
Podem deixar Lula solto: com PEC 241 eleição presidencial vira apenas concurso de Miss
Por Ciro d’Araújo, Marcos Villas-Bôas & Romulus
>> NÃO IMPORTA QUEM VAI SER ELEITO EM 2018. Lula vai estar inelegível ou preso, mas mesmo se não estiver, se ele for eleito o programa que vai governar não será o dele. Pode ser a Dilma, pode ser o Ciro Gomes, pode ser a Luciana Genro. Simplesmente NÃO IMPORTA. Teremos eleições, eleições irrelevantes. A única minimamente relevante será a legislativa, e apenas na construção da SUPERMAIORIA <<
>> Ciro d’Araújo:
Amigos, eu estava tranquilo da vida (na medida do possível), até que resolvi LER a PEC 241.
O Romulus sabe que eu sou favorável ao ajuste fiscal. Acho inevitável que seja feito. Sabe também que eu acredito numa consolidação fiscal de longo prazo, aos poucos. Um ajuste estilo “Levy”, intenso e rápido, eu sei que nunca daria resultados.
Porém nada pode justificar essa excrecência que é a PEC 241.
Primeiramente, a PEC 241 é literalmente o novo pacto constitucional seguido da ruptura institucional. Muita gente dizia que não haveria (haverá) eleições em 2018. Eu agora tenho certeza que haverá, e essa eleição será absolutamente irrelevante. O programa que tomará posse já está definido aqui.
E por isso se trata de uma PEC. Não basta agora maioria para mudar o “programa de governo” desse novo estado brasileiro. Agora precisa de supermaioria legislativa. Como a ideia de que a esquerda brasileira algum dia vai ter maioria legislativa é inconcebível, supermaioria então só no mundo universo paralelo da série “Stranger Things”. Resultado é que nosso presidencialismo foi, depois de golpeado pelo impeachment, neutralizado.
Ou seja, a “Ponte para o Futuro” (futura queda no abismo) tornou-se a base do nosso novo contrato social constitucional.
>> NÃO IMPORTA QUEM VAI SER ELEITO EM 2018. Lula vai estar inelegível ou preso, mas mesmo se não estiver, se ele for eleito o programa que vai governar não será o dele. Pode ser a Dilma, pode ser o Ciro Gomes, pode ser a Luciana Genro. Simplesmente NÃO IMPORTA. Teremos eleições, eleições irrelevantes. A única minimamente relevante será a legislativa, e apenas na construção da SUPERMAIORIA <<
Em segundo lugar – a PEC transforma em estrutural uma atitude conjuntural. Isso falando do ponto de vista de quem acredita na necessidade de algum ajuste, o ajuste é feito ano a ano, orçamento a orçamento. Isso porque o futuro ninguém, literalmente, conhece, e precisamos ter liberdade para reagirmos a conjuntura.
Vamos por exemplo imaginar um mundo em que uma guerra aconteça no oriente médio e o barril de petróleo bata novamente os 100 doláres. E o pré-sal, entregue ou não (para esse exercício mental literalmente não importa) esteja produzindo. Somente esse exercício colocaria o país de volta em trajetória de crescimento acelerado do PIB rapidamente. Lhes pergunto, é impossível que isso aconteça?
Mas nada disso importará. Se o PIB brasileiro crescer a 1% ou a 20% (e correspondentemente a arrecadação tributária), o orçamento continuará sendo um jogo de soma zero. O que isso significa é que – o Lulismo como época em que se construiu um pacto social em que todos ganhavam, está, literalmente, inconstitucional. Agora se algum ganhar outro necessariamente tem de perder.
Se você der aumento para juiz tem que tirar dinheiro do professor. Se der aumento para professor tem que tirar dinheiro de militar.. e assim por diante.
Se acontecer outra quebradeira de bancos como a que o FHC pegou.. se tiver de fazer PROER, de onde vai sair o dinheiro? Dos cargos no legislativo? Todos nós que aqui sabemos de onde virá o dinheiro.
Mesmo se acontecer de ter dinheiro sobrando! Estiver com superávit.
Em terceiro lugar, como pessoa que viveu na época da hiperinflação e cuja primeira memória de atuação política foi como “Fiscal do Sarney”, eu temo pela reindexação completa do orçamento da união. Embora para a construção dessa excrecência jurídica-econômica que é a PEC isso seja necessário, os efeitos assessórios tornarão o arroxo inflacionário ainda maior. Isso porque a inflação mínima num período será igual a inflação do período anterior. Ou seja, se acontecer de haver um choque de preços (essas coisas acontecem, safras quebram, guerras acontecem, desastres naturais) Baixar a inflação requererá um esforço de contração monetária (juros) ainda maior. MESMO havendo superávit no momento. Ou seja, tornará o país que já é extremamente sensível a qualquer choque inflacionário ainda mais sensível.
Agora se isso tudo fosse feito e eu acreditasse que havia a mínima chance de dar certo, poderia até haver algum argumento de que valeria a pena correr esse risco.
