Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Fascismo e Sociedade Brasileira: uma relação sadomasoquista, por Armando Coelho Neto

Imagem Boitempo

Fascismo e Sociedade Brasileira: uma relação sadomasoquista

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Duas mãos invisíveis estão por trás desse texto, que por circunstâncias assino sozinho. Nada estranho num país em que mãos invisíveis parecem estar por trás de tudo, no qual nada é bem o que é…

Em tom jocoso, o site “Sensacionalista” publicou matéria segundo a qual o governo federal havia criado o “Ministério do Recuo”, mas teria voltado atrás.

De fato, em poucos dias no poder, a trupe circense do presidente Bozo promoveu diversas idas e vindas. As oscilações abrangem de aumentos de impostos até nomeações para órgãos oficiais, passando por decisões sobre organização administrativa e até sobre soberania. Por cinismo, incompetência ou sabe-se lá o quê, essa instabilidade estressa até a economia e torna a Sociedade Brasileira refém de permanentes tensões relacionadas a interesses, direitos e futuro.

Para os críticos, seria mesmo prova de amadorismo e despreparo. Mas cremos insuficiente tal diagnose. Chamam-nos a atenção algumas tendências e circunstâncias. Ei-las.

Em primeiro lugar, é forçoso constatar que houve um rebaixamento das expectativas. Já fomos um país que não apenas reclamava uma posição de destaque na cena política e econômica internacional, como também um lugar onde o povo se permitia ter esperança positiva no seu próprio destino.

Atualmente, estamos vivenciando uma catarse coletiva, uma espécie de hipnose pela perversidade. Nossas potencialidades como Nação foram neutralizadas e nosso horizonte foi amesquinhado por desejos punitivistas. E isso nos retirou a capacidade de sonhar, de vislumbrar um amanhã melhor, de mais liberdade, mais empregos, investimentos públicos, educação, saúde, fartura e felicidade.

Fala-se apenas em cortes, ameaças, ódios. Anunciam-se maldades a todos, enquanto blindam-se poderosos e protegem-se militares, grandes empresários e políticos.

E até as coisas “boas” que o Coiso anuncia estão indiretamente associadas a punções de agressão e morte – distribuir porte de armas de fogo indiscriminadamente, autorizar o desmatamento, mitigar regras sobre licenciamento ambiental, liberar a caça…

De alucinações sobre Jesus na goiabeira ao aniquilamento de direitos sociais, vai sendo revelado um governo de loucos, covardes, predadores entreguistas. Que, como tal, usará da força contra os menos favorecidos para humilhar o povo e fortalecer a elite. O único freio, ao que parece, são as contradições no processo de mediação de conflitos entre os próprios poderosos. Lei-se, eles contra eles, por que opositores ou resistência não há.

De certo modo, eles podem dizer e fazer o que quiserem. Vai ter base militar americana? Não mais. Mas o IOF será elevado. Só que não. E a Petrobrás e os bancos públicos? Sem dúvida serão privatizados. Ou quem sabe apenas descapitalizados. E a Previdência Pública será substituída por um sistema de capitalização privado, ou… Amanhã vemos. Mas os trabalhadores vão ter que laborar até os 67 anos. Mas pode ser que seja só até os sessenta e dois. Pensando bem, vamos fechar em sessenta e cinco…

Qual o limite para essa inconsequência?

É como um torturador que amarra a vítima, para em sequencia perturbá-la psicologicamente: “acho que vou deixa-la cair pela janela… Não, não vou mais… Mas pensando bem, vou queimá-la viva… Ou afogá-la. Oi? Não… Não quis dizer isso, depois eu penso noutra coisa…”

Não admira que o alter ego do Coiso seja Brilhante Ustra. Há um evidente prazer nesse agir inconstante. Em brincar com a soberania, a previdência, a imagem do Brasil no mundo, os direitos sociais dos trabalhadores, em suma: com os destinos da Nação.

Por que, claramente, trata-se de uma diversão psicopatológica permitida precisamente pela relação entre a passividade e impotência da vítima frente a ausência de empatia e compaixão pelo carrasco.

Não se despreza o relevante papel do humor na luta política. Contudo, para além dos mêmes lacradores da Internet urge que os democratas, os nacionalistas, as pessoas conscientes do País se organizem para reagir. Do contrário, a Sociedade Brasileira permanecerá sequestrada e vitimizada. Até a sua total destruição. Com todos os requintes de crueldade.

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo

 

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

9 Comentários

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  1. A Globo e a grande mídia

    A Globo e a grande mídia mesmo em aparente desgraça nesse governo não perdem a pose. O Portal G1 esqueceu os problemas do Brasil que para eles parece não existir e dá-lhe caso Cesare Battisti. E para variar continua apostando no seu punitivismo exacerbado quando mancheteia: Battisti ficará em penitenciária na PERIFERIA de Roma. Inacreditável o “na periferia de Roma.”

    1. Tonald Drump (rsrsrs)

      Gostei muito do seu comentário . É exatamente isto que estive pensando em pleno Domingo! Hoje a notícia importante é de um avião que caiu não sei onde, cuja caixa preta teria sido encontrada.

      A condenação do João de Deus é mencionada diaiamente. Até as criancinhas já sabem o que é o abuso sexual, mas a culpa é dos professores ideologizados pelos petistas.

      A neve que cai não sei onde , já já pode nos atingir. Todo cuidado é pouco !

