Luiza Erundina e o debate na FESPSP, no final um comício.

Debate “50 anos do golpe: Nunca mais”. Com Luiza Erundina e Frei Beto, FESPSP, Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2014, 19:30.

Golpe de 64 completará exatos 50 anos no dia 31 de março.

Frei Beto – adepto da Teologia da Libertação, é militante de movimentos pastorais e sociais, tendo ocupado a função de assessor especial do presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2004. Foi coordenador de Mobilização Social do programa Fome Zero.

Esteve preso por duas vezes sob a ditadura militar: em 1964, por 15 dias; e entre 1969-1973. Após cumprir quatro anos de prisão, teve sua sentença reduzida pelo STF para dois anos. Sua experiência na prisão está relatada nos livros “Cartas da Prisão” (Agir), “Dário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco) e Batismo de Sangue (Rocco). Premiado com o Jabuti de 1983, traduzido na França e na Itália, Batismo de Sangue descreve os bastidores do regime militar, a participação dos frades dominicanos na resistência à ditadura, a morte de Carlos Marighella e as torturas sofridas por Frei Tito. Baseado no livro, o diretor mineiro Helvécio Ratton produziu o filme Batismo de Sangue, lançado em 2007.

Luiza Erundina é assistente social e política brasileira. Atualmente Erundina exerce o cargo de Deputada Federal pelo estado de São Paulo, pertencendo à bancada do PSB. Ganhou notoriedade nacional quando foi eleita a primeira prefeita e representando um partido de esquerda, o PT, em São Paulo, em 1988. Fonte Wikipedia.

Pelo histórico dos dois principais debatedores o evento tinha tudo para ser um grande evento.

Mas não foi bem assim.

Primeiro, Frei Beto não pode comparecer, por motivo de falecimento na família. Mau prenúncio.

Segundo, o que deveria ser um debate sobre a comissão da verdade, sobre os crimes de assassinato e torturas cometidos pela ditadura. E como estão os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade e as outras espalhadas pelo país descambou para um comício político eleitoreiro. Infelizmente.

Mas começou bem: Dyego Oliveira expôs sobre os trabalhos da comissão da verdade da faculdade. A colaboração da faculdade com os golpistas.

Por exemplo: em 1983 o MEC destinava verba para a FESP e esta remetia o valor para os Contra da Nicarágua. Grupo da extrema direita. É grave.

O capitão do exército americano Charles Landler era estudante de graduação quando foi assassinado em 12 de outubro de 1968. Formado em West Point ganhou bolsa para estudar no Brasil sociologia. Mas segundo os guerrilheiros este moço era agente da CIA. E treinava agentes do governo nas técnicas de tortura. Enfia mais aqui, mais ali. Puxe a unha devagar. Amassar testículos só no último caso e etc.

O Grupo de trabalho do centro acadêmico merece louvor. Este GT ajuda a entender melhor o que foi a ditadura e como é triste viver sob o julgo de uma.

A falta de conhecimento leva pessoas a acreditar que Ernesto Geisel era o bom velhinho democrata. Que a ditadura não era dura, era branda, a ditabranda. Que a lei da anistia é legal. Que remover o passado não leva a nada, e etc.

Bem, quando chegou o momento da Erundina falar foi uma ducha de água-fria. Uma decepção. Dela se esperava mais.

Rapidamente contou sua biografia e superficialmente disse algo sobre a ditadura e sobre os andamentos das comissões.

No entanto não perdeu a oportunidade de achincalhar o governo do PT. Falou o que o público esperava ouvir.

A ex-prefeita demonstrou estar com o discurso sincronizado com a Marina, com Eduardo Campos, colega de partido, com os colunistas da Globo, com o DEM e com os demais conservadores que esperam se apoderar do poder de qualquer maneira, se não for pelo voto que seja pelo golpe. E eles veem nos protestos o plano “B” para derrotar a Dilma.

Por duas vezes, veladamente, solicitou aos jovens que não parassem com suas manifestações. E não dessem ouvidos aos que os chamam de baderneiros.

