Veja manchetava o lixo na sexta, e o JN repercutia, diz Nassif durante o Balanço da Lava Jato

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN
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Durante o Balanço Crítico da Lava Jato, o jornalista relembra os desafios do contraponto à cobertura da mídia hegemônica

Reprodução: TV GGN

Durante o primeiro dia de Balanço Crítico da Lava Jato, evento realizado na USP nesta quinta (26), o jornalista Luis Nassif, do GGN, analisou a cobertura da mídia desde os anos que antecederam o auge da Lava Jato e contou bastidores de situações que precisou enfrentar por desmascarar os crimes de imprensa. Nassif é um dos grandes nomes do jornalismo brasileiro que, com independência, conseguiu realizar uma cobertura crítica da Lava Jato, diferenciando-se da mídia hegemônica que sustentou os planos de Sergio Moro e da força-tarefa a qualquer custo.  

Segundo Nassif, a cruzada envolveu até mesmo pressão ou chantagem moral sobre os ministros de cortes superiores, para que as decisões da Lava Jato nas instâncias inferiores fossem mantidas. Nesse contexto, os ministros caíam no jogo e “se tornaram vulneráveis à mídia”. “A mídia já vinha desde os anos 90 com a dramaturgia da notícia – a escandalização. Foi o período de maior crescimento da mídia escrita em todo o mundo, com publicidade local”, comenta Nassif.

Alvo da imprensa

Alvo de uma campanha inclemente por realizar um jornalismo racional e transparente há décadas, denunciando erros, como nos casos da Escola Base e CPI dos Precatórios, por exemplo, a atuação de Nassif passou a ser contestada pelo corporativismo também durante a Lava Jato. Ele relembra um episódio que teve com a Abraji por criticar a cobertura da operação:

 “Quando eu comecei a criticar a Lava Jato, a Abraji tinha me questionado, ‘o que você faria diferente?’ Eu falei: ‘jornalismo, a informação que viesse, eu ia checar com advogado, checar com a outra parte’, mas a Abraji ofereceu os seus jornalistas para ajudar na Lava Jato”. 

Em paralelo, Nassif destrinchou no evento a metodologia de cobertura de Veja, com quem travou batalhas, ao longo de anos, para trazer lucidez e a verdade dos fatos. Ele classificou a revista como “a grande máquina de assassinar a reputação que o país criou”, cujo único objetivo era chocar a cada semana com uma nova informação inconsistente da Lava Jato.

“Chocar significava desconstruir julgamentos já consolidados. Como é que se constrói esse julgamento? Você tem a linguagem, a linguagem leva a discussões, as discussões levam a consensos, que levam a leis. Então, tudo isso começou a ser desmontado na época”. 

Nassif explicita a rotina incansável da revista que manchetava “o lixo na sexta, e o Jornal Nacional repercutia”. Mesma linha de condução adotada por outros jornalões que trabalharam como correia de transmissão ou uma espécie de “panfleto” da força-tarefa de Curitiba.

A guerra cultural

Para ilustrar o fenômeno de subversão do jornalismo e da opinião pública, Nassif toma como base a guerra cultural importada da ultradireita americana através das redes sociais por Olavo de Carvalho – o “gênio do mal”.  

“Ele traz da ultradireita americana, com as redes sociais, a subversão das linguagem e dos conceitos. Então o cara vinha, falava as coisas mais absurdas do mundo, aí você reclamava e era mimimi”.

Um outro fenômeno apontado pelo jornalista que culminou nessa desmontagem do sistema confiável de informação foi a “celebrização” dos processos. Segundo Nassif, quem se aventurar a ler Psicologia das Massas e a Análise do Eu, de Sigmund Freud, poderá perceber como a Lava Jato, nos âmbitos judiciário, político e midiático, “afetou todo o sistema institucional brasileiro, porque criou aquela noção de força sem limites”.

Mônica Bergamo, Florestan Fernandes e Marina Rossi também fizeram parte do painel sobre a imprensa e a Lava Jato.

Assista a apresentação completa dos jornalistas por aqui:

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