Xadrez de Léo Pinheiro e do jogo político de Raquel Dodge, por Luis Nassif

A sina da politizaçao do MPF e as semelhanças entre dois adversários que se detestam: Janot e Dodge

Um dos pontos mais ostensivos da pantomima da Lava Jato, foi o aspecto claramente inquisitorial, de obrigar o pecador a abjurar de suas crenças e erros, e fazer profissão de fé pública na sua própria regeneração.

Em vários momentos, as sentenças mencionavam o “arrependimento” como peça central da regeneração, como prova de que o pecador finalmente viu a luz. Não se trata de processo de salvação das almas, mas do artigo 16 do Código Penal, que estipula:

Art16 – Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

É o caso de Léo Pinheiro, na carta que enviou à Folha de São Paulo (aqui), na qual diz que não mentiu nem foi coagido a mentir, mas apenas seguiu as recomendações de sua consciência.

Diz ele

A minha opção pela colaboração premiada3 se deu em meados de 2016, quando estava em liberdade, e não preso pela operação Lava Jato. Assim, não optei pela delação por pressão das autoridades, mas sim como uma forma de passar a limpo erros que cometi ao longo da minha vida. Também afirmo categoricamente que nunca mudei ou criei versão e nunca fui ameaçado ou pressionado pela Polícia Federal ou Ministério Público Federal.

Nos próprios diálogos dos procuradores (aqui) está nítida a tática de decretar a prisão de Léo Pinheiro para que abra o bico – isto é, diga o que a Lava Jato quer que diga. Ou seja, ele estava em liberdade e ameaçado de ir para a prisão se não se acertasse com a Lava Jato. O nome que se dá a essa possibilidade é ameaça ou pressão.

Só quando aceitou mudar a versão é que a delação foi aceita e ele foi ouvido pela autoridade, o juiz Sérgio Moro. Ou seja, o desmentido não desmente nada.

De qualquer modo, o episódio Léo Pinheiro permite montar um roteiro claro, sobre a influência político-partidária na Procuradoria Geral da República, com Rodrigo Janot e, agora, com Raquel Dodge, e a maneira simples como as invesitgações da Lava Jato eram condicionadas.

Peça 1 – a delação de Léo Pinheiro incluía políticos tucanos

Nos diálogos, Deltan confirma o que dizíamos na época, de que Léo Pinheiro incluíra muitos tucanos na delação.

Peça 2 – a armação com a revista Veja

De repente, antes da delação ser homologada, sai a capa da revista Veja, com supostos anexos da delação, em uma falsa denúncia contra Dias Toffoli, Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Os próprios procuradores comentam que não tinham visto aquelas informações nos anexos da delação.

Era matéria falsa, que se auto destruía (aqui). A própria matéria desqualificava a acusação contra Toffoli, mas deixava pairando no ar a suspeita de que, se a delação fosse adiante, pegaria peixe graúdo. Tudo com o óbvio objetivo de melar a delação de Léo Pinheiro:

Tal como está, a narrativa de Léo Pinheiro deixa uma dúvida central: existe algum problema em um ministro do STF pedir um favor despretensioso a um empreiteiro da OAS? Há um impedimento moral, pois esse tipo de pedido abre brecha para situações altamente indesejadas, mas qual é o crime? Léo Pinheiro conta que a empresa de im­per­mea­bi­li­za­ção que indicou para o serviço é de Brasília e diz mais: que a correção da tal impermeabilização foi integralmente custeada pelo ministro Tof­fo­li. Então, onde está o crime? A questão é que ninguém se propõe a fazer uma delação para contar frivolidades. Portanto, se Léo Pinheiro, depois de meses e meses de negociação, propôs um anexo em que menciona uma obra na casa do ministro Toffoli, isso é um sinal de que algo subterrâneo está para vir à luz no momento em que a delação for homologada e os detalhes começarem a aparecer.

Peça 3 – a armação atinge o alvo

Anna Carolina, a mais atilada dos procuradores – pelo que se depreende dos diálogos – mata a charada sobre a irrelevância da capa.

