Quando tudo se explica pela manipulação das palavras

Quando tudo se explica pela manipulação das palavras

A última da mídia corrompida é que o Brasil não tem crescido muito nos últimos anos porque falta “confiança” no Governo por parte do empresariado. “Sim, confiança virou a palavra mágica”, ironizou Angeline. “O pobre do empresário, coitado, não se dispõe a pôr em funcionamento toda a sua máquina de exploração dos trabalhadores porque não tem suficiente subsídios e incentivos públicos. Quer dizer, tem, mas quer mais”.

– Na verdade, Angeline, estamos diante de mais uma dessas charlatanices dos comentarista econômicos de direita, que querem ressuscitar de todo modo o neoliberalismo e precisam, para isso, encontrar um mantra. O mantra da moda é “confiança” no Governo. Qualquer coisa que dê errado não é culpa da abulia empresarial mas da desconfiança no Governo. 

– Isso é muito bom porque dispensa os comentaristas-vigaristas de procurar as razões verdadeiras para o colapso do capitalismo neoliberal, comentou Angeline. Sabe por que estourou a bolha imobiliária americana? Porque faltou confiança no empresariado. Sabe por que a crise americana foi exportada para a Europa na forma de crise financeira e fiscal? Porque faltou confiança do empresariado. Por que o desemprego na Espanha voltou ao nível de 26%? Falta de confiança na economia do empresariado. Por que o PIB brasileiro só cresceu pouco mais de 2%? Falta de confiança do empresariado. Por que a inflação não cai para o centro da meta? Falta de confiança do empresariado. Enfim, a desconfiança do empresariado é o deus ex-machina para explicar tudo de mal na economia. Uma falácia.

– O pior, desse o professor Galileu, é que o Governo vai na onda e enche o rabo do empresariado de mais subsídios e incentivos em nome da criação de um ambiente favorável ao investimento, pedindo muito pouco em contrapartida. Veja as facilidades de crédito criadas para as concessões nas chamadas Parcerias Público-Privadas. É dinheiro quase de graça para um investimento de retorno virtualmente garantido.

– Mas promover investimentos privados, externos ou internos, não é bom para a economia?, perguntou Simplício.

– Certamente, desde que sejam investimentos produtivos. Mas se você prestar atenção nas contas externas, explicou Angeline, o que mais entra é investimento especulativo, assim como grande parte do que sai. Sabe o que aconteceu com as desonerações fiscais para a indústria automobilística e a linha branca? Viraram lucros exportados. E os comentaristas globais vigaristas ainda falam em medidas para aumentar a confiança do empresariado…

Simplício mostrou para Angeline o que acabara de escrever na agenda vermelha: Confúcio poderia ter dito: cuidado com as palavras que elas podem significar o contrário do que aparentam.

Redação

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