PF e MPF abrem pela primeira vez a caixa preta do Copom

As informações sobre as operações vieram da delação de Antônio Palocci, tentando implicar seu sucessor, Guido Mantega. Seria conveniente que as investigações avançassem sobre as manobras do Pactual junto ao CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), com o auxílio luxuoso de Palocci. Essa história ainda não foi contada.

Matéria de Bruna Narcizo, hoje na Folha, desvenda um dos segredos mais óbvios do mercado de capitais: a incrível capacidade do banco BTG em acertar nas taxas Selic, especialmente em momentos de grande mudança.

Com a investigação, finalmente Ministério Público Federal e Polícia Federal começam a entrar, de modo consistente, em um dos grandes espaços de corrupção institucionalizada, que são os insiders nas taxas de juros do Banco Central.

O estrondoso escândalo do Banco Marka, de Salvatore Cacciola, não foi de vazamento da política cambial. Foi sua incrível capacidade em acertar os leilões de taxas do Banco Central.

Na época, sugeri um levantamento estatístico dos leilões e dos acertos do Marka, mas nem MPF nem PF dominavam o tema.

Agora, a linha do tempo da taxa Selic e do desempenho do fundo BTG Pactual Direcional B mata a charada.

A matéria mostra que no dia 31 de agosto de 2011, o Comitê de Política Monetária do Banco Central fez um inesperado corte de 0,50 ponto percentual na Selic, a taxa básica de juros. O corte foi na contramão da opinião unânime de 62 economistas consultados pela agência Bloomberg.

“Naquele dia, um fundo gerido pelo BTG Pactual foi especialmente arrojado, na visão de analistas ouvidos pela Folha. O BTG Pactual Direcional B, que tinha um patrimônio de R$ 190 milhões na véspera do cavalo de pau, teve uma valorização de 30,41% em apenas um dia –e um ganho de R$ 57,8 milhões”, constata a investigação.

Para obter esse ganho, diz a reportagem, o fundo deveria estar extremamente alavancado – isto é, tomado dinheiro de empréstimo para a operação. E não se faz essa aposta sem ter segurança absoluta sobre o resultado.

As informações sobre as operações vieram da delação de Antônio Palocci, tentando implicar seu sucessor, Guido Mantega. Seria conveniente que as investigações avançassem sobre as manobras do Pactual junto ao CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), com o auxílio luxuoso de Palocci. Essa história ainda não foi contada.

Houve outros dois ganhos expressivos do banco:

·      Em 8 de março de 2012, teve um retorno de 21%. O mercado projetava queda de 0,5% na Selic, mas a redução foi maior, de 0,75%, e o fundo ganhou R$ 30,9 milhões nesse dia.

·      O terceiro retorno mais expressivo foi de 18,6% no dia 18 de abril de 2013. Na véspera, a reunião do Copom elevou a Selic para 7,5%. A taxa vinha estável há cinco meses e não havia consenso se haveria ou não a alta. Nesse dia, o ganho foi de R$ 57,9 milhões.

PS – Desde 1975 sou jornalista econômico. A primeira vez que fui vetado tanto na Fazenda quanto no Banco Central foi na gestão de Guido Mantega e Alexandre Tombini, justamente pelas críticas que fazia à volatilidade da política monetária do BC e fiscal a Fazenda

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. Pura maldade suspeitar desses cabras.
    Uma coisa é acertar sempre a variação das taxas selic, outra coisa é provar que os cabras tinham informação privilegiada.
    Vai que eles contrataram os serviços do Carlinhos Vidente.
    Quem vai poder condenar?

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