Países ricos doam vacinas usando critério geopolítico, não epidemiológico, diz Lancet

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Abordagem geopolítica "não apoiará as nações com maior necessidade de doses de vacina e perpetuará a desigualdade global da vacina", afirma a publicação

Jornal GGN – A revista científica The Lancet publicou um artigo no último dia 8 indicando que os países ricos têm feito doações de vacinas contra Covid-19 seguindo sobretudo critérios não epidemiológicos, mas geopolíticos, sem considerar a situação da pandemia de coronavírus em cada país candidato à doação.

“As nações que doam vacinas bilateralmente (…) têm usado suas doações mais como um meio de cimentar esferas de influência do que para promover a igualdade global de vacinas e acabar com esta pandemia”, afirma a publicação.

As maiores economias do mundo têm comprado vacinas extras de vacinas ou usado parte do estoque que fizeram no último ano de duas formas: doando uma fração à iniciativa Covax Facility – que tampouco segue critérios estritamente sanitários na sua redistribuição – e repassando o restante diretamente aos países aliados, de acordo com as conveniências.

A Lancet diz que os critérios de distribuição adotados pelo consórcio Covax visam, teoricamente, democratizar o acesso à vacina ao maior número de países, mas tampouco observa os focos da pandemia ao redor do globo. Mais de 100 países conveniados devem imunizar no máximo 20% de suas populações via Covax. Mas isso não significa que países como Índia e Brasil, que têm sofrido com altos índices de mortalidade e surgimento de novas variantes da Covid, por exemplo, serão priorizados.

O artigo é divulgado na mesma semana em que os Estados Unidos anunciaram em reunião do G-7 – as sete maiores economias do mundo – que comprarão mais 500 milhões de doses da vacinas contra coronavírus da Pfizer para doar a outras nações. O governo de Joe Biden já havia prometido, anteriormente, mais de 80 milhões de doses para doação. O Brasil – que é o terceiro país em número de casos e segundo em óbitos por covid, com quase 480 mil vítimas fatais – ficou de fora da lista de beneficiados das 500 milhões de doses, apesar de ser um epicentro da crise sanitária, ameaçando também a segurança dos vizinhos de continente.

A Lancet alerta que países da América Latina estão entre aqueles que terão “as maiores taxas de mortalidade por Covid-19 nos próximos três meses”, de acordo com projeção de especialistas, mas receberam “o menor número de vacinas até o momento”.

“Em contraste, projeta-se que a maioria dos países da região Ásia-Pacífico apresentam taxas de mortalidade por COVID-19 mais baixas do que em outras regiões, mas receberam quase 60% de todas as doações de vacinas até agora.” A região atrai o interesse de países riscos que tentam contrabalancear as influências locais da China. A Índia – que é o segundo em casos e terceiro em mortes, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins – é um exemplo. O governo indiano “direcionou suas maiores doações de vacinas para muitos dos mesmos países que a China, disputando influência na região da Ásia-Pacífico.”

Enquanto isso, a Rússia doou mais vacinas aos países que “consideraram a compra da Sputnik V”. Enquanto escanteiam o Brasil, os Estados Unidos miram bolsões na África e Caribe, além de aliados ricos como Canadá, Coreia do Sul e Taiwan.

Até os atletas que deverão participar das Olimpíadas em Tóquio já receberam mais promessas de doação de vacinas dos países ricos do que Peru, África do Sul e Ucrânia, onde os casos de coronavírus começam a aumentar, diz a Lancet.

“Embora compreensível de uma perspectiva diplomática”, essa abordagem geopolítica na distribuição das vacinas “não apoiará as nações com maior necessidade de doses de vacina e perpetuará a desigualdade global da vacina”, finaliza a publicação.

Leia a íntegra aqui.

http://www.catarse.me/jornalggn

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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