora comercial da Vallontano (uma metáfora da expressão “piano, piano si va lontano”), a simpática e competente gaúcha Ana Paula Valduga.

    Abrimos os trabalhos com dois “intranquilos”: o Vallontano Espumante Brut, uma agradável assemblage de Chardonnay e Pinot Noir, com teor alcóolico de 12% (o que é cada vez mais raro — e ótimo) e o Rosé Brut, um 100% Pinot Noir. Ambos escoltaram umas beringelas marinadas e o ceviche.

    Brinquei que um é para o Natal (o rosé) e o outro para o Réveillon.

    O primeiro prato foi um escondidinho de camarão com purê de aipim organico, harmonizado pelo Vallontano Chardonnay 2013, um branco vivo, sem excessos de fruta nem madeira. Muito bom. Repito: sem aquelas “manteigas” do chardonezões!
    E, para comparar, o Vallontano Tempranillo Rosé 2013 — que, a meu ver, tem que crescer um pouco, ainda.

    Depois, com o principal — uma paleta de cordeiro assada lentamente, com canjiquinha mineira — “enfrentamos” o Vallontano Reserva – Cabernet Sauvignon 2008. Uvas: 100% Cabernet Sauvignon, teor alcóolico: 12,5% . Também muito bom: equilibrado, bom de nariz e boca. 

    E, com a sobremesa (manga maravilha) o Vallontano Espumante Moscatel : uvas Moscatel 100%, teor alcóolico: 8,2%. A “cara”do verãozão que vem aí.

    Todos a preços palatáveis — de R$ 43,00 a R$ 59,00.

    Esses vinhos são produzidos no Vale dos Vinhedos, RGS, em uma pequena empresa — os franceses chamam de “garagiste” — pelo incansável Luiz Henrique Zanini, com paixão e esmero.

    Recomendo, sobretudo, o espumante brut, o Valontando Chardonnay 2013 e o Cabernet Sauvignon 2008, ambos distribuidos pela Mistral. É presente de Natal e Dia de Reis juntos!

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    A vinha chegou ao Brasil trazida por Martin Afonso de Souza, em 1532. Agricultores, mestres de engenho e até alguns fidalgos, começaram então a cultivá-la, visando a produção da fruta e do vinho. Dentre eles, Brás Cubas, que muitos pensam ser apenas o personagem de Machado de Assis mas que um nobre português. Ao pisar aqui, se fixou no litoral paulista e lá, numa aldeota, aonde fundou a nossa primeira Casa de Misericórdia que, como a de Lisboa, era chamada de Casa dos Santos — daí o nome que acabou por batizar a cidade: Santos.

    Duzentos anos depois, com a descoberta do ouro em terras das Geraes, de Goiás e do Mato Grosso, São Paulo passou a ser um corredor de mineradores (Bandeirantes e Pioneiros) e essas terras cultivadas foram completamente abandonadas. 
    Só mais de cem anos depois, lá por volta de 1850, começou a verdadeira produção de vinho no Brasil, com a chegada da primeira leva de imigrantes alemães ao Rio Grande do Sul. Mas essa produção só ganhou escala uns vinte anos mais tarde, por volta de 1870, com a vinda de muitas famílias italianas, provenientes de regiões tradicionalmente ligadas ao vinho, com o Trentino, a Toscana, o Vêneto e Bérgamo (por isso é que gaúcho chama tangerina de bergamota, porque além da parreira eles plantavam árvores frutíferas). 

    Eram unidos e trabalhadores. 

    Mas o mundo gira e a lusitana roda…

    Alceu Dalla Mole, que assumiu em 2012 a presidência do Instituto Brasileiro do Vinho – IBAVIN – com o desafio de promover a democratização do consumo do vinho e a sustentabilidade da cadeia produtiva, em entrevista à “bíblia” que é a Revista Baco na sua edição especialíssima — Vinhos do Brasil, de julho 2013, com versão em inglês, se diz otimista.

    “Estamos dando continuidade ao trabalho iniciado em 2008 de reposicionar da marca “Vinhos do Brasil” conclui Dalla Mole.

    E os produtores, enólogos e distribuidores festejam as atuais conquistas do mundo vitivinícola brasileiro. Segundo o Marcelo Copello — veterano batalhador, diretor editorial da Baco, autor de livros sobre vinho e blogueiro , a produção nacional em 2012, bateu os 300.000.000 (trezentos milhões) de litros!

    E incorporou estados como Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Paraná ao mapa produtivo — ao lado, evidentemente, de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, redesenhando o mapa da vinha plantada no país.

    E por conta disso, continua Copello, o Brasil já mostra boa presença no mercado internacional. É o décimo nono país em área cultivada e o décimo quarto em produção, em um mundo de cerca de duzentos estados nacionais. 

    Ou seja, primeiro: o Brasil detém uma das mais avançadas tecnologias de toda a América Latina; segundo, embora o consumo ande à volta dos 2,2 litros ano/por habitante, não é exagero imaginar que podemos chegar a 5 litros ano de consumo per capita, como afirma o Sérgio Queiroz, diretor executivo dessa publicação, num futuro bem próximo; terceiro, nunca se investiu tanto “em vinho”, em divulgação, publicidade e mídia em geral, incluindo blogs, sites e redes sociais, abordando todo o universo desse precioso líquido. A ponto de já ocuparmos uma posição expressiva como exportadores.

    Em Londres, mês passado, encontrei num gastropub de Wimbledon — The Lawn Bistro — um Cabernet com Shiraz, Vinibrasil, da nossa querida Petrolina na carta de vinhos!

    E este ano até o Papa Francisco provou um vinho … paulista.

    Já não se fazem mais argentinos como antigamente…

    1. “Todos a preços palatáveis —

      “Todos a preços palatáveis — de R$ 43,00 a R$ 59,00”:

      Que horror, Claudio Jose!!!

      Eu nao conheco ninguem que toma vinho de 20 e 30 dolares.  Os melhores vinhos do mundo, tudo abaixo de 15 dolares, em qualquer loja de vinhos…  e eu escolheria um vinho brasileiro de 20 ou 30?!

      (De fato, vinho portugues de linhagem nobre aqui sao todos entre 6 e 9 dolares. Tem vinho mais caro, claro.  So que eu nao conheco ninguem que compra.)

  6. Nos tempos do engavetador-geral: refrescando FHC

    Por Cynara Menezes

    (Geraldo Brindeiro, o engavetador, ops, procurador-geral da era FHC)

    O que é mais vergonhoso para um presidente da República? Ter as ações de seu governo investigadas e os responsáveis, punidos, ou varrer tudo para debaixo do tapete? Eis a diferença entre Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva: durante o governo do primeiro, nenhuma denúncia –e foram muitas– foi investigada; ninguém foi punido. O segundo está tendo que cortar agora na própria carne por seus erros e de seu governo simplesmente porque deu autonomia aos órgãos de investigação, como a Polícia Federal e o Ministério Público. O que é mais republicano? Descobrir malfeitos ou encobri-los?

