Michelle Bolsonaro cada vez mais implicada nas investigações de Flávio, diz jornal português

Desde que as novas revelações - depósitos de Queiroz para Michelle - foram feitas, nem Bolsonaro nem ninguém da Presidência abordou o assunto

Foto: Carolina Antunes/Presidência

Por João Ruela Ribeiro

Michelle Bolsonaro cada vez mais implicada nas investigações a Flávio Bolsonaro

Do Público (Portugal)

A mulher do Presidente brasileiro recebeu mais de 70 mil reais ao longo de vários anos do ex-assessor do filho de Bolsonaro e pode tornar-se alvo das investigações. PSOL quer que o Congresso investigue.

O cerco à família do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, está a apertar-se com novas revelações da investigação às transferências de dinheiro entre assessores do gabinete de Flávio Bolsonaro, quando este era deputado estadual no Rio de Janeiro.

Em causa estão vários depósitos bancários do ex-assessor do filho mais velho de Bolsonaro, Fabrício Queiroz, na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que foram revelados pela revista Crusoé na última sexta-feira. Já era conhecida uma transferência de 24 mil reais (3700 euros) feita por Queiroz na conta da mulher de Bolsonaro, mas o levantamento do sigilo bancário do antigo homem de confiança da família mostra uma actividade bem mais intensa.

Ao todo, foram realizados 21 depósitos por Queiroz na conta de Michelle Bolsonaro entre 2011 e 2016 que totalizaram 72 mil reais (11.300 euros). Também a mulher de Queiroz, Márcia, que trabalhou no gabinete do então deputado estadual, fez vários depósitos para a futura primeira-dama durante a primeira metade de 2011 no valor de 17 mil reais (2.600 euros).

Quando as primeiras transacções foram reveladas em 2018, Jair Bolsonaro foi rápido a justificar a transferência de 24 mil reais de Queiroz – que era então procurado pela polícia – para a conta da mulher como parte do pagamento de uma dívida que o ex-assessor e polícia tinha contraído consigo. Depois de meses em paradeiro incerto, Queiroz foi detido em Junho numa casa em Atibaia pertencente a Frederick Wassef, advogado dos Bolsonaro.

Desde que as novas revelações foram feitas que nem Bolsonaro nem ninguém da presidência abordou o assunto. Apenas Flávio Bolsonaro veio a público dizer que não vai permitir que os seus depoimentos sejam gravados em vídeo depois de o jornal O Globo ter divulgado declarações do actual senador.

A 7 de Julho, Flávio Bolsonaro foi interrogado no âmbito das investigações e admitiu ter pago com dinheiro vivo 12 espaços comerciais na Barra da Tijuca no valor de 86,7 mil reais (13.780 euros).

O caso das “rachadinhas” está nas mãos do Ministério Público do Rio de Janeiro, que tenta averiguar se os assessores de Flávio Bolsonaro quando este era deputado estadual entregavam parte dos seus salários ao político, uma prática ilegal relativamente comum no Brasil.

Os procuradores acreditam que Queiroz era o principal operador deste esquema que consistia na criação de vários cargos no gabinete do deputado, que depois recebia parte dos seus salários. Os depósitos para contas de familiares seus, como Michelle Bolsonaro, é uma forte indicação.

A implicação mais profunda da primeira-dama pode vir a torná-la em alvo formal da investigação, uma vez que não está abrangida por qualquer tipo de imunidade. Politicamente, o envolvimento de Michelle Bolsonaro poderá enfraquecer ainda mais a posição do Presidente brasileiro, eleito com um forte discurso de moralização da vida política e promessas de combate à corrupção.

O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), de esquerda radical, está a tentar recolher assinaturas para abrir uma comissão parlamentar de inquérito para averiguar qual foi o papel da primeira-dama no alegado esquema das “rachadinhas” e se existiu algum tipo de participação por parte do próprio Bolsonaro, que na altura era deputado federal.

Redação

3 Comentários

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  1. matemática neles…
    nessa essa tal de rachadinha, no poder aquisitivo gerado e no lapso de tempo

    gastos, pessoas sustentadas e bens adquiridos

    de A para C, necessariamente teria que acontecer alguma coisa diferente em B

  2. Talvez um golpe seja uma das poucas “soluções” para que Bolsonaro e os seus não sejam processados, condenados e, inclusive, presos.
    Faço analogia com o futebol profissional (claro, há vários poréns). O torcedor ama de paixão o seu time, o clube faz questão de incentivar esta paixão mas, no fundo, trata-se de um negócio. Assim me parece o bolsonarismo: a pessoa grita “mito”, o gabinete do ódio alimenta esta narrativa, mas no fundo há um patrimonialismo, o interesse privado escancarado.

  3. Tirando a parte de “PSOL, esquerda radical” (que esquerda radical – fiel às raízes – só o Partidão, mesmo) o texto todo é de clareza e provas inquestionáveis. Não sei como esse golpe está durando tanto. Talvez valha a pena pensar se meramente denunciar, dessa vez e daqui para frente, ainda valem alguma coisa. A besta já não se esconde, já tem muitos cúmplices…

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