Temer atuou por doação ilegal a PMDB em 2014, diz delator

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O caso já havia sido sugerido por Eduardo Cunha, em sua auto-defesa e tentativa de mirar o atual presidente da República em esquema de corrupção da Lava Jato
 
 
Jornal GGN – Outra delação premiada de executivo da Odebrecht abalou os ânimos do governo de Michel Temer, nesta sexta-feira (09). O alvo, agora, foi o amigo do atual presidente, advogado José Yunes, que teria recebido R$ 10 milhões da empreiteira para as campanhas do PMDB em 2014. A informação é de Severino Motta, do BuzzFeed.
 
Dos R$ 10 milhões, R$ 6 milhões, ou seja, mais da metade, eram destinado a Paulo Skaf, então candidato do PMDB ao governo de São Paulo, e outros R$ 4 milhões seriam destinados a Padilha para as campanhas do partido.
 
O delator é o ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, que disse ter repassado parte dessa quantia em dinheiro vivo a escritório de Yunes, em São Paulo. José Yunes é conselheiro amigo de Temer há 40 anos, já se considerando “psicoterapeuta político” do peemedebista, e foi nomeado para a assessoria especial da Presidência.
 
Os relatos dão conta de que, em maio de 2014, Marcelo Odebrecht participou de um jantar com Michel Temer e Eliseu Padilha, hoje chefe da Casa Civil, no Palácio do Jaburu, a residência oficial do então vice-presidente. Deste encontro acertando o “apoio financeiro”, o empreiteiro decidiu repassar R$ 10 milhões às campanhas do PMDB.
 
Reportagem da Revista Veja já havia narrado esse jantar. Á época, a assessoria de Temer havia confirmado o encontro, mas posicionando que a conversa foi “sobre auxílio financeiro da construtora Odebrecht a campanhas eleitorais do PMDB, em absoluto acordo com a legislação eleitoral em vigor e conforme foi depois declarado ao Tribunal Superior Eleitoral”.
 
Mas a reportagem do Buzzfeed aponta que “a versão do delator da Odebrecht, no entanto, é outra”. “Os recursos que Melo Filho cita em sua delação não foram depositados em contas partidárias conforme manda a Justiça Eleitoral. Aos investigadores, ele revelou que um dos endereços de entrega do dinheiro teria sido a rua Capitão Francisco, nº 90, em São Paulo. Justamente a sede do escritório José Yunes e Associados”, publicou o jornalista.
 
 
Não é a primeira vez
 
O caso trás à tona outro episódio tentando envolver o atual presidente da República. Trata-se da tentativa de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara e um dos caciques do PMDB, de apontar que se a tese de Moro e da Lava Jato fosse correta sobre liderar uma das frentes de corrupção na Petrobras, Temer não só saberia de tudo, como também seria ele o responsável.
 
Isso porque no fim de novembro, Cunha arrolou Temer como uma de suas testemunhas de defesa e encaminhou ao presidente uma lista de 41 perguntas. Nelas, o peemedebista que comandava a Câmara mostra sinais de que quem estava à frente do esquema corrupto era Temer.
 
Em uma das perguntas, por exemplo, o ex-deputado perguntava se Temer recebeu o ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada em sua própria residência, em São Paulo, e se teve conhecimento de reunião com fornecedores da estatal em seu próprio escritório, “com vistas à doação de campanha para as eleições de 2010”.
 
Outra das perguntas era sobre a relação de Temer com José Yunes. “Qual a relação de Vossa Excelência com o Sr. José Yunes?”, perguntou. “O Sr. José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB, de forma oficial ou não declarada”, questionou em seguida.
 
Mas a estratégia de Cunha foi impedida pelo juiz da Lava Jato, Sérgio Moro. Apenas 20 perguntas foram liberadas pelo magistrado do Paraná. Moro interpretou que Cunha tentava investigar Michel Temer. Entre elas, não foi liberada esta agora alvo da delação da Odebrecht.
 
“Nenhuma denúncia pesa contra o presidente da República e que, se isso ocorresse, elas deveriam ser investigadas no STF (Supremo Tribunal Federal), e não em Curitiba, já que Temer tem foro privilegiado”, decidiu, à época, o juiz federal.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. Pô! Ninguem vai perguntar

    Pô! Ninguem vai perguntar para êsses delatores desde quando bancam campanhas de políticos com propinas provenientes de superfaturamento em licitações / obras?

    1. E ninguém vai perguntar ao Serra como ele distribuiu 23 milhões?

      Quem recebe 23 milhões em contas na Suiça como caixa 2 para fazer campanha no Brasil deve ter todo um esquema de repatriação, distribuição, offshores, empresas fantasmas, doleiros, bancos…

      Serra tem tanto poder no PSDB e na mídia que esses 23 milhões aí deveriam ser investigados… eu tenho certeza que embaixo do Serra deve ter deputado, jornalista, blogueiro.

  2. A lista da Odebretch deixa claro quem são os chefes do esquema

    Fica óbvio, pelos valores nas planilhas, quem são os deputados que chefiavam esquemas de propina e os que recebiam apenas “mesada”.

    A teoria do Moro e do MPF de que Lula e o PT são os chefes de tudo e organizadores dos esquemas de propina não faz sentido algum.

