Os erros e o começo de uma discussão sobre o futuro do PT

Há por aqui muitos textos exculpatórios do partido e suas ações, muitos deles com argumentos sólidos. Já o objetivo deste texto é colocar o dedo nas feridas, nada de “ficar passando a mão na cabeça”.

Após o surgimento do mensalão, um caixa 2 partidário transformado pela mídia em roubo pessoal e enriquecimento ilícito de políticos do PT (o caso do Genoíno é emblemático e logo se constatou que contra a sanha da ignorância e do preconceito nenhum argumento adianta), muitos já alertavam que o “jogo” seria pesadíssimo, mas elegemos o PT para transformar as instituições políticas e as relações de poder. 

Os compromissos mínimos ao atingir o poder, seriam implementar novas políticas e regulações nos setores de imprensa, justiça, legislativo e economia. Sem contar que “o PT não roubava nem deixava roubar” (José Dirceu), uma bravata totalmente desligada da realidade do exercício do poder.

A mudança do marco regulatório da imprensa foi abandonada. O governo Lula aumentou os gastos com publicidade triplicando o número de veículos beneficiados, mas não mexeu uma linha no marco regulatório, ou seja, saindo o governo petista haverá cortes de verbas em vários veículos, principalmente os que atualmente são considerados “chapa branca”.

No setor de justiça se chegou a tentar mudanças com Márcio Thomaz Bastos e Paulo Lacerda, mas elas foram estranhamente abortadas, quando do episódio das investigações Satiagraha e Castelo de Areia devido pressões de Gilmar Mendes e os factóides plantados pela imprensa (Veja à frente). Aliás ali houve uma clara inflexão no eixo de poder, algo que nunca foi explicado por Lula ou pelo PT. Lacerda foi retirado, o grampo sem áudio ficou valendo, Gilmar Mendes, Demóstenes Torres (o impoluto), Cachoeira, Dantas e a revista Veja, se refastelaram, e do lado do PT nem um pio. Como consequência, até onde me informei, a anulação da Satiagraha e da Castelo de Areia nos tribunais superiores, produziu intensa revolta entre juízes de primeira instância, MPF e PF. Como resultado prático desses fatos, vemos atualmente no governo Dilma, um ministro da justiça sem poder sobre seus comandados…

Na frente legislativa, chegou-se a propor timidamente uma reforma política. Mas tudo foi feito meio sem negociação, sem articulação política e sem divulgação para a sociedade organizada. Para dizer o mínimo, parece que faltou vontade política. Aparentemente a direção do PT apoiou a reforma timidamente e ficou esperando o que os outros iam pensar e deu em derrota. Até onde me lembro, foi a primeira derrota do governo Lula no Congresso…. Tudo muito “pragmático”, “republicano” e… Acomodado…

No petróleo adotou-se a política de partilha, concordo com ela. Mas a Petrobras, nossa maior indutora de desenvolvimento, segue sendo uma estatal frágil, pois não se abandonou a política de negociar ações nos EUA e nem se alterou seu marco regulatório. Para privatizá-la basta “queimar” suas ações em bolsa. Na prática ela não é tratada exatamente como uma Estatal estratégica, é uma empresa comum onde o governo possui a maioria das ações… Isso é conceito de governo de esquerda? E se o governo adotou premissas liberais de conduzi-la, porque aumentou o gasto com conteúdo e insumos nacionais dos 15% máximo ditos pelo Lula, para mais de 30% em vários casos prejudicando o lucro da empresa? E usá-la via política de preços dos derivados para a “segurada” na inflação, igualmente prejudicando seu caixa?

