O ofício de Bolsonaro é atacar o legado nacional-popular de Getúlio Vargas, por Roberto Bitencourt da Silva

A extrema direita de Bolsonaro não respeita nada que seja pertinente à cultura e ao patrimônio material e intangível brasileiro.

Alan Santos – PR

O ofício de Bolsonaro é atacar o legado nacional-popular de Getúlio Vargas

por Roberto Bitencourt da Silva

Jair Bolsonaro e a poderosa escória antinacional que o apoia detestam tudo que seja brasileiro. Sustentado pelo condomínio doméstico e internacional das classes dominantes, o deplorável e reacionário presidente tem agido para destruir absolutamente tudo que foi construído pelo povo brasileiro, sobretudo as heranças dos períodos dos governos de Getúlio Vargas.

O ultraliberalismo vende pátria, promovido por Bolsonaro na esteira do golpismo de Michel Temer, descaradamente entrega a Petrobras para o capital estrangeiro, desmontando a integração do complexo petroquímico da nossa antiga estatal e encarecendo os preços dos combustíveis ao consumidor nacional.

Uma consequência de tal pernicioso entreguismo tem sido, nos últimos anos, os números persistentes na balança comercial, em que a economia do Brasil apresenta como um dos principais itens de exportação o petróleo bruto. Na pauta dos bens importados o óleo processado industrialmente, ou seja, o óleo refinado ganha muito destaque.

Uma iniciativa neocolonial, que desprestigia o necessário domínio nacional dos excedentes e da tecnologia, primando pela desacumulação da nossa economia. Trata-se de exemplo do acentuado processo de desindustrialização do país, estimulado por um desastroso governo que prioriza o setor primário-exportador – entendendo como produtos “fundamentais” a melancia, o melão etc., conforme registrou tempos atrás a diplomacia brasileira, em documento que resumia um celebrado acordo de livre comércio Mercosul/União Europeia.

Seguindo esse tipo de investida lesiva aos interesses patrióticos, o governo Bolsonaro não somente privatiza como intensifica a desnacionalização da Eletrobras, uma outra joia da infraestrutura brasileira, ardentemente defendida por Vargas, mas que só conseguiu ser criada no governo do seu discípulo igualmente trabalhista, o presidente João Goulart.

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Bolsonaro tem sucessivamente destruído as garantias legais trabalhistas, suprimindo 13º salário e férias, para certos segmentos mais jovens da classe trabalhadora. Ademais, demoniza os sindicatos como entidades representativas dos trabalhadores. Ele tem lançado sal na terra do mundo do trabalho, ao adotar e propor uma série de medidas de governo que retiram proteções do proletariado, assim como minam a capacidade corporativa financeira e organizacional, via, por exemplo, a suspensão da contribuição sindical em folha salarial.

O alvo de Bolsonaro e dos ultraliberais entreguistas que lhes dá sustentação é anular a capacidade de expressão dos trabalhadores, que em elevada medida só podem ter as suas vozes audíveis na cena pública por meio de entidades coletivas sindicais.

Criar comportamentos gregários e valores pautados pela solidariedade, forjando laços de identificação no mundo do trabalho (identidades senão de classe, ao menos corporativas), consistiu no propósito maior das leis sindicais e do trabalho, erguidas entre os anos 1930 e 1940, de acordo com um dos principais consultores do então Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, o sociólogo e jurista Oliveira Vianna. Numa evidente contramão, a atual extrema direita e, de resto, o conservadorismo liberal tupiniquim, almeja fomentar o atomismo e a completa debilidade dos trabalhadores perante o capital e as oligarquias políticas tradicionais.

Esses são alguns casos de direitos populares e de conquistas nacionais erguidas durante os governos Vargas, que se encontravam e permanecem encontrando-se no horizonte destrutivo das burguesias domésticas e gringas, assim como das oligarquias conservadoras: “Dar um fim à era Vargas”, tal como propôs FHC, décadas atrás, tem sido o mote de políticos sicários do imperialismo e das burguesias. Bolsonaro assim tem agido como mais um modelo.   

Nesse sentido, desprovido de qualquer princípio ético, o sombrio presidente dirigiu-se à basílica de Aparecida do Norte (SP), em pleno consagrado feriado religioso nacional, para satisfazer as suas torpes ambições eleitorais. Como do seu feitio, criou tumultos e hostilidades por intermédio dos seus abjetos adeptos que se portaram como arruaceiros alcoolizados.

A extrema direita de Bolsonaro não respeita nada que seja pertinente à cultura e ao patrimônio material e intangível brasileiro. Agem, na verdade, desprezando e visando desmontar a um e a outro. De resto, não gratuitamente, a Padroeira do Brasil é preta e foi reconhecida precisa e oficialmente pelo ex-presidente Getúlio Vargas.

As experiências de governo getulista alcançaram tamanha relevância que chegaram a ser consideradas à época fontes primordiais para um “redescobrimento do Brasil”. Isto é, a busca pelo resgate e a valorização das especificidades culturais e pela criação engenhosa de respostas às singulares necessidades e aos desafios do país.

Por sua vez, Bolsonaro e a sua trupe inimiga do Brasil, tem como propósito maior descontruir a nacionalidade e erodir a integração cultural e econômica do país, para melhor e mais docilmente subjugar-nos ao capitalismo internacional. Trata-se de um governo antinacional de ocupação estrangeira, dirigido por brasileiros que depreciam a brasilidade e ferem os nossos mais altos interesses. Precisa ser defenestrado o quanto antes.  

Roberto Bitencourt da Silva – cientista político e historiador.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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