A partir daí, mela-se o acordo que dividiria o ônus da Lava Jato do PT com o PSDB, apesar dos lamentos de Deltan. Em parte, pela perda de confiança no que consideraram uma deslealdade do advogado de Léo – que, possivelmente, estava inocente nessa armação. Em parte, pelo receio da reação do STF, como se depreende na continuação do diálogo de Anna Carolina, respondendo a Deltan.

E, depois:

Com isso, o PSDB foi salvo e não precisou prejudicar a ofensiva política contra Lula. E os espertíssimos integrantes da Lava Jato Paraná, que julgavam ter desvendado o maior caso de corrupção da história por seus próprios méritos, continuaram sem se desviar do caminho que lhes foi traçado por espertos muito mais profissionais, acantonados em Brasilia, manobrando o chicote e a cenoura e induzindo totalmente o caminho que a operação deveria percorrer.

A reação imediata do PGR Janot à capa da Veja, anunciando a interrupção das negociações com Léo, deixaram suas impressões digitais na armação.

Peça 4 – o fator Raquel Dodge

O MPF desistiu de vez da delação de Léo Pinheiro, mas a Polícia Federal aceitou, em uma desmoralização completa de todas as bandeiras do Ministério Público, desde a PEC 37. Como se recordam, a PEC 37 pretendia restringir os poderes de investigação do MPF. Ali foi selado o pacto com a Globo, para derrubar a PEC. Afinal, não tinha lógica impedir que mais poderes pudessem aprofundar as investigações sobre crimes de impacto. E era atribuição constitucional do Ministério Público exercer o controle externo da atividade policial. Agora, ocorria o inverso, era a Polícia Federal exercendo o controle externo da atividade do MPF, impedindo que varresse parte da delação de Pinheiro para debaixo do tapete.

Antes, um pouco da biografia de Raquel.

Mesmo sem atuação política ostensiva, Raquel sempre foi considerada integrante do grupo tucano na PGR. Essas suspeitas nasceram de suas relações profissionais estreitas com dois procuradores envolvidos até a medula em jogadas com José Serra – alvo principal das delações de Léo Pinheiro.

São eles José Roberto Santoro e Marcelo Serra Azul. Juntos com Raquel Dodge, integraram a força tarefa criada pelo PGR Geraldo Brindeiro para desbaratar uma organização criminosa perigosa, comandada por Hildebrando Paschoal, o deputado da motosserra. Foi uma operação vitoriosa que levou à prisão de 80 pessoas (aqui) e ajudou a construir a reputação do grupo.

Logo depois, dois deles – Santoro, Serra Azul, mais tarde Mário Lúcio Avelar – se tornaram operadores tucanos barras-pesadas, se infiltrando em várias operações sob a coordenação de José Serra.

Tiveram participação direta na operação Lunus, armada para inviabilizar a candidatura de Roseana Sarney para a presidência. Foi feita uma armação no escritório de Roseana, onde foram apreendidos maços de dinheiro, com ampla cobertura de televisão. Estavam envolvidos na operação dois agentes de Serra, Santoro pelo MPF e Marcelo Itagiba, pela Polícia Federal (aqui). Depois do flagrante da TV, armou-se o cenário das notas empilhadas (recurso utilizado posteriormente no episódio dos “aloprados”), e a divulgação da foto foi atribuída a outro integrante do grupo, Mário Lúcio Avelar.

Nas investigações sobre o crime organizado no Espirito Santo, episódios que envolviam o governador Paulo Hartung,  também aliado de Serra, foram tratados por Santoro (aqui).

No episódio de maior repercussão, Santoro tentou cooptar o bicheiro Carlinhos Cachoeira para ofensiva contra o PT. Na época, um PGR sério, Cláudio Fontelles, denunciou os três procuradores por essas ligações espúrias: Santoro, Serra Azul e Avelar, acusando-os de afrontar o princípio do Promotor Natural, e de violarem o dever de lealdade para com a Instituição (aqui).