    FHC, durante os oito anos de mandato, foi beneficiado, sim, ao contrário de Lula, pelo olhar condescendente dos órgãos públicos investigadores. Seu procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, era conhecido pela alcunha vexaminosa de “engavetador-geral da República”. O caso mais gritante de corrupção do governo FHC, em tudo similar ao “mensalão”, a compra de votos para a emenda da reeleição, nunca chegou ao Supremo Tribunal Federal nem seus responsáveis foram punidos porque o procurador-geral simplesmente arquivou o caso. Arquivou! Um escândalo.

    Durante a sabatina de recondução de Brindeiro ao cargo, em 2001, vários parlamentares questionaram as atitudes do engavetador, ops, procurador. A senadora Heloísa Helena, ainda no PT, citou um levantamento do próprio MP segundo o qual havia mais de 4 mil processos parados no gabinete do procurador-geral. Brindeiro foi questionado sobre o fato de ter sido preterido pelos colegas numa eleição feita para indicar ao presidente FHC quem deveria ser o procurador-geral da República.

    Lula, não. Atendeu ao pedido dos procuradores de nomear Claudio Fonteles, primeiro colocado na lista tríplice feita pela classe, em 2003, e em 2005, ao escolher Antonio Fernando de Souza, autor da denúncia do mensalão. Detalhe: em 2007, mesmo após o procurador-geral fazer a denúncia, Lula reconduziu-o ao cargo. Na época, o presidente lembrou que escolheu procuradores nomeados por seus pares, e garantiu a Antonio Fernando: “Você pode ser chamado por mim para tomar café, mas nunca será procurado pelo presidente da República para pedir que engavete um processo contra quem quer que seja neste país.”
 E assim foi.

    Privatizações, Proer, Sivam… Pesquisem na internet. Nada, nenhum escândalo do governo FHC foi investigado. Nenhum. O pior: após o seu governo, o ex-presidente passou a ser tratado pela imprensa com condescendência tal que nenhum jornalista lhe faz perguntas sobre a impunidade em seu governo. Novamente, pesquisem na internet: encontrem alguma entrevista em que FHC foi confrontado com o fato de a compra de votos à reeleição ter sido engavetada por seu procurador-geral. Depois pesquisem quantas vezes Lula teve de ouvir perguntas sobre o “mensalão”. FHC, exatamente como Lula, disse que “não sabia” da compra de votos para a reeleição. Alguém questiona o príncipe?

    Esta semana, o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da presidência, colocou o dedo na ferida: “Os órgãos todos de vigilância e fiscalização estão autorizados e com toda liberdade garantida pelo governo. Eu quero insistir nisso, não é uma autonomia que nasceu do nada, porque antes não havia essa autonomia, nos governos Fernando Henrique não havia autonomia, agora há autonomia, inclusive quando cortam na nossa própria carne”, disse Carvalho. É verdade.

    Imediatamente FHC foi acionado pelos jornais para rebater o ministro. “Tenho 81 anos, mas tenho memória”, disse o ex-presidente. Nenhum jornalista foi capaz de refrescar suas lembranças seletivas e falar do “engavetador-geral” e da compra de votos à reeleição. Pois eu refresco: nunca antes neste País se investigou tanto e com tanta independência. A ponto de o ministro da Justiça ser “acusado” de não ter sido informado da operação da PF que revirou a vida de uma mulher íntima do ex-presidente Lula. Imagina se isso iria acontecer na época de FHC e do seu engavetador-geral.

    O erro do PT foi, fazendo diferente, agir igual.

    (texto publicado originalmente no blog em dez/2012) 

    http://socialistamorena.cartacapital.com.br/nos-tempos-do-engavetador-geral-refrescando-henrique-cardoso/

     

  7. Podres de ricos

    Blue Jasmine, novo filme de Woody Allen, trata da queda da nova fortuna feita de especulação e falcatruas de um casal de Nova York

    Blue Jasmine / Woody Allen

    Há algo nos trejeitos, e logo saberemos na insanidade, que aproxima a protagonista de Blue Jasmine, novo filme de Woody Allen em cartaz a partir da sexta 15, da notável Norma Desmond de Crepúsculo dos Deuses. Mas, se no clássico de Billy Wilder o declínio diz respeito ao estrelato em uma antiga Hollywood em ruína, nesses tempos atuais cabe melhor a queda da nova fortuna feita de especulação e falcatruas.

    Desse contexto tão corruptor quanto o outro Allen colhe sua Jasmine (Cate Blanchett), nome também fraudulento, apanhada num torvelinho quando o marido milionário (Alec Baldwin) é descoberto em seus golpes. Preso, se mata, destino recente de magnatas instantâneos de Manhattan. Mas há mais a ser revelado dos podres de ricos, como as traições amorosas do especulador e sua decisão de trocar a mulher pela babá. Jasmine tentará superar os traumas com uma irmã dita fracassada, com ansiolíticos e empregos ordinários, hábil que era até então apenas em gastar e ostentar

    Não é somente o abandono de uma estrutura repisada de crises e desencontros românticos que faz Allen surgir renovado. Também por rir do mundo que o cerca, e muito do seu, num tom cínico e amargo exemplar na cena final. Esta chega inesperada e só possível por contar com uma Cate Blanchett na plenitude e em desvario tão intenso quanto a Gloria Swanson de Wilder.

    http://www.cartacapital.com.br/revista/775/podres-de-ricos-2311.html/view

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=H-WSLM6D2ME%5D

     

  8. Entrevista com Dirceu
    ‘Fui escolhido como símbolo do ódio da elite contra Lula e Dilma’, diz DirceuPor Redação/ Fundação Perseu Abramo, via Fundação Maurício Grabois No momento em que aguarda o desfecho de julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, aproveitou uma entrevista para a Fundação Perseu Abramo, nesta terça, 10, para fazer um desabafo. “Fui o principal alvo da inveja de setores da elite desse País que não se conformam com a liderança do (ex-presidente) Lula no mundo e a vitória de Dilma. Fui escolhido para ser símbolo dessa mágoa, inveja e ódio disseminados em parte da sociedade contra nós”, afirmou.
    Marcio de Marco e Sérgio SilvaNesta terça-feira, 10, programa entrevista FPA ouviu Zé Dirceu

     

    “Não se iludam vou continuar sendo o Zé Dirceu do PT”, disse o ex-ministro da Casa Civil no governo Lula, José Dirceu, em entrevista na Fundação Perseu Abramo. A afirmação refere-se ao julgamento de Dirceu na Ação Penal 470 no Supremo Tribunal Federal (STF), marcado para esta quarta-feira, 11. Tranquilo, Dirceu afirmou também que este “é mais um capítulo, não o último, porque ainda cabem recursos”.

    A entrevista à tevêFPA, que bateu recorde de acessos, foi conduzida pelo economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo (FPA), na manhã desta terça-feira, 10, e transmitida em tempo real pela Internet.

