Mulheres negras ainda lutam para fazer política e ter voz ativa sem que isso “tire a nossa vida”

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN
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Gláucia Nascimento, Carla Rosário e Ana Luísa Machado, três mulheres pretas, debatem o legado de Marielle na TVGGN. Assista

Cinco anos após sua morte, Marielle Franco mantém seu legado. A ex-vereadora do Rio de Janeiro, que foi assassinada em março de 2018, segue influenciando mulheres no ativismo político contra o racismo e violência policial, machismo, LGBTfobia e moradias precárias. 

Em entrevista ao canal TV GGN, Gláucia Nascimento, advogada preta, assim como Marielle, comenta a realidade do país diante da criminalização e preconceito contra a população preta, e enfatiza a importância da socióloga.

Todo mundo que viu a grandeza da Marielle se pergunta onde ela estaria. O que a gente estaria comemorando com ela agora? A gente não sabe, não nos deixaram descobrir isso”. 

A profissional do direito relembra que as últimas palavras da ativista deixavam claro o espaço que a população preta ainda precisaria ocupar, bem como o dever de retornar aos seus ancestrais.

“E hoje a gente ainda está lutando por esse espaço, a gente ainda está lutando para que estar ali e se colocar como candidata, como um ser pensante, um ser com palavra, com voz ativa, não tire a nossa vida, dos meus, da minha família, daqueles que são a favor, os nossos aliados“.

Política vem da base

Gláucia, que faz parte do MTST, também acredita que a política precisa vir da base, para que assim, o machismo, o sexismo, a LGBTfobia e todas as formas de preconceito se quebrem dentro das ocupações, na prática, com o reconhecimento dos próprios direitos.

Por isso a gente acredita que a política tem que vir da base, tem que vir das ocupações, são Marielles que estão na política, só assim a gente vai conseguir quebrar de fato toda essa discriminação estrutural que a gente tem tão treinada”. 

Carla Rosário, cientista política e pesquisadora, também presente no debate, alerta para os desafios de se combater o racismo, machismo e desigualdade social, e diz que precisamos ir além da reparação, para que a população preta tenha autonomia e possa trabalhar veemente na formação de políticas públicas.

“O Bolsa Família, por exemplo, trouxe a reparação, representação e reconhecimento ao mesmo tempo, reconhece as mulheres como chefes de família”. 

Ações afirmativas

Ana Luísa Machado, a terceira convidada, cientista política e pesquisadora e mestra em direitos humanos pela UFG, comenta sobre as cotas e que apesar das ações afirmativas significarem um avanço, ainda há muito o que progredir.

“Eu fui ter aula com uma mulher negra quando eu estava no mestrado, professora Luciana, que foi minha orientadora. É muito grave que eu tenha demorado 6, 7 anos da minha formação no ensino superior para ter contato com a primeira professora negra.”

Apesar do ingresso de negros nas universidades ter aumentado 205% com a lei de cotas segundo estudo da UFRJ e Ação Educativa, a política pública, de acordo com a especialista, ainda não é suficiente para mitigar a desigualdade na educação.

“10% das vagas são para pessoas negras, mas só tem uma vaga. Eu acho que garantir esse ingresso de professores negros na universidade é garantia de um espaço seguro para o trabalho, né? Porque de fato, as panelinhas brancas ainda existem”.

Racismo institucional

Ana Luísa também analisa o judiciário, que de acordo com a pesquisadora, não mudou muito, mesmo com alguns esforços para colocação de juízes negros através de concursos.

“É um uma das heranças coloniais, porque foi pensado em um sentido de criminalização da população negra. Acho que o que a gente tem aí de cenário hoje, é mais uma continuidade desse projeto que foi pensado lá no início da formação da nação, no pós escravização, e ele tem se cumprido, né?

A advogada Gláucia Nascimento comenta que mesmo com os avanços, a luta por reconhecimento não pode parar, pois o preconceito evolui na mesma medida.

E é muito contraditório, porque a gente quer ver uma evolução, porque a gente precisa se manter com esperança e ao mesmo tempo a gente se mantém em perigo na linha de frente, mantém nossos corpos expostos”. 

Assista à live completa abaixo:

1 Comentário

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  1. Espero que as mulheres conquistem cada vez mais espaço na política e em vários segmentos da sociedade; não importa a cor da pele. É importante ter mulheres atuantes e democráticas em todos os setores da vida nacional.

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