
Jornalismo maiúsculo
por Wilson Ramos Filho (Xixo)
Não conheço pessoalmente o jornalista Rafael Moro Martins, mas fiquei muito bem impressionado com a qualidade de seu texto sobre as relações inadequadas entre o ex coordenador da LavaJato, Deltan Dalagnol e a delegada federal Erika Mialik Marena e sobre a reação de ambos quando do trágico suicídio do Reitor Cancellier, vítima de perseguição ilegal e imoral (https://theintercept.com/…/dallagnol-soberba-morte…/ ). Vale muito a leitura.
Não me surpreenderam, todavia, os termos em que se deram tais conversas. De um lado havia um cristão, daqueles que fazem jejum para agradar a um deus venal, com muitas convicções, impudico, desnudando sua desumana imoralidade. De outro, uma agente da lei aparentemente consciente das ilegalidades que praticava. Ambos banalizando a morte que causaram.
Fico imaginando o que mais teria que ser revelado pelo The Intercept Brasil para que os brasileiros se indignassem com a conduta do ex-juiz que corrompeu o sistema judicial brasileiro e a de seus comandados, entre eles os personagens centrais da reportagem em questão. O que seria mais grave do que, como juiz, ser condenado pelo STF como suspeito de perseguição ideológica? O que seria mais repugnante aos mínimos éticos consensualmente aceitos que a conduta dos integrantes da força tarefa em sua obstinação para destruir a institucionalidade democrática por mesquinhos interesses eleitorais? O que mais teria que ser revelado sobre a conduta da delegada Erika para que ela fosse responsabilizada?
Não tenho mais idade para me permitir a ingênua esperança de que o poder judiciário, profundamente infestado de moristas, gravemente infectado pelo lavajatismo, venha a expontaneamente punir todas as condutas desviantes e atentatórias ao estado de direito praticados por essas pessoas más. Sem uma pressão externa, vinda da sociedade civil, a tendência seria varrerem tudo para baixo dos felpudos tapetes dos palácios da justiça burguesa, até por vergonha do que permitiram que vicejasse. Foi tudo tão grave, tão contrário aos mitos da supremacia da constituição e da presunção de inocência, que humanamente se compreende a tentação de fingirem que não aconteceu.
Por tal razão destaco a importância daquele rapaz, o Delgatti de Araraquara, que, com captura das trocas de mensagens da quadrilha, eviscerou o judiciário para escancarar as relações indecentes e obscenas que se deram para prender o presidente Lula e impedir sua eleição em 2018. E, também, o excelente trabalho que continua a ser feito pelo melhor jornalismo brasileiro, onde se destacam Marcelo Auler e portais de notícias como O Cafezinho, do Miguel Do Rosario, e a Revista Forum do Renato Rovai, o GGN dos meus amigos Lourdes Nassif e Luis Nassif, além do Intercept e da CartaCapital, entre outros profissionais da notícia compromissados com os fatos e com a verdade.
PS: relembro que na página do Instituto Declatra – Defesa da Classe Trabalhadora podem ser baixados gratuitamente os livros Relações Obscenas e Relações Indecentes onde dezenas de intelectuais comentam as primeiras revelações da Vaza-Jato.
Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

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