    Acompanhado pelo filho, Zeca Dirceu, e por assessores, no auditório da FPA, o mineiro de Passa Quatro, que também é membro do Grupo de Conjuntura da FPA, respondeu às dezenas de perguntas enviadas por internautas, fez balanços da conjuntura política nacional e internacional, e advertiu como elementos-chave para o avanço da democracia que o Brasil passe por “reforma política, tributária e do judiciário”.

    Ao ser perguntado sobre como os últimos oito anos refletiram em sua vida, Dirceu demonstrou serenidade e não desviar do foco. “Vou continuar defendendo o PT e nossos governos. Meu objetivo central é o Brasil. Sempre foi assim, a política, o Partido, a democracia. Em 2015 dedico 50 anos da minha vida ao Brasil e 30 anos ao PT. Fui transformado em símbolo de todo o ressentimento contra os que mudaram o país, mas não perco o foco da luta. Nesse último período, não deixei de ser militante político. Estudei, trabalhei, aprendi muito, apesar de terem feito de tudo para que eu não pudesse trabalhar, mesmo sem nada que provasse algo contra mim. Aceitaram uma denúncia. Sou réu no STF e amanhã teremos mais um capítulo, não o último, porque ainda cabem recursos e vou recorrer à Corte Internacional”, completou.

    Novo desafio

    Personagem histórico da luta pela democracia no Brasil, Zé Dirceu valorizou as manifestações da juventude, iniciadas em junho, como um “novo desafio”. “Lógico que a juventude brasileira tem novos sonhos e esse é o desafio futuro dos novos políticos”. O ex-ministro reconhece os avanços no campo social para o combate à pobreza, nos últimos dez anos, mas acredita que é preciso “reequilibrar o poder”.

    Para isso, Dirceu defendeu a reforma política, como medida para haver um reequilíbrio eleitoral e superar a crise por que passa a democracia representativa. “As campanhas no Brasil são muito caras, o sistema político é dominado pelo dinheiro, induz à busca por financiamento privado; existe um sistema muito desequilibrado”.

    Balanço

    Ao fazer um balanço dos últimos 10 anos do governo do PT, o ex-ministro avalia que o Brasil se mostrou à altura de vencer as desigualdades e se projeta como país capaz de avançar na gestão pública. “Nesta década se aprofundou muito a pobreza e desigualdade em várias partes do mundo, mas temos desafios novos no Brasil”.

    Segundo o petista, os partidos de direita são os únicos a não reconhecerem esse progresso. “A direita brasileira está sem discurso no momento, está com o discurso no passado”, disse ele. “Ela não consegue pensar no Brasil como ele é. O Brasil é uma grande nação, e a direita brasileira não vê o Brasil como uma grande nação.”

    Também falou sobre a necessidade de discutir o papel do Legislativo e criticou a omissão do Congresso ao não propor uma reforma política. Ele defendeu a proposta de plebiscito, feito pela presidente Dilma Rousseff, em resposta aos protestos de junho.

    Ele também desmitificou velhos conceitos, utilizados pela elite econômica. Um deles, a respeito da carga tributária, que hoje está em 34,5%. “Se nós precisamos de recursos… O problema não é que é alta, mas não está direcionada para educação, SUS e mobilidade – grandes demandas do País que foram gritadas nas ruas”. E defendeu a reforma tributária, para que haja investimentos em serviços públicos, como saúde e educação. “Não é justo que quem ganhe menos, pague mais”.

    O ex-ministro reconhece os esforços que o governo tem feito para enfrentar a miséria, com programas como o Bolsa Família, e se diz confiante na questão dos royalties para saúde e educação. Outro exemplo desse esforço está no programa “Mais Médicos”.

    Dirceu também ironizou com o discurso elitista contrário ao programa federal de investimento no SUS. “Eu percorri várias cidades do interior, que os prefeitos ofereciam R$ 10 mil, R$ 12 mil, além de casa, para fixar médico, e nem assim conseguiam fixar. Eles dizem que não adianta trazer médicos, pois não há infraestrutura”. Ele reconhece problemas na infraestrutura e necessidades de avançar na gestão, “temos que enfrentar, mas faremos com os médicos”.

    Dirceu disse desconhecer alguém que tenha enfrentado campanha tão intensa, mas aposta que as mudanças promovidas no Brasil pelos governos Lula e Dilma, tiveram impacto nessa ação. “O ódio é contra nós [PT]. Mas me sinto muito seguro no meu futuro. Com humildade, mas muito forte; sou responsável por muitos erros, mas não os que me acusam”, disse o mineiro que saiu de Passa Quatro para São Paulo, viver parte da juventude num Brasil sob ditadura militar.

    Corintiano, José Dirceu comemora obstáculos que superou, a versatilidade que o ajudou a sobreviver em momentos difíceis, mas acima de tudo ser brasileiro. “Queriam que eu deixasse o Brasil na época da ditadura e eu fiz questão de voltar, porque essa é a razão de minha vida. A minha natureza é natureza política”, declarou, ao advertir aos opositores: “não se iludam vou continuar sendo o Zé Dirceu do PT”.

     

    http://grabois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=10&id_noticia=11983

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    Quem vivenciou a ditadura, lutando para ver a democracia ser restabelecida, quem ajudou o governo de LULA a alavancar a economia do país e principalmente quem tem auto confiança, jamais será vencido por tramoias urdidas por políticos frustrados. A justiça pode tardar, mas virá. 
    Comentado por  LOURDES SAMPAIO  em 22/09/2013

     

  9.  
    Publicado em

     

    Publicado em 16/11/2013

    TIJOLAÇO: OS DOIS 
    JOSÉS E SUAS ASAS

    O rigorismo do STF não se aplicou aos torturadores que anistiou

     

     

    O Conversa Afiada publica excelente artigo de Fernando Brito, do Tijolaço, ainda fora do ar: 

     

     

    A MANEIRA MAIS SEGURA DE MEDIR O CARÁTER DE UM HOMEM É NAS ADVERSIDADES.

    Há dois séculos, quase, Victor Hugo escreveu, em seu “Os trabalhadores do Mar”:

    “A pressão da sombra atua em sentido inverso nas diferentes espécies de almas. O homem, diante da noite, reconhece-se incompleto. Vê a obscuridade e sente a enfermidade. O céu negro é o homem cego. Entretanto, com a noite, o homem abate-se, ajoelha-se, prosterna-se, roja-se, arrasta-se para um buraco, ou procura asas”.

    Dois josés, Dirceu e Genoíno, são destes que arrostam as dores da batalha que escolheram.

    Estão sendo presos como símbolos, não como criminosos.

    Este país sempre foi e é generoso com os corruptos de verdade.

    Busque em sua memória e veja se os malufes, os ademares, os tantos que se tornaram crônicos reincidentes por desvio de dinheiro público tiveram este tratamento. Aos que engordaram nas tetas da ditadura, como muitos dos “capitães da mídia” jamais sequer acusaram.

    E aos dois josés, jamais acharam ou sequer alegaram cofres ou contas suspeitas.

    Condenaram-os dispensando prova objetiva, com base no “domínio do fato”, de forma inédita no Judiciário brasileiro.