Atualmente, Santoro é advogado do PSDB. E depende de sua antiga companheira, Raquel Dodge, aceitar ou não a delação de Léo Pinheiro.

A aceitação ou não em nada interferirá no julgamento de Lula, já que o ex-juiz Sérgio Moro se contentou com declarações feitas por Leo Pinheiro na condição de réu. Nem reduzirá os estragos provocados na economia, na política, no nível da política pública e na imagem do MPF. Apenas reforçará a extrema partidarização ocorrida em agentes do Estado que desrespeitaram as responsabilidades para com o país e sua própria corporação. E, principalmente, a maneira como foram condicionados a agir, trilhando as linhas de menor resistência, aqueles em que as porteiras estavam abertas. E todos os caminhos desobstruídos levavam ao PT. Foi simples assim.

E o mais duro, a constatação que entre Rodrigo Janot e Raquel Dodge não passa nem um fio de linha

17 Comentários

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  1. A LJ (Lava Jato) vai ficar conhecida como a do JL (Juizado Larápio), da (Justiça Leviana) e do (Jair Levado). Malucos, malacos e malinos medíocres destruindo o país, o futuro.

  2. Muitas dessas irregularidades foram trazidas ao conhecimento pelos advogados de Lula. Ilegalidades marcantes. Várias delas, desde a forçação da barra para que o processo contra Lula saísse de São Paulo e para Curitiba.
    Os tribunais TRF4, STJ, e STF foram acionados em todas elas pelos advogados de defesa. Todas as decisões foram no sentido de manter as decisões e legais de Mouro. A mídia endossava tais decisões.
    Como reverter todos esses quadros mesmo com as denúncias fortíssimas de um jornalista altamente respeitado pelo mundo ?

    1. CARO COMENTARISTA, ASSIS RIBEIRO: NUMA DEMOCRACIA, ONDE NÃO EXISTISSE BLINDAGENS (POR)CORPORATIVITAS, NEM VANTAGENS DEMAIS NAS POSIÇÕES DE PODER, TAIS ABUSOS, SERIAM RAPIDAMENTE COIBIDOS. POR QUE O PROJETO DE LEI CONTRA ABUSO DE AUTORIDADE ESTÁ PARADO NO SENADO?!? A EXTINÇÃO DO CNJ, QUE SE TORNOU UM MERO CABIDE EMPREGOS, E UM INSTRUMENTO DE PRESSÃO PARA OS SERVIDORES DO JUDICIÁRIO DA UNIÃO, QUE SÃO DEMONIZADOS DESDE A ERA COLLOR O CAÇADOR DE MARAJÁS; O FIM DO QUINTO CONSTITUCIONAL DA ADVOCACIA PARA AS POSIÇÕES DE DESEMBARGADOR E ALTAS CORTES. O FIM DO TSE QUE É UM ÓRGÃO QUE SÓ EXISTE NO BRASIL, CUJA COMPOSIÇÃO É UMA MISTURA DE JUÍZES ESTADUAIS, O1 FEDERAL E UM ADVOGADO ESCOLHIDO NÃO SABE POR QUAIS CRITÉRIOS. E O FIM DA DISPENDIOSÍSSIMA JUSTIÇA FEDERAL MILITAR…SÃO SUGESTÕES QUE JÁ OUVI DE JUÍZES SÉRIOS. MAIS AQUI É A TERRA DE MACUNAÍMA, MEU CARO ASSIS, E POR FIM, E TÃO MAIS SIMPLES: O CUMPRIMENTO IRRESTRITO DA LEI E DA CONSTITUIÇÃO NACIONAL. SE PELO MENOS AS INSTITUIÇÕES CUMPRISSEM A LEI E OS CÓDIGOS…UM ABRAÇO!

