Forças Armadas têm contratos com Starlink e admitem prejuízos com possível fim de contratos

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Em ofício obtido pelo GGN, Forças Armadas admitem que terão prejuízos "estratégicos" e "para vida humana" caso contratos sejam encerrados

Elon Musk chegou a doar 100 antenas Starlink às Forças Armadas do Brasil, durante operação no Rio Grande do Sul – Foto: Sociedade Militar

As Forças Armadas brasileiras fecharam contratos com a empresa Starlink, que fornece internet via satélite, para diversas operações militares e estratégicas no Brasil e já admitiram, em ofício recente obtido pelo GGN, que terão prejuízos “estratégicos” e “para vida humana” caso estes contratos sejam encerrados.

Em ofício encaminhado no dia 6 de junho deste ano ao chefe de gabinete do Ministério da Defesa, o Comando do Exército listou as informações sobre o uso da tecnologia da Starlink pelas Forças Armadas no Brasil. A empresa, de Elon Musk, teve suas contas bloqueadas por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) como garantia de pagamento de multas da empresa X, do mesmo empresário.

As informações foram uma resposta a um requerimento do deputado federal Coronel Meira (PL), que solicitou os dados ao Ministério da Defesa.

Em dos documentos, assinado pelo general Marcio de Souza Nunes Ribeiro, chefe do gabinete do Comandante do Exército, informou que a Starlink é usada, atualmente, “em operações, em Ações Cívico Sociais, em adestramentos, dentre outras atividades” e admitiu que “no caso de um eventual cancelamento de contrato com a referida empresa, poderá haver prejuízio para o emprego estratégico de tropas especializadas”.

Segundo o Exército, o prejuízo ocorreria porque a tecnologia via satélite com baixa latência da Starlink, que atende a áreas remotas, cobre “grandes distâncias com praticamente nenhuma interferência do terreno ou das condições atmosféricas”, além da possibilidade de uso “em locais sem nenhuma infraestrutura”.

No arquivo, o Exército também sugeriu que a ampliação da contratação da Starlink para “atender os Pelotões Especiais de Fronteira (PEF), localizados em locais de difícil acesso e que não possuem disponibilidade dos serviços das operadoras convencionais de Internet”.

Apesar de admitir prejuízos, ao fim do documento, o general acrescentou que caso contratos com a Starlink fossem cancelados, o Exército poderia realizar “novos processos licitatórios para contratação do serviço de outra empresa”.

Os mesmos questionamentos foram levados à Marinha e à Aeronáutica. Em ofício, a Aeronáutica informou que “não firmou, até o momento, qualquer contrato com a empresa Starlink”.

Já a Marinha encaminhou uma lista detalhada de todos os contratos firmados pela Força com a Starlink. Nela, aparece o descritivo de 10 contratos fechados entre a Marinha e a Starlink, para o fornecimento de serviço de internet via satélite a navios e patrulhas navais, em valores de R$ 14,9 mil o contrato mais barato e R$ 108 mil o mais caro.

No total, na lista fornecida pela Marinha, o Comando gastou R$ R$ 428,2 mil com a Starlink para o fornecimento de internet aos navios da Marinha brasileira.

Também ao ser questionada se o “cancelamento de eventuais contratos com a referida empresa” geraria “consequências e prejuízos para os serviços prestados pelas Forças Armadas no país”, a Marinha respondeu que 6 navios teriam prejuízos e consequências graves.

É o caso do navio veleiro Cisne Branco e a Fragata Liberal, que, segundo o Comando, sofrerão “degradação da capacidade de acesso à informações metereológicas e logísticas, podendo comprometer a segurança da navegação, o abastecimento do Navio e a reposição de sobressalentes de manutenção”.

Outra consequência grave seria constatada no Comando da Patrulha Naval do Sudeste, com o navio patrulha Maracana:

“A capacidade de manter comunicações por satélite faz parte dos Requisitos Mínimos de Comunicações do Navio, (…) essenciais para o gerenciamento das ações desencadeadas em prol da salvaguarda de vida humana no mar ou para o atendimento à situações de crise“, apontou o documento.

“Um eventual cancelamento de contrato causará a perda momentânea das comunicações satelitais, dificultando o gerenciamento das ações supracitadas até que novo contrato seja firmado”, continuou.

A Marinha também mostrou que o Navio Patrulha Babitonga sofreria “defasagem no fluxo de informações importantes na atuação da salvaguarda da vida humana no mar“, e que operações como o Programa Antártico Brasileiro dependem de tecnologias de satélite e que “a maioria das soluções nacionais não oferece cobertura satelital nessa região do mundo”.

Ainda no caso do Programa Antártico, “o cancelamento do serviço prestado pela referida empresa poderia ocasionar perda de capacidade de recebimento de informações meteorológicas e de comunicação dos Navios com seu Comando de Apoio Logístico, assim como dos pesquisadores com suas Universidades”.