    O STF, tão cioso da interpretação rigorista das leis – ao ponto de absolver, em nome de uma lei da anistia editada na ditadura, o assassinato, a tortura, a mutilação de seres humanos – entrou para o perigoso terreno do “clamor público”, na verdade o clamor que se publica, expresso numa campanha de mídia de proporções gigantescas.

    Despejou-se sobre os josés a treva e não se admitiu nada que não fosse a confirmação do julgamento antecipado pela culpa.

    Mais, exacerbaram-se ao máximo as punições, porque era preciso expor como criminosas não  suas figuras pessoais , mas a causa e o projeto a que serviram em toda a sua vida adulta.

    Prisão não é novidade para eles, mas as da ditadura – exatamente por isso – foram mais fáceis de entender e, apesar da tortura, de suportar.

    Ambos deram sua juventude pela restauração da democracia e descobrem, na hora em que seu outono chega, que a democracia serviu-se, contra eles, de um ódio sofisticado, mais cruel que o dos ditadores.

    Não se os absolve, aqui, porque não é possível sem um julgamento justo, dizer se há ou não culpas a expiar.

    E não houve julgamento justo.

    Mesmo quando se tratou de um recurso de límpido e claro direito, como o dos embargos infringentes, tentou-se manipular para que fosse negado, o que por muitíssimo pouco não ocorreu.

    Os ministros cuja convicção pessoal apontava pela absolvição foram expostos como se fossem cúmplices do alegado crime e pressionados até a execração pública.

    Já os que se dispunham ao papel de algozes,estes foram tratados como heróis pela mídia.

    Este processo, que teve o evidente propósito de atingir Lula, pessoalmente,não alcançou este objetivo.

    Mas teve um efeito terrível, do ponto de vista político e humano.

    No político, privou seu partido -e, em parte, o seu projeto – de dois de seus melhores quadros, tanto da negociação política quanto da visão estratégica. O PT, sem seus josés, perdeu consistência e protagonismo. 

    No humano, faz cada homem de bem deste país sentir – enquanto as bestas-fera comemoram – a dor de ver pessoas serem submetidas a uma pena que – se no máximo é dado pelo que é universal na política brasileira, sem o financiamento públicos que jamais aceitam adotar – é certamente desproporcional e revestida do que mais ofende o sentimento de Justiça: a vingança, o interesse político e a crueldade.

    Os dois josés foram lançados sob a noite do banimento, mais que da prisão.

    Porque nada é capaz de prender o pensamento, a vontade, a dignidade humana.

    Que cria, como disse Hugo, asas e voa por sobre qualquer muro com que se a queira encarcerar. 

    Estamos diante de um momento raro: aquele em que as vítimas se agigantam e os algozes murcham sob o peso da vergonha.

     

    http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2013/11/16/tijolaco-os-dois-joses-e-suas-asas/

     

  10. HOMENAGEM A JANGO

    SINGER APONTA SIGNIFICADO DA HOMENAGEM A JANGO

    Ricardo Stuckert/ Instituto Lula:

     

    Segundo o cientista político André Singer, o ex-presidente João Goulart deve estar “fazendo votos para que, daqui por diante, o ódio que qualquer mudança desperta no Brasil fique sempre contido nos limites das instituições democráticas”

     

    16 DE NOVEMBRO DE 2013 ÀS 07:37

     

    247 – Em artigo publicado neste sábado na Folha, o cientista político André Singer aborda o significado da homenagem ao ex-presidente João Goulart. Segundo ele, o ódio que mudanças sociais provocam deve ficar contido aos limites das instituições democráticas. Leia abaixo:

    Longa ausência

    Em livro de memórias (“Da Tribuna ao Exílio”), o ex-ministro Almino Affonso conta os últimos momentos de João Goulart na capital da República. Decidido a instalar o governo no Rio Grande do Sul, onde supostamente teria sustentação de setores das Forças Armadas contra o golpe que havia começado em Minas Gerais, Jango resolveu embarcar em um Coronado da antiga Varig (Viação Aérea Rio-Grandense), acompanhado dos ministros. Era a noite de 1º de abril de 1964.

    Antes de sair, o mandatário deixou orientações aos parlamentares aliados: “Eles vão tentar o impeachment; resistam o quanto possam… em 48 horas estarei de volta”. A disposição de permanecer no cargo é corroborada por depoimento do jornalista Flávio Tavares (no livro “O Dia em que Getúlio Matou Allende”), que, com outros dois colegas, havia visto Jango no Planalto na tarde daquele dia. Lá, o jovem presidente aparentava tranquilidade.

    Despedidas oficiais feitas, a comitiva subiu as escadas do avião e aguardou a partida. Parada na pista, entretanto, a aeronave não se movia. Alegava-se uma pane. Passado um tempo longo, Almino, que estava junto com Tancredo Neves e outros na Base Aérea de Brasília, chega à conclusão que havia sabotagem no ar.

    Ao que consta, a companhia aérea gaúcha teria mudado de lado, como vinha ocorrendo de maneira sistemática desde que, 24 horas antes, o general Olímpio Mourão Filho começara a deslocar tropas em direção ao Rio, dando início ao movimento militar para derrubar o populismo. Jango, então, trocou de avião, indo para um Avro da FAB, que decolou para o Sul.

    Pouco depois, enquanto Jango cruzava os céus do país em busca de apoio, o presidente do Senado chamou sessão extraordinária do Congresso. Era a madrugada de 2 de abril. Parecia a prevista tentativa de impedimento, mas não. Aproveitando-se de Jango estar ausente da capital, o senador faz manobra mais dura: “O senhor presidente da República deixou a sede do governo. Deixou a nação acéfala. (…). Assim sendo, declaro vaga a Presidência da República”, afirmou da tribuna. Começava a ditadura.

    O ex-presidente, um conciliador nato que esperava retornar em dois dias, demorou quase meio século para desembarcar outra vez em Brasília. Trazido pela mesma FAB que o levou, foi preciso não só que morresse, mas também que viesse um período político que, de algum modo, retoma o seu, para que pudesse reassumir, na quinta-feira passada, o lugar que lhe cabe como antigo chefe de Estado.

    Como diria Elio Gaspari, no céu deve estar contente, ao lado de Juscelino, fazendo votos para que, daqui por diante, o ódio que qualquer mudança desperta no Brasil fique sempre contido nos limites das instituições democráticas.

     

     

     

     

     

     

  11. E o recado da casa grande foi

    E o recado da casa grande foi dado pelo Merval : ” O criticável será se, nos próximos meses, o relator do mensalão (Joaquim Barbosa) sair do Supremo para se candidatar, pois, como todos os magistrados, ele tem um prazo mais largo para se filiar a um partido político.
    Será inevitável que todos os seus passos como relator do mensalão, e mesmo suas indignações cívicas, sejam confundidos com ações políticas, o que nublaria suas decisões. Mais simbolismos a serem decifrados.”

    A Globo não admitirá que o Barbosa se candidate a qualquer cargo eletivo. Coitado do Batman !

