Governo Lula: armadilhas da crítica e caminhos para superá-la, por Antônio Augusto de Queiroz

A armadilha da crítica se manifesta em ciclo vicioso onde ações governamentais são sempre interpretadas de forma negativa, mesmo quando boas

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no Diap – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar

Governo Lula: armadilhas da crítica e caminhos para superá-la

A popularidade do governo Lula (PT) nesse terceiro mandato é influenciada por complexa rede de fatores econômicos, políticos e estruturais, que vão desde a sabotagem de órgãos reguladores e setores de mercado, falhas na comunicação do governo e ausência de marca forte até a polarização política e a crítica sistemática e desproporcional de setores da mídia e da oposição.

por Antônio Augusto de Queiroz

No entanto, um dos maiores desafios enfrentados pelo governo é a chamada “armadilha da crítica”, na qual qualquer medida adotada, independentemente dos méritos ou impactos positivos, é alvo de questionamentos e interpretações negativas.

Essas manifestações criam cenário de desconfiança e dificultam a construção de visão favorável ao governo, mesmo quando as políticas visam atender às demandas urgentes da população.

A armadilha da crítica é um dos principais obstáculos à popularidade do governo Lula. Ela se manifesta em ciclo vicioso no qual as ações governamentais são sempre interpretadas de forma negativa, mesmo quando visam beneficiar a população, e sem objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento.

Exemplos recentes ilustram essa dinâmica. A renúncia do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, apesar de beneficiar milhões de trabalhadores de baixa e renda média, foi criticada por analistas econômicos e parte da mídia, que os consideraram “irresponsáveis” do ponto de vista fiscal.

Cesta de programas sociais
A ampliação do Programa Vale-Gás, apesar do impacto positivo na qualidade de vida das famílias mais pobres, foi vista como risco ao equilíbrio fiscal, ignorando o caráter social dessa iniciativa. A liberação de recursos do FGTS para demitidos, que visa aliviar a situação financeira de milhares de trabalhadores, foi criticada por estimular o consumo de forma inflacionária.

A importação de alimentos e a redução de tributos da cesta básica, apesar de buscarem reduzir o custo de vida, foram consideradas “populistas” e insuficientes para resolver problemas estruturais.

Essa lógica de crítica reflete tensão histórica entre 2 visões de política econômica: a austeridade fiscal, que prioriza o controle rígido dos gastos públicos, e o bem-estar social, que busca reduzir desigualdades e melhorar as condições de vida da população.

O governo Lula, ao adotar medidas aprovadas com a segunda visão, enfrenta resistência de setores que priorizam a austeridade, gerando ciclo de críticas que dificulta a construção de mensagem positiva.

Armadilha da crítica
Para superar a armadilha da crítica, evitar a paralisia do governo e melhorar a popularidade, o governo Lula precisa adotar estratégia multifacetada. Em primeiro lugar, é essencial investir em comunicação eficaz e transparente, explicando os benefícios das políticas adotadas e como essas impactam positivamente a vida das pessoas.

A utilização de dados e exemplos concretos para demonstrar os resultados das medidas, como a redução da pobreza e do custo de vida, é fundamental. Além disso, envolver a população por meio de campanhas informativas e diálogo direto, utilizando redes sociais e outros canais de comunicação, pode ajudar a construir imagem mais favorável.

Outro aspecto importante é o diálogo com setores críticos e sua contestação firme. O governo deve buscar construir pontes com analistas de mercado, setores da mídia e oposição civilizada, mostrando que as políticas sociais não são incompatíveis com a responsabilidade fiscal. Realizar fóruns e debates para discutir as medidas governamentais, ouvir críticas e sugestões, mas contrapor-se à “armadilha” de forma construtiva, pode contribuir para ambiente político menos polarizado.

Foco em resultados concretos
O foco em resultados concretos também é fundamental. Demonstrar que as políticas adotadas estão gerando melhorias reais na vida da população, como a criação de empregos, o aumento do poder de compra e o aumento do consumo e da produção, podem ajudar a contrabalançar as críticas. Priorizar a eficiência na implementação de programas sociais e de obras públicas, e evitar atrasos e falhas que possam gerar frustração, é igualmente importante.

Quando bem direcionada, a crítica pode ser poderoso agente de transformação; quando mal utilizada, pode se tornar obstáculo para a mudança e o crescimento. Portanto, é crucial que o governo adote abordagem construtiva, focada não apenas na identificação de problemas, mas também na busca de soluções e na promoção de ações positivas para reduzir o impacto dessa perversa “armadilha”.

Corrupção e gestão
O combate à corrupção e a melhoria da gestão pública são elementos que não podem ser ignorados. Reforçar a transparência e o combate à corrupção, mostrando que o governo está comprometido com a integridade e a eficiência na gestão pública, é essencial para ganhar a confiança da população.

Investir em mecanismos de controle e fiscalização para evitar escândalos que possam manchar a imagem do governo também é medida necessária.

Enfrentar os desafios estruturais, especialmente na área de infraestrutura, é outro ponto necessário. O Brasil está na posição 50º no ranking de infraestrutura, enquanto possui PIB que equivale ao 9º do mundo. Veja-se que se tem País a ser construído.

