Pesquisa relaciona Meio Ambiente e Saúde

O Brasil carece de indicadores de sustentabilidade ambiental favoráveis ao desenvolvimento de uma nova economia e capazes de acompanhar os impactos da degradação de biomas sobre a saúde humana, avaliam os autores do artigo “Indicadores de sustentabilidade ambiental e saúde na Amazônia Legal”, Carlos Freitas e Leandro Giatti.

Os pesquisadores, da Fundação Oswaldo Cruz, explicam que para estimar os resultados das pressões sócio-econômicas e da “progressiva degradação ambiental”, sobre a qualidade de vida da população, é preciso recorrer a diversas fontes (IBGE, INPE, DATASUS, por exemplo), método que, além de moroso, sofre pela desarticulação de dados entre cada um desses sistemas.

Mesmo sem um indicador de sustentabilidade ambiental rigoroso, os autores do artigo utilizaram dados das instituições oficiais para medir a relação entre a destruição de biomas sobre a vida de populações da Amazônia Legal – Macrorregião que corresponde a 59% do território nacional considerando todos os estados do Norte além dos estados do Mato Grosso e Maranhão.

O aquecimento econômico da região resultou na redução da mortalidade infantil, aumento da expectativa de vida e também na intensa degradação ambiental. “O Estado do Mato Grosso exemplifica esse processo, pois enquanto se destaca no cumprimento dos ‘Objetivos do Desenvolvimento do Milênio’ como o de menor índice (6%) de população em condições de pobreza extrema em 2005, destaca-se pela maior área desmatada na Amazônia Legal nos últimos anos”, completam.

Os pesquisadores explicam que a avaliação dos impactos da degradação de biomas sobre a saúde das pessoas ainda é imprecisa, justamente pela curta trajetória de coleta, organização e sistematização dos dados relacionados ao meio ambiente, como consta no trecho que retiram da introdução dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) da Organização das Nações Unidas (ONU):

“…os temas ambientais são mais recentes e não contam com uma larga tradição de produção de estatísticas [o que] (…) resulta em menor disponibilidade de informações para construções dos indicadores requeridos para uma abordagem mais completa dessa temática…”.

Vetores da degradação

Para chegar mais próximo da relação que se pode fazer sobre os impactos da degradação ambiental na saúde humana, Freitas e Giatti recorreram a três conjuntos de informações: os indicadores disponíveis no Perfil dos Municípios Brasileiros – Meio Ambiente 2002, publicado pelo IBGE; o IDS da ONU, que reúne 60 indicadores; e informações do próprio IBGEE, do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), Embrapa e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Os dois principais vetores econômicos da degradação apontados pelos pesquisadores são: o “desenvolvimento econômico assentado na absorção do capital natural em grandes extensões territoriais, em que a floresta é vista como madeira e o solo como suporte para o agronegócio, tendo como base a propriedade latifundiária, a concentração de renda e o trabalho desqualificado e com baixa remuneração”; e a fórmula urbanização-industrialização – “sendo exemplo a cidade de Manaus, maior concentração populacional de grande porte, com fortes estímulos à indústria de eletro/eletrônicos constituindo um processo de severo crescimento demográfico e econômico”.

Outros vetores foram apontados e chamados de “mega-programas de investimentos”: o Avança Brasil e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por contribuírem na implementação da infra-estrutura (hidrelétricas, rodovias) e também no uso e ocupação do solo amazônico.

Resultados

Os indicadores de pressões e situações ambientais apontam o desmatamento e as queimadas como as principais responsáveis pelos danos ecológicos. “As queimadas, que duram de três a quatro meses por ano no período da seca, resultam em níveis de poluentes atmosféricos com impactos locais e regionais até mais intensos que nas cidades mais poluídas do país, como o CO [carbono] em São Paulo, além da emissão de poluentes que alteram serviços de regulação climática no nível global (caso do CO2 – dióxido de carbono)”, apontam Freitas e Giatti.

Os desmatamentos também estão associados ao prejuízo dos ciclos das águas, redução da biodiversidade e desequilíbrio no ciclo de vida de vetores e hospedeiros. Mas apesar das fontes (IBGE, INPE, DATASUS, IDS/ONU) permitirem chegar a conclusões plausíveis quanto ao impacto da degradação ambiental sobre a saúde humana, os pesquisadores ressaltam que tanto os indicadores do IDS quanto, os publicados pelo setor de saúde, e os da Vigilância em Saúde Ambiental, limitam os dados de saúde ao registro de dados sobre morbidade e mortalidade não considerando os demais “ciclos perversos e os virtuosos no que se refere ao emprego, à renda e às desigualdades”.

Ou seja, os índices de sustentabilidade e de saúde devem ser diretamente relacionados – a melhora de um resulta na pronta melhora de outro. E a absorção desse conceito – “que englobe as condições de vida e de bem-estar das populações” – contribuiria de forma direta para o desenvolvimento de uma nova economia.

Para acessar o artigo na íntegra, clique aqui.

Redação

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