Porém para isso “dar certo” você tem que subscrever a profissão de fé de que as pessoas não compram e as empresas não investem atualmente porque estão com medo da situação fiscal. Estão com medo de um calote do governo. Calote esse que é, literalmente, impossível o governo dar. Afinal de cotas, a casa da moeda a gente controla…
As pessoas não compram porque estão com medo de perder seus empregos. O funcionário público não compra porque está ameaçado. As empresas não investem porque não estão conseguindo pagar os juros dos investimentos que fizeram anteriormente, estão em situação semi-falimentar. Compraram ativos supervalorizados na época da bolha e esses ativos não conseguem gerar fluxo para pagar os empréstimos.
Ou seja, vamos fazer um super-arrocho, esperando que esse super-arrocho nos ajude a derrubar os juros (estou escrevendo isso e rindo ao mesmo tempo) para a derrubada dos juros refinanciarem as empresas… que já estarão todas quebradas…
No longo prazo a economia voltará para o equilíbrio. E nós estaremos todos mortos de fome com uma geração de brasileiros perdida.
Mercado: mão invisível ou mão ligeira? E agora em consórcio com os gatunos de sempre
Ah, a linda mão invisível do mercado, ela não poderia ser mais ligeira, né?
>> Além disso, a PEC é uma promissória que o PMDB e o “Centrão” estão dando a si mesmos. Agora mudar programa de governo, só com a sua autorização. Não importa quem ganhar eleição. Quem estiver na presidência é só o “síndico do condomínio” <<
Aí, depois de tudo, o insulto final à nossa inteligência. Ao comparar nossa crise com a crise da Grécia. A Grécia está endividada numa moeda sob a qual não tem nenhum controle.
A falá$$ia:
“Acabar o dinheiro” é uma possibilidade real na Grécia, assim como é com o estado do RJ (um dos méritos das reformas do Plano Real foi justamente cortar o controle monetário que governadores tinham, através dos bancos estaduais). Para o governo federal essa não é uma possibilidade. É realmente um erro de diagnóstico, e seria até compreensível, uma vez que nós SEMPRE vivemos esse diagnóstico. A gente nunca tinha passado uma crise desse tipo, em que estamos seguros em relação a balança de pagamentos externa. Parece aquele médico que nem quer saber qual é a doença, mas já está receitando o antibiótico…
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>>Romulus:
Perfeita a análise, Ciro.
Diante do seu alerta, não poderia dar outro título ao artigo: “podem deixar Lula solto: com PEC 241, eleição presidencial será apenas concurso de Miss”.
Sim, porque o plano maquiavélico que une o consórcio frouxo do Golpe de 2016 – mercado financeiro/rentistas (brasileiros e estrangeiros) + oligopólio midiático (seus porta-voze$ oficiai$) + PMDB/PSDB/“Centrão” + “Casta Jurídica” (autoridades não eleitas no Judiciário, no MP e nas Polícias) – é justamente se livrar do maior “inconveniente” da democracia: o governo da – e para a – maioria. Maioria essa a que, logicamente, não pertencem.
O que será que o consórcio frouxo do Golpe prefere para 2018?
Com Lula…
… ou sem Lula?
Pouco importa: a caneta de Presidente valerá tanto quanto cetro e coroa de Miss!
Planos de governo: “O Pequeno Príncipe”, a paz mundial e as criancinhas…
Porque, afinal, a tradução audiovisual da PEC 241 é: “eu quero é que pobre se exploda!”
https://www.youtube.com/watch?v=1a3cpCZAKVQ]
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“20 anos”
O PSDB “vinha para ficar 20 anos” segundo o Sérgio Motta, lembram?
O PT também “vinha para ficar 20 anos” segundo o José Dirceu, também lembram?
Bem, esse provavelmente ia ficar mesmo… daí, inclusive, a necessidade de sacar Dilma antes de completados os 16 e, ainda, impedir Lula de somar os 4 anos faltantes.
Mas a ideia fixa com os 20 anos continua dominando as cabeças em Brasília. E na Av. Paulista!
Não por outra razão a PEC 241 traz os tais “20 anos” em si. E, esperta, desta vez impede “percalços” como derrotas eleitorais (PSDB em 2002) ou golpes de Estado (PT em 2016). Faz um seguro. Na verdade, ‘o’ seguro. O seguro digamos… magno: escreve os tais dos 20 anos na própria Constituição… na Carta Magna!
Acima disso só raios abrindo os céus e escrevendo leis em pedra, não é mesmo?
Tábuas da Lei
Aliás, “Tábuas da Lei”? Não estamos tão longe disso no Brasil de 2016, não… já solaparam a democracia e o Estado de direito, não foi?
E quanto tempo será que resiste o (que resta do) Estado laico, hein?
[video:https://www.youtube.com/watch?v=4EpipuQpJq8&feature=youtu.be
10-10-16 – Pastor, digo, Procurador Dallagol apresenta o “Culto das 10 medidas”
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E, como sempre, “os gringo pira” (desta vez literalmente) na criatividade brasileira:
“A proposta de política fiscal mais insana que já ouvi em toda a minha vida”, Christopher Hayes, jornalista que cobre economia internacional no canal de notícias MSNBC.
