Um golpe anunciado
por Francisco Celso Calmon
Os Estados Unidos se igualaram as piores republiquetas. Aplicaram internamente táticas que costumam orientar e assessorar a aplicação em países que contrariam ou coloquem em risco os seus interesses geopolíticos.
As imagens de seus símbolos democráticos violentados percorreram mundo e foram recebidas com espanto e indignação.
Doravante não terão moral em se postarem como modelo de democracia.
Ocorre que o mau exemplo será seguido se as forças democráticas do Brasil não se anteciparem e desarmarem a bomba-relógio do bolsonarismo.
A direita conservadora e golpista do Brasil, em regra, emite prenúncios de plano golpista, entretanto, o espírito democrático e a ingenuidade na crença da conciliação de classes fazem com que a esquerda perceba tardiamente o significado desses sinais.
Em 64 as evidências do golpe em curso foram muitas, mas o presidente, seu governo e parte da esquerda, no qual havia traíras, não quiseram acreditar. Resultado foi a instalação de uma ditadura de 21 anos, que custou muito às gerações que a combateram. Vale lembrar alguns números: meio milhão de brasileiros, numa população de noventa milhões, foi colocado sob suspeição, 200 mil investigados, vinte mil, incluindo indígenas e camponeses, mortos, mais de 12 mil torturados, inclusive 95 menores de idade, dez mil exilados e alguns banidos.
Quando Aécio Neves, derrotado pela Dilma Rousseff, se insurgiu, com seu partido e aliados, ao resultado do pleito, inclusive acusando-o de fraude, não comprovada, e persistiu numa postura não republicana e civilizada de fazer política, estava dado o sinal de que haveria um processo golpista.
Quando o vice-presidente, Michael Temer, após discurso no qual afirmava que a nação precisava de alguém que a unisse, portanto, descartando a presidenta, e partiu em viagens pelo Brasil, articulando, à luz do dia, com os governadores, o presságio do golpe estava feito. Entretanto, o governo, sua base e as forças de esquerda ficaram assistindo.
Desta feita, porém, não são sinais, são declarações inequívocas!
O projeto golpista do Bolsonaro chega a ser cristalino. Já externou cabalmente: a eleição “só será válida, sem fraude, se eu for o eleito”. “Eu vejo minha aprovação nas ruas, e não em pesquisas, nessa mídia mentirosa ou em urnas fraudáveis”. “Se não houver comprovante de voto, é prova de fraude”, “não aceitarei”.
As semelhanças de narrativas entre o trumpismo e o bolsonarismo são tantas que evidenciam uma mesma matriz formuladora e orientadora.
O Estado policial bolsonarista, conta com as milícias, com parcelas das polícias – federal, civil, militar – dos bombeiros, guardas municipais, com a maioria das baixas patentes das FAs, e, provavelmente com a minoria (?) das patentes superiores.
Conta ainda com os serviços de inteligência, institucional e particular, parte do Judiciário, do MP, e segmentos sociais nazifascistas, como a maioria dos caminhoneiros, etc.
As instituições, como disse Lula em relação ao STF, lá atrás, bem antes de ser aprisionado ilegalmente, e eu generalizo, estão acovardadas. Podemos esperar delas um plano corajoso e fidedigno à Constituição, na defesa da democracia aviltada e com hora marcada para dar lugar a uma ditadura aberta?
A mídia oligopolizada começou a dar tímidos sinais de que vai engrossar as fileiras do impeachment. Mas não é confiável, lembremos de 2013.
A história ensina uma vez mais, que, se não quisermos que haja um “pacto” em nome do povo sem o povo, as forças democráticas de esquerda têm que assumir o protagonismo e fomentar no povo a organização e a motivação para marchar em cordões decididos para defender e restaurar a democracia popular.
A Frente de esquerda deve ser organizada imediatamente para planejar o Impeachment já.
Desarmar a bomba-relógio bolsonarista requer plano e projeto. Se ele tiver que estrebuchar, que seja no processo do impedimento e não em 22.
Se o golpista presidente não for apeado do poder o quanto antes, o golpe anunciado será concretizado e não haverá como o tirar pela via eleitoral.
A história não pode se repetir, o Brasil e o nosso povo não merecem. É preciso ir além de resistir, é essencial enfrentar e vencer o prelúdio do golpe, em nome da história, pela história e para o bem da nação brasileira.
Francisco Celso Calmon, ex-combatente da ditadura militar, membro da coordenação do canal pororoca (antigo resistência carbonária).
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Excelente análise!