Marcelo Adnet e a caricatura de Leandro Karnal, o profeta da ética

Tenho assistido algumas entrevistas de Karnal. Chama atenção a maneira como trata da ética no dia a dia, na política e na televisão. Mas nunca o vi analisando uma figura simbólica dos tempos atuais: os falsos catões, os defensores da moral e dos bons costumes que conseguiram levar ao poder uma figura do nível de Bolsonaro.

Já vi grandes imitadores, desde os tempos do rádio. Mas ninguém chegou perto de Marcelo Adnet. É capaz de captar não apenas trejeitos, falas, postura física das vítimas, como caricaturizar seu discurso com uma acuidade presente apenas em quem está familiarizado com pensamentos mais complexos. É o caso desse clássico sobre Leandro Karnal, o filósofo que consegue juntar Shakespeare e o BBB.

Tenho assistido algumas entrevistas de Karnal. Chama atenção a maneira como trata da ética no dia a dia, na política e na televisão. Mas nunca o vi analisando uma figura simbólica dos tempos atuais: os falsos catões, os defensores da moral e dos bons costumes que conseguiram levar ao poder uma figura do nível de Bolsonaro.

Desde priscas eras, sempre me impressionou o papel dos Catões, as pessoas que, julgando-se empoderadas pelo certo, pelo justo, e se sentiam no direito de cometer as maiores atrocidades e ceder ao mais abjeto oportunismo porque do lado do bem e da verdade.

Desde que vim para São Paulo, nos longínquos anos 70, percebia esse tipo em todos os lugares. No trânsito, por exemplo, seriam capazes de atropelar um ciclista ou um pedestre que ousasse atravessar o sinal vermelho. Porque eles estavam certos.

Ao longo da minha carreira jornalística, convivi com figuras públicas, políticos, lideranças civis, que se tornaram apologistas da ética e dos bons costumes. Muitos deles comportavam-se como o soldado do exército vitorioso, incumbido de executar  os inimigos caídos no campo de batalha.

Vi esse oportunismo na campanha do impeachment de Collor, por pessoas que, até algum tempo antes, disputavam lugar nas feijoadas de Cleto Falcão. Vi como bajulavam Edemar CID Ferreira, do Banco Santos, e suas vernissages, mesmo sendo conhecido seu histórico de bandalheiras.

A grande expressão dessa exploração das bandeiras éticas foi a Lava Jato. A Vazajato demonstrou cabalmente a manipulação dos processos, o mercado de palestras, a falta de escrúpulos em relação à destruição de empregos, a exploração do fato de terem se transformado em figuras públicas.

É um tema interessantíssimo, ainda mais para um filósofo de temas contemporâneos,  como Karnal.

Qual o sentido ético da Lava Jato, ao não esboçar nenhum gesto em defesa de centenas de milhares de empregos destruídos pela operação?

O que explica jamais terem se preocupado em preservar empresas, e limitar os castigos aos controladores, sabendo que poderiam desgraçar a vida de centenas de milhares de famílias?

Qual o pensamento ético que os motivou a entregar a Petrobras – a empresa, não apenas os diretores corruptos – ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, aceitando ficar com parte do butim?

Qual o sentido ético de quem se vale dos resultados de seu trabalho público para faturar em eventos privados, para grupos de intersse?

Nunca ouvi Karnal analisar nenhuma vez esses fatos, que são os grandes desafios contemporâneos aos conceitos de ética, perimtindo um estudo interessante sobre lógica dos homens bons.

O que impede Karnal de analisar esses processos? Poderia ficar em conflito com o público de suas palestras? Poderia se indispor com amigos da Lava Jato?
Creio que não. Não poderia imaginar isso de um filósofo da ética. Acho que foi apenas distração sobre a relevância do tema.

Provavelmente dia desses, a caricatura de Karnal, por Adnet, tratará do tema antes do original.

 

 

 

 

 

Luis Nassif

36 Comentários

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  1. Mas Karnal não é filósofo. É historiador. Até pouco tempo, professor do departamento de história da Unicamp. Pediu demissão porque o ramo de palestras de auto ajuda é mais lucrativo do que a carreira séria de professor universitário de história. Isto já revela muito do caráter. Como historiador ele tem o dever profissional de fazer o que o Nassif aponta, mas como palestrante no mercado frequentado também por Dalagnois da vida…

    Oportunismo, que é uma característica bem ant ética.

    1. Mas quem disse que o Karnal é um bom Historiador? É só ler um dos livros dele para ver a superficialidade total. Ele tem um livro sobre a História dos Estados Unidos. Comparem este livro com o livro do Paul Jonhson, “A History of the American People”, sem falar, é lógico, no livro do Howard Zinn sobre o povo americano, porque aí seria covardia total.