  3. Essa gente comete crimes na cara de todo mundo e não são responsabilizados, esse é o problema. O monstro (MPF) precisa de freios, senão ninguém governa, especialmente a esquerda.
    Jonot cometeu todo tipo de barbaridade e está livre, leve e solto. Deltan, idem, Moro, também.
    Quanto a Lula, só sai da prisão com violência. O processo foi violado do começo ao fim, a começar pelo juiz natural que não deveria ser moro, pois a acusação imputada ao presidente Lula é que o apartamento era propina de contratos da Petrobrás e nos embargos o próprio juiz diz que não tem na a ver com a Petrobrás, de modo, que o processo deveria ser anulado na raiz, claro, se houvesse decência no judiciário.

  4. Nassif, o pacto para não melindrar os aliados tucanos foi selado já na segunda página dessa chacrinha, ou seja, em 2014 ainda. Quando decidiram limitar as “investigaçoes” a partir de 2002, não foi por causa de prescrição coisa nenhuma, pois os funcionários (que foram exonerados em 2012, diga-se) falaram várias e várias vezes que a grana rolava desde 96.

    Alias, não foi a toa que no mesmo 2012 as trombetas do “todos contra o PT” passaram a soar em todos os salões. Juros mais baixos, infraestrutura contratada, preços de energia cadente, emprego e salario crescendo… Foi aí que o pânico do PT, PT, PT “hegemônico” e o “bater bumbo pra classe média” grassaram.

    E em 2013 foi aquilo que todos viram…

    Lava Jato sequer existia.

  5. Observações para outro xadrez: (os verbos que aparecem no passado não significam que as ações tenham sido interrompidas, é apenas para simplificar um texto confuso por natureza)
    1 – as mensagens ainda parecem lacunares para entender como funcionou a blindagem ao PSDB; em relação ao falso pastor aparentar um apetite para ter delações contra o PSDB, me parecem possíveis várias coisas: que talvez houvesse interesse em municiar a disputa dentro do próprio partido e não contra ele como um todo (a morte política do partido não se deveu apenas ao Golpe, mas este foi talvez o último projeto que os manteve “coesos”, rs, afinal, a guerra interna entre grupos (Serra, Alckmin (SP), Aécio (MG), Tasso (nordeste); lembre-se do brinde com Aecipó, juiz-ex et caterva em premiação… da mídia) pelo poder no partido, e como consequência, da oposição ao PT, já vinha acontecendo há tempos), ou que a república de curitiba não fosse apenas um arroubo de vaidade mas um projeto de poder “estruturado” e literalmente anunciado, até com camisetas breguérrimas (haverá disso um powerpoint?, rs), ou até mesmo que fosse uma arma de chantagem política para manter a operação e assim ganhar “musculatura institucional” para as carreiras políticas e empresariais dos seus membros (aqui, lembro algo que os GGNistas jornalistas amadores sempre comentaram como suspeita (haverá algo sobre isso nos “paraná papers” (by duviviver)?), a deserção inicial de Beatriz Cata Pretta e a indústria da delação que foi esboçada em reportagem do grupo GGN/DCM; e algo que para mim é intrigante demais e nunca cogitado sequer pela mídia alternativa, a famigerada “operação