Já o escândalo Paulo Roberto Costa e suas consequências foi uma tragédia, mas isso acontece com quem tem o poder. Por incrível que pareça, essa é a parte que menos me preocupa sob o ponto de vista do macro cenário. Ruim e prejudicial ao país é a maneira como a justiça está conduzindo o processo, sem fechar rapidamente os acordos de leniência (só começaram a ser fechados agora em dezembro), e operando a parte penal de maneira lentíssima, visando promover muito mais um espetáculo político midiático do que promovendo a justiça. Paulo Roberto Costa foi mandado embora da Petrobras em 2011 por este governo e no entanto não parece. O governo não consegue se descolar da pecha da corrupção colocada a conta gotas diariamente no Jornal Nacional. A impressão que tenho é que se fosse com o Gilmar Mendes ele já os teria “chamado as falas” e com resultado.

Hoje diante da fraqueza explícita que paralisa o governo Dilma, inclusive o obrigando a tomar iniciativas que durante a campanha dizia que não tomaria, ou seja, mentindo para seus eleitores, o PT sendo demonizado por boa parte da população, pois a ojeriza pregada como um tsunami pela grande imprensa já chegou em parte das classes baixas, fica a constatação… Deveria ter ousado mais e muito antes, e se fosse para perder, perderia antes e agora o partido já estaria ressurgindo depurado…

Chega a ser constrangedor o que tenho visto na defesa do indefensável. Temos ministros que sabotam com anuência da chefia, que sempre deve ser desculpada, como se fosse vítima. José Cardoso seria um sabotador e a chefe dele, vítima.

Um dos últimos episódios emblemáticos é o de Delcídio Amaral (mas poderia ser André Vargas), um câncer velho na política, aceito nos quadros do partido com os já velhos argumentos do pragmatismo. Depois quando foi pego fazendo o que sempre fez, o constrangimento não deve ser colocado como culpa do partido, os “adoradores” de sempre saem divulgando que ele seria um infiltrado do PSDB… É de doer…

Amigas e amigos me perguntam por que ando “passando fogo” no partido e no governo… Faço porque a muito (desde o governo Lula), compreendi que as mudanças radicais que quebrariam 500 anos de coronelismo, autoritarismo e ignorância política a serem implementadas, teriam que ser com muita ousadia e esperteza, inclusive e até mesmo, com o desprendimento do poder. Ficar alardeando a paternidade das políticas compensatórias protagonizadas pelo “esquerdista” Milton Friedman (que são importantes, mas saciada a fome, “a gente não quer só comida”) e esquecer de todo o resto, vindo de um partido previamente amaldiçoado pela elite da mídia e principalmente pela classe média alta, é pedir para morrer… E o PT se ainda não está correndo risco de morte, claramente corre o risco de um encolhimento tornando-o mero coadjuvante. Aparentemente sofre por não saber encontrar as respostas contra a demonização, a desinformação e a falta de memória popular, enquanto cada vez mais se deforma, cada vez mais adota projeto neoliberal, cada vez mais se corrompe e se torna igual a tudo que combatia… Uma tragédia!

Em minha opinião, também é preciso bater de frente com esses neopetistas, que tudo desculpam, que não sabem o que são políticas públicas e econômicas de esquerda e os idólatras em geral (esses são os piores). O PT que conheci escutava mais as bases e discutia tudo, coisa que aparentemente não se faz mais, ou se faz de maneira “torta” a tempos. Era um partido muito mais radical tanto sob o aspecto político, quanto o moral, não almejava o poder a qualquer custo. Eram essas características que o diferenciavam dos outros. E pregar o que é certo não tem nada a ver com saudosismo, muito menos com pragmatismos de ocasião. Há muito mais a ser dito e eu não tenho medo de apontar as mazelas adquiridas com o poder, ou a atual fraqueza advinda do exercício dele. Penso que todo o projeto petista, seja de partido, seja de atuação política, seja de governo, tem que ser passado a limpo e rediscutido, sob pena de cada vez mais vermos o partido se transformar numa sombra do que foi (tipo um PDT da vida), ou mesmo determinar sua morte. Creio que ainda há tempo de mudar, inclusive dando um passo atrás em várias práticas, para avançar com mais qualidade rumo ao futuro, até porque, isto que estamos assistindo não pode ser um governo do PT… Ou não deveria ser…

Redação

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