O ativismo das patentes inferiores e o perigo da perda da hierarquia nas forças armadas, por Rogério Maestri

Outro problema clássico que diferencia as patentes inferiores com as superiores é a tática e a estratégia

O ativismo das patentes inferiores e o perigo da perda da hierarquia nas forças armadas, por Rogério Maestri

Por mais que os oficiais de nível superior, acima dos coronéis, tenham simpatia por sistemas autoritários há claramente um motivo que impede ao comando das Forças Armadas em aderir ao golpismo de Bolsonaro, é o ativismo nas patentes inferiores.
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Bolsonaro não passou de tenente, chegou a capitão com a sua reforma, logo ele não partilha da mesma “mesa” dos comandantes, ou seja, como tenente ele é um quadro bem inferior em questão até de conhecimentos de Estado Maior, se ele tivesse chagado pelo menos ao grau de coronel teria um pouco de interlocução nos quadros superiores, porém chegou ao máximo como um quadro operativo de extrema-direita de um setor que se tornou marginal durante o governo Geisel e para os velhinhos dos clubes militares que serviam este setor marginal ele ainda tem um pouco de credibilidade, porém tanto para os setores mais alinhados ao nacional-desenvolvimentismo da época e para setores mais profissionais posteriores, Bolsonaro é lembrado como um insubmisso que por pouco não foi expulso do exército num processo sobre ações terroristas.
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Depois de afastado do exército, Bolsonaro virou um sindicalista das patentes inferiores, mas quando chegou ao poder deu um pé na bunda dessas patentes e perdeu parte do protagonismo nesse nível de comando das forças armadas, que iriam de cabos até capitães. Ou seja, a animação nos quadros inferiores com Bolsonaro perdeu em muito com seu desempenho como chefe do poder executivo.
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A medida que a epidemia chega à realidade das famílias das patentes inferiores, que são muitas delas provenientes das classes inferiores da sociedade e sentirão na carne os efeitos de inação do governo federal atual a base tanto nas forças armadas como nas polícias militares começarão a ser completamente comprometidas.
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Agora vem o mais importante para o comando das forças armadas, um golpe nesse momento ressuscitaria o ânimo golpista dos quadros inferiores, que colocariam em cheque o quadro de comando, ou seja, a mesma insubmissão característica da carreira militar de Bolsonaro, de um primarismo e um oportunismo surpreendente, corroeria toda a cadeia de comando dessas forças em que a insubmissão é o maior perigo até para garantir a estrutura como ela é moldada há milênios, ou seja, o general valerá menos que um capitão ou mesmo que um sargento.
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O medo da insubmissão é clássico em todas as forças armadas em qualquer país do mundo e em qualquer época, não podemos esquecer que quadros superiores em situações tensas de guerra não carregam fuzis nem metralhadoras, mas sim pistolas e revólveres para garantir a segurança não só contra o inimigo. Ou seja, a quebra da estrutura de comando põe em risco não só a estrutura das forças armadas, mas também a vida dos comandantes pois processos revolucionários e golpistas todos podem saber como começam, mas poucos sabem como terminam.
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Outro problema clássico que diferencia as patentes inferiores com as superiores é a tática e a estratégia, as primeiras têm que dominar as primeiras e as segundas devem denominar as táticas, mas necessitam e são treinados para as ações estratégicas. .
Passando para um exemplo clássico que visualizamos nos dias de hoje quando um dos zero alguma coisa dizem que para dominar o STF é necessário somente um soldado e um sargento, isso é simplesmente uma ação tática, pois para dominar 11 velhinhos desarmados é realmente necessário somente um soldado e um sargento, entretanto o poder do STF, assim como o poder de um estado maior de uma força militar não pode ser derrubado por meia dúzia de soldados, um ou dois suboficiais e um oficial de menor patente, salvo que sejam esse trucidados numa chacina (é como pensam os quadros inferiores e essa forma de pensar é que preocupa os estados maiores) os mecanismos de proteção aos estados maiores é composto de várias camadas, assim como os mecanismos de proteção do STF e dos legislativos, e essas várias camadas estabelecidas por estratégias de comando que impedem o uso de meras táticas primitivas que são de domínio dos escalões mais baixos das estruturas militares.
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Se estivéssemos com a mesma estrutura das polícias militares de 1964, que eram preparadas para ações estratégicas para defenderem os governos estaduais de golpes de forças rivais, essas polícias militares, que eram num passado recente extremamente ligadas ao bolsonarismo, algo que está se perdendo com uma velocidade espantosa devido ao descontrole daquele que poderia ser o comandante, mas está se revelando um grande imbecil, por esse dois motivos, a falta de uma cultura militar de estado maior nas polícias militares e o total descrédito a capacidade de comando do atual ocupante da cadeira da presidência da república, que está se simplesmente destroçando a credibilidade do comandante geral nos melhores dos comandos das polícias militares, tranca por completo o uso articulado e geral das polícias militares como uma tropa militar para substituir o próprio exército.
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O último parágrafo pode explicar outro problema que impede os comandos das polícias militares em agir dentro de um quadro golpista, primeiro é que os comandos das diversas polícias e a própria remuneração das mesmas não é único. Além disso não haveria uma unidade dessas polícias pois não há um grau de iteração necessária para definir o mais importante numa estrutura militar, a linha de comando. Ou seja, se tivéssemos uma tentativa de união entre três polícias militares para promover um golpe, existiriam no mínimo uns nove pretendentes ao cargo de comandante em chefe nessa bagunça que causaria essa tentativa de tomada de poder.
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Somente um comandante de uma unidade militar forte, como foi em 1964 poderia se lançar ao golpe, porém mesmo naquele ano, apesar de haver toda uma trama estratégica bem montada, em que contavam até com apoio de forçar militares exteriores (Operação Brother Sam), a intempestividade de um dos generais conspiradores o General Olimpo Mourão Filho, lhe custou caro, foi punido com uma promoção para cima, passando a ser ministro do STM pouco meses depois do golpe, ou seja, perdendo o comando de qualquer tropa.
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O planejamento estratégico de um golpe para a tomada do poder, é algo que não se improvisa e não é dizendo palavrões que assumiu o poder, ou mesmo com a humilhando generais que participam ou participaram do atual governo é que se monta um golpe, são necessárias várias etapas de logística que devem ser pensadas a priori e o que não se tem nesse governo é exatamente algo que possa se dizer que é pensamento estratégico, é mais uma espécie de opa-opa de carregadores de armários ou outras coisas pesadas, que servem para levar pianos, mas não para montar a casa.

Redação

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