câmbio, desligo”, que atingiu os personagens que sempre foram os parças iniciais do juiz-ex, os doleiros (seria interessante um xadrez desses, sr. Nassif, sobre as ligações desse pessoal da Lesa-Pátria, em especial, agora, do juiz-ex, pois ninguém chegaria tão longe sem ter construído um caminho que levasse a ser escolhido o Vingador do futuro pelos USA) e que, assim como surgiu com estardalhaço, sumiu das manchetes (seria um “uruguai papers”? salvo engano, o principal doleiro operava para muita gente graúda, e se pegou a Globélica, isso tem que aparecer no vazamento cívico do Intercept).
    Acho interessantíssimo que outros partidos, sabidamente envolvidos em corrupção, como o DEM e PMDB, não apareçam, até agora, nas mensagens… o que pode confirmar que se tratava mesmo de uma operação de ataque, ou chantagem para garantir a parceria, aos grupos políticos com possibilidade de acesso direto, pelo voto, ao Executivo (PMDB nunca foi acesso direto, sempre na base da chantagem que ensinou a lesa-pátria o quanto isso funciona por aqui, rs). E aqui, me vem a outra observação.
    2 – Sempre se falou da aparelhagem do PT nas instituições, e se o sr. Nassif fala que o caminho estava aberto para atacar o PT – o que não precisa de convicções nem provas, basta sair de casa e ouvir o povo globotomizado – e obstruído para atacar o PSDB, conclui-se que o PT podia dar cargos de confiança e outros comissionados aos seus quadros – o que não me parece ética nem politicamente desonesto – nunca tive e não sou seu quadro, aviso aos navegantes -, se os formou era exatamente para ajudar a governar, e quem votou deveria saber disso – mas nunca deteve, para o bem e para o mal, o cabresto institucional, foi republicano ao ponto de não usar seu poder político institucional para se defender e aos seus: isso não deveria ser levado em conta quando se fala que o partido se corrompeu? E aí, a ligação com o item anterior é que, com o PT não seria possível a operação compor politicamente, são geneticamente opostos, mas com o PSDB e o PMDB poderia haver o jogo de disputa do poder político institucional (a expressão é horrível, com isso quero dizer o poder de usar a instituição para fins político-partidários alheios à sua função, nada a ver com a atuação política das corporações em seu próprio benefício, como através das entidades representativas e atos como a escolha pelo/a presidente/a do mais votado a lista tríplice das categorias, área em que o PT agiu e foi inocentemente enganado, rs) e eventual composição para combater o inimigo comum, o PT (lembro aqui de uma tese de doutorado apresentada em 2017 pela pesquisadora Luciana Zafallon, que concluiu que a elite paulista da casta judiciária blindava o PSDB… se a operação lesa-pátria pretendia fazer seu feudo particular nos moldes dos discretos provincianos de SP, teria que, como se fala em disputa entre gangues do crime organizado, primeiro disputar território para depois negociar a composição e a divisão do butim, afinal, repito, o alvo comum era o PT ou qualquer esquerda com poder de exercer os Executivos federal e estaduais).