      Mas dos bandidos que perderam o foro privilegiado e já deveriam ter sido convocados, N A D A !

      Quem pagará o hospital para o motorista do Bolsoltino . Não interessa !

      E o homem da facada ? tb não vem ao caso !

      E assim caminha o Brasil !!!

       

  2. Terra de porvir

    A divisa “Brasil Pais do futuro” foi usado durante décadas para que se anestesiasse o povo. Como não é mais possivel reviver esse slogan, mesmo que o bozo quisesse dificilmente pegaria novamente, as pessoas estão terrivelmente desesperançadas, assustadas, todos contra todos, uma nação sem futuro… Também penso que os partidos democratas, Movimentos sociais, sindicais, progressistas e intelectuais, todo esse contigente, vai ter que levantar para muito além dos memes e dos videos de internet e propor alternativas ao estado de exceção que ameaça nossas cabeças. 

    Hoje à noite na MAL (Maison d’América Latina), Fernando Henrique Cardoso fara palestra sobre a democracia [!] ao lado do sociologo Alain de Tourainne. Eh claro que estamos preparando uma surpresinha. Se é para falar de democracia, vamos vivencia-la na pratica… A resistência ja começou fora do Brasil. 

  3. A facada mitologica

    Sobre os videos anônimos “A facada no mito”, que me impressionaram pela boa analise feita, fiquei pensando com meu dedinho que foram feitos por profissionais… Teremos diletantes dentro da PF… Ufa!

  4. Duas grandes Guerras (não

    Duas grandes Guerras (não três), Guerra Fria, Técnicas de Controle Social, Hipnose, táticas de guerrilhas e contra-guerrilhas, Internet, telefonia móvel, fragmentação social, sociedade do eu sozinho, Era da Informação e a desinformação excessiva. Guerra híbrida. Babel. Chegamos ao nó górdio. No livro O Mínimo Eu, Christopher  Lasch já preconizava: “Em uma época carregada de problemas, a vida cotidiana passa a ser um exercício de sobrevivência. Vive-se um dia de cada vez. Raramente se olha para trás, por medo de sucumbir a uma debilitante nostalgia; e quando se olha para frente, é para ver como se garantir contra os desastres que todos aguardam. Em tais condições, a individualidade transforma-se numa espécie de bem de luxo, fora de lugar em uma era de iminente austeridade. A individualidade supõe uma história pessoal, amigos, família, um sentido de situação. Sob assédio, o eu se contrai num núcleo defensivo, em guarda diante da adversidade. O equilíbrio emocional exige um eu mínimo, não o eu soberano do passado.(…) a preocupação com o indivíduo, tão característica de nossa época, assume a forma de uma preocupação com a sobrevivência psíquica. Perdeu-se a confiança no futuro. (…) O risco de desintegração individual estimula um sentido de individualidade que não é ‘soberano’ ou ‘narcisista’, mas simplesmente sitiado” 2

  5. Uai
    Desde a invenção do estado brasileiro com a chegada da corte portuguesa em 1808 estamos nessa catarse…

    Ali foi moldada a estrutura homicida e classista desse estado com a criação da primeira instituição oficial, a Intendencia Geral de Polícia…pau no lombo dos pretos…

    Segue a catarse republicana em 1889…

    A hipnose legou milhões de sequestrados africanos as periferias, com o titulo meramente formal de homens livres…

    Na era Vargas, o estado novo, o DIP, Filinto Müller, etc…

    UDN, República do Galeão e 64…

    Hipnotizados com a abertura do prende e arrebenta, veio a anistia.. rsrsrsrs…

    Aberração…Herzog e Riocentro… “acidentes” da abertura?

    Nada…! Avisos para a negrada não abusar e se lambuzar de “liberdade”…

    Colégio eleitoral e transição por cima…

    Planos cruzados e o canto da sereia que levaram os conservadores a elegerem ampla maioria constituinte…

    Mortes na CSN…exército a postos…

    Eleição de collor (o coiso da época)…

    Farsa do plano real com a troca de inflação monetária pela inflação da dívida pública…

    Ação 470…

    Golpe 2016…

    E o doutor me vem com a tese de que nossa letargia é recente?

  6. SADOMASOQUISMO

    Boa noite ao Armando e às (aos) comentaristas.

     

    Armando, parabéns pelo texto.

    O horror desse desgoverno é constarmos que querem levar o país ora para um momento anterior à Revolução Francesa, ora à Alemanha entre  1933 e 1945,

    Tenho 55 anos e, como quase todos da minha geração, batalhamos contra a ditadura militar. E agora, somos governados por  essas criaturas violentas, toscas e arrogantes. Bom, não podemos baixar a cabeça. Como cantou Geraldo Vandré em uma de suas lindas canções: “a hora é de lutar”.

    Um abraço e vamos à luta

     

    LULA LIVRE !!!!!

  7. FHC

    Maria Luisa 

    Não sabia desse evento. Tomara que expliquem ao FHC que ele é uma figura lastimável que, devido a enorme arrogãncia, acredita que tem alguma relevância quando fala ou escreve seus patéticos artigos …. Ele deve viver numa espécie de mundo paralelo, onde as pessoas não tenham memória do que foi o período no qual ele foi presidente. 

    Como é a vida. E pensar que Lula fez campanha para essa pessoa !!! 

    Vida que segue e um abraço a Você. 

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