Aepet: Esclarecendo os esclarecimentos da Petrobras sobre os resultados do 1º semestre de 2018

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobras

Esclarecendo os esclarecimentos da Petrobrás sobre os resultados do 1º semestre de 2018

No dia 6 de agosto de 2018, a diretoria da Petrobrás enviou mensagem aos petroleiros sobre os resultados semestrais da companhia.

Nossa Associação avalia as informações e interpretações apresentadas.

A seguir comentamos trechos referentes ao desempenho empresarial no semestre.

“Atingimos o lucro líquido de R$ 17 bilhões no primeiro semestre, dos quais, R$ 10 bilhões no segundo trimestre, ambos os maiores desde 2011. Sim, a alta das cotações internacionais do petróleo ajudou, mas não explica tudo. Muito se deve aos nossos esforços. Tanto é que, naquele ano, o barril de petróleo estava acima de US$ 100 e o nosso fluxo de caixa, que está positivo há 13 trimestres, era negativo. “

O preço médio do petróleo no primeiro semestre de 2011 foi de US$ 111,16 por barril, enquanto no primeiro semestre de 2018 foi de US$ 63,07. Ocorre que o preço do barril não pode ser utilizado como referência isoladamente, sem considerar a taxa cambial. A taxa média no primeiro semestre de 2011 foi de R$ 1,63, enquanto no primeiro semestre de 2018 foi de R$ 3,42 por dólar.

                                           1º semestre 2011      1º semestre 2018
Petróleo Brent (US$/bbl)                 111,16                      63,07
Cotação R$ / US$                               1,63                        3,42
Petróleo Brent (R$/bbl)                   181,19                     215,70

Portanto o preço do barril em reais em 2011 era de R$ 181,19 enquanto que em 2018 foi de R$ 215,70 – 19% superior. Sendo assim, as condições do 1º semestre de 2018 são mais favoráveis do que aquelas de 2011.

Não cabe, portanto, o autoelogio de apontar o maior lucro líquido desde 2011 como resultado das medidas adotadas pela atual gestão da companhia. Para se atribuir mérito, o resultado deveria ter sido melhor que o de 2011, já que as condições de preço assim permitiriam.

Com relação a afirmação de que “o nosso fluxo de caixa, que está positivo há 13 trimestres, era negativo (em 2011) ”. Quando falam em “fluxo de caixa”, os executivos estão tratando do “fluxo de caixa livre” que é calculado da seguinte forma:

Fluxo de caixa livre = Geração operacional de caixa – Investimentos

Sendo assim, quanto menor o investimento, maior será o fluxo de caixa livre. A tabela a seguir mostra o comparativo:

Em bilhões de US$                               1º semestre 2011             1º semestre 2018
Geração operacional de caixa                         18,40                              13,95
Investimento                                                20,20                                5,40
Fluxo de caixa livre                                        -1,80                                8,55

Em 2011, no primeiro semestre, a geração operacional de caixa somou US$ 18,40 bilhões. Vale salientar que esta foi a maior geração operacional de caixa semestral da história da companhia.

É preciso registrar que mesmo enquanto a Petrobrás subsidiava o consumidor brasileiro, ela obteve seu recorde de geração de caixa.

Ocorre que naquele semestre os investimentos somaram US$ 20,20 bilhões e, portanto, o caixa livre foi negativo em US$ 1,80 bilhões.

O investimento de US$ 5,40 bilhões, realizado no 1º semestre de 2018, é o menor investimento para o período desde 2005. Assim é muito fácil se obter caixa livre positivo.

O resultado comemorado pela atual administração, do fluxo de caixa livre positivo há 13 trimestres, é resultado da redução significativa dos investimentos e nada tem a ver com os “esforços” de gestão.

“Obtivemos a redução do nosso endividamento para o menor patamar desde 2012. A dívida bruta caiu para abaixo de US$ 100 bilhões, chegando a US$ 91,7 bilhões, enquanto a líquida caiu de US$ 100,4 bilhões para US$ 74 bilhões. Alongamos prazos, com nossa gestão de dívida. “

O alongamento dos prazos da dívida é um aspecto positivo, considerando as características dos projetos do setor de petróleo e gás cuja maturidade e retorno se dão em longo prazo, na ordem de dez anos.

A redução da dívida é consequência direta da redução dos investimentos, mas eles são imprescindíveis para o desenvolvimento dos projetos do pré-sal e na agregação de valor ao petróleo cru.

A redução dos investimentos associada à aceleração dos leilões de privatização do petróleo, e às chamadas “parcerias estratégicas”, transferem as oportunidades de acesso ao petróleo e à renda petroleira para as multinacionais, privadas e estatais, estrangeiras.

