Igrejas têm mais sucesso que partidos nas periferias, avalia Aldo Fornazieri

Cientista político ajuda a entender a crise dos movimentos tradicionais de esquerda e defende nova pedagogia

Jornal GGN – A desestabilização político-social enfrentada hoje no país não é resultado de uma única crise, mas sim de múltiplos conflitos estruturais que desembocaram na atual crise, a avaliação é do professor Aldo Fornazieri, Diretor Acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política desde 2006, e organizador, ao lado do professor Carlos Muanis, do livro ‘A crise das esquerdas’ que reúne textos e entrevistas de professores e ativistas. 

Em entrevista para o jornalista Luis Nassif ele pontua que a crise dos movimentos e partidos de esquerda, por exemplo, tem como fundamento a crise dos próprios alicerces que fundamentaram suas ideologias.

“Com exceção de alguns líderes históricos do marxismo, o movimento marxista se instituiu como um movimento anti-político, que desprezava a política subordinando, fundamentalmente, a política à economia, a partir de uma tese clássica do Marx, quando ele dizia que a superestrutura política-ideológica era uma espécie de um reflexo da estrutura econômica e material”.  Por esse motivo, boa parte dos movimentos sociais da esquerda perderam a perspectiva da alcançarem a autonomia a partir da perspectiva política e os erros do PT, enquanto governo, se devem parcialmente a esse olhar.  

“Um exemplo disso é que três dias antes do impeachment, em 17 de abril de 2016, tanto o Lula quanto a Dilma e o PT avaliaram que eles tinham voto suficiente para barrar o impeachment. Ao não conhecer como se dá o jogo política dos palácios, e como tem que lidar com a relação de amigo e inimigo, eles se deixaram derrotar completamente”, avança o cientista reforçando que a lógica política é a lógica do poder. 

A corrupção também é apontada por Fornazieri como outro elemento decisivo na queda do PT, não só no sentido do dinheiro, mas também dos princípios quando alcançou o poder no que o cientista chamou de “ideologia do novo-rico”, quando o partido, ao chegar no “outro lado”, atuando diretamente juto aos inimigos, passou a não saber diferenciar a semelhança entre esses e seus aliados.

“Se você não tem em mente essa dinâmica – amigo e inimigo – você não tem estratégia, porque não tem inimigo. Em política, vários clássicos sempre enfatizaram isso, desde Maquiavel até Carl Schmitt”.

O professor pontua que não existe uma estratégia pré-definida para todo o jogo político. Cada conjuntura exige uma saída, porém, embebido no poder, o PT teria perdido a condição de estrategista. E isso já era visível em Junho de 2013, aliás as condições políticas que culminaram com a retirada do partido do poder guarda as bases naquela conjuntura.

“Num determinado momento você pode fazer alianças, mas sem perder de vista os objetivos finais estratégicos que você procura com essas alianças, e sem perder de vista que muitas vezes o seu aliado vai ser o seu inimigo amanhã”, destacou Fornazieri, completando que um partido que se constitui no poder deve ter sempre em mente a manutenção da autonomia, caso contrário a tendência será perder a capacidade de decidir, como ocorreu com o Partido dos Trabalhadores.

Mas chegar ao poder e se manter nele não é tarefa fácil no Brasil. O cientista político destacou que, como o principal problema do país é a profunda desigualdade social, a ação política deve manter estratégias em várias frentes: no desenvolvimento, na inclusão e na economia, ou seja, nos principais causadores das desigualdades.

“O PT atacou esses problemas superficialmente, porque ele não fez reformas estruturais que implicassem na remoção dessa desigualdade”, por isso o saldo do PT, na saída do governo, é pequeno e isso é medido, segundo Fornazieri, pelo tempo em que a próxima gestão consegue desmontar as políticas firmadas no governo anterior o que, como temos visto, tem ocorrido rapidamente: praticamente todas as políticas sociais promovidas pelos petistas já estão em vias de serem exterminadas. 

Consenso entre as esquerdas é possível?

Não. Fornazieri avalia que as esquerdas estão passando por um período amplo de colapso tanto do ponto de vista das ideias, como do ponto de vista organizativo porque suas estruturas tradicionais perderam de vista que a juventude atual não é a mesma de décadas anteriores.