12 Comentários

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  1. A opção pela Starlink pelas FFAA é um grande erro do ponto de vista técnico e estratégico:
    – As constelações de satélites não geoestacionários (NGEO) não têm garantia de funcionamento através do Regulamento de Radiocomunicações da UIT (que é um tratado internacional ratificado pelo Brasil), já que elas são obrigadas a dar proteção às mesmas frequências utilizadas pelas redes geoestacionárias (GEO). Veja, por exemplo, a ressalva feita durante a aprovação da Starlink pela Anatel em 28.1.2022: “O conselheiro Moisés Moreira, contudo, manifestou preocupação com a ocupação do espaço pelas constelações em baixa órbita e média – que, ao contrário da órbita geoestacionária, não seria tão bem controlada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT).”
    – Os sistemas NGEO globais do tipo Starlink (da SpaceX) e o Kuiper (da Amazon) utilizam tecnologia proprietária, onde os equipamentos do segmento terrestre são fabricados por essas firmas e, assim, só podem ser adquiridos ou reparados através delas. De maneira mais adequada, a concorrente Eutelsat OneWeb utiliza normas abertas para o equipamento terrestre (antenas, amplificadores, etc.), que poderiam ser fabricados no Brasil ou quaisquer outros países.
    – A alternativa mais confiável seria o uso de sistemas GEO globais pela Marinha (por exemplo: Inmarsat, Intelsat, Eutelsat, SES), notando-se que a Marinha tem larga experiência de uso da rede Inmarsat (https://www.marinha.mil.br/salvamarbrasil/Sistema/gmdss). O Exército teria a alternativa do uso do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas – SGDC da operado pela Telebrás, assim como outras opções GEO e NGEO com cobertura do Brasil, mais adequadas do que a Starlink.
    – Nota-se pelo documento do Exército Brasileiro “EMPREGO DOS MEIOS SATELITAIS NAS OPERAÇÕES MILITARES: AS COMUNICAÇÕES SATELITAIS EM PROVEITO DO COMANDO E CONTROLE” (link) de 2023 que não se menciona o uso da Starlink.
    – Há vários argumentos técnicos nas justificativas do Exército e da Marinha para o uso da Starlink que carecem de razão e parecem querer convencer o leitor sem conhecimento da tecnologia espacial por meio de falsas explicações.

  2. A opção pela Starlink pelas FFAA é um grande erro do ponto de vista técnico e estratégico:
    – As constelações de satélites não geoestacionários (NGEO) não têm garantia de funcionamento através do Regulamento de Radiocomunicações da UIT (que é um tratado internacional ratificado pelo Brasil), já que elas são obrigadas a dar proteção às mesmas frequências utilizadas pelas redes geoestacionárias (GEO). Veja, por exemplo, a ressalva feita durante a aprovação da Starlink pela Anatel em 28.1.2022: “O conselheiro Moisés Moreira, contudo, manifestou preocupação com a ocupação do espaço pelas constelações em baixa órbita e média – que, ao contrário da órbita geoestacionária, não seria tão bem controlada pela União Internacional de Telecomunicações (UIT).”
    – Os sistemas NGEO globais do tipo Starlink (da SpaceX) e o Kuiper (da Amazon) utilizam tecnologia proprietária, onde os equipamentos do segmento terrestre são fabricados por essas firmas e, assim, só podem ser adquiridos ou reparados através delas. De maneira mais adequada, a concorrente Eutelsat OneWeb utiliza normas abertas para o equipamento terrestre (antenas, amplificadores, etc.), que poderiam ser fabricados no Brasil ou quaisquer outros países.
    – A alternativa mais confiável seria o uso de sistemas GEO globais pela Marinha (por exemplo: Inmarsat, Intelsat, Eutelsat, SES), notando-se que a Marinha tem larga experiência de uso da rede Inmarsat (https://www.marinha.mil.br/salvamarbrasil/Sistema/gmdss). O Exército teria a alternativa do uso do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas – SGDC da operado pela Telebrás, assim como outras opções GEO e NGEO com cobertura do Brasil, mais adequadas do que a Starlink.
    – Nota-se pelo documento do Exército Brasileiro “EMPREGO DOS MEIOS SATELITAIS NAS OPERAÇÕES MILITARES: AS COMUNICAÇÕES SATELITAIS EM PROVEITO DO COMANDO E CONTROLE” (link) de 2023 que não se menciona o uso da Starlink.
    – Há vários argumentos técnicos nas justificativas do Exército e da Marinha para o uso da Starlink que carecem de razão e parecem querer convencer o leitor sem conhecimento da tecnologia espacial por meio de falsas explicações.

