Gás envenenado: um plano para tirar o gás da Petrobras, por André Motta Araújo

A Petrobras deve ser defendida não apenas porque é uma riqueza do país construída por gerações de cidadã/os que devotaram sua vida profissional ao interesse público do que quer que sejamos agora – país, província, colônia, bananal, terra arrasada, Brazyl.
E principalmente para que seja submetida ao controle cidadão a sua desativação rumo ao projeto de energia sustentável, afinal, conforme estudos sérios de cientistas confiáveis, o mundo tem menos de 12 anos para reduzir suas emissões de gases responsáveis pelo aquecimento global, o que só poderá ser feito com a manutenção dos combustíveis fósseis no seu lugar de origem, nas profundezas da Terra.
Num momento de transformação civilizacional como este que estamos passando – e que no Brasil NINGUÉM ESTÁ FALANDO NADA A RESPEITO fora das bolhas particulares -, sente-se a falta de pessoas públicas de visão e responsabilidade com o país, com a humanidade e com a Vida, como Celso Furtado.
O Brasil é digno de inveja por países desenvolvidos porque tem todos os elementos que lhes faltam para enfrentar com êxito, e se tornar uma liderança mundial útil, essa transformação: um país enorme com terras agricultáveis, muito sol, água, vento, uma população avessa a conflitos bélicos institucionais – nossos índices de violência não permitem dizer que somos um povo pacífico… -, e que já mostrou em pouco mais de 10 anos do que é capaz se seguir diretrizes bem estabelecidas, COM VISÃO DE FUTURO.
Precisamos de reforma agrária como um ato reparação histórica com povos originários, com os descendentes de africanos escravizados, os quilombolas, e com a imensa massa de brasileiros miscigenados que foram expulsos do campo por latifundiários herdeiros das capitanias hereditárias. E muitos que querem viver disso.
A ativista e pesquisadora indiana Vandana Shiva tem trabalhos na Índia que asseguram que a agricultura orgânica, com a priorização do conhecimento dos campesinos, é mais saudável, mais rentável em termos de quantidade e, portanto, explorabilidade econômica, e com capacidade para alimentar um mundo que pode ultrapassar os 10 bilhões de pessoas. Mas para isso precisam de terra, de apoio tecnológico, de respeito social, de cidadania. E para a mudança alimentar da humanidade, para vegetarianismo/veganismo, não só por saúde, mas por bem-estar animal e para combater o papel da pecuária na mudança climática).
Pois aqui fazemos o contrário: permitimos que uma meia dúzia de grileiros fdp fiquem com a terra que pertence a todos – e ainda dizem que eles que alimentam o país quando se sabe que exploram os pequenos agricultores e pecuaristas -, envenenem a água, quando não a privatizam para fdp como Nestlé e Coca-Cola, o ar com a queima de combustíveis fósseis e com o uso indiscriminado de agrotóxicos que matam espécies fundamentais para a manutenção de um ecossistema sadio, e as relações sociais com a criminalização da luta pelo direito à terra – da última vez que li a Constituição de 1988, estava garantido. E o petróleo que é extraído para poluir e cozinhar o planeta, com combustíveis fósseis e plástico, por exemplo, é o responsável por violências e guerras por todo o mundo, uma ameaça para a verdadeira experiência de democracia e para a paz mundial.
A escolha é simples: defender o petróleo que era para nos dar uma poupança para o futuro e nos deu o Golpe, e está matando o planeta, ou explorar o que o país tem de bom e que, com bons economistas e planejadores públicos, além de todo o conhecimento acumulado pelo povo, pode nos dar, finalmente, uma economia estável e um futuro autônomo como sociedade e decente como espécie?
Países como Alemanha, os nórdicos e a China já têm planos alternativos e altos investimos em energia renovável, e estão explorando o petróleo (se não o têm, exploram a “economia do petróleo”, que inclui a especulação financeira e política, como na Venezuela) enquanto podem porque sabem – sim, sabem, é conhecimento científico e tecnológico, não é só papo de bicho grilo – que ele não pode durar mais tempo – mas como são capitalistas fdp, querem sugar até a última gota, e o planeta e as pessoas que se ferrem, afinal, são poucos os políticos que se importam e não foram comprados pelas corporações.
Podemos ser nacionalistas e desenvolvimentistas, mas isso não significa sermos burros.
E defender a Petrobras com a visão de sua criação, como se fosse o nosso futuro, é escolher a ignorância e o genocídio planetário.
Há quanto tempo a humanidade – digo, as sociedades capitalistas – depende(m) do petróleo?
Sejamos criativos e ousados. Por que não? Será que somos tão subdesenvolvidos que iremos trocar a sobrevivência pela exploração de uma coisa que só dá lucro para poucos – e mesmo que fosse para muitos, o custo-benefício não compensa -, é pretexto para guerras e tanto sofrimento – já imaginaram toda a energia humana, política e social, gasta na crise da Venezuela, sendo usada para ajudar o país a fazer sua transição para uma economia agroecológica? -. se temos a faca e o queijo, digo, os elementos dos gregos antigos – terra, água, ar – para sermos prósperos, solidários, pacíficos e sadios?
Cara, a humanidade está jogando sua sobrevivência por arrogância e visão estreita e vai perder, já está perdendo faz tempo.
Rogo a Deus – (ler com sotaque carioca – que fez um paraíso e se empolgou, criou um bonequinho Frankenstein com cérebro para cuidar do Jardim das Delícias, foi dar um passeio para descansar e quando voltar, vai ver que o bonequinho ficou alucinado de cheirar gasolina, drogadaço, e numa egotrip sinistra, resolveu estragar tudo, botar fogo em tudo, literalmente, vai ficar muito triste e mandar todo mundo pro inferno, ou seja, viver eternamente numa terra em apocalipse, rs (desculpe, vou rir porque a espécie humana não merece respeito, exceto alguns exemplares) – que nos dê mais uma chance: Juventude e Velhitude do mundo, os que ainda têm coração, uni-vos (unamo-nos, tô dentro!), e vamos brigar pelo nosso direito de viver em paz – o que hoje significa sem exploração de petróleo.
KEEP IT IN THE GROUND! (Mantenha-o no chão!).

Sampa/SP, 02/05/2019 – 20:53