    3 – Por fim, parece que aqueles que acusaram o PT de tanta coisa estavam era desviando a atenção do que eles próprios faziam: aparelhagem do Estado (que é o que PSDB fez no judiciário paulista, e não dar cargos a aliados em estatais) para atender interesses próprios (e pode-se argumentar que na questão da aparelhagem, entre PSDB e judiciário paulista, houve confluência de interesses, daí a aparente harmonia e discreção do conluio, ao passo que na operação lesa-pátria houve uma ofensiva do grupo com poderes estatais vitalícios (os partidos políticos não os têm, e para ter, como foi o caso do PSDB em SP, teve que se aliar aos que os utilizam como moeda de troca; como num observação de que não recordo onde vi recentemente, sobre empreiteiros dizerem a políticos recém empossados que os empresários sempre estão nos gabinetes e quem está de passagem são os políticos; a operação lesa-pátria parece que substituiu os empreiteiros nas jogadas de composição e propinagem com agentes políticos) sobre os outros poderes, e até aquele do qual faz parte, o Judiciário em seus tribunais superiores.
    O que estamos vendo, e deve ser reconhecido, é a importância de a presidenta eleita e legítima, Dilma Rousseff, não ter conciliado para, a todo custo, manter seu cargo: não fosse seu compromisso com a democracia e com o país e a sempre admirável coragem de aceitar a autoimolação em nome de valores e ideais maiores, não estaríamos agora assistindo as entranhas do país sendo expostas, principalmente dos dois sustentáculos do Golpe, a mídia e o sistema de justiça, para superarmos a auto-ilusão e finalmente avançarmos em direção de uma via democrática menos entulhada de fantasmas e de gargalos seculares que nos impedem de fazer a luta de classes em termos mais honestos.
    Aqui, em face das sub-reptícias críticas que se fazem a ela e a seu governo – que se façam de maneira objetiva e construtiva e não como forma de vingança ou antipatia, quase a culpá-la pelo Golpe que ela enfrentou com a dignidade que pouquíssimos teriam -, mesmo quando se reconhecem iniciativas inovadoras de seu governo que não vingaram exatamente pelos gargalos (criar dificuldades para vender facilidades) criados para impor a conciliação, algumas coisas de que sempre lembro, e que estão na raiz da motivação da realização do Golpe, da articulação interna para finalmente compor com os USA na tempestade perfeita que se formou a partir de 2013:
    1) a presidenta determina redução de juros dos bancos públicos, para enfrentar o cartel financeiro do sistema financeiro privado (há cálculos de quantos esses bancos “perderam” nesse período, em comparação com o que têm ganhado depois do Golpe?)
    2) a presidenta instaura a Comissão Nacional da Verdade, que, apesar de suas restrições para compor com as Forças Armadas, trouxe à tona fantasmas e zumbis que ora ocupam o desgoverno e confirma que a redemocratização falhou e precisa ser retomada de um ponto seguro
    3) a presidenta, após os atos de 2013, foi à TV propor instrumentos de democracia participativa, plebiscitos e referendos, sobre as reivindicações feitas, e em nenhum momento condenou os protestos de rua, o que demonstrou seu espírito democrático e a intenção de abrir o poder para a sociedade – talvez ciente de sua pouca habilidade em negociações políticas, ou pendor ético para não fazer jogos espúrios, e sob a pressão que se mostrou depois ser criminosa e repugnante, o que por algum motivo não foi adiante
    4) não sei se de sua autoria, mas ela abraçou e sancionou a PEC das domésticas, que abriu outro flanco opositor raivoso, que pode ter acordado as conservadoras que inda outro dia coalharam as ruas em apoio ao fechamento do congresso e do stf, ao tocar numa ferida nacional, a mentalidade “casa grande e senzala”, que fundamenta as desigualdades que nos definem e que ocorriam num ambiente já neurótico e conflitivo, “a família brasileira de classe média”.
    5) lembro de que ainda ouvia a CBN quando ela, revelada a espionagem pela NSA, cancelou encontro diplomático com Barack Obama e causou furor e temor de retaliações por parte dos vira-latas da emissora: seu ato de altivez e respeito institucional ao cargo que ocupava certamente acendeu sinais de alerta de que não estavam lidando com os subalternos de sempre; se não houvesse resposta do Império, onde essa petulância, reeleita para mais quatro anos, poderia levar essa república recém descoberta uma mina de ouro em petróleo?
    Por isso, com todos os erros que possam ter sido cometidos e que devem ser tratados com objetividade e visão histórica para aprendizagem política e cívica, mais respeito quando mencionarem a personagem mais injustamente enxovalhada (até sua declaração de IR foi devassada este ano, para não relembrar as infâmias machistas e picuinhas de Súcias várias) e ainda não recebedora das reparações devidas por imprensa e opinião pública, sra. Dilma Rousseff, última presidenta eleita e legítima da república federativa do Brasil, por ora, república associada d@s bananas e das milícias (e não me venham com hipocrisia de reconhecer que o Vergonhoso foi eleito, o Golpe manipulou porque mesmo depois de tudo, tinha o “risco PT” de democracia).

