Congresso desmoralizado vai escolher um novo fantoche?, por Marcos Augusto Gonçalves

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Foto: Beto Barata/PR
 
Jornal GGN – Em coluna publicada hoje (22) na Folha de S. Paulo, Marcos Augusto Gonçalves, jornalista e editor da ‘Ilustríssima’, fala sobre a crise política brasileira, criticando o senador afastado Aécio Neves (PSDB). Ele afirma que é com “satisfação” que se vê suprindo a ausência do “ex-senador” dentro do jornal. “Alivia-se o leitor de suas chorumelas”, afirma. 
 
Para Gonçalves, chama a atenção a defesa do presidente Michel Temer por setores da opinião pública, já que a peça acusatória do procurador-geral Rodrigo Janot, mesmo com fragilidades, “não deixa dúvida do que se trata”.
 
“Temer não reúne condições morais e não tem apoio da população para governar”, diz o jornalista, que afirma que as eleições indiretas iriam facultar ao “Congresso desmoralizado a escolha de um novo fantoche”. 

 
Leia mais abaixo: 
 
Da Folha
 
Tempos bicudos
 
por Marcos Augusto Gonçalves
 
É com satisfação que me vejo a suprir por um dia a ausência do ex-senador Aécio Neves neste espaço -do qual, enfim, se despede. Alivia-se o leitor de suas chorumelas, e o país, de uma fraude moral e política que obteve 51 milhões de votos no último pleito.
 
Acompanho com cautela o fundamentalismo messiânico do juiz Sergio Moro e sua força-tarefa, mas não há como escapar de certo contentamento ao ver cair a máscara desse séquito de hipócritas e heróis do povo brasileiro -à esquerda e agora, finalmente, à direita- que vai sendo apanhado no exercício de atividades incompatíveis com o espírito republicano e contrárias aos interesses dos brasileiros.
 
Nesse cenário, não deixa de chamar a atenção que o presidente Michel Temer venha merecendo a advocacia de setores da opinião pública com o intuito de desqualificar ou minimizar as denúncias que vieram à luz com a delação do desembaraçado rebanho de executivos do grupo JBS.
 
Que a peça de Rodrigo Janot tem fragilidades, não se discute. Mas como bem notou o colunista Hélio Schwartsman, na última sexta-feira (19/5), em que pesem as ambiguidades jurídicas, há um contexto que não deixa dúvida sobre do que se trata.
 
Sempre se pode, como no caso de Aécio, fingir que não é bem assim, mas o tempo muito provavelmente se encarregará de demonstrar o que já se sabe. Temer não reúne condições morais e não tem apoio da população para governar.
 
Duas vezes aliado do PT em chapa presidencial, trocou de lado, como é habitual na malta que o PMDB congrega, para tentar “estancar a sangria” e ser fiador de uma mudança na economia -que, de resto, se fazia necessária.
 
Lamentável é que o esforço de recuperação da racionalidade econômica tenha prosperado em meio a uma conspiração e de costas para o povo.
 
É certo que o Brasil precisava de um ajuste fiscal e precisa de uma reforma da Previdência, mas se escolheu para atingir esses objetivos uma trilha sombria em seu desprezo pela legitimidade política, em sua aversão a qualquer medida de justiça tributária e em seu descaso por contrapesos distributivos.
 
Chegou-se ao ápice do economicismo elitista ao se elevar à categoria de virtude o fato de o presidente não gozar de nenhuma popularidade -circunstância que atingiria o grau de perfeição num regime ditatorial.
 
E agora? Veremos uma onda de adesão às diretas que as elites até aqui se recusaram a considerar? Defenderemos a Constituição, facultando ao Congresso desmoralizado a escolha de um novo fantoche? Ou quem sabe seguiremos ladeira abaixo com o pato manco? Veremos. Como dizia-se antigamente, tempos bicudos. 
 
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Redação

12 Comentários

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  1. Nada a ver. O Congresso é o

    Nada a ver. O Congresso é o caminho CONSTITUCIONAL para eleição indireta, não há outro e ponto final.

    Se cumprir a Consitutição depender do que cada um acha de cada Poder, não há necessidade de Constituição,

    basta a lei da selva. Parece incrivel a absoluta falta de noção do que é Estado de Direito.

    1. Eleições diretas ou indiretas? Eis a questão.

      Existem bons juristas que defendem a tese de que a perda de mandato ou cassação do diploma por decisão da Justiça Eleitoral não caracterizam a dupla vacância (presidente e vice) de que trata a Constituição ao determinar a eleição indireta (CF, art. 81, § 1º). Essa era a orientação geral seguida pela Justiça Eleitoral ao longo dos anos, que somente agora, casuisticamente, começa a ser questionada pela Procuradoria Geral da República.

      Segundo esse entendimento, a dupla vacância somente ocorreria na situação de renúncia, impeachment ou morte. Por quê? Porque são fatos posteriores à eleição legítima. Dito de outro, somente mandatários eleitos licitamente ensejam a vacância do cargo para o qual foram eleitos.

      Diferentemente disso, a declaração judicial de ilegitimidade da eleição desconstitui a própria eleição. Isso implica, por assim dizer, reconhecer a inexistência de eleição, de modo que não seria possível a existência de vacância de pessoas que nunca foram eleitas legitimamente. Grosso modo: a invalidade da eleição significa que o povo não elegeu e não que, elegendo, os cargos ficaram vagos. Não há vacância de cargos jamais preenchidos legalmente.

      Assim, no caso de cassação da chapa Dilma-Temer, em lugar do art. 81 da CF, seria aplicável os §§ 3º e 4º do artigo 224 da Lei 13.165/2015 (Minirreforma Eleitoral), que prevê a realização de novas eleições diretas, salvo se nos últimos seis meses dos mandatos, caso em que a eleição seria indireta, dada a exiguidade do prazo.

