Michel Temer, o fracassado

Naquela que pode ser considerada a mais profunda e precisa passagem de seu livro Entre o Passado e o Futuro, Hannah Arendt afirma que:

“… a autoridade exclui a utilização dos meios externos de coerção; onde a força é usada, a autoridade em si mesmo fracassou.” (Entre o Passado e o Futuro, Hannah Arendt, editora Perspectiva, São Paulo, 2009, p. 129)

Fracasso da autoridade paternal e familiar. Foi isto o que vimos ocorrer quando um pai matou o filho a ex-esposa e várias mulheres da família dela. Ao voltar contra si mesmo a violência que havia exteriorizado como se esta pudesse ser um substituto para a autoridade, ele forneceu também a prova do fracasso da ideologia que fundamentou sua ação.

Apesar de comprovadamente insano, Anders Behring Breivik foi mais coerente do que Sidnei Ramis de Araujo. Breivik assassinou suas vítimas e, ao invés de cometer suicídio, continuou pregando a correção do seu ato (muito embora a violência apenas comprove sua incapacidade de distinguir entre a autoridade que ele deseja e força bruta que ele utilizou).

Fracasso da autoridade religiosa e/ou de sua teologia. Foi isto o que ocorreu quando os seguranças de uma igreja agrediram ferozmente e sem necessidade um mendigo ao invés de cuidar do bem estar dele. O foco na riqueza e nos bem estar material que ela pode proporcionar aos exploradores da credulidade e da fé popular fez os pastores e seus seguidores transformarem uma religião de paz, tranqüilidade, compreensão e inclusão numa seita de ódio, vingança e violência contra aqueles que se recusam ou não podem pagar o dízimo.

Fracasso da autoridade pública. É isto o que vemos em toda e qualquer rebelião de presos com vítimas. Não compete aos presidiários e sim ao Estado garantir a integridade física e moral dos detentos. Sempre que a autoridade estatal fracassa, a violência privada não deve ser atribuída exclusivamente aos agressores e agredidos (ou à empresa que opera um presídio privatizado).  

O Estado detém os meios de violência e a legitimidade para empregá-los, mas apenas dentro da Lei. Quando os policiais se tornam excessivamente letais e ingovernáveis ou agem à revelia da Lei com a complacência ou aquiescência do governador, o fracasso da autoridade governamental é evidente.

Todos os dias os jornais noticiam casos de violência policial. Acostumados ao fracasso da autoridade fazemos de conta que a brutalidade das PMs não é um problema, exceto quando alguém da nossa própria família foi agredido. Que autoridade tem uma reclamação justa quando o uso da força foi aceito como uma regra?

“Um acidente” foi assim que Michel Temer descreveu a rebelião no presídio com dezenas de vítimas fatais. Todavia, o que ocorreu não pode ser considerado um acidente. A chacina entre presos que ocorreu no Amazonas (um caso semelhante ocorreu em Roraima) foi uma cristalina demonstração do fracasso da autoridade do seu Ministro da Justiça, dos seus colegas de partido e do seu próprio governo. Reconheça sua falta de autoridade e renuncie senhor presidente. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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