Internações, demissões e tensão constante marcam governo Bolsonaro, por Sidney Rezende

Quem quiser saber direitinho o que sentem as autoridades basta colocar o dedo na tomada 110v, porque 220v é só para quem tem ficha no Hospital das Forças Armadas

Foto: Pixabay

do SRzd

Internações, demissões e tensão constante marcam governo Bolsonaro

por Sidney Rezende

O atual governo brasileiro é um fio desencapado plugado numa tomada de 220 volts. O ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, foi internado na noite de quarta-feira (11), no Hospital das Forças Armadas, em Brasília. Pontes era esperado na manhã desta quinta (12) para uma audiência na Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, sobre a exoneração do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão. A audiência teve que ser adiada.

No final do mês passado, quem abriu prontuário no mesmo hospital foi o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Ele participaria de uma cerimônia para assinatura do Acordo de Cooperação Técnica Águas Jurisdicionais Brasileiras no Gabinete do Comandante da Marinha, em Brasília. O mal estar o livrou do compromisso. Na ocasião, o evento, que contaria ainda com a participação do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, foi cancelado.

É razoável que tenha gente dormindo mal, comendo mal ou se sentindo mal na sua cadeira incandescente.

A boa fé dos “homens de bem” do Planalto garante que foi só uma coincidência. Pode ser.

Mas não custa alertar que o establishment descarta muito facilmente seus colaboradores. Por conta disso, é razoável que tenha gente dormindo mal, comendo mal ou se sentindo mal na sua cadeira incandescente. É cada vez mais comum em Brasília alguém se referir a um colega baqueado dizendo que ele sofre com “excesso de trabalho”, “nervosismo”, “probleminhas de saúde” ou mesmo “estresse ambiental”, como incorporou ao dialeto do primeiro escalão o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, ao comentar a internação de Salles.

Dizem os médicos que “estresse individual e coletivo, se constantes, a causa também pode ser ambiente tóxico”. É preciso ver isso aí, talquei?

Histórico

Desde o início da saga do “mito”, o presidente Jair Bolsonaro já despediu homens fortes ao seu redor: os ex-ministros Gustavo Bebianno e o general Santos Cruz são dois exemplos. Bebianno foi despachado após o vereador Carlos Bolsonaro ter chamado o titular da Secretaria-Geral da Presidência de mentiroso. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, também da Secretaria-Geral, foi outro que não se encontrou nesta energia que corre no tal fio da tomada 220 volts.

Quem quiser saber direitinho o que sentem as autoridades basta colocar o dedo na tomada 110v, porque 220v é só para quem tem ficha no Hospital das Forças Armadas.

Neste curto período, já arrumaram as malas Ricardo Vélez que ocupou a cadeira número 1 do Ministério de Educação. Sem antes ele próprio defenestrar aliados como o então secretário-executivo Luiz Antonio Tozi e o militar Ricardo Roquetti. Em menos de 250 dias de governo, pelo menos 34 funcionários que formavam parte da estrutura de gestão do mandatário já estavam em casa cuidando da vida ou mandando currículos para o mercado.

Muitos até já esqueceram a despedida do presidente dos Correios, general Juarez Cunha: “Hoje me afasto. Foram 7 meses de alegria, obtivemos excelentes resultados, conduzimos a recuperação da empresa e fizemos grandes amigos. Saldo muito positivo e a certeza que vocês continuarão no cumprimento da missão. Um abraço a todos!”, afirmou Cunha em uma rede social. Os trabalhadores dos Correios entraram em greve nacional esta semana. Alguém não fez o trabalho direito.

Levy, Cintra, Leonel

O ex-ministro da Fazenda de Dilma e ex-presidente do BNDES Joaquim Levy foi um que não aguentou a pressão. Após críticas públicas do presidente, ele pediu demissão do comando do Banco. Bem que ele tentou ficar, respirou fundo e assistiu a caminhada para a guilhotina de Marcos Barbosa Pinto – que já tinha trabalhado no banco como assessor em 2005 e 2006, no governo PT, e pediu o boné. O colaborador foi embora. E depois foi a vez de Levy.

O presidente do em breve desmontado Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Roberto Leonel, e o secretário especial de Cultura, José Henrique Pires, também foram ejetados para o espaço.

Esta semana, a baixa mais recente até o momento, o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, deixou a equipe econômica do ministro Paulo Guedes. Precisamos compreender como deve estar a cabeça de ministros, presidentes e diretores de órgãos federais: internações médicas, demissões e tensão constante são partes indissociáveis do estilo comandado pelo capitão.

Quem quiser saber direitinho o que sentem as autoridades basta colocar o dedo na tomada 110v, porque 220v é só para quem tem ficha no Hospital das Forças Armadas.

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Redação

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