Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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Lula e o pânico dos analistas dissimulados, por Aldo Fornazieri

Lula e o pânico dos analistas dissimulados

por Aldo Fornazieri

O golpe que derrubou Dilma trouxe consigo muitas mazelas:  erosão da democracia, crise institucional, decomposição política e moral do país, um governo criminoso rejeitado por quase a unanimidade nacional, revogação de direitos e cancelamento de políticas públicas sociais, destruição da pesquisa científica e da cultura. Mas as mazelas não param ali. Já no processo do impeachment se multiplicou o número de analistas na mídia e de mercado, explícita ou envergonhadamente neogolpistas, que passaram a falar em nome de uma certa neutralidade científica, de uma equidistância do objeto analisado – a crise. Essa suposta neutralidade só tem duas explicações: ou se trata de gente que não entende a natureza das teorias sociais e políticas ou de gente que usa um ardil para dissimular as suas posições, despossuídos da coragem de assumi-las.

Muitos deles defenderam o impeachment de Dilma, argumentado que ela não tinha capacidade de governar porque tinha perdido o apoio popular. Covardemente, agora se calam diante de rejeição nacional a Temer. Sugeriam, de forma explícita ou nas entrelinhas, que Temer era um político habilidoso e que a crise desapareceria com a simples mudança do governo. Deu tudo errado. E a autocrítica que cobram dos outros, se mostram incapazes de fazê-la.

Recentemente, viram no depoimento de Palocci uma “bomba de nêutrons”, um “efeito radioativo”, que teria implodido Lula e o PT. Mesmo depois dessa bomba, as intenções de voto em Lula continuam subindo e a rejeição caindo. Aqui começa o pânico analítico. Duas novas explicações surgem a partir dele: “Lula chegou ao teto” e o seu desempenho se explicaria por “um efeito emocional”, pela sua vitimização, pelo caráter de seita dos eleitores de Lula.

Em primeiro lugar, não há política sem emoção, mesmo nos povos mais racionais do mundo. Em segundo lugar, a política está imersa em um complexo de variáveis, envolvendo emoção, razão, interesse, engano, ardil, astúcia, persuasão, retórica, convencimento, ódio, amor, circunstâncias econômicas, políticas e sociais, fé, carisma etc. Somente os idiotas da objetividade pensam que a política implica apenas em escolhas racionais, seja dos líderes ou dos eleitores.

Se a intenção de voto em Lula aumenta e a rejeição cai, há nisso uma tendência, com a perspectiva da curva do crescimento e a curva da queda se aproximarem. Lula está ganhando votos no chamado centro político, nos eleitores “neutros”, e cada vez mais se reconhece, mesmo em setores que não votam nele, que há uma ação persecutória por parte do juiz Moro. Este, que era quase uma unanimidade nacional, vê as curvas da aprovação e da rejeição se movimentarem no sentido inverso do movimento que elas fazem no gráfico de Lula.

Existe uma combinação de fatores que explica o desempenho de Lula: nos governos Lula, a vida era melhor do que no atual momento; quase 60% da população avalia o governo Temer pior do que o governo Dilma; para um número cada vez maior de pessoas houve uma “armação” (golpe) para afastar Dilma; o governo Temer é fortemente identificado como uma organização criminosa; percebe-se cada vez mais que o maior protagonista da corrupção na Petrobrás foi o PMDB; o PSDB e Aécio Neves têm a imagem de hipócritas, cínicos e falsos moralistas; contra os 51 milhões de Geddel, a mala de dinheiro de Temer e Rocha Loures, as jóias e dinheiro de Cabral e várias contas no exterior de vários políticos, as provas contra Lula são imateriais; na visão majoritária das pessoas, Lula foi o presidente que mais fez pelos pobres, para a maioria da população; Lula incrementou o desenvolvimento do Nordeste; Lula promoveu a recuperação do salário mínimo, do emprego e da renda; no governo Lula foram implementadas várias políticas sociais, desde habitação, Prouni, Luz Para Todos, Bolsa Família etc.; parte dos eleitores têm fé no poder carismático de Lula, ausente em outros políticos; Lula tem uma imensa capacidade persuasiva.

A aposta do eleitorado em Lula é racional

A maior parte dos fatores que explicam o crescimento de Lula, numa situação completamente adversa e persecutória, são de ordem racional, por interesses, por comparações e por resultados. A tese de que Lula se mantém principalmente porque tem seguidores devotos e porque ele é chefe de uma seita é absolutamente falsa, como são falsas as supostas neutralidade e a cientificidade de quem a sustenta. O desespero analítico dos dissimulados volta todas as suas esperanças para que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região declare Lula impedido de concorrer para que as fraudes das parcialidades analíticas salvem as aparências.