Ter o Glenn Greenwald morando no Brasil é bem inconveniente, não é mesmo?
De repente os jornalistas da matriz descobriram que a realidade na filial não era bem como a Globo contava para eles…
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>>Marcos Villas-Bôas:
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Achou meu estilo “esquisito”? “Caótico”?
– Pois você não está só! Clique na imagem e chore suas mágoas:
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Quando perguntei, uma deputada suíça se definiu em um jantar como “uma esquerdista que sabe fazer conta”. Poucas palavras que dizem bastante coisa. Adotei para mim também.
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Maria, leitora xodó / guru, já leu e comentou:
Ah, as torneirinhas…
O Ciro D’Araújo me fez lembrar das torneirinhas do Plano Collor. Lembram delas?
PEC 241
Romulus,
parabens pela clareza das informações! Ao mesmo tempo, triste em saber q não tem volta!
Todos cegos! cegos de ódio pelo Governo Lula/PT!
incapazes de uma análise justa e honesta!
Obrigado!
Sempre bom ter o
Obrigado!
Sempre bom ter o retorno de vcs. Mesmo que em circunstancias tao dificeis.
Hoje apareceu na folha o
Hoje apareceu na folha o seguinte artigo de opinião, com título “PEC 241 ou morte!”
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2016/10/1821133-pec-241-ou-morte.shtml
A manchete de amanhã deveria ser: “10/10/2016 – O dia em que o Brasil declarou sua dependência!”.
O mais incrível é que não ganhos um tostão do FMI para isso. Fizemos sozinhos, por nós mesmos!
“Ouviram do Lago Paranoá as margens plácidas…”
Mais para o dia em que o
Mais para o dia em que o mercado declarou a sua independência do Brasil.
Gastos financeiros livres, leves e soltos – sem a mesm amarra.
E o que pode ser feito agora
E o que pode ser feito agora ??
ainda foi o 1o turno na Camara. Falta…
Ainda tem o 2o turno na Camara.
Depois 2 turnos no Senado.
E por ultimo nos resta o STF.
Tem fe nele?
Eu?
Como ex-aluno de um la ate tinha. Nao mais:
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>>Latim gasto em vão: STF goste ou não, golpe está tatuado na testa de seus Ministros, por Romulus<<
ROMULUS
SEG, 13/06/2016 – 08:15
Por Romulus
Latim gasto em vão: STF goste ou não, golpe está tatuado na testa de seus Ministros
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Castro Alves
O Estadão registrou ontem fala do Min. Barroso a estudantes da UnB sobre o processo de impeachment. Confesso que, como ex-aluno dele, fiquei um pouco mais decepcionado, mas não mais chocado. Há pouco ainda capaz de chocar no Brasil atual – e isso inclui a sua mais alta Corte.
(i) A fala de Barroso
– Penélope (Barroso) borda um lindo bordado durante o dia
O impeachment depende de crime de responsabilidade. Mas, no presidencialismo brasileiro, se você procurar com lupa, é quase impossível não encontrar algum tipo de infração pelo menos de natureza orçamentária. Portanto, o impeachment acaba sendo, na verdade, a invocação do crime de responsabilidade, que você sempre vai achar, mais a perda de sustentação política.
Eu acho que quem acha que (o impeachment) é golpe tem fundamentos razoáveis para dizer que não há uma caracterização evidente de crime político e, na verdade, está-se exercendo um poder do ponto de vista de quem foi derrotado nas eleições. Esse é um discurso plausível. O outro é: a presidente não tinha mais sustentação política para fazer o que o País precisava, e a maior parte da sociedade e a maior parte do Congresso acharam que era melhor afastá-la.
– Mas a própria Penélope (Barroso) desfaz todo o seu bordado à noite
Não é papel do Supremo jogar o jogo político quando ele chega nesse estágio. Essa deixa de ser uma questão de certo ou errado e passa a ser uma questão de escolhas políticas. Não é papel do Supremo fazer escolhas políticas.
(ii) Traduzindo a fala
Na primeira parte, em que a suprema Penélope faz o bordado, fica claro o que diz: este impeachment é sim golpe – descontadas as firulas retóricas.
Mas e a segunda parte, em que Penélope desfaz o próprio bordado?
Nela diz Barroso: é golpe sim, mas eu não vou fazer nada a respeito. E eis a desculpa que vou dar para a minha omissão: o STF deve se omitir para não se queimar em definitivo com nenhum dos nossos comensais em Brasília.
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Continua em:
>>Latim gasto em vão: STF goste ou não, golpe está tatuado na testa de seus Ministros, por Romulus<<
A supermaioria e a inviabilização da reforma política
Seguindo por esta lógica, Rommulus, posso dizer que não teremos reforma política que não seja superficial pra enganar otários?
Afinal, não apenas o sistema político atual impede qualquer partido de ter supermaioria em qualquer legislativo brasileiro, mas também garante que o Centrão, essa mistureba de partidos e pessoas, poderá impedir qualquer supermaioria.