     

  12. As imorredouras e injustificáveis teses dos golpistas de 64

    AS IMORREDOURAS E INJUSTIFICÁVEIS TESES DOS GOLPISTAS DE 64 – Há uma análise débil por parte de inúmeras pessoas e historiadores em geral, que tristemente sobrevive ao longo do tempo. Essa débil análise diz respeito ao longo e modorrento rol de “razões” que teriam dado causa à queda de João Goulart. Essas análises partem de uma premissa equivocada e insanavelmente equivocada, desde sempre. Qual seja, a premissa de que o rol de “razões”, sejam elas quais forem a respeito da hipotética ‘debilidade’ de Jango, foram a causa do golpe de 64. Isto é ampla, geral e irrestritamente falso!

     

    Jango foi derrubado porque sofreu um golpe de estado, e ponto final. Todos os pontos finais existentes na face da Terra! Não interessa se o governo Jango era fraco, claudicante, indeciso, se não tinha apoio popular, se não tinha apoio ou sustentação política, etc. Isto não tem importância alguma! Mesmo se todas essas fictícias causas fossem verdade (e não são), o fato é que jamais, nunca se pode admitir, ontem ou hoje, que um governo caia porque é fraco, débil ou claudicante! Esta é a tese dos golpistas! Quer dizer então que o fato de um governo ser indeciso e não contar com apoio ou sustentação popular justifica golpes de estado contra este governo?

     

    Mais do que isto, outra das estúpidas teses justificacionistas, dos golpistas, é a de dizer que Jango preparava um “golpe de esquerda”, e que por isso forças civis e militares anteciparam-se ao tal de “golpe de esquerda”… É outra pérola dos golpistas, enredados pelos próprios atos de brutalidade contra a democracia, a legalidade e a Constituição! Quer dizer então que os próprios golpistas admitem que utilizaram a tese do ‘golpe preventivo’! Para mim, foi isto mesmo. O golpe de 64 foi sim um ‘golpe preventivo’, não pelas razões apresentadas pelos golpistas, o que veremos logo a seguir.

     

    Ocorre que este discurso, além de canalha ao extremo, é a porta aberta para as já conhecidas invasões do Iraque, derrubadas de governos como o de Salvador Allende e do próprio Jango. Este mequetrefe discurso de ‘golpe preventivo’ é uma ode ao golpismo e não é possível que ainda hoje pessoas com um mínimo de tirocínio político caiam nesta lábia fajuta! 

     

    Voltando ao tal de “golpe preventivo”. Foi isto mesmo, mas não porque Jango planejasse dar um ‘golpe de esquerda’, mas sim porque o PTB, em que pese a brutalidade da oposição e da quadrilha máfio-midiática da época, vinha num crescente contínuo e progressivo desde a primeira eleição, em 1946, passando pela morte de Getúlio Vargas e culminando, nas eleições legislativas de 1962, com o estrondoso resultado eleitoral do partido de Jango, que desbancou pela primeira vez a UDN no parlamento e que conseguiu emparelhar com o até então imbatível PSD. Em 1962, o PSD elegeu 118 parlamentares e o PTB elegeu 116.

     

    Ou seja, ao contrário das esdrúxulas e absolutamente fantasiosas teses de que Jango e o PTB não tinham apoio popular, a realidade concreta e objetiva dos fatos demonstra justamente o contrário! Jango tinha intenso apoio popular e o PTB crescia cada vez mais ao longo do tempo!

     

    Por fim, e depois desta pequena e breve explanação, destaco que a própria democracia liberal burguesa, conhecida de todos pela alcunha de “Estado Democrático de Direito”, prevê maneiras legais de interromper um mandato popular. Porque não fizeram com Jango o que fizeram com Collor em 1992 (impeachment)? Seria perfeitamente legal e não representaria golpe algum! E se o governo Jango era assim tão débil, porque não esperaram a eleição de 1965? Não esperaram porque JK do PSD era o favorito, porque Lacerda da UDN jamais seria eleito (a UDN é que estava desmoronando, igual ao PSDB atual) e porque o PTB, com Jango ou Brizola, vinha com força total para o pleito seguinte, ameaçando inclusive a eleição do supostamente imbatível Juscelino Kubitschek.

     

    Não há nada que justifique o golpe de 64, nada, absolutamente nada! O Brasil vivia em perfeitas condições legais, democráticas, a eleição de 1965 estava logo ali e se o governo Jango era débil (mentira cabal e absoluta), bastava aos golpistas esperar o próximo pleito ou praticar um impeachment contra Jango, por dentro das vias legais e constitucionais. Não entrei na questão internacional, mas também é inegável a participação dos EUA no golpe, com financiamentos a campanhas eleitorais da direita através do IBAD (comprovado via CPI em 1963), com subornos a empresários e militares golpistas e com o apoio operacional, político e logístico (vide os telefonemas trocados pelo embaixador Lincoln Gordon com os presidentes norte-americanos).

     

    O golpe de 64 foi ‘preventivo’, foi utilizado para barrar o avanço das forças populares que só faziam crescer, de forma ininterrupta, desde 1946. E é injustificável sob qualquer ponto de vista por onde se queira analisá-lo.

  13. Publicado em 16/11/13 às

    Publicado em 16/11/13 às 13p4

    Um lugar onde o peixe do dia é do dia mesmo

    Sem Comentários

    TOQUE-TOQUE PEQUENO (SP) A notícia correu depressa pela praia logo cedo. “Deu muito carapau hoje, a rede veio cheia…” Quando cheguei na barraca dos pescadores, já tinha acabado tudo, mas nesta hora é bom ter amigos. O velho Dico, meu vizinho, vendo meu desconsolo, me arrumou logo dois belos exemplares para o almoço republicano desta sexta-feira (15).

    Nada como limpar um peixe que acabou de sair do mar. Logo pensei nos restaurantes finos de São Paulo que sempre oferecem um prato chamado “peixe do dia”. Os garçons geralmente nao sabem qual é o peixe, mas também não faz muita diferença. Todos têm o mesmo gosto. Não são pescados, mas descongelados no dia.

    Depois de deixar tudo preparado para o almoço, fui dar uma volta pela praia para tomar um aperitivo, pois ninguém é de ferro. Fiquei reparando nas barracas e nas sombras dos guarda-sóis apinhadas de gente, aproveitando o belo dia de sol, depois de 10, 12 ou mais horas de viagem parados nos congestionamentos.

    Reparei que até onde minha vista alcançava ninguém estava lendo jornais ou revistas e nos assuntos não entravam tufões, mensalões, trensalões ou máfias de fiscais, os temas predominantes antes de se descer a serra. Parece que as montanhas separam um mundo do outro e logo que se vê o mar a vida ganha outra beleza.

    praia ok Um lugar onde o peixe do dia é do dia mesmo

    No meu caso, o problema não foi o trânsito na estrada porque procurei sair mais cedo, mas o velho notebook que simplesmente não deu sinal de vida. Passei estes dois dias tentando arrumar algum aparelho que funcionasse e tivesse  conexão com alguma rede. Nada. Até que na manhã desta sexta-feira (15), Renato Coto, dono do bar Barracuda me arrumou uma máquina em perfeito estado de funcionamento e conectada ao seu wi-fi, que está funcionando.

    transito Um lugar onde o peixe do dia é do dia mesmo

    O problema é que o teclado é espanhol, não acho os acentos, tem letras fora do lugar, mas não queria ficar outro dia sem escrever, embora não tenha nada de muito importante a contar, a não ser mandar toda minha força e solidariedade aos amigos José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, que cumpriram a ordem de se entregar com toda a dignidade.