Vejam o que escreveu Murillo de Aragão em abril deste ano: “Para piorar, caso Lula consiga chegar a 2018 elegível, sofrerá um bombardeio midiático intenso, já que passou a personalizar tudo de ruim que aconteceu no Brasil nos últimos anos. Poderá até chegar ao segundo turno, mas ganhar é outra história”. Este tipo de torcida pode ser boa para ganhar dinheiro no mercado, mas não é uma análise neutra, menos científica. Neste momento, Lula, dentre os políticos, é o que mais personaliza o que o país teve de bom, pois a ética resiste exatamente na promoção do bem comum.

Veja-se esta afirmação em outro texto: “Pois nem PT nem Lula têm inspirado as pessoas. A não ser lavar propina a jato nos cofres da Petrobras”. E ainda tem muita gente levando a sério este tipo de análise. Lula e o PT certamente cometeram muitos erros. Mas daí a lavrar esse tipo de sentença é um despropósito analítico. Lula, hoje, lidera em todos os cenários para 2018 e uma pesquisa do Datafolha publicada em junho mostra que o PT é o partido de maior preferência dos brasileiros, com 18% das preferências, distante dos 29% já alcançados em outro momento, mas igualmente distante dos 5% do PSDB e do PMDB.

A superação da crise passa por uma eleição democrática e legítima. A eleição não será nem democrática e nem legítima se Lula for excluído dela. Este é o memento em que os conflitos, as diferenças programáticas e estratégicas têm que se explicitar. Os campos eleitorais devem se definir em torno desses conflitos e diferenças, pois a democracia é dissenso e conflito. O único acordo possível é em torno da eleição democrática e legítima, até porque, se há que existir um consenso este deve ser em torno das regras e dos valores básicos da democracia. Esse consenso básico foi rompido pelo golpe e foi rompido pela quadrilha que está no poder, com seus aliados, incluindo o PSDB, ao violentarem a vontade popular com a imposição de uma agenda de contra-reformas que não foi nem discutida e nem referendada pelo voto popular.

Somente um governo emergido da eleição democrática e legítima poderá restabelecer as condições do diálogo democrático e de serenar a exaltação dos ânimos, sem que isto signifique uma conciliação fadada a sacrificar as classes populares. A democracia pressupõe negociação. Mas a negociação pressupõe a legitimidade do governo, algo que Temer não tem e algo que um futuro governo saído de uma eleição ilegítima não terá.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).

 
Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

41 Comentários

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  1. O Aldo acusa a turma de

    O Aldo acusa a turma de dissimulação mas ele mesmo não faz análise factual dos FATOS !

    Dilma caiu realmente por não ter a mais remota capacidade de contornar a crise Ela não tinha apoio popular, é verdade, mas não é só isso, como diz Aldo.

    Ela não tinha apoio do congresso.

    Ela não tinha apoio no judiciário, mesmo tendo indicado vários Min. do STF.

    Ela não tinha apoio no MP, nem na PGR, pasmem, mesmo tendo indicado o PGR.

    Ela não tinha apoio na mídia, nenhum.

    E, talvez o pior, de todos, ela não tinha NENHUM poder de articulação com nenhum dos outros poderes.

    Ou seja, uma completa néscia e incompetente nas indicações e para governar.

    Temer é péssimo, nada a favor dele, mas fatos são fatos.

    Temer não tem apoio popular, é verdade.

    Mas ele tem apoio no congresso.

    Ele tem apoio no judiciário.

    Agora ele tem apoio na PGR.

    Ele não é BURRO como a Dilma. Quem ele indicou reconhece a indicação e não o apunhá-la pelas costas.

    Ele tem poder de articulação com outros Poderes, diferentemente da Dilma.

    E ele tem ainda algum apoio na mídia.

    Portanto, apesar de Temer efetivamente fazer um péssimo Governo, não tem a menor comparação com a forma de Governar que Dilma vinha fazendo.

    Da forma como as coisas iam, se Dilma tivesse continuado, a coisa hoje estaria ainda pior, infelizmente.

      1. Temer nunca teve, não tem e

        Temer nunca teve, não tem e nunca terá meu apoio.

        Também não terá meu apoio análises simplórias e com FATOS equivocados.

