Petrobras: como dourar a pílula de uma gestão medíocre, por Luis Nassif

A subsidiária logística da Petrobras, a TAG, foi vendida por R$ 33,5 bilhões. Em um ano, o aluguel pago pela Petrobras à TAG representou cerca de 15% do valor total recebido em sua venda.

A manchete do Globo foi consagradora: “Petrobras surpreende com lucro recorde de R$ 59,9 bi no 4º tri de 2020, no último balanço de Castello Branco”. E no subtitulo: “Contrariando previsão de prejuízo dos analistas, estatal lucrou R$ 7 bi no ano da pandemia. Executivo deixará presidência da estatal em 20 de março, após interferência de Bolsonaro”.

Como foi possível a um executivo de 74 anos, sem nenhuma experiência com petróleo, sem nenhum cargo executivo relevante ao longo de toda sua carreira, mantendo-se em Home office durante todo o ano, conseguir um feito dessa magnitude?

Com exceção do título bombástico, é matéria bem feita, que trabalha os dados básicos do balanço da empresa.

Em outras matérias, usou-se até a lógica do cafezinho para justificar os resultados do balanço. Ignorou-se que, ao mesmo tempo em que oitava o cafezinho, Castello Branco propôs aumentos substanciais na participação da diretoria nos lucros da empresa.

De fato, uma leitura do balanço da Petrobras mostra que, desses R$ 59,9 bi,

*  R$ 21 bilhões foram decorrentes do aumento dos preços do petróleo, que obriga a um ajuste contábil;

* R$ 20 bilhões devido a ganhos cambiais;

* R$ 13,1 bilhões referentes a recálculos de compromissos com planos de saúde.

Portanto, nenhum fator ligado diretamente ao trabalho operacional da diretoria.

Celebrou-se também a melhoria do EBITDA (Lucros antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização), que mede melhor a geração de caixa da empresa). Em 2020 foi de R$ 142,973 bilhões contra R$ 129,249 bilhões em 2019. Sem os fatos não recorrentes, no entanto, cai para R$  127 bilhões. Ora, como cresceu se a receita líquida da empresa caindo 10% e ficando em R$ 272,1 bilhões em 2020?

De um lado,devido ao aumento expressivo das exportações de petróleo cru e óleo combustível, garantindo uma receita de R$ 87,4 bilhões, 7,3% a mais do que em 2019.

Estudo de Rafael Rodrigues da Costa mostra a irracionalidade das vendas de subsidiárias. Despesas com materiais, serviços, fretes, aluguéis e outros aumentaram R$ 5,1 bilhões em 2020, aumento de 46,4%.

De outro, devido à redução dos investimentos, um vício característico do mercado de sacar contra o futuro para garantir o lucro imediato. Em 2020 os investimentos foram de US$% 8,m1 bilhões, o menor patamar em 20 anos. A consequência foi a queda das reservas provadas, de 14 bilhões de barris de óleo equivalente em 2014 para 8,8 bilhões em 2020.

A principal razão foi o aumento dos custos de transporte de gás natural. A subsidiária logística da Petrobras, a TAG, foi vendida por R$ 33,5 bilhões. Em um ano, o aluguel pago pela Petrobras à TAG representou cerca de 15% do valor total recebido em sua venda.

No refino, o lucro operacional foi de R$ 4,3 bilhões, comprovando a importância das refinarias na lógica de negócios da Petrobras. Toda a lógica consiste no trabalho integrado de prospecção, refino, distribuição e transporte. O setor mais exposto a oscilações é a prospecção – diretamente afetada pelos movimentos mundiais especulativos. Daí a relevância dos demais setores para garantir a estabilidade da operação.Publicado por Google DriveDenunciar abuso

Luis Nassif

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