“A nova juventude não quer saber de partidos políticos, a [velha] esquerda não fez essa necessária discussão entre verticalidade e horizontalidade e como buscar um caminho do meio que articule essas duas dimensões. Se você fica só na verticalidade, cria estruturas rígidas ossificadas que a juventude não participa, e se você só fica na autonomia como, por exemplo, o movimento Passe Livre, você não cria potência, então você tem que buscar uma situação que você possa incluir participando e, ao mesmo tempo, potência e poder das organizações”. 

E, segundo o pesquisador, esse cenário implica no desenvolvimento de uma nova pedagogia. “A esquerda não sabe ouvir e acolher. Por exemplo, por que há um sucesso das igrejas evangélicas neopentecostais? Porque elas acolhem e ouvem”, explica Fornazieri alertando que no atual momento de desenvolvimento intelectual da juventude, se a pessoa percebe que não está sendo escutada em um determinado movimento, a tendência é ela se sentir manipulada. 

O diretor acadêmico da FESPSP avalia também que uma das lideranças que percebeu essa nova pedagogia, e está aplicando na periferia, é o líder do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, um dos entrevistados do livro ‘A crise das esquerdas’. 

“Na periferia nós estamos vivendo uma efervescência de movimentos de várias naturezas, como cultural, de empreendedorismo, inclusive está se estruturando um partido da periferia que se chama Frente Favela Brasil, que nasce no Rio e está entrando em São Paulo”, conta Fornazieri destacando que, esses novos grupos não querem mais saber dos partidos de esquerda como PT e PSOL, pela dificuldade que essas siglas possuem de dialogar com o público da periferia. 

https://www.youtube.com/watch?v=CKusUFhP2p4&feature=youtu.be width:700

Redação

25 Comentários

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  1. Preciso ler e reler, bem como

    Preciso ler e reler, bem como assistir ao video para entender com clareza algumas colocações de Aldo, como por exemplo quando ele cita a forma como a nossa zelite zelote dominante constroi subjetividades, ou seja, controla corações e mentes e, portanto o voto, o direcionamento politico, com raras exceções em que esta lógica foi quebrada. Isso é fato. Quais as alternativas ao Poder Verbalizador/Midiático? 

    Estrutura e superestrutura nos dias atuais

    https://jornalggn.com.br/blog/spin-ggnauta/estrutura-e-superestrutura-nos-dias-atuais

    Sobre o PT ter-se corrompido, não há provas neste sentido, kd as contas no exterior, há alguma de petista? Kd o enriquecimento ilítico? Os financiamento de campanhas eleitorais ao PT, feitos de forma legal, foi criminalizado. Temos Instituições que, por anos a fio, funcionam como organizações criminosas anti-PT, sendo que o sistema penal midiático, em especial, faz parte da superestrutura que constrói subjetividades, as Igrejas também exercem este papel quando usam a mística para manter a desigualdade social, a própria Igreja Catolica se opôs ao projeto de taxação das grandes fortunas, enfim…

    1. E tem algo básico nesse

      E tem algo básico nesse sucesso das igrejas, sobretudo, nos últimos tempos, as neopentecostais: tem um templo em cada beco, em cada esquina.

      Na rua onde moro e em seu entorno tem quatro. Estão em todos os lugares nos mais distantes rincões.

      Que agremiação política pode concorrer com isso?

      Haja dinheiro?

      1. A indústria da fé gira

        A indústria da fé gira bilhões de reais, mas nem um centavo de imposto para a manutenção da sociedade como prevê a CF: papel social das empresas, dão uma esmola aqui outra ali a titulo de marketing, gastam muito em publicidade, banners gigantescos etc. mas todo o lucro vai pro bolso paticular do “dono da igreja”, o capo, e não para a Instituição…

         

  2. O Aldo explica.

    Vendo e ouvindo o que dizem esses tais de cientistas políticos fica fácil entender porque ninguém consegue entender nada da política que se desenrola diante dos seus narizes. E, se quem é especialista, demonstra que não entende nada, quem é aluno entende menos ainda. Vai aprender aonde? E fica fácil, assim, para os donos da boiada, conduzir o gado para onde eles querem que o gado vá. Isso o professor explica muito bem. Vendo e ouvindo as baboseiras que emanam, a conclusão é que tudo de extraordinário que foi realizado, e está registrado na história (não adianta querer mudá-la), assume uma magnitude ainda maior, porque além de vencer resistências colossais impostas pelos poderosos adversários, era precisso também contornar a estupidez dos “amigos”. Viva o Lula e sua militância, pelas extraordinárias combatividade, perseverança e, principalmente, paciência!! Por Tutatis!! 