      1. Bom professor de graduação, boa retórica, boa didática. Academicamente sem grandes realizações, um pesquisador mediano.

        Tem carisma e presença. Funciona bem como “divulgador científico” para as massas burguesas em busca de aforismos simples. Foge de polêmicas como o diabo foge da cruz.

        Não o chamaria de filósofo. No máximo de um sofista.

    1. Perfeitamente perfeito!
      Assino embaixo dez vezes: nunca acreditei nesse um aí, desde que o vi pela primeira vez. A visita de cortesia feita ao agente-pistoleiro da CIA em Curitiba logo depois da prisão de Lula apenas me confirmou que eu estava redondamente certo!

  2. Uma observação: o Karnal é historiador, não filósofo. Inegável que ele é erudito, e que conhece muito bem a obra de Shakespeare. Também fala bem, acima da média, para um professor universitário, conseguindo mesclar lugares comuns da linguagem com sacadas de genuíno conhecimento, bem ao gosto da classe média moderninha. Mas o ponto não é esse. Lembram-se da foto que ele publicou com o Moro nas suas redes sociais e após algum tempo apagou? Daí se apreende um pouco da sua alma. Karnal é o cânone do isentismo, como alguém que flutua na merda toda sem nela se envolver, apontando o mau cheiro. Pablo Ortellado é outro sub produto do mesmo fenômeno, assim como outros espécimes da academia. Como escreveu Howard Zinn, este sim historiador dos bons, você não pode ser neutro em um trem em movimento. Falem o que quiser da Marilena Chauí, mas esta não esconde o que pensa, além de ser uma Intelectual com I super maiúsculo. Abraços e saúde a todos.

    1. Estava notando a ausência desse fato na análise do Nassif. Fundamental para as conclusões dele, esse episódio da foto que o Sr. Karnal tirou com o Moro e colocou em suas redes sociais.
      Incrível que o Nassif já estava matando a charada e nem sabia da história dessa foto com o Moro nas redes do Karnal.

  3. Desde que vi Leandro Karnal e Pondé, juntos, numa mesa de jornal, defendendo a reforma trabalhista, percebi que se tratam de falsos intelectuais… As “batatadas” ditas por Pondé foram tamanhas, que precisou Lenio Streck (grande jurista contemporâneo) rechaçar as afirmações loucas do filósofo, através de um artigo do Conjur.

  4. Não devemos esquecer que Kanall iria escrever um livro em parceria com Moro. Mas à época as críticas foram tantas, que Kanall desistiu da parceria e apagou o post no Tweeter que anunciava o feito. Depois reclamou da avalanche de críticas que sofreu. Outro que se queimou foi o Mario Sérgio Cortella. Foi no Programa do Raul Gil e tirou o chapéu para o Moro, no auge da perseguição ao Lula. Depois disso nunca mais parei para ver seus vídeo. Quem apoia Moro não pode ser Democrata .

    1. Tive a oportunidade de ouvir algumas crônicas do Cortella, todas de uma ética abstrata, com uma falsa erudição, citando autores de séculos passados, que poucos hoje leram, coisa fácil na época da internet e sites de frases escritas ou ditas por famosos. A ética é a “virtude” predileta da classe média, muito explorada por sinal pela UDN, seu partido do coração, e por Jânio, sem considerar que foi uma das alavancas do golpe. E veja só, a tal classe média tradicional, a mesma que condena o Lula e vota num sujeito que defende a tortura, tem como ídolo um torturador e acha que a ditadura matou pouco. Em suma, uma desqualificado e, no comento, caminhando para tornar-se um criminoso virtual

  5. Para entender Leandro Karnal, convém recordar da dica do Garganta Profunda no caso Watergate: follow the money.
    Em outros termos, é muito mais rentável permanecer em cima do muro, sem tentar incomodar aqui e acolá, posando de isentão e assim conquistando rentáveis palestras que podem ser assistidas facilmente por pessoas de um lado e de outro do campo político.
    Ele não é bobo, ao contrário, é letrado e sabe se expressar, mas escolheu não o caminho mais fácil ou difícil, mas sim o mais rentável. Tal escolha, naturalmente, tem consequências.

  6. Mas se o leandro Karnal disse que iria escrever um livro com Moro e depois desistiu, ponto pra ele. As pessoas podem mudar de ideia, podem se sentir enganadas.Qual o problema?
    Que nunca se enganou com alguém?

