Dá para atender o tal mercado?, por Gunter Zibell

Proporia um orçamento para 2026 com o mínimo possível de subsídios. Para garantir já preveria reajuste zero para funcionalismo

Dá para atender o tal mercado?

por Gunter Zibell

Não sei como se operará esse milagre que “o Mercado” quer: respeitar os gastos fixos com saúde, educação e seguridade, pagar 7% de juros reais e ainda não aumentar impostos.

Eu começaria por derrubar a taxa de juros para uns 3 pp reais, não tem investimento melhor, nem fora do Brasil, para onde o capital fugiria? E são os altos juros os responsáveis pelo aumento da dívida/PIB. A alternativa é transformar parte da dívida em M1 (*).

Proporia um orçamento para 2026 com o mínimo possível de subsídios. Para garantir já preveria reajuste zero para funcionalismo (e não chamaria nenhum concursado desde já).

Tentaria manter a cotação do US$ em R$ 6 pelo máximo de tempo possível, pois esse patamar já está incorporado no nível de preços. Pode-se vender reservas a essa taxa, acima do equilíbrio de longo prazo, pois recomprar quando ela baixar resultará em superávit para o tesouro. (**)

(imon) E talvez convidasse representantes do mercado para negociar o orçamento com o Congresso (fiscalmente populista). Isso deixaria as contradições mais claras. (imoff)

Isso seria um choque de superávit fiscal. Se desse certo Alckmin/Haddad teriam orçamento de sobra a partir de 2027.

E tem os trade-offs para levar em conta. Se os juros caírem pode aumentar a oferta de bens e compensar parcialmente a inflação por liquidez. Eu bancaria essa queda de braço. Mas a ver se Alckmin/Haddad (ambos entendem mais de economia que Lula) pensam assim. De qualquer modo, a eleição de 2026 já está ameaçada mesmo… Não vale o risco de esperar Tarcísio fazer as mesmas coisas mas sem obstrução de um Congresso (e mídia, mercado) nesse caso colaborativo.

O que vocês fariam?

(*) M1 = papel-moeda + depósitos à vista. Teria-se que conviver com inflação acima da meta por um tempo. Mas a dívida ficou explosiva e não por déficit primário, apenas por juros. A situação é tão nonsense que vale a pena o governo testar o mercado o quantos antes.

(**) Não adianta para o capital fugir. Pagará o dólar na alta (está certamente acima do equilíbrio de longo prazo) e não encontrará rendimento maior que 2 pp reais ao ano. Se o Brasil pagar 3 pp já estaria muito bom e ainda não se teria risco cambial.

PS: se a dívida/PIB é 75% e se o crescimento for 3%, um déficit primário de 2,2% não aumenta a relação dívida/PIB. Portanto todo o crescimento atual da relação dívida/PIB é responsabilidade do déficit nominal, ou seja, juros. Se o déficit nominal continuar em 10%, a inflação 5% e o crescimento 3%, a dívida/PIB sobe de 75% para 79%.

https://www.moneytimes.com.br/haddad-diz-que-brasil-deve…

7 Comentários

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  1. Prezado Gunter, só esqueceu um detalhe: num governo oligárquico, esse susto não passa pela cabeça de ninguém que queira terminar o mandato! Abração

  2. Uai, por que ousar tão pouco?

    Se vai converter dívida em liquidez, emite moeda de uma vez e assume o controle total, sem deixar margem de arbítrio ao mercado.

    Derruba os juros na Selic, e reestrutura os títulos pela recompra com deságio, usando a expansão da base monetária.

    Inverte o fluxo, ou seja, ao invés de jogar toda a liquidez para aumento de demanda e pressão inflacionária, resgata dívida pública com pé no pescoço, porque o mercado sabe que se esse dinheiro for todo para rua, o seu poder de coação, e as taxas de arbitragem, despencam.

    Tributa os ganhos oriundos das operações financeiras, ou aumenta o que já existe.

    Estabelece alíquotas maiores sobre as rendas maiores.

    Fixa quarentena de entrada e saída de capitais.

    Câmbio fixo em 6 reais com faixas para contratos com o tesouro:

    O governo compra com 10% de deságio e vende com 10% de ágio.

    Ainda assim, a variação entre esses patamares é um negócio quase pornográfico…

  3. O que eu faria?

    Aumentos cavalares do salário mínimo. Aumento geral de salários. Praticar os 5000 de isenção de Imposto de Renda, já equivoca e antecipadamente prometidos.

    E deixa o circo pegar fogo. Já está em chamas, mesmo.

    Ah, e na prática FIM DE ESPECULAÇÃO COM O CÂMBIO. Os especialistas que expliquem em termos técnicos o que eu, de forma leiga, sei que era praticado até não muitos anos atrás.

  4. Afinal, se é pra perder em 2026, que se perca em grande estilo – a chance é a mesma que seguindo os conselhos do autor do post ou fazendo o que atualmente está se fazendo, seguindo a cartilha do bom moço Fernando Haddad Cardoso.

  5. Todas as propostas são técnicamente consistentes e de fácil manejo em termos de política econômica. Só há um senão: Lula 1, 2 e 3 é o Servo Fiel do Capital (rentistas). E o Haddad é o meirinho de plantão.

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