Brasil em Transe: o mito BolsoNazi, por Arkx

Telegramas de Pasárgada.

Há muito não via texto seu na capa do blog. Acho que os efeitos do transe se espalham rápido, sei lá.

Vou tentar fazer um paralelo, um outro tipo de apanhado, para colocar ao lado do seu.

Claro que com as minhas limitações de sempre.

No meio do maior conflito armado em solo dos EUA, a Secessão, o então Imperador D. Pedro II, que tinha (ainda) como base de sustenção política os setores escravocratas monoexportadores, enviou farta quantidade de suprimentos e dinheiro para o esforço confederado, como forma de apoiar o esforço internacional daquele modelo de capitalismo, que justamente enfrentava naquele conflito fratricida seu maior adversário, o capitalismo industrial baseado da exploração de mão-de-obra livre, que como ensinava Marx, era ao mesmo tempo explorada mas imprescindível para adquirir os produtos de seu trabalho alienante, comçando assim a acuumulação exponencial de riqueza através da conhecida mais-valia.

Logo depois, quando os ingleses perceberam que o modelo escravocrata estava com dias contados, e que suas pretensões de manter a hegemonia teriam que contar com mão-de-obra “livre”, foi o próprio Pedro II a ser defenestrado, depois que teve que engolir a libertação de seus cativos, não á toa, depois que os EUA o fizeram.

Somos, junto com os EUA, os últimos a abolir esse flagelo.

SP foi, dentre os Estados da Federação, assim como a cidade de Campos dos Goytacazes (que chegou a ter o maior número de negros por homens livres, 37 mil negros por 55 mil livres, ver Hemeroteca da Biblioteca Nacional, Almanaque Mercantil de Campos dos Goytacazes), o último a lliberar seus negros!

As consequências até hoje sabemos quais são, tanto lá como aqui.

Eu citei esse detalhe para mostrar que essas ingerências, esses cruzamentos de interesses vem de longe, muito longe.

Logo depois, o II Reinado se meteu ele mesmo em outra aventura para enfrentar outro modelo de capitalismo industrial que despontava, aquele comandado pelo  Solano Lopez no Paraguai.

O resultado desse “soberanocídio” praticado por Duque de Caxias em nome da Inglaterra é conhecido até hoje naquele país de fronteira, que nos devolve em maldição, nos dias atuais, toda sorte de instrumentos e insumos que incrementam nossa violência urbana.

Nosso país é de um complexidade ímpar.

Dias desses eu estava matutando e me surpreendi com algo que até então não tinha prestado atenção:

De todas as possessões europeias, o Brasil foi o único que teve a Corte metropolitana instalada em suas terras. Esse não é um dado qualquer.

Imagine se a Inglaterra deslocasse sua Corte aos EUA. Ou a Espanha movesse seus reis para suas meridionais terras?

Ou tempos depois, se a Índia recebesse a transferência da Corte Britânica?

Pois é.

Os efeitos dessa “presença” são fortes, muito fortes! 

E ela não foi acidental. Os estrategistas ingleses sabiam que Portugal resistiria facilmente aos franceses de Napoleão, que chegaram às portas de Lisboa como mendigos, em andrajos, famintos e sem qualquer condição de lutar para manter aquela invasão.

Mesmo assim, a diplomacia marota de Londres viu na transposição da Corte uma chance de ouro em manter o domínio e influência sobre o Brasil.

Não à toa, somos os únicos unificados em um enorme território, ladeado por inúmeros fragmetos daquilo que poderia ser nosso gigante vizinho de língua espanhola!

Temo dizer que mais que vão além do óbvio, ou seja, fomos a única colônia a não ter luta por emancipação, sem desprezar a luta e os movimentos que ocorreram, mas considerando uma luta que acumulasse força para uma ruptura violenta com a metrópole.

A instalação da Corte de D. João, a forma e o objetivo da criação das forças policiais, a conformação inquisitorial dos procedimentos jurídicos, fieis ao modelo Manoelino, que por sua vez bebia na mais feroz Inquisição Católica (ao lado da espanhola, deram azo a esse senso autoritário que parece entranhado em nosso DNA cívico!

Não que outros países não contem com modelos tão crueis ou conservadores como o nosso, até porque, a distribuição de “sucesso” ou “fracasso” institucionais ou estabilidade ou instabilidade políticas não são destinos manifestos ou obras divinas,  ou melhor, fruto do caráter mais ou menos edificado desse ou daquele povo, mas sim resultado do processo de instalação dos modelos de exploração capitalista e sua estrutura hierárquica que confinou probreza a determinadas geografias e riqueza para outras poucas, obedecendo o curso da História.

Mas o fato é que os sentimentos vociferados por bolsopária não são exclusivos de uma classe social, de mais ou menos escolaridade, enfim, de gênero, ou de raça.

Ele só não deslanchou ainda porque é um ser limitado, nem de longe carismático como um Führer ou Il Duce.

Não chega perto nem de Le Pen.

É um Trump mal ajambrado, mais pobre, com menos popularidade que o original, que antes já povoava o imaginário do abestado estadunindense com modelos, coelhinas e torres enormes!

Faça você um teste, vá em uma favela e pergunte a moradores comuns: bandido bom é…?

Se de cada dez perguntas ouvires mais de três respostas: bandido bom é bandido preso, eu lhe dou cem reais.

A esmagadora maioria vai dizer que é morto!

Olhe bem nossa construção nacional:

1822, um arranjo autoritário entre elites locais e da Coroa!

1889, um golpe de Estado patrocinado por militares positivistas, que instituiu e/ou manteve eleições censitárias! Militares que já haviam participado recentemente de um soberanocídio no Paraguai, e o etnocídio de Canudos!

1930, golpe de Estado em um governo eleito por voto censitário, que alternava as elites mineiras e paulistas no poder!

1932, paulistas tentam o golpe para separar SP do Brasil!

1937, golpe dentro do golpe, com Vargas abrindo a casinha e liberando a besta fera Filinto Müller!

1945, golpe depondo o golpista, novamente por militares!

1954, morte do ditador que queria se redimir como líder das massas trabalhadoras!

1958, tentativa de golpe conhecido como República do Galeão!

1961, golpe para castrar Jango, depois da tentativa de golpe frustrada de Jânio, embora Jango NUNCA tivesse representado qualquer perigo às elites e seus arranjos! Só queria uma reforma no capitalismo arcaico e semi-escravocrata que se praticava por aqui.

1964, golpe cívico-militar!

1980, Lei de Anistia!

1985, eleição indireta!

1988, o pacto engodo constitucional que varreu para baixo do tapete todos os dissensos!

1992, golpe civil em Collor!

2006, tentativa de golpe em Lula, prisão de todo seu eixo central de governo!

2016, golpe em Dilma!

Então, amigo, não há mito, ou delírio bolsonariano. A exceção aqui é regra!

Ai da esquerda que imaginar que com dez anos de Bolsa Família, três ou quatro plataformas de pré-sal, e um submarinozinho nuclear de merda poderá dar conta dessa passivo histórico!

Vou votar no Bolsonaro

Pois eu preciso de uma arma para alvejar os fascistas.