    Antes que me esqueça, e como nada mais posso fazer, só quero dizer que a história ainda vai fazer Justiça com vocês. Espero estar vivo  para encontrar com vocês neste dia e podermos fazer um brinde à luta e à vida, tomando uma cervejinha e assando um carapau na brasa como o que comi ontem.  O tempo corre mais depressa do que a gente pensa.

     

  14. Os evangélicos e a ditadura militar no Brasil

    Documentos inéditos do projeto Brasil: Nunca Mais – até agora guardados no Exterior – chegam ao País e podem jogar luz sobre o comportamento dos evangélicos nos anos de chumbo

    Rodrigo Cardoso

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    No primeiro dia foram oito horas de torturas patrocinadas por sete militares. Pau de arara, choque elétrico, cadeira do dragão e insultos, na tentativa de lhe quebrar a resistência física e moral. “Eu tinha muito medo do que ia sentir na pele, mas principalmente de não suportar e falar. Queriam que eu desse o nome de todos os meus amigos, endereços… Eu dizia: ‘Não posso fazer isso.’ Como eu poderia trazê-los para passar pelo que eu estava passando?” Foram mais de 20 dias de torturas a partir de 28 de fevereiro de 1970, nos porões do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo. O estudante de ciências sociais da Universidade de São Paulo (USP) Anivaldo Pereira Padilha, da Igreja Metodista do bairro da Luz, tinha 29 anos quando foi preso pelo temido órgão do Exército. Lá chegou a pensar em suicídio, com medo de trair os companheiros de igreja que comungavam de sua sede por justiça social. Mas o mineiro acredita piamente que conseguiu manter o silêncio, apesar das atrocidades que sofreu no corpo franzino, por causa da fé. A mesma crença que o manteve calado e o conduziu, depois de dez meses preso, para um exílio de 13 anos em países como Uruguai, Suíça e Estados Unidos levou vários evangélicos a colaborar com a máquina repressora da ditadura. Delatando irmãos de igreja, promovendo eventos em favor dos militares e até torturando. Os primeiros eram ecumênicos e promoviam ações sociais e os segundos eram herméticos e lutavam contra a ameaça comunista. Padilha foi um entre muitos que tombaram pelas mãos de religiosos protestantes.

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    O metodista só descobriu quem foram seus delatores há cinco anos, quando teve acesso a documentos do antigo Sistema Nacional de Informações: os irmãos José Sucasas Jr. e Isaías Fernandes Sucasas, pastor e bispo da Igreja Metodista, já falecidos, aos quais era subordinado em São Paulo. “Eu acreditava ser impossível que alguém que se dedica a ser padre ou pastor, cuja função é proteger suas ovelhas, pudesse dedurar alguém”, diz Padilha, que não chegou a se surpreender com a descoberta. “Seis meses antes de ser preso, achei na mesa do pastor José Sucasas uma carteirinha de informante do Dops”, afirma o altivo senhor de 71 anos, quatro filhos, entre eles Alexandre, atual ministro da Saúde da Presidência de Dilma Rousseff, que ele só conheceu aos 8 anos de idade. Padilha teve de deixar o País quando sua então mulher estava grávida do ministro. Grande parte dessa história será revolvida a partir da terça-feira 14, quando, na Procuradoria Regional da República, em São Paulo, acontecerá a repatriação das cópias do material do projeto Brasil: Nunca Mais. Maior registro histórico sobre a repressão e a tortura na ditadura militar (leia quadro na pág. 79), o material, nos anos 80, foi enviado para o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), organização ecumênica com sede em Genebra, na Suíça, e para o Center for Research Libraries, em Chicago (EUA), como precaução, caso os documentos que serviam de base do trabalho realizado no Brasil caíssem nas mãos dos militares. De Chicago, virá um milhão de páginas microfilmadas referentes a depoimentos de presos nas auditorias militares, nomes de torturadores e tipos de tortura. A cereja do bolo, porém, chegará de Genebra – um material inédito composto por dez mil páginas com troca de correspondências entre o reverendo presbiteriano Jaime Wright (1927 – 1999) e o cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, que estavam à frente do Brasil: Nunca Mais, e as conversas que eles mantinham com o CMI.

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    Somente em 1968, quatro anos após a ascensão dos militares ao poder, o catolicismo começou a se distanciar daquele papel que tradicionalmente lhe cabia na legitimação da ordem político-econômica estabelecida. Foi aí, quando no Brasil religiosos dominicanos como Frei Betto passaram a ser perseguidos, que a Igreja assumiu posturas contrárias às ditaduras na maioria dos países latino-americanos. Os protestantes, por sua vez, antes mesmo de 1964, viveram uma espécie de golpe endógeno em suas denominações, perseguindo a juventude que caminhava na contramão da ortodoxia teológica. Em novembro de 1963, quatro meses antes de o marechal Humberto Castelo Branco assumir a Presidência, o líder batista carismático Enéas Tognini convocou milhares de evangélicos para um dia nacional de oração e jejum, para que Deus salvasse o País do perigo comunista. Aos 97 anos, o pastor Tognini segue acreditando que Deus, além de brasileiro, se tornou um anticomunista simpático ao movimento militar golpista. “Não me arrependo (de ter se alinhado ao discurso dos militares). Eles fizeram um bom trabalho, salvaram a Pátria do comunismo”, diz.

     

     

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    Assim, foi no exercício de sua fé que os evangélicos – que colaboraram ou foram perseguidos pelo regime – entraram na alça de mira dos militares (leia a movimentação histórica dos protestantes à pág. 80). Enquanto líderes conservadores propagavam o discurso da Guerra Fria em torno do medo do comunismo nos templos e recrutavam formadores de opinião, jovens batistas, metodistas e presbiterianos, principalmente, com ideias liberais eram interrogados, presos, torturados e mortos. “Fui expulso, com mais oito colegas, do Seminário Presbiteriano de Campinas, em 1962, porque o nosso discurso teológico de salvação das almas passava pela ética e a preocupação social”, diz o mineiro Zwinglio Mota Dias, 70 anos, pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, da Penha, no Rio de Janeiro. Antigo membro do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), que promovia reuniões para, entre outras ações, trocar informações sobre os companheiros que estavam sendo perseguidos, ele passou quase um mês preso no Doi-Codi carioca, em 1971. “Levei um pescoção, me ameaçavam mostrando gente torturada e davam choques em pessoas na minha frente”, conta o irmão do também presbiteriano Ivan Mota, preso e desaparecido desde 1971. Hoje professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Dias lembra que, enquanto estava no Doi-Codi, militares enviaram observadores para a sua igreja, para analisar o comportamento dos fiéis.