  7. Corrigir 6º parágrafo: Edvaldo (não seria Edevaldo?) Alves da Silva……era o dono da FMU……..O dono/fundador do Banco Santos e Edemar Cid Ferreira……

  8. Tinha um personagem de Chico Anísio(?) ou Jô Soares (acho que ele) que sempre concordava, apontando para sua própria boca, dizendo:
    “Tirou daqui!”
    E não estou falando do Karnal ou do Pondé..
    Mas de mim em relação ao post do Nassif (e ao Adnet).
    Deveria talvez fechar com um “kkkkk”?
    Não, se juntarmos a eles, (de)formadores de opinião como: Datenas, Baccis, Siqueras, Ratinhos, bispos e pastores diversos, Olavos de Car(v)alho, Bozo, seus filhos zero à esquerda, os generais Helenos e similares, a inacreditáááável desequipe desministerial e outros que não lembro, não dá mesmo.
    Só podemos acreditar que um satélite “I love You” liberou uma bomba atômica de maconha estragada na atmosfera que nos cobre do Oiapoque ao Chuí.
    Bons tempos do Stanislaw…

  9. Tergiversar, eis a especialidade desse falso profeta da ética. Não fica longe do Macedo e do Malafaia. Nem do Dallagnol. Desde que tietou o paladino da aberração jurídica Moro, não dá mais para falar em ética, né, Karnalito. Identidade total com os maloqueiros da “fé” e da “justiça”… Escorregadio, patinando em gelo com sabão…

  10. Nassif, perdi o respeito pelo Karnal, no dia em que ele foi jantar e tomar vinho com Sérgio Moro no auge da Lava Jato…. Ao ser massacrado nas redes sociais, sua explicação foi patética: ele disse algo do tipo – “tenho curiosidade em conhecer de perto as figuras proeminentes do meu tempo….” – mas deixou claro que tratava Moro como uma espécie de “amigo”, alguém por quem se podia sentir algum tipo de empatia ou admiração…. Ora, sendo um dos seres mais abjetos do planeta em todos os tempos, cabe a todo o ser lúcido apenas um sentimento de aversão completa a um juiz capaz de tantos gestos da mais absoluta perversidade e crueldade, como os que ele cometeu contra diversos réus e acima de tudo, contra Lula e sua família. Qualquer um capaz de “sair para tomar um vinho” com pessoas como Moro, Barroso, Dallagnol e seus assemelhados, não merece o respeito dos brasileiros conscientes de toda a podridão que cerca as falas e ações desses homens. Seu texto é o complemento perfeito para quem ainda tem dúvidas de quem é o “filósofo” Karnal. Um ser insosso, desonesto intelectualmente que tenta agradar a todos com a mais farsesca das “imparcialidades”. É o rei dos demagogos, e apenas isso, com um verniz sofisticado capaz de enganar a muitos…..

  11. Leandro Karnal esperará uns dez anos no mínimo para que algum acadêmico publique um livro contando a história do Golpe Continuado – com todas as suas fases – para, só aí então, admitir que houve um golpe.
    Karnal enxerga bem o passado remoto, mas sofre de miopia quando se trata do presente.
    O seu discurso anticorrupção se enquadra perfeitamente na crítica feita por Jessé Souza.