    Se formos partir do pressuposto que esses nomes que recebem valores acima de 1 milhão são os verdadeiros organizadores do esquema, aí tudo faz sentido… e são os nomes mais óbvios possíveis… Ladrões de longa data e velhos conhecidos que já deveriam estar na cadeia há décadas.

    Nem precisava desse carnaval todo… o bloco do Moro ta na avenida há 2 anos e ignorou a obviedade para perseguir algo que não conseguiu comprovar! 

    Nossos ladrões são os mesmos de sempre… 500 anos de história comprovados pela Odebretch.

    Michel Temer R$ 10 milhões
    Anderson Dornelles (ex-assessor de Dilma) “LAS VEGAS – R$ 350 mil
    Antônio Brito (deputado) Misericórdia R$ 430 mil — parte dos recursos foram para campanha do pai
    Arthur Maia (deputado) (Tuca) R$ 600 mil
    Ciro Nogueira (senador) cerrado // piqui R$ 5 milhões para campanhas do PP
    Delcídio do Amaral (ex-senador) (Codinome “FERRARI”) R$ 550 mil
    Duarte Nogueira (prefeito) corredor – R$ 600 mil
    Eduardo Cunha (ex-deputado) (Codinome “CARANGUEJO R$ 7 milhões
    Eliseu Padilha (ministro ) Codinome “PRIMO – teria negociado recursos para Temer
    Eunício Oliveira (senador) índio R$2,1 milhões
    Geddel Vieira Lima (ex-ministro) Codinome “BABEL – R$ 1,5 milhão
    Gim Argello (ex-senador) Campari R$ 1,5 milhão
    Inaldo Leitão (deputado) todo feio R$ 100 mil
    Jaques Wagner (ex-ministro) Codinome “POLO” – Ao menos R$ 9,5 milhões
    José Agripino (senador)_ gripado – R$ 1 milhão que teriam sido solicitados por Aécio Neves.
    Katia Abreu (senadora) – Teria acertado ajuda financeira com Marcelo
    Lúcio Vieira Lima (deputado) bitelo – entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão
    Marco Maia (deputado) gremista R$ 1,3 milhão
    Moreira Franco (sectretário) “ANGORÁ
    Renan Calheiros (senador) “JUSTIÇA” Teria sido beneficiado por parte dos R$ 22 milhões do PMDB
    Rodrigo Maia (deputado) botafogo R$ 100 mil
    Romero Jucá (senador) “CAJU” principal articulador do PMDB –
    ** Senador Romário ( Foi pedida contribuição para sua campanha, mas a empresa não fez)
    ** Bruno Araújo ( tratamento institucional, sem referências a pagamentos)
    – Adolfo Viana (BA) (“JOVEM”): R$ 50 mil
    Lídice da Mata (BA) (“FEIA”): R$ 200 mil
    Daniel Almeida (BA) (“COMUNA”): R$ 100 mil
    Paulo Magalhães Júnior (BA) (“GOLEIRO”): 50 mil
    Hugo Napoleão (PI) (“DIPLOMATA”): R$ 100 mil
    Jutahy Magalhães (BA) (“MOLEZA”): R$ 350 mil
    Francisco Dornelles (RJ) (“VELHINHO”): R$ 200 mil
    Carlinhos Almeida R$ 50 mil
    João Almeida R$ 500 mil na campanha de 2010
    Rui Costa R$ 10 milhões
    Paulo Skaf – teria sido beneficiado com R$ 6 milhões da verba acertada com Temer.

  3. Facções do golpe reveladas

    As recentes denúncias contra a cúpula do PMDB revelam, com clareza, as fissuras no bloco golpista e as principais facções.

    Não é mera coincidência que a delação do ex-executivo da Odebrecht alveja de morte o núcleo do PMDB, pilar do governo usurpador, e venha a público após a vexaminosa acordão efetivado no STF para preservar Renan Calheiros.

    Esse acordão elucidava a aproximação e parceria PMDB/STF. 

    Ridrigo Janot, que se posicionou a favor do afastamento de Renan, não perdeu tempo e, rapidamente, desovou justamente as 82 páginas da delação que dinamita o núcleo peemedebista, com a finalidade, precípua, de fazer soçobrar a aliança firmada pelo STF com o PMDB, ao preço do abandono do PL coibindo abuso de autoridade e as intenções de acabar com os supersalários de juízes e procuradores.

    Assim, temos as seguintes facções que vieram à luz:

    1) PGR/PSDB/GRANDE MÍDIA/LAVA JATO/SISTEMA FINANCEIRO;

    2) STF/PMDB/SISTEMA FINANCEIRO.

    Vejamos, agora, os próximos passos do PMDB, lembrando que essas facções são precariamente organizadas.

    Antes da deposição de Dilma Roussef, eles constituíram uma forte unidade em torno de um objetivo comum: a conquista do Estado.

    Agora, essa unidade se esfalerou e estamos assistindo a luta pelo Poder.

    É nesta fase que poderemos ver mais uma sucessão de golpes e traições, com a radicalização das arbitrariedades.

    2017 será crítico.

  4. Resumindo.
    O chefe da

    Resumindo.

    O chefe da quadrilha ou bando era MIchel Temer.

    Mas o Congresso cassou o mandato de Dilma Rousseff e o MPF só persegue o Lula.

    Alguém ainda duvida que nossas instituições são uma BOSTA?

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