O combate ao PT, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Me parece evidente que Moro não combateu os defeitos e sim as virtudes do PT. Lula e Dilma Rousseff fizeram o Brasil crescer distribuindo renda.

O combate ao PT

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Finalmente Sérgio Moro confessou publicamente que a missão da Lava Jato não era restabelecer a moralidade administrativa e sim combater o Partido dos Trabalhadores. As implicações dessa afirmação são muitas.

Após admitir que agiu de maneira parcial impelido pelo seu ódio contra Lula, Moro não poderá mais questionar publicamente os fundamentos da decisão do STF que o considerou suspeito para julgar o caso do Triplex. Ele forneceu prova de que deliberadamente usou o cargo de juiz para prejudicar seu inimigo político. Esse mesmo ódio também havia ficado evidente quando ele grampeou e liberou o áudio para interferir no campo político de maneira a facilitar o Impeachment de Dilma Rousseff.

Todas as pessoas que sofreram prejuízos financeiros por causa da Lava Jato ou em consequência direta da instabilidade política e econômica criada pela farsa do Impeachment podem devem processar Sérgio Moro por danos materiais. Ele também responderá pelos danos morais que causou às vítimas das perseguições políticas que promoveu como juiz da 13ª Vara Federal da Justiça Federal. A possibilidade dele responder criminalmente por seus atos não deve ser imediatamente descartada.

Do ponto de vista eleitoral, me parece evidente que Sérgio Moro entregou sua estratégia. Ele se apresenta ao púbico como o anti-Lula. Ruim como juiz, Moro é um enxadrista político medíocre. Ele foi incapaz de perceber que não pode mais surfar na Lava Jato. A próxima eleição não será decidida pelo discurso que o possibilitou destroçar o país e sim pelo estrago que Bolsonaro está causando à economia real do país e à imagem do Brasil no exterior.

Moro perdeu o “timing”. Na eleição anterior ele provavelmente seria eleito. Na próxima esse criminoso confesso será apenas humilhado nas urnas, pois a disputa será decidida entre o bolsonarismo e o anti-bolsonarismo. Não por acaso, Carlos Bolsonaro já está tentando colar artificialmente a imagem de Moro à de Lula. Ironicamente, o ex-presidente petista não precisará se esforçar muito para ligar Sérgio Moro ao mito. Ambos representam o mesmo fenômeno: o ódio à soberania popular e o desprezo pela população brasileira.

Todos seres humanos têm direito a um julgamento imparcial. Essa provavelmente será a decisão da Comitê de Direitos Humanos da ONU no processo promovido por Lula contra o Brasil em decorrência da parcialidade da Lava Jato. É evidente que o discurso do prolator da sentença do Triplex certamente será utilizado como prova lícita naquele caso. Portanto, ao admitir que erra apenas um inimigo político do PT, Sérgio Moro fortaleceu a imagem de Lula dentro e fora do nosso país.

No período em que foi governado pelo Partido dos Trabalhadores o Brasil conseguiu chegar à posição de 5ª maior economia do planeta. Em decorrência da instabilidade criada pela Lava Jato e do desgoverno atual, o Brasil caiu para a 13ª posição. Nenhuma recuperação econômica será possível dentro dos marcos neoliberais impostos à força ao país pelo usurpador Michel Temer e mantidos por Jair Bolsonaro.

Me parece evidente que Moro não combateu os defeitos e sim as virtudes do PT. Lula e Dilma Rousseff fizeram o Brasil crescer distribuindo renda. Ambos aumentaram a oferta de vagas nas universidades públicas e facilitaram o acesso das pessoas pobres às universidades privadas. Ao ampliar o financiamento da pesquisa científica o PT começou a preparar o terreno para o futuro desenvolvimento do nosso país. Infelizmente esse projeto foi abruta e criminosamente interrompido pelo lavajatismo político, midiático e judiciário. Todavia, se as pessoas certas forem colocadas nas posições de comando o Brasil poderá rapidamente recuperar tudo aquilo que Bolsonaro tentou destruir.

Moro apostou todas suas fichas na supervalorização eleitoral de sua carreira no Judiciário. Ele será apoiado por uma parcela da imprensa. Mas não me parece plausível acreditar que os barões da mídia construirão qualquer unidade de ação em torno do nome dele. Em São Paulo, a mídia apoiará Doria Jr. Bolsonaro também receberá algum apoio midiático. Os banqueiros não apostarão todas suas fichas num candidato presidencial despreparado, desconhecido e desmiolado a ponto de admitir publicamente que nunca foi um juiz imparcial.

O legado do PT é maior e mais duradouro do que o suposto legado da Lava Jato. Todavia, ninguém deve ficar surpreso de Deltan Dellagnol conseguir se eleger deputado federal. Ao contrário de Sérgio Moro o ambicioso ex-procurador federal parece ser capaz de avaliar realisticamente suas chances eleitorais. Além disso, Dellagnol pode contar com os votos de um curral eleitoral evangélico.

A presença de um general no TSE é um complicador. Mas o PT também terá que prestar atenção às ligações políticas perigosas mantidas pelos donos de algumas empresas de informática que prestarão serviços à Justiça Eleitoral.

Bolsonaro será vítima de sua bestialidade. Nos últimos três anos ele reduziu muito seu potencial eleitoral. Doria Jr. disputará os votos de Bolsonaro e de Sérgio Moro. Na próxima eleição, em relação à disputa da presidência da república, os evangélicos provavelmente estarão mais divididos do que estiveram em 2018. Não gosto de fazer previsões eleitorais, mas tenho a vívida impressão de que em 2022 a quantidade de abstenções será menor do que foi nas últimas eleições presidenciais.

Não é factível acreditar que as Fake News deixarão de ser impulsionadas no Facebook, Twitter, WhatsApp etc… Não creio, entretanto, que elas conseguirão ter o mesmo efeito eleitoral que tiveram no passado. O tamanho de Lula na internet sempre foi maior do que o de Fernando Haddad. Algumas das estratégias sujas de comunicação empregadas por Jair Bolsonaro em 2018 já são conhecidas e começaram a ser reprimidas pelo Judiciário.

O espaço para os robôs mentirosos conquistarem os corações e as mentes dos eleitores será inversamente proporcional à fome e ao desespero causados pelo desemprego. Bolsonaro escolheu cuidar bem apenas dos policiais e dos militares. Mas ele esqueceu que os pobres famintos condenados a comer restos odeiam a polícia e desprezam esse exército comandado por generais elitistas que se empanturram de caviar e de carne de primeira.

IA significa Inteligência Artificial. Mas na próxima eleição brasileira IA também poderá significar Imbecilidade Artificial. A realidade cotidiana se imporá como fenômeno eleitoral mais importante em 2022. Portanto, não importa quanto dinheiro será gasto nas campanhas ou quais recursos tecnológicos os candidatos à presidência da república utilização. No contexto atual, quem realmente tem o povo no coração ou que já está no coração da maioria da população tem muito mais chance de chegar ao poder.

Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Redação

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