        De que adianta a esquerda fingir que o Governo Dilma não era bizonho ?

        Melhor verificar a realidade para cometer o mesmo erro novamente.

  2. Exclusão de Lula

    Lula só poderá ser excluido do pleito se os eleitores concordarem.  Imaginem se ele for afastado, e TODOS que se dispunham a votar nele mantiverem suas posições. É claro que as quadrilhas vão considerar os votos nulos, mas como explicar ao mundo o resultado com mais de metade da população rejeitando os outros candidatos? Vejam: Nulos, 60%, candidato A, 12%, candidato B, 7% etc. Os adeptos do Lula talvez devessem começar logo uma campanha desse tipo, de modo a evidenciar para os quadrilheiros que o eventual afastamento será uma emenda pior do que o soneto.

  3. “Essa suposta neutralidade só

    “Essa suposta neutralidade só tem duas explicações: ou se trata de gente que não entende a natureza das teorias sociais e políticas ou de gente que usa um ardil para dissimular as suas posições, despossuídos da coragem de assumi-las.”

    Esqueceu da terceira: Mau caratismo.

    Para mim esta é a que explica com 100% o comportamento da maioria dos analistas a que o autor se refere. Afinal, ninguém pode ser tão ignorante(não ter informação suficiente) ou burro(não ser capaz de compreender o que se passa.).

  4. Boa análise. É de salientar

    Boa análise. É de salientar que o crescimento do Lula e até do pt, em número de filiados na promissora faixa dos jovens, vem após tempo mínimo mas suficiente para que as pessoas sintam a diferença entre este governo e o governo golpeado da Dilma. De modo que esta história de seita, ignorância, os extratos mais pobres, iludidos pelo populismo cai diante da experiência vivida pelos eleitores, pela população. Claro que os “analistas” da direita não querem enchergar e ficam com este papo furado, mas todos sabem também que a credibilidade deles é a temperatura do congelamento da água. O resultado deste movimento todo das massas registrados por sucessivas pesquisas é resultado de reflexão simples e correta por parte das pessoas.

  5. Dissimulados, mal informados, ideologicos etc

    Se tivéssemos um povo instruido, uma sociedade bem informada, uma imprensa correta, nossa historia seria outra. Outro dia alguém me contava que nos anos 90 era uma dureza e que ela quase não conseguia pagar todas as contas no fim do mês, apesar de ter até um bom trabalho. Logo argumentei que apesar de ter melhorado muito mais para ela depois do PT, ela preferia esse golpe e o ainda vota no PSDB de olhos fechados. Resposta. Lula e o PT não fizeram nada pelo Brasil, so politicas assistencialistas e ainda destruiram a Perobras. Temer é o resultado do que é o PT por dentro. Eh esse o nivel dos golpistas e paneleiros. Soma-se à isso uma imprensa que joga no limite do mau-caratismo jornalistico e temos pessoas com ‘formação superior’, dizendo coisas como essas.

    1. “… e temos pessoas com
      “… e temos pessoas com ‘formação superior’, dizendo coisas como essas.”

      Maria, conheço e convivo com pessoas com essa formação a que vc se refere.
      Nem eles estão imunes aos métodos criminosos da lavagem cerebral importos pela velha imprensa.
      Dentre os “camisas da CBF” constatamos a participação, inclusive em redes sociais, de gente de todos os estratos sociais. Inclusive de agentes públicos envolvidos diretamente no processo de persecução penal.
      Os métodos de convencimento (lavagem cerebral) têm sido eficientes.
      Há um exemplo gritante. Um juiz de Brasília, adepto dos “camisas amarelas” deu um liminar contra a posse de Lula em segundos ou minutos após o registro da petição inicial no protocolo da instituição.
      Isso não é pouco. É uma constatação da alienação vigente e dos desvios a que certas instituições do Estado estão submetidas.
      A vontade de mais de 53 milhões de pessos foi jogada no lixo.
      O que vem depois?

      1. Eles estão acreditando que Doria vai salva-los

        Eh isso mesmo, Luciano Prado. Essa classe média e média alta são as mais dificeis de dialogar. Prefiro mil vezes conversar sobre politica e explicar as coisas para os porteiros (alias, muitos são bem atentos ao que se passa), empregadas, garçons, taxistas, do que com meus colegas, familiares e até amigos. Todos esses estão mais ou menos convencidos, um querido amigo disse literalmente ao meu marido, que eu estou cega em relação a Lula e ao PT. E olha que eu ouço mais do que falo com esses ai.

        Alias, sobre o Doria e quase morri de rir porque um sem noção disse por ai que João Goulart e João Doria são parecidos: ricos e comunistas. Acabe o mundo que é muita loucura 🙂

        1. comentario

          Somos todos cegos.Tb como voce sofro com familiares e amigos. Tenho 84 anos e ainda milito dentro meus limites.Vou morrer cega ,mas antes eleger Lula.Sim,este “Misterio”  que  tanto desespera os inimigos

  6. Esse processo, essa tentativa
    Esse processo, essa tentativa de deteriorar a honra e imagem de inimigos políticos, como tem sido o método criminoso utilizado pelas Organizações Globo, por seus soldadinhos e associação com agentes públicos tem despertado a consciência de gente que antes apenas seguia o berrante.
    Estamos longe de nos livrarmos da lavagem cerebral imposta pela velha imprensa, mas percebe-se uma luz no fim do túnel.

  7. Negociar sem Conciliar

    Negociar, sim. Conciliação nunca mais.

    Isto significa que há coisas inegociáveis. Por ex.:  a destruição do poder político da Globo e do Itaú.

      1. Não destruir, porque o termo

        Não destruir, porque o termo é forte, mas desbastar seus tentáculos por duas vias: 1) Financeira: quando possível, cortar ou reduzir ao mínimo as verbas publicitárias; 2) Estruturante: reforma da legislação pertinente. 

  8. Pronto ! Aldo garante seu espaço pago ou não no GGN

    “Em primeiro lugar, não há política sem emoção”. 

    O texto é cheio de emoção principalmente quando refuta a idéia de seita e de devotos. 

    O povo tá querendo Lula PT? E os números de rejeição? Ah, números e mais números como ciência exata fosse a ciência social do articulista. A galera gosta. Infelizmente, um governo suspeito de (muita) corrupção e sede de um projeto… deveria se afastar espontaneamente.

    1. militância

      Continua sua militânca pseudonomística, háin? É gratuita? Se for, pensa melhor: tem gente pagando uns caramiguás prá isso…

       

    2. O corninho

      Já que ele não se identifica posso chamá-lo de corninho né?

      Ou será ele filho do Xico Graziano, mais conhecido como “o corvo”.

      O Daniel, filho do corvo, foi quem espalhou todas as mentiras sobre o Lula e seu filho.

      Trata-se de um vagabundo contumaz, igual ao pai.

      E aí corninho?

      Vai se identificar ou não?

      O Nassif não checa e/ou proibe esses safados que tem medo de mostrar a cara?

  9. Aldo deixou pro ultimo parágrafo o mais importante:

    Ver 2ª passada em https://jornalggn.com.br/noticia/o-agravamento-da-crise-e-lula-como-saida-por-aldo-fornazieri

    “( . . . ) o preço a ser pago pela ausência de responsabilidade histórica e pela ambição inconsquente dos partidos e de potenciais candidatos do campo progressista.  A incapacidade de perceber o momento histórico-político do país faz com que partidos e grupos mirem os seus egoísmos particulares ao invés de olharem para o sofrimento do povo e suas necessidades “.

  10. bem observado

     

    Gosto das analises do Aldo.

    Mas falando de Lula, o simples fato de o Lula existir politicamente dpois dessa campanha insana, milionaria e mentirosa prova que o homem é duro na queda.

    Qualquer outro teria virado pó. 

    Gostemos ou nao somente 3 politicos serao lembrados daqui a 50 anos: Getulio, JK e Lula. 

    O resto sera somente nome de rua. 

  11. Ótimo artigo
    Mas ainda evidencia a mentalidade colonial brasileira: o que o Fornaziere chama de “classes populares” é simplesmente o Brasil. Um país é seu povo; não seu território!

  12. Muito bom

    Quando o Forneziere deixa de lado aquela coisa boba de atacar o pt, em por a culpa no pt, como faz o nassif, ele escreve um belo artigo. 

    O pior é que o stf será chamado para, abaixando-se ainda mais, negar o voto do Lula. Mais uma vez ele rasgará a constituição com medo da globo.

  13. Lúcido

    Ótimo artigo, Aldo.

    Falta analisarmos como será o jogo político com Lula condenado pelo TRF-4.

    Haverá mobilização popular? O PT está trabalhando para tal?

    Lula fará greve de fome ou se deixará ser preso como um carneirinho?

    Ciro, o hipócrita, tentará colar na imagem positiva de Lula?

    Como será o Brasil com a eleição de Bolsonaro?

    São cenários sobre os quais deveríamos refletir.

  14. Lula já venceu. É o exemplo

    Lula já venceu. É o exemplo político para as próximas décadas. O ser humano físico pode ser destruído, mas o político já se espalhou. Os números impressionantes de Lula e sua tendência de crescimento mostram que o povo brasileiro já escolheu o que quer e que tem poder de resistência. Preparam-se, golpistas, criminosos e canalhas: vem aí milhões de Lulas, para vossos desgostos. 

  15. A questão me parece

    A questão me parece simples:

    Numa eleição em que o eleitor está se agarrando a um passado real ou imaginado para tentar vislumbrar um futuro, Lula tem a enorme vantagem de ter um passado positivo quando era presidente.

    E não por acaso, o segundo lugar traz o passado imaginário do “tempo da Redentora”.

  16. Octavinho continua escrotinho

    Folha trai seus “instintos mais primitivos” e lança o “Chacrinha prisional”

     

    chacrinha

    A inclusão da pergunta, inédita em suas pesquisas, tinha endereço certo para o Datafolha: contrabalançar o que já sabiam ser o crescimento de Lula nas intenções de voto.

    Então, criaram uma “estatística Chacrinha”: “vai para o trono ou não vai?” e um “vai pra cadeia ou não vai?”.

    Ao melhor estilo do Coliseu romano, põe a decisão sobre vida e a liberdade de alguém na base ou “você acha” que Lula deveria ser preso?  Por que não logo “executado”?  Ficaria mais coerente com o tipo de linchamento proposto.

    Gloriosos 54% acham que “deve prender” e é um milagre que 40% digam que não, depois de anos de Jornal Nacional acusando Lula de ter roubado apartamento, aluguel, prédio, pedalinhos,  bugigangas do gabinete presidencial e pirulito de criança.

    Nem assim os dados deixam de revelar que há um ódio incontido da elite brasileira a um homem que nada dela tirou, senão seu mórbido prazer de ver os pobres serem tratados como uma “sub-raça”:

    “O apoio à prisão do ex-presidente cresce conforme aumenta o grau de instrução (69% entre os que têm nível superior e 37% entre os com nível fundamental) e a renda familiar mensal (chega a 76% no grupo mais rico e a 42% no mais pobre) do entrevistado.”

    Palmas ao Datafolha que cria um novo tipo de justiça no Brasil. Não se “vota” mais apenas para escolher pesssoas para governar, mas para decidir quem deve ser mandado apodrecer na cadeia, depois de julgado pelo tribunal da mídia.

    Do jeito que as coisas andam selvagens neste país, acho que, numa pesquisa, até o goleiro do Flamengo seria mandado para a cadeia depois dos penaltis do jogo do Cruzeiro.

    Não adianta, depois, fazer biquinho de liberal escandalizado se uma horda de fanático vai invadir e agredir os funcionários de um museu de arte. Se a mídia “treina” a opinião pública para ser pitbull de marombeiro não pode reclamar quando alguns saem mordendo.

    Sugere-se, depois desta que a Folha chame o Alexandre Frota para seu conselho editorial. Pela linha de jornalismo estatístico, parece ter mais a contribuir do que os meninos de camisa de fino algodão.

    Felizmente, neste país, por enquanto, ainda não temos “votação para linchamento” e – ainda – temos eleição para presidente.

    E nessa, eles piram, Lula sobe cada vez mais.

    É isso que eles não aceitam, não perdoam e não medem consequências – nem ditadura, nem conflito civil – para impedir.

     

  17. Lula e o pânico dos analistas dissimulados

    -> A aposta do eleitorado em Lula é racional

    -> A tese de que Lula se mantém principalmente porque tem seguidores devotos e porque ele é chefe de uma seita é absolutamente falsa

    -> A superação da crise passa por uma eleição democrática e legítima.

    -> O único acordo possível é em torno da eleição democrática e legítima

    -> Esse consenso básico foi rompido pelo golpe e foi rompido pela quadrilha que está no poder

    mesmo entre os mais lúcidos analistas e militantes, como Aldo Fornazieri, a questão do Lulismo ainda gera enorme confusão e gigantesco desgaste de tempo e energia preciosos, os quais deveriam estar sendo aplicados na construção coletiva de novas alternativas.

    vejamos:

    – as alegadas “conquistas sociais” dos 13 anos de Lulismo já foram suficientemente desmascaradas, com humilhante profusão de dados e análises, como milagres jamais realizados, dentre elas: a falta de recuperação estrutural do SM, a geração de empregos limitada a 2 SM, o acesso ao consumo através de uma bolha de crédito e a manutenção da política econômica neoliberal;

    – o Golpe de 2016, como todo fato social complexo, tem muitas causas entrelaçadas. contudo, a determinante é justamente o maior e inegável êxito do Lulismo: uma política externa alinhada com o projeto de tornar o Brasil um fundamental tijolo dos BRICS. o Império jamais poderia aceitar impunemente um mundo multipolar, no qual o Brasil teria papel de destaque, daí a afirmação de Janot: “A Lava Jato é muito maior do que nós”. sem compreender este decisivo fator geopolítico mundial, não se pode estabelecer a estratégia eficaz para a superação do golpe;

    – a superação do Golpe de 2016 não passa por eleições. não pode haver eleições democráticas e legítimas numa Ditadura, como é de fato o regime que vivemos hoje no Brasil, com os 3 poderes e as instituições sem qualquer compromisso com o poder constituinte. um golpe só pode ser derrotado por um contra golpe. através de um movimento de massas em torno de 3 eixos: a nulidade do impeachment, a revogação de todos os atos e contratos do governo golpista e a punição de todos os responsáveis pelo golpe;

    – uma coisa são as intenções de voto declaradas em pesquisa pré eleição. outra coisa bem diferente, é  a capacidade de se honrar as expectativas destes possíveis votos. é preciso muita clareza e sabedoria para distinguir estes dois pontos. as intenções de voto em Lula são racionais e coerentes. o que não é racional e coerente, e aqui se revela como o Lulismo se tornou uma seita de fanáticos, é supor que Lula, por conseguinte o Lulismo enquanto doutrina política, será capaz de honrar as expectativas daqueles que hoje nele declaram seus votos. Lula não tem nem o vigor físico, nem o perfil psicológico, nem a postura política e muito menos a estatura ética para liderar a guerra pela libertação do Brasil;

    – como antes tarde do que nunca chegou a conclusão Moniz Bandeira, após reconhecer seu equívoco com uma solução militar para a crise: “a revolução como única saída”. dito com outras palavras: só um amplo e capilarizado movimento de massas será capaz de derrotar o Golpe de 2016.

    .

    1. Arkx, muito bom!

      Arkx, não sei se voce viu um elogio que te fiz nesses dias como o melhor comentarista de todo o GGN . (O que discordo de ti é supersecundário). Voce tem individualidade. É capaz de perceber ironia  numa minha postagem citando Aldo da semana passada, ver mais abaixo, e de vermos a seita e seus ativo fanáticos do lulismo (e do PT) , triste fim para um agrupamento que afinal tem um quê de tentativas e sonhos (Vamos deixá-los os fanáticos, ou numa  caridosa tentativa, a de  salvar pelo menos 1 alma?). Confesso que tô cansando, não consigo ter raiva, só acho graça e tristeza com o nível geral do semianalfa-betismo quando me xingam ou mal me entendem).Sorte!Fica o elogio reiterado.Desconta o desabafo.

        1. Lula e o pânico dos analistas dissimulados

          enquanto vc fica com sua bunda mole sentada em frente a uma telinha, postando louvações gravadas ao Grande Líder Salvador da Pátria, eu prefiro colocar os pés na rua e caminhar sob a chuva fina até o prédio da Petrobras, participando do Ato em Defesa da Soberania Nacional no Rio de Janeiro, inclusive com a presença em carne e osso de Lula.

          é a grande diferença que nos separa: arkx é virtual mas existe no mundo concreto, vc é concreto mas só existe no mundo virtual.

          .

          1. “enquanto vc fica com sua bunda mole sentada…”

            Na entrada você interditou o diálogo, amigo.

            Só um conselho de quem estava presente e participou ativamente na fundação do Partido dos Trabalhadores:

            Reflita melhor e perceba a quem melhor serve esse seu discurso no momento atual do Brasil.

            Vida longa ao mito e ao Partido dos Trabalhadores.

            Só um mito, um mito com a potência de um arquétipo constelado, tem o poder de derrotar essa verdadeira Hidra a nos destroçar.

            Um abraço fraterno.

          2. Lula e o pânico dos analistas dissimulados

            -> Arkx, o seu discurso conta com um notável seguidor.

            -> Na entrada você interditou o diálogo, amigo.

            bater é bom, apanhar não… interditar pode, quando levar o troco fica dodói…

            -> Só um conselho de quem estava presente e participou ativamente na fundação do Partido dos Trabalhadores:

            também participei ativamente, muito embora não esteja na foto do Colégio Sion, estava onde nunca me afastei: na base.

            se vc realmente estava lá, vai entender muito bem o seguinte: o PT de hoje se tornou ainda muito pior do que aquilo que naquela época denominávamos com desprezo como “reforma” (PCB).

            um “conselho”: sois o exemplo imortal de um stalinismo sempre redivivo, personalista, autoritário, centralizador, dogmático, sectário e alegremente devotado às lideranças e hierarquias.

            .

          3. “sois o exemplo imortal de um stalinismo..”

            Essa estaca cravou fundo aqui no coração anarco.

            Mas o endereço está equivocado e perdeu-se no vácuo.

            Aliás, esses rótulos nunca me disseram nada, para mim, e para muitos, o PT era o novo. O novo no mundo e não só aqui no Brasil.

            Se tais etiquetas já não me diziam muito na primavera, o que dirá agora no outono.

            E afirmo de coração ser o PT, e o que o anima, o novo; novo e em permanente construção e evolução. Acerta, erra, conserta, estraga, levanta, tropeça, acovarda e enfurece; mas na estrada em muito boa companhia.

            Recordo agora de uma frase de um filósofo que muito admiro:

            A verdade é uma terra sem caminhos.

            Acho que você não entendeu o que afirmei sobre o mito e a sua função nesse momento em que um inominável terror se abateu sobre o nosso País.

            (Se lágrima fosse de pedra eu choraria)

            Talvez não concorde com essa colocação sobre o mito e sua função; faz parte e tá valendo.

            O tal conselho, mau termo, releve, mas a crítica inicial e o sentido permanecem.

            Tem boa cerveja por aeh?

            O abraço continua.

            Infelizmente também não pude estar nesse dia histórico junto dessa bela moçada.

            http://csbh.fpabramo.org.br/wp-content/uploads/img4ab1515e14c31.jpg

          4. Lula e o pânico dos analistas dissimulados

            -> para mim, e para muitos, o PT era o novo. O novo no mundo e não só aqui no Brasil.

            sem dúvida o PT foi o novo, e não só aqui no Brasil. a estrutura interna firmemente fundada nas bases, estruturada a partir dos Núcleos Autônomos, era a garantia de democracia interna, e, portanto, de uma proposta prática de construção democrática de sociedade.

            mas tudo isto foi se perdendo, por obra e conta dos burocratas que jamais tiveram um projeto de país e sempre se limitaram ao seu particular projeto de poder.

            -> Acho que você não entendeu o que afirmei sobre o mito e a sua função nesse momento em que um inominável terror se abateu sobre o nosso País.

            entendi perfeitamente. e concordo num certo sentido. só que é preciso também aceitar que o mito fundador foi traído, e traído de novo, repetidamente. e justamente por isto o horror agora tomou conta do Brasil.

            por favor, pondere sobre algo:

            – não existem pessoas, partidos e mesmo movimentos de Esquerda. o que existe são propostas e ações de Esquerda. o que existe são relações sociais de Esquerda. isto faz com que pessoas, partidos ou mesmo movimentos sejam altamente contraditórios: as vzs de Esquerda, e muitas outras vzs não.

            -> Infelizmente também não pude estar nesse dia histórico junto dessa bela moçada.

            a maioria eram de dirigentes sindicais liberados (à disposição do Sindicato) e pessoas sem vínculo empregatício, ou moradores de SP e proximidades, pela facilidade do deslocamento. na época, eu trabalhava à noite no Rio. em 1979 fizemos uma pioneira e histórica greve de 2 dias no Rio, inspirados no movimento do ABCD.

            -> (Se lágrima fosse de pedra eu choraria)

            muitas lágrimas para virarem pedra. e muitas pedras para debaixo delas sepultar a infame cleptocracia brasileira. não desista. vc e eu participaremos disto. não vai ser fácil, não vai ser bonito, não vai ser rápido. mas vai acontecer.

            -> O abraço continua.

            recíproco. desculpe-me, mas vc acabou pegando rebarbas do que não lhe cabia. veja ao que me refiro nos links abaixo:

            https://jornalggn.com.br/comment/reply/1399976/1145818

            https://jornalggn.com.br/comment/reply/1399976/1145391

            https://jornalggn.com.br/comment/reply/1399976/1145290

            p.s.:

            vídeo: Manu Chao – EZLN… Para Todos Todo…

            [video: https://www.youtube.com/watch?v=wcJCD5OZDDQ%5D

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      1. Lula e o pânico dos analistas dissimulados

        agradeço o elogio. aqui no Nassif tem bons comentaristas. não vou citá-los para não cometer injustiças com o quais eventualmente não nominar. apesar de a área de comentários ter um claro viés Lulista, o GGN como um todo, justiça seja feita, faz um grande trabalho para permanecer plural, ao contrário dos demais sites alinhados monoliticamente com o Lulismo.

        a triste verdade é que a web é mal e porcamente subutilizada como canal de troca de opiniões, e até mesmo de construções de alternativas. todos os ancestrais problemas de comunicação existentes no concreto acabam sendo reproduzidos, e agravados, no virtual.

        abraços.

        .

    2. Qual outra saída neste momento?

      Caro arkx, concordo parcialmente que vc tenha razão na argumentação, mas o que faremos no momento?

      A sugestão de nomes como Ciro Gomes ou outros para tentarem ganhar desta direita organizada é totalmente irreal. Eles não ganhariam a eleição de ninguem apoiado pela midia suja.

      Que Lula não tem saúde, que o PT não é o partido organizado em que deveria ter se transformado, pois os petistas do tôpo estavam muito vaidosos para esta preparação e não o fizeram, tambem corcordo. Porem não há outra saída a pois um proximo governo com um Alkminn, Dória (aí meu Deus), Aécinho, ou outro do mesmo mesmo tipo, que fariam o Temer parecer alguma coisa de bom. São representantes totalmente fascista, oligarcas, canalhas, corruptos em alto gráu, com grupos de apoio há muito organizados,  que fazer a loucura de um candidato com Bolsonaro parecer melhor!

      Então meu querido, a saída agora será só o Lula, pois não acredito que uma indicação dele, se por acaso apoiar ganhará a eleição, pois carecem de governabilidade. 

      E completando, o Ciro Gomes que tem uma fala brilhante, pose de quem fará alguma coisa mas lembra-me da eleição com a enganação da “global” vendida pela elite e vencida pelo Collor! 

      1. Lula e o pânico dos analistas dissimulados

        37 anos depois, voltamos ao mesmo ponto da fundação do PT, em 1980. então, sabíamos todos que a via eleitoral e institucional não era a prioritária para superar a Ditadura Civil-Militar. então por que agora seria diferente, muito embora as características das respectivas ditaduras não sejam similares?

        naquele ano agora longínquo, também éramos todos muito criticados em virtude da opção de fundar um inédito “partido-movimento”, curiosamente agora de novo em evidência através experiências europeias. a Ex-querda de então, o PCB e congêneres, vociferava que aquilo era fazer “o jogo da Direita” e que “dividíamos o movimento”.

        e o mais importante: então, como hoje, partíamos do grau zero da representação. nenhum dos partidos e associações existentes possuía legitimidade popular.

        assim nasceram o PT e a CUT. tudo isto terá que ser reconstruído. não será com as hipotéticas, mas certamente viciadas, eleições de 2018 que será feito. e sim, como então, com um poderoso movimento de massas.

        completamos uma volta completa da espiral. ao seu final, estamos atravessando o inferno, para retornarmos ao ponto zero mais uma vez.

        abraços.

  18. É uma questão de opções viáveis

    Tô chateado, para não dizer de saco cheio, de ser taxado de fanático ou seguidor de uma seita, por continuar achando que a melhor opção ainda é o PT e o Lula.

    Estou aguardando desde as jornadas de 2013, alguma alternativa, alguma coisa nova na política, os movimentos horizontais, as novas demandas sociais. E infelizmente estes movimentos são muito efêmeros e difusos, e até agora não consiguiram uma mobilização popular mais abrangente, que inclua os setores mais alijados da sociedade.

    Então, qual a melhor alternativa para enfrentar o avanço do conversadorismo, da perda de direitos sociais, de direitos civis, a perda de liberdade de expressão, enfim, todo o retrocesso que acontece no país?

    O que tem esta análise de não racional? Reconhecemos os erros, mas reconhecemos também os avanços, e estes últimos foram muito maiores que os primeiros.

    Enquanto está sendo gestado o novo, e este novo ainda não tem força política suficiente para barrar o retrocesso, vamos de Lula e PT.

     

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