  3. Igrejas sempre fizeram mais sucesso que partidos

    É óbvio que igrejas sempre fizeram mais sucesso do que os partidos, e não só na periferia, mas em todas as partes.

    A religião é um protesto vão contra a miséria real.

    “A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo”. – Karl Marx

    No que concerne ao suposto determismo econômico do Marxismo e seu suposto movimento anti-político, não devemos esquecer que, para Marx, a política é a expressão concentrada da economia, isto é, a política determina a economia e é por ela determinada em última instância. Ou alguém acha que, nada obstante apenas o poder econômico seja favorável às reformas trabalhistas e da previdenciária, se o povo não sair às ruas, os políticos não a empurrarão goela abaixo da população?

    Para os Clássicos da economia, entre eles Marx, não existe economia, existe economia política.

    O Marxismo, portanto, não é anti-político. Basta dar um giro pelas obras de Marx e Engels principalmente, para se dar conta de que o Marxismo está sendo acusado injustamente pelo Fornazieri, pois para Marx era impossível a construção do socialismo sem a conquista do poder político, do estado. Mas é claro que o Estado teria que se transformar radicalmente. Os trechos abaixo mostram que o Marxismo não era um movimento anti-político, pelo contrário:

    “Cada classe, ao aspirar à dominação – mesmo que sua dominação, como é o caso do proletariado, seja, de modo geral, condicionada pela supressão de toda velha forma de sociedade e de dominação – deve, primeiramente, conquistar o poder político, a fim de novamente apresentar o seu interesse como sendo o interesse geral, o que é forçada a fazer, em um primeiro momento.” – Marx e Engels

    “Servindo-se sempre os Senhores da terra e do capital dos seus privilégios políticos para defender e perpetuar os seus monopólios económicos e subjugar o trabalho, a conquista do poder político torna-se o grande dever do proletariado.!” – Marx

    “Não há dúvida que a emancipação política representa um grande progresso. Embora não seja a última etapa da emancipação humana em geral, ela se caracteriza como a derradeira etapa da emancipação humana dentro do contexto do mundo atual. É óbvio que nos referimos à emancipação real, à emancipação prática.”- Karl Marx, A Questão Judia

    “A supremacia política do produtor não pode coexistir com a eternização da sua escravatura social. A Comuna devia pois servir de alavanca para derrubar as bases económicas em que se fundamenta a existência das classes e, por conseguinte, a dominação de classe. Uma vez emancipado o trabalho, todo o homem se torna um trabalhador e o trabalho produtivo deixa de ser o atributo de uma classe. Vemos como a política é, na prática, colocada em primeiro plano” – Marx, guerra Civil em França

    “O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas”. – Marx e Engels, Manifesto Comunista

    “Até aqui, todas as concepções históricas recusaram esta base real da história ou, pelo menos, consideraram-na como algo de acessório, sem qualquer ligação com a marcha da história. É por isto que a história foi sempre descrita de acordo com uma norma que se situa fora dela A produção real da vida surge na origem da história mas aquilo que é propriamente histórico surge separado da vida ordinária, como extra e supraterrestre. As relações entre os homens e a natureza são assim excluídas da historiografia, o que dá origem à oposição entre natureza e história. Consequentemente, esta concepção só permitiu encontrar os grandes acontecimentos históricos ou políticos, as lutas religiosas e principalmente teóricas, e foi obrigada a partilhar com qualquer época histórica a ilusão dessa época. Suponhamos que uma dada época julga ser determinada por motivos puramente “políticos” ou “religiosos”, se bem que “política” e “religião” constituam apenas as formas adquiridas pelos seus motores reais: o seu historiador aceitará aquela opinião. A “imaginação”, a “representação” que esses homens determinados têm da sua prática real transforma-se no único poder determinante e ativo que domina e determina a prática desses homens. Se a forma rudimentar sob a qual se apresenta a divisão do trabalho na Índia e no Egito suscita a existência nestes países de um regime de castas no Estado e na religião, o historiador pensa que esse regime de castas constitui o poder que engendrou a forma social rudimentar. Enquanto os Franceses e os Ingleses se atêm À ILUSÃO POLÍTICA, QUE É AINDA A MAIS PRÓXIMA DA REALIDADE, os alemães movem-se no domínio do “espírito puro” e fazem da ilusão religiosa a força motriz da história. A filosofia da história de Hegel é o último resultado conseqüente, levado à sua “expressão mais pura”, de toda esta forma de descrever a história, típica dos alemães, e na qual não interessam os interesses reais nem sequer os interesses políticos mas sim as idéias puras.” – Marx e Engels, Ideologia Alemã.