     

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    Segundo Rubem Cesar Fernandes, 68 anos, antropólogo de origem presbiteriana, preso em 1962, antes do golpe, por participar de movimentos estudantis, os evangélicos carregam uma mancha em sua história por convidar a repressão a entrar na Igreja e perseguir os fiéis. “Os católicos não fizeram isso. Não é justificável usar o poder militar para prender irmãos”, diz ele, considerado “elemento perigoso” no templo que frequentava em Niterói (RJ). “Pastores fizeram uma lista com 40 nomes e entregaram aos militares. Um almirante que vivia na igreja achava que tinha o dever de me prender. Não me encontrou porque eu estava escondido e, depois, fui para o exílio”, conta o hoje diretor da ONG Viva Rio.

    O protestantismo histórico no Brasil também registra um alto grau de envolvimento de suas lideranças com a repressão. Em sua tese de pós-graduação, defendida na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), Daniel Augusto Schmidt teve acesso ao diário do irmão de José, um dos delatores de Anivaldo Padilha, o bispo Isaías. Na folha relativa a 25 de março de 1969, o líder metodista escreveu: “Eu e o reverendo Sucasas fomos até o quartel do Dops. Conseguimos o que queríamos, de maneira que recebemos o documento que nos habilita aos serviços secretos dessa organização nacional da alta polícia do Brasil.” Dono de uma empresa de consultoria em Porto Alegre, Isaías Sucasas Jr., 69 anos, desconhecia a história da prisão de Padilha e não acredita que seu pai fora informante do Dops. “Como o papai iria mentir se o cara fosse comunista? Isso não é delatar, mas uma resposta correta a uma pergunta feita a ele por autoridades”, diz. “Nunca o papai iria dedar um membro da igreja, se soubesse que havia essas coisas (torturas).” Em 28 de agosto de 1969, um exemplar da primeira edição do jornal “Unidade III”, editado pelo pai do ministro da Saúde, foi encaminhado ao Dops. Na primeira página, há uma anotação: “É preciso ‘apertar’ os jovens que respondem por este jornal e exigir a documentação de seu registro porque é de âmbito nacional e subversivo.” Sobrinho do pastor José, o advogado José Sucasas Hubaix, que mora em Além Paraíba (MG), conta que defendeu muitos perseguidos políticos durante a ditadura e não sabia que o tio havia delatado um metodista. “Estou decepcionado. Sabia que alguns evangélicos não faziam oposição aos militares, mas daí a entregar um irmão de fé é uma grande diferença.”

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    Nenhum religioso, porém, parece superar a obediência canina ao regime militar do pastor batista Roberto Pontuschka, capelão do Exército que à noite torturava os presos e de dia visitava celas distribuindo o “Novo Testamento”. O teólogo Leonildo Silveira Campos, que era seminarista na Igreja Presbiteriana Independente e ficou dez dias encarcerado nas dependências da Operação Bandeirante (Oban), em São Paulo, em 1969, não esquece o modus operandi de Pontuschka. “Um dia bateram na cela: ‘Quem é o seminarista que está aqui?’”, conta ele, 21 anos à época. “De terno e gravata, ele se apresentou como capelão e disse que trazia uma “Bíblia” para eu ler para os comunistas f.d.p. e tentar converter alguém.” O capelão chegou a ser questionado por um encarcerado se não tinha vergonha de torturar e tentar evangelizar. Como resposta, o pastor batista afirmou, apontando para uma pistola debaixo do paletó: “Para os que desejam se converter, eu tenho a palavra de Deus. Para quem não quiser, há outras alternativas.” Segundo o professor Maurício Nacib Pontuschka, da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, seu tio, o pastor-torturador, está vivo, mas os dois não têm contato. O sobrinho também não tinha conhecimento das histórias escabrosas do parente. “É assustador. Abomino tortura, vai contra tudo o que ensino no dia a dia”, afirma. “É triste ficar sabendo que um familiar fez coisas horríveis como essa.” 

    Professor de sociologia da religião na Umesp, Campos, 64 anos, tem uma marca de queimadura no polegar e no indicador da mão esquerda produzida por descargas elétricas. “Enrolavam fios na nossa mão e descarregavam eletricidade”, conta. Uma carta escrita por ele a um amigo, na qual relata a sua participação em movimentos estudantis, o levou à prisão. “Fui acordado à 1h por uma metralhadora encostada na barriga.” Solto por falta de provas, foi tachado de subversivo e perdeu o emprego em um banco. A assistente social e professora aposentada Tomiko Born, 79 anos, ligada a movimentos estudantis cristãos, também acredita que pode ter sido demitida por conta de sua ideologia. Em meados dos anos 60, Tomiko, que pertencia à Igreja Evangélica Holiness do Brasil, fundada pelo pai dela e outros imigrantes japoneses, participou de algumas reuniões ecumênicas no Exterior. Em 1970, de volta ao Brasil, foi acusada de pertencer a movimentos subversivos internacionais pelo presidente da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, onde trabalhava. Não foi presa, mas conviveu com o fantasma do aparelho repressor. “Meu pesadelo era que o meu nome estivesse no caderninho de endereço de alguma pessoa presa”, conta. 

    Parte da história desses cristãos aterrissará no Brasil na terça-feira 14, emaranhada no mais de um milhão de páginas do Projeto Brasil: Nunca Mais repatriadas pelo Conselho Mundial de Igrejas. Não que algum deles tenha conseguido esquecer, durante um dia sequer, aqueles anos tão intensos, de picos de utopia e desespero, sustentados pela fé que muitos ainda nutrem. Para seguir em frente, Anivaldo Padilha trilhou o caminho do perdão – tanto dos delatores quanto dos torturadores. Em 1983, ele encontrou um de seus torturadores em um baile de Carnaval. “Você quis me matar, seu f.d.p., mas eu estou vivo aqui”, pensou, antes de virar as costas. Enquanto o mineiro, que colabora com uma entidade ecumênica focada na defesa de direitos, cutuca suas memórias, uma lágrima desce do lado direito de seu rosto e, depois de enxuta, dá vez para outra, no esquerdo. Um choro tão contido e vívido quanto suas lembranças e sua dor.

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    http://www.istoe.com.br/reportagens/141566_OS+EVANGELICOS+E+A+DITADURA+MILITAR

  15. Como Eike, egocêntrico e

    Como Eike, egocêntrico e vendedor de ilusões, afundou o Império X

    Confira análise da autobiografia lançada por ex-bilionário há dois anos, que mostra os sonhos prometidos e o que de fato o ‘mito’, como se auto-proclamou, entregou ao mercado

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    Rio – Em 2011, o mineiro Eike Batista vivia possivelmente o melhor momento como empresário. Estampava publicações nacionais e estrangeiras, embolsava prêmios como grande homem de negócios do País (e uma promessa mundial, ousariam afirmar) e era a inspiração de empreendedores brasileiros. Meses antes, o ex-bilionário, que fundou o Grupo EBX, mandou o recado: passaria Bill Gates, da Microsoft, para trás e se tornaria o homem mais rico do mundo. Para muitos, ele era o cara. 

