Marcha à ré em Brasília, por Wagner Iglesias

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Wagner Iglecias

No blog da Maria Frô

Prezado(a) leitor(a), se alguém me dissesse em 2003, logo que Lula assumiu a presidência, que o PT faria quatro mandatos presidenciais sucessivos, eu apostaria que o Congresso Nacional em 2015 estaria repleto de representantes dos trabalhadores (do campo e da cidade), de mulheres, de jovens, de afro-descendentes, de indígenas, de representantes do movimento LGBT, de gente das mais variadas fés religiosas etc. Seria inclusive uma conclusão óbvia. Afinal o que era o PT, na sua origem, se não uma grande frente de forças políticas progressistas e movimentos sociais ascendentes, e que desde os anos 1980 vinham dando uma lufada de ar fresco no cenário político brasileiro?

Ok, tudo bem, o petismo em 2003 já era bem mais pragmático que duas décadas antes. Mas o que se vê na realidade do Parlamento brasileiro hoje é bem o contrário do que se podia supor após uma década e meia do partido no poder. Câmara e Senado estão dominados por homens adultos brancos, em sua maioria conservadores em termos políticos e morais, em sua maioria cristãos e em sua ampla maioria financiados por grandes grupos econômicos. De duas uma: ou a direita, consciente de sua inviabilidade eleitoral na disputa pela presidência da república, resolveu priorizar o Legislativo, ou o petismo vacilou muito em sua estratégia conciliadora e agora vê um Congresso Nacional dominado por seus adversários.

Muita gente tem saudado o ativismo desta atual legislatura, mas fato é que a Câmara tem votado diversas propostas que alteram a Constituição Federal sem que uma assembleia nacional constituinte fosse instalada. E sem diálogo com a maioria da sociedade. A recente votação, a toque de caixa, da reforma política conseguiu piorar um sistema eleitoral e partidário que já é muito ruim. Do jeito que ficou só se favorecerão as oligarquias partidárias e seus sócios e financiadores do mundo empresarial. Agora a Casa prepara-se para aprovar a redução da maioridade penal e em breve o Senado deverá alterar o regime de exploração do pré-sal, desmontando a regra da partilha e na prática reinserindo o sistema de concessão das jazidas, altamente favorável às petroleiras estrangeiras.

Mais do que uma birra contra um governo notadamente fraco, ou mais que o resultado de uma articulação política malfeita entre os dois Poderes, o que o Parlamento brasileiro está perpetrando neste momento é um profundo contra-ataque aos avanços sociais e políticos que o país conheceu nos últimos anos. E por últimos anos entenda-se não só aqueles dos governos petistas, mas sim o que conseguiu-se construir, a duras penas, desde a volta da democracia, em meados da década de 1980.

*Wagner Iglecias é sociólogo, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Eles vão ser lembrados

    Eles vão ser lembrados sempre. E amaldiçoados pro resto de suas vidas. A autofagia do congresso está primorosa, contra tudo e contra todos.

    1. Não serão lembrados. Nossa

      Não serão lembrados. Nossa memoria é curtísima. Eles apenas recolherão as prendas e garantirão o seu proprio futuro e o Brasil que se lasque.

  2. FRAUDE ELEITORAL = CONGRESSO PODRE E CONSERVADOR!

    Duvida?

    Então tente contestar o estudo abaixo:

    https://www.facebook.com/democracia.direta.brasileira/photos/a.300951956707140.1073741826.300330306769305/612471525555180/?type=3&theater 

    A aberração é ver os ladrões e vagabundos do congresso, que dizem defender o povão, sem capacidade nem para observar o que o povo pede nos protestos, analisar a justiça das reclamações, e atendê-las, como é o caso da rejeição ao atual sistema de votação eletrônica. 

    Essa é a ESQUERDA LIXO, que acaba de se tornar cabo eleitoral do Bolsonaro. Afinal, onde estavam esses patetas, que não atenderam as reivindicações do povo? Vejam o espetáculo, que merece ser aplaudido de pé, e que deveria ser de iniciativa de nossa esquerda, que é um lixo mesmo:

    https://www.youtube.com/watch?v=38wf5cXqxQA 

    Essa é uma questão que precisa ser acompanhada de perto, o Bolsonaro colherá excelentes resultados nas urnas, e com méritos, se conseguir aprovar essa emenda no congresso (Só falta o PT e as esquerdas votarem contra…).

    Imaginem o que aconteceria, se o PT, por exemplo, defendesse abertamente a valorização de nossos ABAIXO ASSINADOS, para que tenham força para convocar PLEBISCITOS, REFERENDOS, E RECALLS, esse último, nosso direito de cassar os políticos no voto popular. O que daria ao povo mais respeito e cidadania, como já conquistado na maioria de nossos vizinhos sul americanos, e nos países desenvolvidos.

    Será que não elegeriam uma bancada de deputados 3 vezes maior?

    Ora, mas onde estão as novas forças políticas de esquerda, que não conseguem se eleger, porque não atendem ao pedido das ruas por MAIS DEOCRACIA?

    Estão esperando o que?

    Que o Bolsonaro perceba que também deve erguer essa bandeira? 

    O mais impressionante é ver o Lula querendo ser presidente de novo, fazendo de conta que não é responsável por ainda não termos conquistado esses direitos, e ainda por cima não incluir essas reivindicações em seus discursos. Afinal, o que virou o PT?

  3. Pré Sal

    A mudança no regime de exploração do pré sal está no bojo da ratificação do financiamento de campanha. Estão pagando a conta a quem os financiou. Depois irão cobrar permanentemente das petroleiras que façam as suas doações de campanhas como pagamento na mudança do pré sal, numa espécie de chantagem permanente, pois como detem a caneta, a qualquer hora pode ser revisto e voltar o que era antes ou dar uma ferradinha nas petroleiras que não contribuirem, um imposto aqui, outra lá…

  4. É meu amigo Wagner a história

    É meu amigo Wagner a história tem seu próprio curso e muitas vezes distinto dos planos que imaginamos para ela. Parece um pouco com a história de nossa “imbatível” seleção canarinha: sempre existem os Ghiggias, os Paolo Rossis e os alemães para nos acordar do sonho encantado. A falsa crença na vitória fácil nos amortece os sentidos e muitas vezes a soberbia nos faz esquecer o adversário, entender seu jogo, sua técnica, sua tática, suas ideias. Além do mais estacionamos muitas das ideias e sonhos que os vários movimentos sociais e os partidos de esquerda acalentaram durante os anos 80 e 90. Considerávamos as privatizações do FHC criminosas, mas não investigamos sequer um desses processos. Acreditávamos na ética na política e numa nova relação entre a sociedade e o Estado, mas não encaminhamos nenhuma reforma do Estado nem da política. Desejávamos uma imprensa mais livre e pluralista, mas não atacamos os monopólios midiáticos. Defendíamos um modelo tributário que fosse mais eficiente e justo que funcionasse como uma ferramenta para melhorar a distribuição da renda, mas não propusemos e nem encaminhamos nenhuma reforma tributária nesse sentido. Acreditávamos na importância em fortalecer nosso processo de industrialização e modernização econômica mas ficamos dependentes de um modelo exportador. Acreditávamos na revolução da escola pública, universal e gratuita, mas não propusemos nada novo na área da educação. E por ai vai. Tudo em nome de um falso realismo político, para se conseguir o paz e amor as vezes é necessário fazer a guerra. E essa é uma tarefa que nossa geração deixou escapar.  Vamos ter de esperar mais uma geração para ver de fato uma transformação radical de nossa sociedade.

    Abs 

    Edu

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