Bolsonaro e Mengele – da negação à fabricação oculta da ciência, por Nathan Caixeta

Subnotificados os casos de morte pelo tratamento, o estudo sobre a cloroquina serviu de palanque para o presidente anunciar que havia ido além de seu fraterno amigo estadunidense, anunciando a comprovação cientifica da cloroquina.

Crédito: Gabriela Bilo

Bolsonaro e Mengele – da negação à fabricação oculta da ciência

por Nathan Caixeta

No livro “Ponerologia” de Andrew Lobaczewski, o psiquiatra polonês descreve a mudança comportamental em massa gerada pelo autoritarismo. O autor era estudante, quando os Nazistas invadiram a Polônia, impondo “de cima para baixo” não apenas restrições políticas, mas um novo e estreito arquétipo de ideais, iniciando pela mudança na linguagem e se alastrando para os costumes sociais até subverter o inconsciente humano, de modo que os receptores das mensagens político-linguísticas não soubessem mais diferenciar o falso e o verdadeiro, o discurso do líder das próprias crenças pessoais, religiosas e morais.

O autor também estudou o caso de Stalin na União Soviética observando o mesmo método de ação: a psicopatia como forma de poder, tornando-se em sociopatia através da histeria coletiva gerada pela confusão dos sentidos. Era como se o “poneros”, raiz grega da palavra “maldade” invadisse as consciências sem que suas origens pudessem ser rastreadas, perpetuando nos receptores algo semelhante à uma fé que se processava civilmente pela defesa de ideias políticas que embora não acreditassem, a repetição exaustiva, tornava-as dóceis como palavras de Salvação a serem espalhadas e difundidas do discurso para a prática.

Muitos dos julgados em Nuremberg associaram sua atuação no regime Nazista a esse tipo de “hipnose” realizada pelos discursos e práticas do terceiro Reich.

Josef Mengele, “o anjo da morte” teve um destino menos imediato que seus companheiros. Conseguiu escapar quando os aliados chegaram a Berlim, vindo para a América do Sul e residindo durante anos no Brasil. Sua morte deu-se como catástrofe, ao encarar às águas e se afogar em Bertioga, litoral de São Paulo.

Ainda que a mera presença do médico que realizou experimentos dos mais nefandos com corpos humanos, ainda vivos em muitos casos, não pode alastrar-se para a prosseguimento de suas preocupações cientificas, ecoando em espírito sobre os defensores do Kit-Covid em 2020.

O escândalo em torno dos primeiros estudos brasileiros sobre o uso de cloroquina supera as máximas do negacionismo, das “fake News” e mesmo de todas as provas que a CPI da Covid amealhou até então. Embora seus participantes possam argumentar brandamente estarem cientificamente buscando respostas para a cura de uma doença até então desconhecida, seus métodos fecham o enlace que o escritor polonês havia descrito como “o mal no poder”.

O negacionismo vinculou-se às fake News como forma de espalhar a confusão nas redes sociais, item que Hitler jamais chegou a sonhar em sua coleção de artefatos de Guerra. O “Gabinete Paralelo” confessadamente operou na contramão dos esforços científicos que apostavam na descoberta da vacinação e de tratamentos preliminares com comprovação laboratorial. A psicopatia da casa de vidro se transformou em histeria mesmo antes da posse presidencial, e no ato de executor das leis e da ordem, Bolsonaro fez da “contramão” sua forma de governo. A pandemia chocou o ovo, e de lá saíram as serpentes cozinhadas em fogo morno, para que seu caldo fosse servido como ração diária via redes sociais.

Mengele não sabia, mas suas práticas seriam reprisadas anos depois em um esquema que reuniu, do presidente, um hospital “pioneiro” na administração da Cloroquina e uma empresa produtora que recebeu milhões dos cofres públicos. A ponerologia havia ganhado tons tupiniquins, pois deixava seus rastros marcados pela forma como a política é feita no país: as ideias, da mão para boca, entre setor público e privado.