     

  4. Então podemos concluir, a

    Então podemos concluir, a grosso modo, que a esquerda deveria adotar a mesma linha das igrejas, mas substituindo a bíblia pelo Capital de Marx. Não é isso, claro, mas algo parecido. Se a esquerda pretende voltar ao poder, terá que se aproximar da população pobre e, para isso, deve mudar a linguagem e criar estruturas materiais tal como as igrejas fazem. O golpe jurídico, midiático e parlamentar de 2016, patrocinado pelo grande capital,  é um choque de realidade, revelando as fragilidades da direita (não tem votos, mas dinheiro para comprá-los) e da esquerda ( despreparo para exercer e conservar o poder ). O que as esquerdas não podem mais fazer, mesmo acertando em muitas políticas sociais,  é cometer o pecado de iludir as camadas mais pobres da população, como fazem os pastores evangélicos.   

    1. então….

      Aqueles que acham pensar a Esquerda, além da visão limitada ainda mostram que o pensamento ditatorial é seu único norte. Como disse Florestan Fernandes, nem Ideologia e Estrutura de Esquerda temos. Apenas boas intenções e vontade de mudanças fantasiadas de esquerda. Quer dizer que Esquerda é a única saída e único rumo? Qualquer coisa fora esquerda não pode ser viável? Democratas, não?! E ainda dizem não entender o Brasil de 2017. Mas uma citação é certa. As Igrejas são mais igadas à periferia que partidos ou ideologias politicas. É lógico. São mais democráticas. Quantos diretórios de partidos existem nos bairros? Nem nas escolas, a esquerda aceita a participação popular, via Associação de Pais e Alunos. E diminuir a influência de Sindicatos? Sindicatos, todos, ligados à esquerda. E depois nossas Elites, intelectuais e midiáticas principalmente, querem explicar que tivemos democracia nestes 30 anos? A farsa caiu, mas parabéns à esquerda, que virou elite e aumentou mais alguns comodos na Casa Grande. A senzala já constatou o fato. 

      1. Não deixa de ser verdade, Zé Sérgio, mas…

        As igrejas estão atrás do dízimo e da idiotização da população, não da sua libertação.

        Os cômodos da elite esquerdista na Casa Grande é na carceragem de Curitiba e na papuda, é?

        O Zé Sérgio quer mais do mesmo. Ele acha que a direita, que só nos criou problemas, por ter mamado desde antes de Cabral aqui aportar, tem a solução para os problemas que ela mesma criou e cria.

        É o tipo de sujeito que se sacia com as migalhas do banquete dos poderosos. Prá ele, essas migalhas já estão de bom tamanho. Ele não pensa em liberdade, em igualdade, em solidariedade, etc. A única coisa que ele pensa é nas migalhas do banquete burguês.

      2. zé sergio, que lambança, vc é

        zé sergio, que lambança, vc é a favor do escola sem partido. Pesquise mais e verás que sob governos progressistas este pais respirou liberdade, democracia e avanços sociais. 

        1. Discutir com troll é perda de tempo…

          Denunciem o que ele diz, mas nao se dirijam a ele, é perda de tempo, saliva e latim. Ele está aqui para desestruturar, nao é nem sincero nas idiotices que diz (se bem que perpasse pelo discurso dele um ódio que parece sincero; mas ódio nao constitui pensamento, é pura bílis).

  5. Quanto ao desmonte do Estado

    Quanto ao desmonte do Estado social levado a cabo pelos donos do golpe, Aldo dá a entender que se o campo progressista tivesse implementado reformas estruturais, tais reformas não seriam desmontadas facilmente pelo governo ilegitimo. Talvez ele se refira a reforma agrária. Em 64 houve um golpe de estado para impedir reformas de base, dentre elas a reforma agrária. Em 2016 a novela se repete, o que me leva a  concluir que a reforma agrária neste pais, inclusive mudanças pontuais como acesso  direitos básicos agora desmontados pelo usurpador,  só serão possiveismediante a luta armada: sem conciliação, pois o que se vê é que a cambada não vai largar fácil o osso.