    Empresário tenta salvar empresas que se dividemFoto:  Divulgação

     

    Em dezembro daquele ano, Eike aproveitou toda a popularidade do momento e lançou a autobiografia “O X da Questão – A trajetória do maior empreendedor do Brasil”. O livro alcançou 203 mil exemplares e foi o título mais vendido até hoje pela editora Primeira Pessoa, braço da Editora Sextante especializado em biografias.

    Hoje, depois de 23 meses, ler o relato de Eike ao longo de rasas 159 páginas proporciona momentos irônicos e analíticos. Irônicos porque sua autobiografia traz um amontoado de clichês e afirmações que não passaram de promessas. Sem nem um traço sequer de modéstia, o empresário avalia um de seus momentos nos negócios – a exploração de uma operação de garimpo de ouro em Alta Floresta, ao norte de Mato Grosso. “Os méritos maiores foram persistência, obstinação, ousadia e o que as pessoas costumam qualificar de capacidade visionária”.

    Sobram frases no livro de culto ao ego, como “sou um empreendedor diferente da média”, “sou perito em identificar diamantes não polidos e aprendi, ao longo da vida, a polir esses diamantes”. Ou ainda “minha trajetória é a prova de que o capitalismo brasileiro está mais maduro. As aberturas de capital de minhas companhias são verdadeiros atestados de maioridade”.

    Ego, um grande companheiro

    Ao mesmo tempo que o livro confirma que Eike tem um ego difícil de ser delimitado, mostra hoje a inconsistência do plano de negócios do empresário. Naquela época, Eike afirmava no livro: “Por trás do mito, há uma saga empresarial erguida acima de tudo com muito suor e trabalho… Felizmente acertei bem mais do que errei e numa escala e num tempo impensáveis no mundo empresarial”. Quem não ruborizaria ao falar de si recorrendo a palavras como “mito” e “visionário”? Eike Batista.

    Eike, o empresário que não teve recato ao se auto-proclamar um mito, afundou. Na última semana (dia 11), mais uma de suas empresas, a OSX (chamada por ele de Embraer dos mares), teve de recorrer à recuperação judicial na tentativa de ganhar tempo junto aos credores e conseguir uma sobrevida. A primeira a usar esse expediente foi a OGX, em 30 de outubro (“A OGX tem no seu DNA algo especial que herdou de mim: a vontade de encantar e surpreender”, descreveu no livro). De figura de destaque nas listas dos maiores bilionários do mundo, o dono do Império X virou sinônimo de caloteiro e agora tem de conviver com o peso de bilhões de reais na forma de dívida, não mais em fortuna.

    Com frases e mais frases feitas, o ex-bilionário oferece em “O X da Questão” grandes momentos de auto-ajuda para quem sonha em se tornar empreendedor. “Uma lição que fica para quem decide iniciar um negócio é não desistir na primeira dificuldade”, ensina. 

    ‘Minha trajetória é a prova de que o capitalismo brasileiro está mais maduro’, diz Eike em biografiaFoto:  Reuters

     

    No mesmo capítulo, o autor avança no tema: “A única coisa certa no mundo dos negócios é que você vai errar. Se tiver humildade para reconhecer esta verdade, terá meio caminho andado para aprimorar suas práticas como empreendedor”. A frase, lida sob a luz do atual momento de Eike, certamente causaria irritação e indignação nos investidores que aportaram bilhões de reais em seus projetos. Provocaria também indignação entre os minoritários que apostaram no vendedor de sonhos e colocaram suas economias em ações que viraram pó. “Posso ser acusado de excesso de ousadia, mas nunca pensei em correr atrás do Santo Graal”, garante no livro.

    Outro capítulo, o “Visão 360 graus”, também deve incomodar quem comprou os sonhos de Eike, tamanha a sua incoerência. “Eu não aspiro à perfeição. Aspiro ao êxito. Aspire ao êxito você também. Eu desejo entregar ao mercado, aos acionistas, aos colaboradores e à sociedade o que me comprometo a entregar.” Ele ficou na promessa. Demitiu boa parte de seu quadro de funcionários e viu suas seis empresas listadas na Bolsa minguarem. “Meu negócio é converter sonho em realidade, e talvez seja este o principal traço da minha trajetória”, explicou. Sua crença, mostram os atuais fatos, fez água.

    Para o investidor ainda em dúvida sobre as diferenças entre Eike escritor e Eike gestor, mais um trecho: “Não se deve subestimar a própria capacidade de cometer erros de avaliação. Alguma dose de cautela é vital… Mas se alguém quer risco zero, o melhor é colocar dinheiro no cofre e enterrar a chave em lugar seguro”. Entenderam, senhores investidores? 

    ‘Acredite na sua intuição, mas procure confirmá-la com dados científicos ou pesquisa’, outra dica do livroFoto:  Reuters

     

    No capítulo ” Cartilha da Ética”, um reforço de mensagem de confiança aos que tinham alguma dúvida naquele momento. O dono da EBX afirmou que “há empresários que operam 100% dentro da cartilha correta. Sou um deles e faço questão de me manter assim.”

    Taxativo, o autor ensina em sua autobiografia que é preciso se cercar de informações científicas quando se está estruturando um negócio (“Acredite na sua intuição, mas procure confirmá-la com dados científicos ou pesquisa”). Em outro trecho, o empresário volta ao assunto – “Por isso a pesquisa foi tão importante em minha trajetória”. A dica, no entanto, parece não ter sido útil para o consumo interno. No caso da petroleira OGX, relatórios mostraram que as reservas dos campos de exploração eram bem menores do que havia sido anunciado. Faltou informação? Quem sabe.

    Megalomania

    No capítulo 10, “A perfeição é uma utopia”, Eike Batista volta ao tema da megalomania – “Na medida certa, um pouco de megalomania ou ousadia é recomendável. Nã há empreendedor bem-sucedido que não tenha provado uma pequena dose. Quando o negócio se mostra viável, seu idealizador deixa de ser um megalomaníaco”. O leitor poderia então perguntar hoje, com os negócios e a credibilidade de Eike mergulhados em um lamaçal: o autor da frase acima é um megalomaníaco?

    Talvez faça parte de pessoas com o perfil de Eike a estratégia da repetição. Fala-se muitas vezes a mesma coisa de forma convincente na intenção de que as pessoas acreditem que aquilo é uma verdade. Um exemplo é quando o autor se descreve como alguém com habilidade para transitar entre várias especialidades, já que “posso lidar com ouro, prata, níquel, cobre, zinco, petróleo, energia, enfim, posso fazer um mundo girar à minha volta…”

    Hoje, ao chegar a última página de “O X da Questão”, a conclusão que o leitor tem é de que Eike deixou de citar uma característica importante. É apressado. Foi assim ao se lançar em várias frentes de negócios ao mesmo tempo, ao correr para o mercado para capitalizar suas empresas quando ainda não passavam de projetos e ao proclamar-se um empresário exitoso muito antes de conseguir entregar o que prometeu.

     

     

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