Subnotificados os casos de morte pelo tratamento, o estudo sobre a cloroquina serviu de palanque para o presidente anunciar que havia ido além de seu fraterno amigo estadunidense, anunciando a comprovação cientifica da cloroquina. Mais a fundo, descobre-se o que há de terceiro Reich na Banana Republique de Bolsonaro: os pacientes eram tratados sem consentimento e mais uma vez o direito à vida servia à ciência da política.

Sem luvas, antes das câmeras de gás, Bolsonaro tingiu o bigode com tinta invisível ao ir às ruas defender o direito à vida e a liberdade, quando sua paixão pela anticiência esfriou, e as vacinas produzidas sucatearam a salvação medicamentosa do Messias.

Perto da negociata fantasma com a Covaxin, nem Mengele se atreveria a estar. No julgamento do Planalto, Geobbels, oficial Nazista, talvez desse com a língua nos dentes ao ser oprimido pelo circo de fantasias. O mesmo que derrubou Dilma, antes Collor, agora ataca Bolsonaro, mostrando que a pele da serpente sobrevive, mudando apenas de cor como um camaleão: de caras-pintadas, às bandeiras e passeatas que unem do mais Bolsonarista da Faria Lima aos líderes progressistas.

Antes do ânimo desmesurado, verificamos que a prova dos crimes, e até mesmo sua condenação, balança os quadros jurídicos, sem mobilizar em muito a raiz da histeria plantada pelo golpismo. O recuo dos ratos, retornando ao esgoto verde da história brasileira, em muito lembra a tática de resistência em Berlim, quando os soldados aliados já haviam passado as fronteiras. Ao anunciar que apenas Deus o retiraria da presidência, Bolsonaro replicou a cena em que Jesus após perdoar Barrabás e assistir o povo em festa enquanto sangrava na cruz, clamou a Deus: Rabi, perdoe-nos, eles não sabem o que fazem.

Como demonstrou a história, o psicopata pode desmoronar em um Banker, desconfiando, inclusive de seus aliados, mas a sociopatia histérica sobrevive cravejada antes no corpo como Suásticas, hoje nos símbolos, a bala, a bíblia e o boi, ornamentados pelas “arminhas nas mãos”.

Nathan Caixeta, pós-graduando em desenvolvimento econômico no IE/UNICAMP e pesquisador do núcleo de estudos de conjuntura da FACAMP (NEC-FACAMP).

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

1 Comentário

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  1. Josef Mengele era aquele Médico que fazia experimentos em Seres Humanos nos Crematórios e Campos de Concentração Nazistas para onde Getúlio Vargas enviou Olga Benário com Filha Brasileira no ventre? Mengele agradece. Hitler também. O Parceiro Nazista Gaspar Dutra agradece à iniciativa, assim como Filinto Muller. Getúlio Vargas, Familiar de Leonel Brizola, Tancredo Neves, João Goulart, seus comparsas durante 1/4 de século de Ditadura Fascista mancomunada e estruturada nas Legislações de Mussolini, outro Fascista. Todos que seguiram suas vidas jurando lealdade e engradecendo a memória do Genocida. O mesmo Genocida que faz surgir durante seu Projeto Totalitário Fascista OAB(1930), UNE(1938), USP(1934), MEC(1930), Universidades Federais, Justiça Trabalhista,.. Ou seja Estruturas que darão suporte ao Projeto Caudilhista Fascista? E não sabemos o porque fomos jogados nestas 9 décadas sendo Latrina, Esgoto da Humanidade? A CENSURA CRIMINOSA imposta por outro Jagunço do Coronelato Comparsa do Ditador, um tal Assis Chateaubriand pode explicar o endeusamento aos cúmplices fascistas e nazistas. Por que será que Mengele escolheu a convivência e proteção destas Elites no Brasil para se esconder? Revisionismo Histórico pode explicar. Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação. (P.S. Quando deveríamos ter tido medo dos Nazistas, Fascistas e seus Cúmplices, diga para Nós, Assassino Getúilio Vargas?)

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