Gilberto Maringoni
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
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O governo caminha para um não-lugar?, por Gilberto Maringoni

Lula reclama que os movimentos sociais não se mobilizam em favor do governo. Mobilizar em defesa do quê, mesmo?

Ricardo Stuckert

O governo caminha para um não-lugar?

por Gilberto Maringoni

ELON MUSK ATÉ AQUI VENCE A BATALHA POLÍTICA. O governo, mais uma vez, recua diante de quem lhe exiba algum poder. Estamos diante de uma ofensiva internacional, cujos sinais têm pelo menos quatro anos. Quem mantém os brios nacionais e democráticos é o ministro Alexandre de Morais, que não é formalmente um dirigente político. O titular da Secom, Paulo Pimenta, depois de ensaiar falar grosso, dá cinco passos atrás e afirma não existirem planos para que o governo rompa contratos com a Starlink na Amazônia. Autoridades seguem com suas contas no X, como se nada tivesse acontecido, e a publicidade oficial se espalha pela plataforma. Pimenta não age: fala como se fosse ombudsman do governo.

EM POLÍTICA MUITAS VEZES É PRECISO RECUAR, reorganizar tropas para retomar a ofensiva. É a velha história de dois passos atrás e um adiante, de que nos falava um antigo sábio oriental. Aqui, não. Depois de um passo atrás vem outro, e mais outros, achando que com isso se pacifica o país e retoma-se o diálogo com quem planeja a sua destruição.

A GESTÃO PARECE NÃO TER COMANDO, tática ou estratégia para um combate de fôlego (O bolsonarismo tem direção centralizada e articulações além-fronteiras. Jogo de cachorro grande). Não deveria ser assim. Aliás, havia tudo para não ser assim. Há quarenta dias, qual era o mote na torcida lulista? O de que 28 oficiais militares eram investigados pela Polícia Federal e que Bolsonaro estava com um pé na cadeia, depois de ter o passaporte apreendido. Diante da pressão, a extrema-direita resolveu jogar alto e convocou as massas para a Paulista. Se não virou o jogo a seu favor, recobrou a ofensiva diante de um governo que se esmera em propagar a pequena política, em se autoelogiar a todo momento e em não exibir formulação política alguma.

O PASSO SEGUINTE FOI O VERGONHOSO recuo diante dos 60 anos do golpe de 1964. Ninguém explicou ao certo os motivos. Poderiam invocar Jânio Quadros a bradar que “forças ocultas” estariam por trás de tudo. Depois de transigirem com a democracia, como demonstrar altivez diante da sociedade?

LULA É NOSSA ÚLTIMA BARREIRA DIANTE DO FASCISMO. Sem Lula estaríamos muito pior. Tudo é verdade, mas não pode ser um mantra para o conformismo. O problema é que o governo recua diante de Musk, dos militares, da Faria Lima, da Globo, das fundações empresariais no MEC e não dá sinais de se colocar ao lado de sua base social.

NO MEIO DISSO TUDO, seguem as juras de fidelidade aos mercados pelo déficit zero e pela redução dos pisos em saúde e educação. Lula reclama que os movimentos sociais não se mobilizam em favor do governo. Mobilizar em defesa do quê, mesmo? Sem fazer assentamentos de reforma agrária, com reajuste zero aos servidores, com um PL da Uber que precariza ainda mais o mundo do trabalho fica meio difícil.

AO COLOCAR TODO O GOVERNO para funcionar na lógica do ajuste fiscal, gastar se torna um problema. O investimento viria pelas mãos da iniciativa privada, repete um Fernando Haddad que até aqui não explicou em que tempo ou lugar da História isso aconteceu.

NESSA TOADA, ACOSSADO PELA EXTREMA-DIREITA, fustigado pelo centrão e atacando sua base social, o governo pode ocupar um não-lugar na disputa política, sabotado pelos de cima e não merecendo confiança de parte dos de baixo. Vamos combinar: a direita tolera Lula por ele ter vencido as eleições e por exibir alta legitimidade popular. Mas a queda nas pesquisas é visível e o fiasco eleitoral nas principais cidades em outubro podem colocar em perigo a blindagem que ainda caracteriza a administração federal. A chamada grande mídia já manipula cartuchos de supostas denúncias de corrupção aqui e ali.

OS PROBLEMAS NÃO VÊM DO FATO de termos uma gestão de frente ampla. Até aqui, Alckmin, Tebet ou o STF não colocaram empecilhos de monta na condução dos negócios públicos. A crise na Petrobrás se dá exclusivamente entre membros do PT – Prates, Costa, Mercadante e Haddad – e as artes e partes da condução econômica repousam nas mãos do partido.

REPETINDO: SORTE TERMOS LULA. É preciso apoiar seu governo resolutamente, pois do outro lado está o fascismo. Mas o poder Executivo precisa sair de seu administrativismo burocrático e de sua pusilanimidade preocupante e vir para a luta política. O não-lugar na política é o abismo.

Gilberto Maringoni de Oliveira é jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

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Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

3 Comentários

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  1. Tem muito caroço no angu Petrobras.
    O que corre são interesses de bilionários em grandes investimentos na energia verde por parte do governo fora do âmbito da Petrobras. Enorme negociata apoiada pelo ministro e pau no Prates
    Grandes investimentos públicos, pequenos particulares, grande controle particular e pouca/nenhuma ingerência pública.
    O céu dos interesses privados, vide Enel, Eletrobrás, etc, etc.
    No apoio de notório grupo das comunicações sociais mais interessado nos dividendos, dos quais sobrevive, do que na estabilidade e avanço da empresa pública
    O Brasil é tudo de bom para o “capitalismo público”:
    – Petrobras não pode decidir onde investir, é “ingerência” do controlador, um absurdo;
    – Enel é devagar quase parando na recuperação de desastres: falta de controle de órgãos públicos, os controladores particulares “não existem”.
    No centro de tudo a farsa do déficit orçamentário:
    – 40 % do orçamento federal vai para o pequeno grupo de bilionários e adjacências sem controle algum, risco zero e ganho muito acima da inflação
    – as verbas sociais não podem “gerar” deficit . . .

  2. Realidade é onde a gente passa os dias.

    Venceu por pequena margem.

    Teve de compor um governo.

    Tem de “lidar” com FFAA com alguns oficiais ainda hostis , mesmo que subordinados.

    Tem um Congresso em minoria.

    Enfrenta o pior cenário mundial desde 1945.

    Eu mesmo não faria pior …

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