     

    1. Luta armada? Só s for p/ justificar a repressao q tem mto + arma

      Já vi esse filme e nao gostei do final… Vc já era adulto em 68? Foi o argumento para o aumento da repressao. E até parece que temos as armas.

  6. Revolução republicana

    Acho difícil articular a questão teórica da super e infraestrutura com a atuação de Dilma e Lula no governo, até porque Lula, como se diz, é um animal político e soube muito bem manter o poder com suas articulações políticas a um preço que hoje está sendo pago. Fez mais “amigos” que inimigos. Na verdade o poder desfigurou o PT que resvalou para o pragmatismo absoluto do poder pelo poder e à miséria da realpotik brasileira que tem o dinheiro como principal fundamento. Concordo com os elementos da crise da esquerda, que não consegue interagir com este mundo pós-moderno (?) que  diluiu os valores civilizatórios, culturais e humanitários do século XX. É preciso além de ouvir a juventude compreender este mundo tecnológico e unidimensional. Além dos aspectos mencionados como a superação da desigualdade, o país precisa passar por uma revolução republicana. Política é a maior invenção humana mas quando colonizada pelos interesses do dinheiro transforma-se na mais vil das atividades. O Estado é um lugar de privilégios, um fim em si para uma aristocracia que manipula pra seu interesse a res-pública.        

  7. Revolução republicana

    Acho difícil articular a questão teórica da super e infraestrutura com a atuação de Dilma e Lula no governo, até porque Lula, como se diz, é um animal político e soube muito bem manter o poder com suas articulações políticas a um preço que hoje está sendo pago. Fez mais “amigos” que inimigos. Na verdade o poder desfigurou o PT que resvalou para o pragmatismo absoluto do poder pelo poder e à miséria da realpotik brasileira que tem o dinheiro como principal fundamento. Concordo com os elementos da crise da esquerda, que não consegue interagir com este mundo pós-moderno (?) que  diluiu os valores civilizatórios, culturais e humanitários do século XX. É preciso além de ouvir a juventude compreender este mundo tecnológico e unidimensional. Além dos aspectos mencionados como a superação da desigualdade, o país precisa passar por uma revolução republicana. Política é a maior invenção humana mas quando colonizada pelos interesses do dinheiro transforma-se na mais vil das atividades. O Estado é um lugar de privilégios, um fim em si para uma aristocracia que manipula pra seu interesse a res-pública.        

  8. Homens animalizados

    Alguém afirmou que se o homem é submetido às mesmas condições de um animal, ou ele se comporta como tal ou ele se revolta. As pessoas que buscam a religião são pessoas que foram colocadas na mesma situação de um animal, só que em vez de se revoltar, elas se animalizam e, como manada, são tangidas pelo pastor para o matadouro.

    A religião é a alma de um mundo sem alma que animaliza os homens. Cabe humanizar esses animais.

    Por falar em rebanho, o rebanho dos golpistas debandou. Antes eram todos por um e um por todos. Agora é cada um por si mesmo e contra os demais. Temer não quer ser investigado isoladamente, e deixar que o Aécio Neves se lasque prá lá. Temer só quer responder por seus crimes, não pelos do Aócio. Aliás, nem por seus próprios crimes esse vagabundo quer responder, imagine pelos crimes do outro corrupto flagrado com a boca na botija.

  9. Não se esqueçam que boa parte

    Não se esqueçam que boa parte da força das igrejas evangélicas (teologia da prosperidade) decorreu de políticas públicas promovidas pelo PT, a força da igreja evangélica consolidou-se com o PT, evidentemente que isso não seria explicado aos fiéis. O acesso a bens materiais é decorrente da resposta de Deus ao dízimo e outras condutas dos fiéis. Por esta razão que o Estado tem que ser satanizado, no sentido de não ser solução para o excluído, ele deve seguir a palavra de Deus e não buscar a solução pela organização política e pela reivindicação de políticas publicas. Desvalorizar o Estado e a política é uma das grandes formas de manutenção das elites no poder.  O Brasil precisa orar!!!!

    1. Um reparo necessário

      As grandes corporações neopentecostais apoiaram a guinada à esquerda impulsionando a chegada de Lula ao poder. Isso está documentado. Depois os escândalos de corrupção, a classe política foi satanizada, não o estado. Nenhum político, a não ser os pastores-deputados e prefeitos, tem o voto desse rebanho.