O normal seria que esses indicadores estivessem próximos, com a melhoria da infraestrutura. Implementar políticas eficazes para enfrentar problemas como a violência e a criminalidade, áreas que geram insatisfação e exigem atenção constante, é fundamental.

Promover reformas estruturais que ataquem as causas profundas da desigualdade social e da crise econômica também deve ser prioridade.

Mensagem positiva
Por fim, a construção de mensagem positiva, que transmita esperança e confiança no futuro, é essencial. Trabalhar para construir discurso que destaque os avanços aprimorados pelo governo, contrabalançando as críticas sistemáticas, pode ajudar a melhorar a imagem do governo. Envolver lideranças comunitárias, artistas e influenciadores para ampliar a divulgação dos benefícios das políticas governamentais é estratégia que pode contribuir para esse objetivo.

Diante deste cenário, a conclusão natural é que a popularidade do governo Lula esteja enredada em armadilha de críticas sistemáticas, que dificulta a implementação de políticas públicas e a construção de imagem positiva.

No entanto, ao adotar estratégia que combina comunicação eficaz, diálogo com setores críticos, foco em resultados concretos e enfrentamento dos desafios estruturais, o governo pode romper esse ciclo e consolidar sua aprovação.

Em ambiente político polarizado, em que cada ação é alvo de interpretações divergentes, a capacidade de equilibrar pressão e demonstrar resultados será fundamental para definir o legado deste mandato.

Ao priorizar o bem-estar social e a redução das desigualdades, o governo Lula tem a oportunidade de mostrar que é possível conciliar responsabilidade fiscal com justiça social, e construir caminho para superar a armadilha da crítica e melhorar a popularidade.

Antônio Augusto de Queiroz Jornalista, analista e consultor político, mestre em Políticas Públicas e Governo pela FGV. É sócio-diretor da empresa “Consillium Soluções Institucionais e Governamentais”, foi diretor de Documentação do Diap, é membro da Câmara Técnica de Transformação do Estado e do Cdess (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável) da Presidência da República – Conselhão.

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4 Comentários

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  1. Texto do colega Antônio Augusto de Queiroz , atualíssimo é necessário com a devida urgência que o caso merece . Lula precisa urgente tomar essas decisões,sob pena de deixar seu governo ir para o lixo da história.

  2. A crítica da armadilha?

    Já foi dito aqui, mas não custa repetir:

    O problema no profissional, de qualquer ramo, é dar a sua função, e as repercussões dessa função no mundo, um viés bem mais amplo que ele tem.

    Assim, textos de jornalistas em espaços como esse tendem a dar a “comunicação do governo” um alcance e profundidade desproporcionais.

    O governo padece de imobilidade porque não se comunica, ou se comunica (mal) porque está imóvel? Dilema Tostines, e como tal, sempre falso.

    Falta ao governo Lula é POLÍTICA, DIREÇÃO POLÍTICA, pois não se comunica o que não se tem, ao menos que enveredemos pelo mesmo campo de ação da direita e as redes sociais (como já li por aqui).

    As ações do governo listadas pelo articulista são todas horríveis, ainda que tomadas em separado, e se contextualizadas então, nem se fale!!!!!

    Importar alimentos é como tapar com band-aid uma rachadura na parede da represa da Itaipu, principalmente porque qualquer imbecil sabe que o problema dos alimentos não reside (apenas) na pouca oferta!!!!!

    Socorro Luiz Mercherer!!!! Socorro Paulo Kliass!!!!

    Outro ponto, foi a isenção de 5 mil, uma palhaçada de pouquíssimo alcance e impacto real, ainda mais se colocada em comparação com o brutal congelamento decenal da tabela de IRPF, que se descongelada estivesse, não necessitaria dessa medida oportunista e populista (do pior tipo).

    É só fazer as contas, meus amigos!!!!!

    Eu nem vou comentar a asneira sobre “combate a corrupção” e “infraestrutura”.

    Não merece tempo algum essas tolices!!!

    Então, para encerrar, de novo:

    Esse governo não anda, e só desanda, porque é ruim, é fraco, não tem uma CARA política, não é nada, é um tremendo pudim de chuchu (olha o Alckmin aí gente, chora cavaco).

    É um troço que quer ser o que não pode, sendo mais parecido com aquilo que diz não querer ser!!!!!!

    É isso, jornalista, é isso!!!!!

  3. Na esquerda tem uma turminha de influenciadores, aqueles revolucionários que nunca viram estilingue, que fazem criticas ao governo pelo prazer de criticar, qualquer medida é colocada como neoliberal nãao importa quão benéfica seja.

    1. Na direita têm uns tipos que se dizem de esquerda, que ao sinal de qualquer crítica ao governo (que nem de esquerda é) passam a cacarejar:

      “Revolucionário de araque, esquerdista extremista…”

      Parecidos com os bolsonminions, que vêem “revolução” em qualquer canto.

      Argumento contra as críticas?

      Nada, no máximo dizem:

      “Ah, falar é fácil”

      Bem, com esse tipo de censura, até falar é difícil.

      Um governo de m*rda, apoiado por uma maioria de néscios.

      Paes que direita nesse país com um populacho desses?

      Viva Lula, viva Haddad, nossos guias geniais dos povos!!!!!!

      Viva o Komintern do centrão!!!!!!

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