O que Damares propõe é “controle sobre o corpo das mulheres”, diz Jamil Chade

Típico de autoritário, governo Bolsonaro sugere abstinência ao mesmo tempo em repele educação sexual em fóruns internacionais

Jornal GGN – No jornalismo existe a máxima do “papel aceita tudo”. É por isso Damares Alves pode repetir quantas vezes quiser que a campanha de abstinência sexual para combater gravidez precoce tem fundamentos técnicos (não apresentou nenhum), e não um viés religioso.

O fato é que enquanto promete apenas “conversar” com “os meninos” sobre retardar o início da vida sexual, a ministra alinha-se a países de extrema-direita ao repelir a educação sexual em fóruns internacionais. E para a OMS (Organização Mundial da Saúde), abstinência desacompanhada de educação sexual ou outras ações complementares é um risco para saúde da juventude, e não tem eficácia nenhuma.

Quem lembrou desse repúdio à educação sexual por parte do governo Bolsonaro foi o jornalista Jamil Chade, em artigo para o El País desta quarta (29). O correspondente abordou a proposta de Damares sob uma perspectiva pouco explorada na imprensa até agora: a de controle sobre as mulheres.

Porque quando se posiciona na ONU contra as expressões “educação sexual” e “direitos sexuais” ou “direitos reprodutivos”, ao mesmo tempo em que desenvolve uma política pública alicerçada apenas em abstinência sexual, o que Damares propõe não tem outro nome. É “controle sobre o corpo da mulheres.”

“Sugere-se o que fazer com o corpo, enquanto recusa-se a aceitar a educação sexual como um direito básico. Retira-se o direito de saber para garantir autonomia sobre seu corpo e, ao mesmo tempo, uma campanha é promovida para dizer quando a mulher deve manter relações sexuais.”

“Neste caso”, continuou Chade, “a abstinência se transforma num instrumento de poder. E não em uma opção de saúde pública. A escolha da idade não é do Estado, nem da família ou dos parceiros. Mas da mulher. Seu corpo, na maioria das vezes, se transforma em um meio para atingir outros objetivos políticos.”

“No caso do Brasil, a recusa em aceitar a educação sexual em textos oficiais da ONU aproximou o Brasil da Arábia Saudita, um país “exemplar” no controle sobre o corpo da mulher. Riad, rapidamente, saiu a aplaudir o novo posicionamento do Governo de Bolsonaro”, apontou.

Para o jornalista, “se o Governo brasileiro quer falar em abstinência, terá de falar primeiro em autonomia da mulher, educação sexual, direitos e saúde reprodutiva.”

Redação

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