    Sampa/SP, 04/07/2019 – 15:24

    1. Gostei muito dos levantamentos que você fez na construção de sua mensagem. Há, de fato, muita investigação a ser feita sobre vários e vários casos nebulosos que destruíram o Brasil, conforme seu relato.

    2. Gostei muito dos levantamentos que você fez na construção de sua mensagem. Há, de fato, muita investigação a ser feita sobre vários e vários casos nebulosos que destruíram o Brasil, conforme seu relato.

    3. -> Por isso, com todos os erros que possam ter sido cometidos e que devem ser tratados com objetividade e visão histórica para aprendizagem política e cívica, mais respeito quando mencionarem a personagem mais injustamente enxovalhada

      Dilma foi a grande personagem trágica do Lulismo, tendo Haddad como sua versão farsesca.

      Dilma foi derrubada por seus acertos, mas caiu pelos seus próprios erros.

      tornou-se argumento dominante fazer de Dilma a origem de todos os erros cometidos pelo Lulismo, enquanto ela foi apenas o para-raios.

      aquele momento em que de um céu supostamente azul, desabou a tempestade perfeita. entretanto, uma tempestade gerada durante os dois governos Lula.
      .

  6. Excelente reportagem! Parabéns, Sr. Nassif! Muito obrigada por nos trazer esclarecimentos tão precisos pela preciosa via da escrita. Não sei de nada, mas desconfio muito que agentes públicos receberam valores ou vantagens ilícitas da lavajato. Não sei de nada, mas desconfio muito do interesse de Moro em tutelar o COAF. Não sei de nada, mas desconfio muito que alguns agentes estejam tentando esconder o dinheiro em outro país. Não sei de nada, mas um filme mostrando as maracutaias de um agente estrangeiro travestido de juiz, numa república de bananas, poderia ser confundido com documentário.

  7. Excelente reportagem! Parabéns, Sr. Nassif! Muito obrigada por nos trazer esclarecimentos tão precisos pela preciosa via da escrita. Não sei de nada, mas desconfio muito que agentes públicos receberam valores ou vantagens ilícitas da lavajato. Não sei de nada, mas desconfio muito do interesse de Moro em tutelar o COAF. Não sei de nada, mas desconfio muito que alguns agentes estejam tentando esconder o dinheiro em outro país. Não sei de nada, mas um filme mostrando as maracutaias de um agente estrangeiro travestido de juiz, numa república de bananas, poderia ser confundido com documentário.

  8. a colusão de interesses é evidente – inclua-se a grande
    midia golpista capitaneada pela globo….
    mas essas figuras agem -note-se –
    de uma forma estranha que denota o receio
    de que se um deles for pego,
    o resto da colusão dança tb….

  9. nenhum país perde tanto o seu rumo senão por conta de múltiplas e entrelaçadas causas, tanto em consequência de um passado ainda mal resolvido quanto de novos erros agregados no calor dos fatos em curso.

    uma de nossas maiores pendências históricas foi jamais termos punido os responsáveis pela Ditadura Civil-Militar (1964/1989).

    entre estes não só os Gorilas e seu porões, como também os grandes empresários (com a Globo encabeçando), os políticos (sendo o mais execrável deles, Tancredo Neves), assim como os principais gestores (o mais proeminente é o signatário do AI-5, Delfim Netto).

    temos um monstruoso acerto de contas a saldar como nosso passado.

    é por isto que este passado não passa. dura. perdura. sempre retornando mais e mais uma vez para nos aterrorizar.

    é por isto que o Golpe de 2016 precisa ser enfrentado e derrotado. e para isto seus responsáveis precisam ser nomeados, responsabilizados e punidos.

    se o passado pendente segue nos oprimindo, o não enfrentamento ao Golpe de 2016 está nos inviabilizando como Nação e nos tornando um Estado inviável.

    um mix de Haiti, Colômbia, Honduras, Grécia, Síria, Congo… arruinados pelo Imperium, dominados pelo narcotráfico e controlados por milícias.

    e não será nenhuma #VazaJato, e muito menos capas da Veja, que disto nos salvarão.

    não haverá nenhum retorno a nenhuma pretensa “normalidade democrática”. e isto o setor dominante já compreendeu muito bem.
    .

  10. Teus comentários são sempre muito pertinentes, claros. Sobre tua dúvida da frase do empresário em Brasilía dizendo que quem passa pelo Palácio são os políticos, ela foi dita no filme Democracia em Vertigem, depois li outro teu comentário dizendo que não viu o filme, veja-o com uma caixa de lenço do lado.

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