Redes sociais invertem a lógica de poder dos grandes meios

Para Luis Nassif, internet oferece hoje igualdade relativa de condições à exposição e produção de conteúdos
Marco Civil da Internet deve ser pensado como forma de garantir o equilíbrio no mercado de produção de conteúdo
 
Com o avanço da internet e das redes sociais, os grupos tradicionais de produção de conteúdo jornalístico estão perdendo gradativamente o poder sobre a notícia e a formação de opinião. O fenômeno não é novo e remonta o que ocorreu no início da consolidação dos setores cinematográficos e de telefonia. A análise é do jornalista Luís Nassif, realizada durante a abertura do Fórum Brasilianas.org – A indústria criativa brasileira, em outubro no Rio de Janeiro. 
 
O colunista destacou que as mídias digitais estão acabando com a intermediação de muitos setores da indústria da comunicação invertendo a lógica do poder absoluto dos grandes grupos. Em fase de pleno crescimento criativo e desregulamentada a internet, como ferramenta para a produção de novos modelos de se fazer jornalismo, relembra o que aconteceu nos Estados Unidos das décadas de 1910 e 1920, durante o início da produção cinematográfica, quando as novas tecnologias trouxeram em um primeiro momento uma explosão de criatividade permitindo a disseminação de experiências antes da regulamentação. 
 
“O mesmo se deu no início da produção radiofônica, com inúmeras rádios criadas, quase que artesanalmente, e com as televisões municipais de alcance limitado, mas trazendo, digamos, uma nova opinião pública à tona”, completou. 
 
Segundo Nassif, a regulamentação que surge após o período inicial de expansão desses setores ocorreu em nome do ganho em escala. “Isso permitiu a criação de grupos mais fortes para garantir melhor qualidade dos trabalhos e investimentos maiores para serem revertidos em bem comum. Esse é um álibi recorrente que acabou levando a regulamentação em todos os níveis de negócio nos Estados Unidos”, explicou.
 
Dessa forma foram criadas regras para a criação de rádios, televisões e, depois, de redes nacionais que “acabaram se fechando em alguns grupos criando cartéis, até na economia mais aberta do mundo que era a norte-americana”, ponderou. 
 
Em suma, a centralização inicial realizada com o propósito de produzir conteúdos de qualidade como forma de devolver à sociedade uma contrapartida pelo uso dos espectros audiovisuais foi esquecida e as grandes corporações passaram a se sentir donas dos espaços, os transformando em seus ativos e criminalizando pequenos grupos, como as rádios comunitárias. “Em cima do que, digamos, marca o início das novas tecnologias”, avaliou Nassif. 
 
Por fim, em busca do retorno pelo retorno, esses meios de comunicação em massa produzem hoje programas como Ratinho, Fantástico e Datena.
 
Para Nassif, um fenômeno semelhante ocorre agora nos meios digitais. “A questão da cultura digital traz um novo mundo pela frente onde você tem um amplo conjunto de discussões trazidas pelo Marco Civil da Internet para impedir que haja o que ocorreu com todas as tecnologias anteriores que sufocaram as manifestações e produções regionais”, ressaltou. 
 
A internet oferece hoje uma igualdade relativa de condições à exposição e produção de conteúdos regionais e manifestações de grupos de toda a ordem. “Nós estamos no alvorecer dessa nova era que pode nos levar a novos modelos de centralização ou pode levar a uma nova oportunidade, a um equilíbrio maior nesse mercado de formação de opinião que traga mais democracia e inclusão”, concluiu.
 
A seguir, assista o vídeo da exposição feita pelo jornalista Luís Nassif na abertura do 44ª Fórum de Debates Brasilianas.org. 
 
https://www.youtube.com/watch?v=MdFLW3c4-5E width:700

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