    1. Estranho como os militares parecem pouco preocupados com a nossa segurança nacional. Vou procurar me informar sobre o que você escreveu acima. Obrigada

  3. Sou nacionalista e canto o hino. OUVIRAM ATÉ NO IPIRANGA AS MARGENS ELÁSTICAS NO MEU BOLSOOO ÓÓÓ DINHEIRO ADORADO ENTRE OUTRAS MIL ÉS TU BRASIL ETC..ETC…ETC…

  4. Lula de rabo preso.

    Ok, foi contratado pelo Bozo, mas cadê a prerrogativa presidencial, em casos como esse, que envolvem a estratégia de defesa nacional, para cancelar essa joça?

    E pior, até todo esse problema com o STF, ninguém do governo ou das FFAA tocou no assunto, fingiram de mortos.

    E assim iam ficar se não tivesse o problema com o STF.

    Só o Nassif acredita no Lula…

    É isso aí, o cara manda, e ponto.

    Qual alternativa? Não tem, o Brasil não desenvolveu, nem em Lula 1, 2 Dilma 1 e 2 (pela metade) nada nesse sentido.

    Lula 3 é só um zumbi, um corpo fétido, que espera que alguém o enterre.

  5. Será um prejuízo incalculável para a vida humana.
    Em especial à dos integrantes do alto comando.
    Não poderão mais pedir pizza com borda recheada!
    Algum ser humano sobrevive sem esse insumo essencial?

  6. Nassif, não gosto de me meter, em alguns assuntos estratégicos, por que são complexos e não são compartilhados e muito menos transparentes. porém foi assustador hoje, algumas publicações na rede, não fiz checagem, porém se for mesmo verdade esse artigo, pelo menos no titulo cai por terra, diziam as publicações que o filho do comandante do exercito é o advogado e representante da Starlink no Brasil, tem algo, que pelo menos choca interesses.

  7. Nassif, não gosto de me meter, em alguns assuntos estratégicos, por que são complexos e não são compartilhados e muito menos transparentes. porém foi assustador hoje, algumas publicações na rede, não fiz checagem, porém se for mesmo verdade esse artigo, pelo menos no titulo cai por terra, diziam as publicações que o filho do comandante do exercito é o advogado e representante da Starlink no Brasil, tem algo, que pelo menos choca interesses.

  8. Durante a Guerra do Paraguai a principal vantagem do Brasil era tecnológica. Enquanto os paraguaias usavam fuzis de chispa, os brasileiros usavam fuzis de culatra. As armas dos nossos inimigos não funcionavam bem quando o tempo estava úmido e o Brasil só aceitava batalha quando o clima não estava quente e seco. Os gringos até tentaram vender e entregar fuzis de culatra para o Paraguai, mas a marinha fechou a embocadura do Rio da Prata e ameaçou afundar os navios norte-americanos. Na próxima guerra, os gringos poderão fornecer aos nossos inimigos não apenas armas mas dados essenciais e estratégicos sobre o posicionamento das tropas brasileiros, sobre a logística de abastecimento delas e é claro sobre os planos de ataque ou de recuo das unidades militares. Isso de certa maneira é bom, porque esse Exército de merda caro que vive interferindo na política e atrasando o desenvolvimento sócio econômico do Brasil precisa mesmo ser derrotado, humilhado e destroçado numa guerra. Quem confia em gringo sempre acaba morto ou preso. Saddan Hussein, Bin Laden, Noriega e outros que o digam.

  9. ” o Exército poderia realizar “novos processos licitatórios para contratação do serviço de outra empresa”.”
    Pronto. Resolvido o problema . Falta combinar com o filho do Comandante do Exercito que é o representante legal da tal Starlink no Brasil.
    O Moro e quadrilha entregaram tudo da Petrobras pros USA e agora as Forças Desalmadas entregam o mapeamento de TODO o Brasil, principalmente das áreas de dificil acesso onde deve ter muita riqueza.
    Bacana defender esse modelo. Como dizem , Deus nos Acuda , pois a Pátria quer ser vendida e a Liberdade so vai valer pra quem tem interesses economicos.

  10. Agora mais essa, já vai bastava as “novas fragatas” resultante das tradicionais e costumeiras compras de sucatas inglesas pra dar uma aparência interna de zero pela “segurança nacional”…!

    Mas como segurança nacional se o grosso de nossas armas provém de sucatas de possíveis adversários nas disputas internacionais….?

    Triste ver a segurança do país não mãos desses vendilhões da pátria….!

  11. As FFAA existem para superar obstáculos e desafios. Com ou se STARLINK haverá comunicação, haverá acesso a internet e as operações, seja aviso, adestramento ou real, vai continuar. Temos que entender que em uma situação de conflito, interno ou externo, haverá dificuldades. As FFAA vão tratar esse assunto como mais uma dificuldade a ser superada.

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