A Petrobrás poderia administrar facilmente sua dívida, sem privatizar ativos rentáveis ou entregar oportunidades do desenvolvimento do pré-sal para suas concorrentes. A capacidade de endividamento da Petrobrás está longe do limite, tendo em vista a quantidade e a qualidade dos projetos de investimento que a companhia dispõe, assim como por seu potencial de crescimento na produção e geração de caixa.

“Aumentamos a geração de caixa que – no conceito técnico de Ebitda ajustado, o que usamos na métrica de topo financeira – cresceu 26% em comparação ao primeiro semestre de 2017 para R$ 55,8 bilhões, deixando a nossa dívida líquida em 3,23 vezes a geração de caixa. “

A comemoração em função de que o Ebitda ajustado cresceu 26% em relação a 2017, alcançando R$ 55,8 bilhões, o equivalente a US$ 16,29 bilhões, precisa ser ponderada. Em 2011, em equivalente período semestral, o Ebitda ajustado foi de US$ 18,96 bilhões, recorde histórico e 16,4% superior ao resultado comemorado do 1º semestre de 2018.

“No entanto, não vamos nos iludir, nossa dívida continua alta e não podemos arrefecer. O marco de 2,5 para o fim deste ano não é nosso objetivo final. Temos que continuar trabalhando para reduzir nossa relação entre a dívida líquida e a geração de caixa para que possamos ficar mais competitivos perante outras companhias globais na nossa indústria, diminuir nossas despesas com juros e seguir com nossos investimentos. “

A escolha da alavancagem como indicador estratégico não é adequada para a Petrobrás, sua meta (2,5) e prazo (2018) são arbitrários e descabidos, assim como a declaração de que a alavancagem deve ser reduzida ainda mais.

O verdadeiro objetivo da atual gestão é a privatização, por partes, dos ativos rentáveis da Petrobrás. Sabemos que a escolha do indicador de alavancagem, seus objetivos e prazos são as consequências da meta de privatização e não o contrário.

Trata-se de uma falácia, de inversão de causa e efeito, que é repetida muitas vezes.

“Aumentamos nossa participação de mercado em relação a 2017 tanto no diesel quanto na gasolina. Melhoramos nossa eficiência logística com redução no custo unitário de descarregar navios e redução do número dessas embarcações de 73 para 54, sem perda de nível de serviço. “

Mais adequado seria dizer que houve recuperação do mercado perdido em decorrência da política de preços altos praticada pela Petrobrás, desde Parente, a partir de outubro de 2016.

O aumento da participação no mercado foi consequência da greve dos caminhoneiros e do programa federal de subvenção aos produtores e importadores de diesel que aumentou o risco, e reduziu a lucratividade potencial, da cadeia de importação do diesel.

A mudança da política de preços inaugurada por Parente seria benéfica para a Petrobrás, o consumidor e o governo brasileiro. A estatal teria melhores resultados pela recuperação do mercado, os consumidores teriam preços moderados e desvinculados da variação do petróleo e cambial e o governo não precisaria subvencionar a Petrobrás e os importadores. Basta que a estatal se livre da política de preços de Parente!

“Enfim, trabalhamos por uma Petrobrás segura e saudável! Segura para os nossos trabalhadores e operações e com as finanças saudáveis também. São bases para termos um futuro de crescimento sustentável, contribuindo, por nossos negócios, para a economia do país e a geração de empregos. “

Assinam a mensagem, Ivan, Eberaldo, Hugo, Jorge, Nelson, Rafael Gomes, Rafa Grisolia e Solange

Uma empresa para ser saudável e segura deve ser transparente, notadamente em relação aos seus resultados.

A condenação da Petrobrás no processo da Remuneração Mínima de Nível e Regime (RMNR), no Tribunal Superior do Trabalho (TST), exige provisionamento dos valores contingenciados que somam R$ 21 bilhões. Não provisionar sob a alegação da decisão liminar, de Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que obsta os efeitos do acórdão do TST é questionável e deveria ser muito bem justificado no balanço. Ainda sob a constatação de que a decisão liminar do Ministro Dias Tóffoli foi concedida no mês de julho, fora do período de fechamento do balancete, até junho.

Outro ponto relevante é a dívida, questionada na Justiça, da Petrobrás com a Petros. Estimada em R$ 15 bilhões, seria razoável que estivesse contingenciada, tanto como ativo da Petros, quanto como passivo da Petrobrás.

São aspectos relevantes que deveriam ser considerados como impeditivos para o adiantamento de pagamento dos dividendos aos acionistas, contabilizados na forma de juros sobre o capital próprio, que consideramos inadequados diante do montante dos passivos em disputa judicial.

* Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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