  12. Acho que este negócio de ser o “falso catão” da moralidade tem mais a ver com uma questão de cultura de classe do que de postura individual. Quando falo isto me refiro a cultura da classe média, sobretudo. E não se trata apenas de uma prática disseminada. Ela é, sobretudo, tolerada. Tal tolerância, portanto, não pode ser atribuído a apenas um lado político. O Lula ao menos, não se prestou ao mico de se levantar a bandeira da ética e vestir-se com ela como forma de se colocar acima dos demais. Neste ponto, sabendo que teria que lidar com gente bem pouco confiável, ao menos não penhorou sua sinceridade gritando aos quatro cantos que defenderia a ética a todo custo. Não dava pra ser assim. Não com um projeto conciliatório. Ao contrário, pra defender a aprovação de projetos, teve de se prestar ao papel de exigir condescendência com ninguém menos que José Sarney e sua filha, quando o mundo lhes caiu sobre a cabeça. “Sarney tem um passado político que tem que ser respeitado”, foi o que ele disse. Pragmático, pouco sincero mas, determinante pra governabilidade. Podemos questionar se foi bonito ou se foi verdadeiramente ético ou até mesmo positivo pra nação. Mas, questionável ou não, nunca poderemos negar que ele assumiu entrar no jogo.
    Já em torno de Lula e Dilma, não faltaram os tais “catões”. O maior deles, obviamente, foi o Palocci. Protegido pela causa, enfiou o pé na jaca, como o próprio Nassif já revelou e, por algum motivo, pouco se repercutiu o que ele fez com a máfia italiana. Vai ver tem catão demais com rabo preso do lado da esquerda.
    Sei que muita gente não vai gostar deste comentário. Não estou sendo polemizador. Ao contrário, apenas faço um alerta. É que, enquanto não se admitir que malandragens deste tipo estão no seio da classe média brasileira como parte de sua identidade cultural (que a gente julga ser sempre do outro, nunca nossa), acho meio difícil que os anseios mais profundos dos mais pobres possam ser ouvidos. E pouco se avançará naquilo que tantos julgam necessário para a mudança do país: uma formação política e ideológica de qualidade. E isto não passa pelo abandono da ética e da moralidade.
    Quanto a esta última afirmação, não posso deixar de mencionar a figura raríssima de um verdadeiro catão da moralidade, com sinceridade ideológica, prática inquestionável e história de vida exemplar. Quando José Dirceu participou de um documentário sobre Florestan Fernandes, revelou em seu depoimento o quanto a figura do professor incomodava a ele e aos que defendiam suas práticas. Dirceu reclamou da rigidez de caráter do acadêmico enquanto atuavam juntos como parlamentares: “Pô professor, me deixa ser um pouquinho pragmático!” Não adiantava fazer este tipo de muxoxo. Florestan era irredutível em seus princípios e botava o pé na porta sem dó.
    Quantos Florestan Fernandes ainda temos no país? Fazem falta, ou empatam a política?
    Quem quiser saber a resposta, verifique o sucesso de gente como Karnal entre a classe média. De esquerda e de direita.

    1. Faço minhas as suas palavras. E, verdade, amigos viraram as caras pra mim quando lhes disse algo parecido, talvez me confundindo com algum Catão fake (mas indigesto) como esses chamados “filósofos” fast food. Parabéns amigo

  13. Quando o Karnal apareceu eu também fui ver o que ele tinha pra dizer. Logo me chamou a atenção uma coisa: o sujeito falava muito, mas muito bem.
    Depois, eu comecei a prestar a atenção no “contiúdo” e ficou evidente que o homem era extremamente raso, pois não havia análise estrutural de nada, só um amontoado de obviedades misturas com citações de filósofos que ninguém leu. Na hora caiu a ficha: era mais um pilantra que havia embarcado na canoa da auto-ajuda…. O que ele falava era pra enganar trouxas, só que falava tão bem que era difícil se dar conta.
    Finalmente, ele me aparece jantando com o Moro e diz que gostava da “companhia de pessoas inteligentes”… Na hora me dei conta que o Karnal se encaixa numa categoria de gente cuja palavra não posso digitar aqui.
    Resumindo: ele é muito esperto, fala pra idiotas e não se aproveita nada do que diz.

  14. A questão chave a ser superada é o Relativismo Moral. Enquanto não conhecermos objetivamente a diferença de Direito e errado, não conseguiremos dinstinguir o comportamento certo do errado, moral do imoral, ou mesmo o que me pertence e o q é do outro. Viveremos num mundo q funciona como uma prisão para bandidos.

  15. Lenador Karnal é um conservador, desses tipos moralistas, que acredita, até hoje, que a Lava Jato esta correta em seus meios e fins e que a politica é corrupta por vicio de origem etc. Ele esta certo em insistir na questão ética, pouco cara em nosso tempo, porém é sempre colocado de uma forma moralizadora….

    1. Imagino que ele também se mostra um arisco estrategista quando também cria a dúvida de estar, ou não, em cima do muro. Avalio que ele já escolheu o seu lado e essa escolha pode ser a razão do direcionamento discretetamente seletivo de suas análises. Para enriquecer a imagem, nada melhor uma incorporação filosófica para se mostrar ser, sem nunca ter sido.

  16. A resposta é simples: ele também já agiu como um falso catão, por isso nada dele nesse sentido. Tem um vídeo dele esculhambando Dilma em razão do tamanho da comitiva brasileira na Conferência de Copenhague em Meio Ambiente. Baixíssimo nível de moralismo, foi um bolsonarista radicalizado quem me mostrou. Sendo que essa comitiva “imensa” e “sem igual na história do Brasil” nas palavras de Leandro Karnal estava bancando viagem e hospedagem por conta própria. O governo brasileiro apenas tinha usado seu então prestígio em matéria internacional para conseguir ampliar o leque de entidades da sociedade civil (ONGs) e empresas aptas a se cadastrarem como participante da Conferência.

  17. Senhoras, Senhores e Senhorxs, boa noite!
    Qual vossa indicação de ditos filósofos para ler ou assistir que ainda estão em vida?
    Obrigado.

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