  10. O desejo de Fornazieri de militantes do José evangilizador!
    O desejo, segundo Baruch Spinosa, aquele que se manifesta em cada um singularmente, é a essência do homem, mesmo que a ele se some a razão. Mas, é soma a posteriori daquilo que se manifesta a priori. Fornazieri é assim conduzido para conduzir sua análise! Senão vejamos:

    1. 1o) local da produção:
      O mundo da trabalho é o lugar fundamental da esquerda, pois nele se estabelece a relação de classe e a produção e extração da mais-valia.A tese segundo a qual os erros da esquerda advém de relação entre política/ideologia separada do mundo da produção material que a esquerda adota a partir de Marx militância política não é a condição analítica correta. Marx destacou isso quanto a relação sociedade civil e Estado, e naquela situação local de produção e de moradia. Ideologia e partidos naquela se situando, coerção militar e jurídica, e ordenação legal do labor.

  11. Haja blablablá…

    O PT nao fez reformas estruturais? E como poderia fazê-las dentro das regras do jogo, com vara de condao?

    E o saldo é pequeno? Nao seria, se nao estivesse sendo dilapidado. Mas é muita insensibilidade dizer que “é pequeno”, quando inclui a retirada de milhares de pessoas da linha de miséria absoluta, a diminuiçao do índice da desigualdade de renda (embora ainda escandaloso), a diminuiçao da desigualdade regional, o acesso pela primeira vez de milhares de pessoas das áreas rurais à eletricidade, e mais ainda a médicos, a entrada de pobres nas universidades, etc. Nada disso afeta o ilustre cientista social? Que coisa!

  12. Mais um artigo apontando a metade vazia do copo

    Acompanho os artigos semanais de Aldo Fornazieri; o seu preparo intelectual é indiscutível e parece muito objetivo nas suas colocações, mas, raramente eu consigo concordar com ele, e isso me preocupa muito, seja pela minha insuficiente capacidade de análise ou, talvez, pela minha percepção que me faz sentir determinadas entrelinhas dentro dos seus artigos. Em compensação, pela relevância dos temas, sempre tenho me tomado algum tempo em avaliar e comentar os artigos de Fornazieri.

    Embora mais discreto e dissimulado, Fornazieri me lembra dos discursos de Cristovão Buarque, com frases arrastadas que parecem sinceras, mas que carregam algum grau de inveja e dor de cotovelo. Fornazieri age como alguém barrado na entrada do ambiente que se propõe a comentar e então reage com algum rancor. Raramente se observa nos artigos do Fornazieri algum elogio, alguma palavra de esperança ou de caminho a ser seguido. Trata-se de uma constante crítica ao Plano A sem apresentar Plano B.

    No geral, Fornazieri é do tipo que enxerga claramente a metade vazia do copo. Embora tenha o PT o mérito de ter ganhado quatro eleições consecutivas (além de tudo o bom que fez pelo Brasil), o articulista aponta os “erros do PT, enquanto governo” e foca no término dessa sequência (embora tenha sido por causa de um golpe). Fornazieri criticaria assim o Cristiano Ronaldo se, depois de ganhar por 4 anos consecutivos, este perdesse um dia o título de melhor jogador do mundo.

    Ainda, o Fornazieri culpa o PT de não ter avaliado corretamente a quantidade de votos do impeachment! Ou seja, se tivessem calculado melhor não haveria golpe?

    Naturalmente, Fornazieri acerta em alguns pontos, embora utilize alguns desses argumentos para enfeitar espertamente as suas conclusões já preconcebidas.

    Vamos com alguns detalhes:

    “crise dos movimentos e partidos de esquerda, por exemplo, tem como fundamento a crise dos próprios alicerces que fundamentaram suas ideologias”.

    Os partidos de esquerda possuem como característica principal as suas ideologias. A “ideologia” no é motivo de crise alguma (um caso especial foi a perda de rumo do PC do Roberto Freire depois da queda do muro de Berlim). As dificuldades desta época estão na comunicação destas ideologias com os eleitores, pela atomização da vida em comunidade e pelo avanço tecnológico.