Foi de extrema covardia esse comportamento da deputada, pois ao mesmo tempo que elogiava os estudantes, dizendo-os politizados, conscientes, cheios de energia inclusive fazendo piadinha com a noite quente de sexta e o chopp, manobrava-os para realizar a tarefa que compete a eles, políticos, vivendo numa democracia. Ou seja, derrotar seus adversários com propostas, com competência. E nunca com ameaças. Criando o medo, o caos.

Aliás, esses foram um dos motivos alegado pelos golpistas de 64. Os conservadores da época, apoiados pela mídia, criaram o clima de terror para conquistar apoio popular. O país estaria uma baderna. Sem comando. Sem rumo. O Padre norte americano Patrick Peyton organiza a “Marcha da Família com Deus pela liberdade”. E deu no que deu. 21 anos de obscurantismo.

Voltando. O Lula reconheceu o erro do PT em se afastar dos movimentos sociais. Erro corrigido por Dilma.

Nunca chamaram os manifestantes de baderneiros, arruaceiros ou que quer que seja. Quem assim os dominou foi a mídia. A mesma mídia não citada uma vez se quer pela nobre deputada e que neste exato momento manipula as manifestações a fim de chantagear o governo com esse negócio de não vai ter Copa do Mundo.

E mais, lembrem-se: as forças armadas brasileiras não mudaram um dedo no seu pensamento e cultura. Os generais atuais tem a mesma formação de 50 anos atrás. São conservadores ao extremo. Para apoiar um golpe é um tiro.

Outra. Um aluno falou que não achava esse governo popular porque a ALCA… Esta proposta de associação foi engavetada em 2005.

Erundina concordou: não era popular porque amansou os sindicatos, uniu-se ao que há de pior: Sarney, Renan.

Ora, o discurso do amansar sindicalismo é da direita, que vê o aparelho sindical tomar conta do governo. E mais, se os sindicalistas não reclamam com tanta veemência de 40 anos atrás é porque a política de “arrocho salarial” e o desemprego perderam força (os mais antigos hão de se lembrar da nefasta palavra arrocho). E há canais de diálogo abertos. O Brasil está em pleno atividade, então as centrais sindicais têm que se reinventar. Se adaptar as novos exigências dos trabalhadores. Querer mais é um dever da sociedade.

E o que dizer dos programas sociais “Minha Casa, Minha Vida”, “Mais Médicos”, “Bolsa Família”, “Brasil sem miséria”, ENEN, ProUni, SISU, mais faculdades federais não dizem absolutamente nada para ela? Então, por causa de dois elementos citados aleatoriamente este governo não é popular? É difícil.

E mafioso por mafioso Jorge Bornhausen e Agripino Maia estão chamando Luiza Erundina de companheira.

E, se no Brasil não há partido, segundo a ex-prefeita, ela está filiada ao quê? A uma ONG?

O fascismo também afirma que o Brasil não tem partido. Esta foi a retórica dos manifestantes “sem partido, sem partido”. Disse o que a plateia desejava, mais uma vez.

Lembrou que o Collor é aliado do governo e que foi expulso do poder por corrupção. Nunca o PT poderia concordar com essa aliança.

Mas não disse que em 1993 aceitou sem pestanejar o cargo de ministra-chefe da Secretaria da Administração Federal de Itamar Franco, vice-presidente de Collor. O PT havia proibido que ela assumisse. Se desfiliou. E o PT nessa época era o PT autêntico, com posição a esquerda. O que deixou saudades.

Se o PSB, PSOL, PSTU pensam que chegam ao poder apoiando a estratégia dos conservadores estão redondamente enganados.

Carlos Lacerda, UDN, direitista apoio o golpe de 64 crente que iria assumir a presidência e… o resto sabemos como terminou.

Um exemplo mais recente de falta de visão e ingenuidade das esquerdas é o Paraguai e seu golpe bem burlesco.

Finalizando. Durante o debate Luiza Erundina foi muito aplaudida por uma plateia que escutou o que queria escutar.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador