Manifestação esvaziada mostra “definhamento” de Bolsonaro e do bolsonarismo, diz Castro Rocha ao GGN

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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"O mais importante era o desânimo, a falta daquela intensidade, aquela energia que realmente assustava", aponta escritor

Escritor, historiador e professor de literatura comparada, João César de Castro Rocha, que vem estudando e acompanhando de perto o fenômeno da extrema-direita nos últimos anos, disse que a manifestação realizada em Copacabana (Rio de Janeiro) no último domingo (16) marcou o “definhamento evidente” da força do ex-presidente Jair Bolsonaro e do bolsonarismo. Castro Rocha falou ao jornalista Luis Nassif, da TV GGN, na noite de segunda (17), no programa TVGGN 20 Horas [assista abaixo].

A manifestação tinha como objetivo pedir anistia para os golpistas que destruíram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, no atentado à democracia em 8 de Janeiro de 2023. O ato ocupou as manchetes de jornais por ter sido esvaziado, em comparação com outros protestos encabeçados pelo clã Bolsonaro.

Castro Rocha, pessoalmente, acompanha as manifestações de Bolsonaro desde 2018. Ele notou que as manifestações de 2025, além de menores, foram menos intensas do ponto de vista do ânimo dos participantes, especialmente se comparada com a de 2021, quando Bolsonaro conseguiu ocupar 15 quarteirões da orla de Copacabana, emanando energia suficiente para clamar por um autogolpe.

Na manifestação do último domingo, disse Castro Rocha, apenas dois foram ocupados, e os seguidores do bolsonarismo não estavam enérgicos como antes.

“Eu caminhei a manifestação inteira, eu fico no meio das pessoas, eu converso com elas. Eu filmei vários vídeos da manifestação. Ocupados mesmo, somente dois quarteirões, nas ruas Xavier da Silveira e Bolívar, que são contíguas. Nas outros quarteirões, pessoas esparsas, mas a concentração aí estava. O que já é algo eloquente, porque demonstra evidente definhamento do Bolsonaro e do bolsonarismo. (…) O mais importante era o desânimo, a falta daquela intensidade, aquela energia que realmente assustava, porque era uma energia muito grande“, comentou Castro Rocha.

O pesquisador também criticou o a estética e o tom do discurso da família Bolsonaro, que ele considera uma importação do modelo norte-americano de discurso presidencial, com referências específicas a pessoas “vítimas de perseguição” para humanizar o discurso. Castro Rocha também criticou a estratégia da extrema-direita de criar inimigos imaginários para gerar ódio e bode expiatórios. No caso, o inimigo número um tem sido o ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito do golpe de Estado no STF.

“Quando ele [Flávio Bolsonaro] inventa esse termo esdrúxulo, o ‘alexandrismo’, isso é apenas parte da estratégia da extrema-direita. Não há extrema-direita se não houver a criação de inimigos imaginários para gerar ódio e bode expiatórios.”

Por fim, Castro Rocha chama atenção para a “verdadeira ameaça da extrema-direita” para 2026, que foi explicitada nos discursos no ato bolsonarista: tentar controlar o Senado, para ter poder de coagir, pressionar e ataca o Judiciário.

“O momento que me parece muito o mais importante de toda manifestação, é quando o Bolsonaro disse: ‘Eu peço que vocês me deem 50% da Câmara e 50% do Senado’. Ele completou: ‘Que eu mudo o nosso Brasil’. A verdadeira ameaça da extrema-direita é tentar controlar o Senado, porque sem sem manietar o judiciário, não há ditadura possível, não há não há corrosão possível da democracia se o judiciário se mantiver autônomo”, disparou Castro Rocha.

“Isso é muito grave. E é uma advertência para nós. Se em 2022, de maneira compreensível, nós quase que exclusivamente lutamos para a eleição do presidente Lula e do vice-presidente Alckmin, em 2026, nós precisamos dividir a nossa atenção. Precisamos lutar pela reeleição do presidente Lula, mas precisamos lutar muito para que no Senado nós tenhamos candidatos progressistas. Caso contrário, a ditadura começa ainda que eles percam.

Além de Castro Rocha, o programa TV GGN 20 Horas também recebeu a jornalista Juliana Dal Piva, autora do livro “Crime sem castigo: Como os militares mataram Rubens Paiva“.

Assista a entrevista abaixo:

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4 Comentários

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  1. E o público presente cooptado nas igreja$$$ do malacheia, entre parentes de militares, policiais e assemelhados. De repente num ou outro hospício.

    E mais um rato mete o pé. Conforme anunciado há pouco:
    “Eduardo Bolsonaro anuncia licença temporária de mandato sem remuneração”
    Vai homiziar nos EUA buscando abrigo para outros membros desta família nefasta.

  2. O país continua surreal.
    Prato feito para qualquer tirano ou grupo tirânico à espreita.
    E não se varrerá a loucura coletiva sem imprensa e com as demais instituições contaminadas.
    Recorde de PIB e emprego, por si só, só potencializará loucura.
    A coisa é séria.

  3. Uma das causas para o esvaziamento da manifestação do dia 16 tenha sido a falta de meios materiais que o genocida e sua tropa utilizava quando no poder: condução, lanches outras benesses. Para se ter uma visão mais exata da força da extrema direita será necessaria uma pesquisa tipo Lula versus tarcisio

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