    Ainda, um grande problema radica na assimetria temporal e de evolução entre os países desenvolvidos e nós, na América latina. Existe uma parte da sociedade que quer pular etapas e ser moderno no tapetão, seja de esquerda ou de direita, trazendo soluções da Europa de hoje ao invés de iniciar o combate aos nossos problemas estruturais, que os países avançados fizeram quase 100 anos atrás. Parece algo surreal, onde uma pequena parcela da população vive num Brazil virtual, com capital em Miami, contracenando com outra parcela pequena da população, modernosa e carnavalesca, que traz a esquerda moderna que um mundo inteligente e desenvolvido saberia valorizar, com vários tipos de gênero e três ou quatro banheiros diferentes no boteco onde tomam o seu chope gelado o uisque. Enquanto isso, um 90% da população tenta se libertar de uma colonização secular e colocar comida nos pratos dos seus filhos.

    “embebido no poder, o PT teria perdido a condição de estrategista”

    Aqui o articulista destila um pouco do seu dor de cotovelo, apresentando-se como alguém que entende do assunto mais do que Lula, Dirceu e etc. O PT é o partido mais organizado e democrático do Brasil, com correntes diferentes, com eleições internas, com rumo, sucessos e autocríticas.

    “O PT atacou esses problemas superficialmente” / “todas as políticas sociais promovidas pelos petistas já estão em vias de serem exterminadas”. 

    Os problemas foram atacados dentro do que foi possível, no ambiente que a democracia permitia, e as soluções funcionaram. O desmanche promovido pelo Temer está sendo feito com base num golpe, que é também efêmero, pois depende apenas da vontade popular para alterar tudo isso. A crítica do Fornazieri não é correta, pois coloca avanços democráticos gradativos na mesma perspectiva com que a ruptura democrática que hoje vivemos se encarrega de exterminar no tapetão. Ou seja, o PT gera soluções “superficiais” (mas, dentro ambiente democrático) e logo é culpado pelo Fornazieri por permitir que um “mero” golpe destrua as ações feitas. Tá querendo o que?

    Fornazieri acerta ao colocar o distanciamento dos partidos com a juventude, mas isso é devido ao surgimento das redes sociais (assunto tecnológico), somando a isso o ambiente de corrupção que cobre o ambiente político e que a mídia explora bem. Também ocorre que, gradativamente, o mundo neoliberal está destruindo a vida em comunidade, a camaradagem, os cânticos em botecos, as marchas, as lutas, e a “vida ao vivo” em geral, por conta da atomização do consumo (que lhes interessa) e, por conta disso a juventude têm encontrado a través da tecnologia opções de comunicação horizontal. Isso vai melhorar quando acabemos com a monopolização dos meios de comunicação e recuperemos – mesmo em parte – a nossa vida social em comunidade.

    “A esquerda não sabe ouvir e acolher. Por exemplo, por que há um sucesso das igrejas evangélicas neopentecostais? Porque elas acolhem e ouvem”, explica Fornazieri

    As igrejas evangélicas avançam por conta de sua própria ação religiosa, mais eficiente em relação a outras. O assunto aqui a discutir é a utilização política desse assunto. Ocorre que a mídia tem conseguido passar para muita gente, principalmente nas periferias, a ideia de que a esquerda defende valores contrários aos defendidos pelas igrejas, em aspectos comportamentais, religiosos e até sexuais. Assim, tem sido a tendência desta parcela importante do povo caminhar ingenuamente para candidaturas conservadoras. Até o Bolsonaro mergulhou no Rio Jordan para capturar essa votação. Cabe aqui apenas separar o assunto religioso do jogo político e as esquerdas levantarem apenas as bandeiras relevantes desta fase da vida brasileira: a nação autônoma e a justiça social.

    A situação das eleições no RJ ilustra bem esta situação, onde partidos tradicionais ficaram fora da disputa, observando povo humilde, porém religioso e conservador, contra modernosos coloridos que se dizem de esquerda e que até a rede Globo apoiou.

    Aquele Frente Favela Brasil, se criado, será muito bem-vindo e mais um importante grupo a dialogar com a sociedade, como os Sem Terra, Sem Teto e outras agremiações. O PT sempre dialogou com todos esses movimentos. Esquerda caviar é o PSol. O Fornazieri parece que nem sequer entende a diferença entre ambos os partidos. O PT é a esquerda necessária para uma América latina colonizada e injusta. O PSol é a esquerda carnavalesca que a direita gosta, que chega colorida e modernosa, como novela da Globo das oito. 

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