      Resumindo: se declarado que não houve eleição lícita e, portanto, válida, o princípio democrático orienta para que não seja suprimido o direito do povo de escolher o mandatário, dado que isso acrescentaria o estupro do sufrágio ao estelionato eleitoral já praticado. Nessa hipótese, cabe convocar novas eleições diretas.

      Essa parece ser a melhor interpretação, a mais democrática e pacificadora. Ressalto que se constitui em solução igualmente institucional e constitucional, caso Temer perca o mandato por decisão do TSE nos próximos dias.

      Nesse ponto, é importante ressaltar que decisões judiciais, como qualquer produto da linguagem, não são desprovidas de intencionalidades que se estendem para além do mérito do que está sendo julgado. Tanto é assim que diversas interpretações são obtidas a partir do mesmo texto legal, que deveria, por uma questão de equidade e justiça, ser aplicado de forma igual para os iguais. Se é possível a interpretação que empodera o povo, por que razão adotar aquela que exclui o direito mais sagrado do cidadão, que é decidir sobre os rumos da sociedade na qual vive?

      Ainda que não existisse a lei que menciono, a autorizar a eleição direta, há que entender que o respeito ao Estado de Direito nunca se orientou pela imutabilidade das leis, pelo contrário. O poder legislativo encontra-se inserido, e se justifica, pela criação e modifcação de leis segundo as necessidades públicas. Portanto, uma vez que a Constituição, salvo as cláusulas pétreas, autoriza sua própria modificação pela via das emendas constitucionais, estas não violam a normalidade jurídica. Portanto, o Congresso, cumprindo o seu papel constitucional, poderia criar uma emenda constitucional alterando o referido art. 81 e determinando a realização de eleições diretas para toda e qualquer hipótese de vazio de poder relativo aos cargos de presidente e vice-presidente.

      Enfim, hoje é possível interpretar a existência de autorização normativa para a realização de eleição direta para presidente. Também é possível entender que a hipótese é de eleição indireta pelo Congresso. Por fim, é possível a criação de emenda constitucional autorizando a realização de eleição direta.

      Todas são hipóteses que respeitam o Estado de Direito e não violam a normalidade institucional.

      Sempre será melhor a solução que empodere o povo e não a paternalista, que o considera incapaz, ou a oportunista, que busca um desvio para a manutenção da iniquidade.

      1. Realidade simples e crua: NÃO

        Realidade simples e crua: NÃO HÁ condições politico-institucionais – operacionais para eleiçãa direta e ponto.

        A  UNICA GARANTIA em tempos de  crise é seguir  a Constituição como em 1954 e 1955 ou se a crise for  ainda maior, pode descambar numa mudança de regime, como em 1954.

  2. O Congresso empoderaria um Presidente bem pior do que o Temer

    O Congresso fez a cagada ao empoderar o Temer e agora quer cagar de novo, botando outro Temer.

  3. Há ainda, além da indireta, a

    Há ainda, além da indireta, a alteração da  CF e antes mesmo desta, o artigo 1º. E ainda pode-se anular o impedimento e retornar Dilma. O autor ainda desconsidera a criação de comitês que poderiam substituir com vantagens o Congresso. Não podemos esquecer que junto com Temer, este parlamento não existe mais.

  4. Vai sim, ô se vai

    Se vai ser fantoche, não dá para saber, mas que vai escolher, ô se vai. Inclusive, pode até vir a ser um fantoche negociado com TODOS  os partidos, sem exceção, onde nessa negociação, cada um cede um pouco. E aí surge um fantoche civilizado, palatável que seja capaz de levar o país até out/2018 sob relativa tranquilidade: Nélson Jobim

    1. E o fantoche vai fazer as reformas?

      E esse fantoche “civilizado” vai dar continuidade às “reformas” anti-civilizatórias exigidas por Mammon?

      Se não, esse fantoche não é fantoche e portanto não serve.

      Se sim, será eventualmente atropelado pela reação popular contra a retirada de direitos.

      Não há espaço, hoje, para a conciliação.

  5. Se houvesse um movimento nas

    Se houvesse um movimento nas ruas por eleições gerais Diretas Já, sem bandeira de partidos, sem bandeira de quaisquer organizações desacreditas pela sociedade, veriamos o impacto estrondoso disso. 

  6. Nao da pra escolher um

    Nao da pra escolher um “fantoche” mais pra “bibelot” nao?  Esse ai eh feio e bobo.

    Ta tao perto de resolucao do problema!  Perguntem o segredo pro Clovis Rossi!

  7. Já acho que nem vai botar ninguém…

    O fiel da balança do Temer é o PSDB. Se disser que está fora, Temer cai. E o que os Tucanos fizeram? Adiaram a decisão de pular fora indefinidamente. Dizem que decidirão depois do julgamento dos processos do Temer no TSE e STF. Ou seja, no dia de São Nunca, à tarde…

    Rodrigo Maia é da turma do Golpe, nunca vai botar pra andar nenhum pedido de impeachment do Temer. A Oposição só pode fazer o que já faz, espernear. O Vem Pra Rua e o MBL, sabujos do Golpe que são, se calaram. Do STF não se espera nada no sentido de ajudar o país, garantindo a apuração célere dos malfeitos de Temer. E muito menos do TSE se espera a cassação do golpista.

    Em suma: a Globo só garantiu que o apoio dos golpistas no Congresso vai ficar bem mais caro depois de tudo isso. A não ser que tenha mais algum cartucho por lá…

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