Argentina entrou em default seletivo
por Maira Vasconcelos
A Argentina entrou em “default seletivo”, e a renegociação dos títulos das dívidas se dará em um processo longo que recairá nas mãos do próximo governo (2019-2023). Assim, estaria praticamente decretado o fim da candidatura de Mauricio Macri, segundo o jornalista Marcelo Falak, editor-chefe de Internacionais do jornal de economia Ámbito Financiero e editor do site Letra P.
“A Argentina entrou no que se chama de default seletivo. Seletivo, porque se refere apenas a alguns títulos da dívida e não a todos. Não é um default geral porque envolve e afeta alguns investidores e não a todos”, explicou Falak. O “default” é a suspensão do pagamento da dívida, que, no caso da Argentina, aconteceu de modo parcial, por isso, dito “default seletivo”, e acompanhado de um plano de reestruturação do pagamento da dívida.
A renegociação da dívida foi anunciada ontem pelo governo, um dia particularmente convulsionado no país, que também teve uma marcha multitudinária e popular dos movimentos sociais, em Buenos Aires.
“Sobre o resto do universo da dívida com o FMI e os detentores privados dos bônus, pelo menos os de vencimento de médio prazo, se abre uma etapa de negociações, que não será fácil, frente às quais a Argentina está propondo condições iniciais muito amistosas, que implicam que não será recortado o capital dos bônus e tampouco modificadas as condições das taxas de juros”, explicou Falak, sobre parte da dívida argentina.
“Tudo depende da aceitação dessas condições por aqueles que detêm os títulos dos bônus. Assim, é aberto um processo largo que, seguramente, irá continuará no próximo governo”, disse Marcelo, que foi taxativo quanto às consequências políticas na campanha de Mauricio Macri, dadas as condições atuais da situação econômica do país.
“A meta de Mauricio Macri deve ser terminar o mandato no prazo previsto, dia 10 de dezembro, sem situações de comoção social ou maiores alterações políticas. Sua candidatura já se evaporou e o legado do seu mandato é muito deficitário”, conclui.
O protagonismo das ruas na Argentina
A última quarta-feira, 28 de agosto, pode ser considerado um dia bastante representativo do que é a Argentina política. Por duas razões: uma social e a outra econômica. Pela marcha multitudinária por segurança e urgência alimentar, um protesto popular e restrito a movimentos sociais de base, sem participação partidária, percorreu as principais avenidas da Capital e da Grande Buenos Aires. Por outro lado, o anúncio do governo Mauricio Macri de moratória da dívida argentina.
De um lado, os protestos de rua que caracterizam a expressão política do povo argentino, de outro, o país possui um histórico crônico de não cumprimento no pagamento de dívidas firmadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em um dia, aconteceram os dois movimentos, entre as ruas e os gabinetes institucionais do poder Executivo, um país em estado de alerta social e econômico às vésperas das eleições presidenciais de 27 de outubro.
“Desde que o Macri assumiu fomos levados à ruína. Se estávamos um pouco mal já com o governo anterior, o que o Macri fez foi aprofundar a entrega, o latifúndio, os ajustes. O único que fez foi criar mais pobres, mais fome e mais desemprego na Argentina”, criticou Carlos Fregenal, dirigente da Corrente Classista Combativa (CCC), participante da marcha.
Desde o resultado das eleições primárias, em 11 de agosto, as ruas portenhas reivindicam e expõem a crise da maxdesvalorização do peso. Com isso, os preços dos alimentos têm subido de imediato nas prateleiras dos supermercados. Desde então, o governo anuncia medidas econômicas para conter o mercado interno, como o pacote de medidas, logo no dia seguinte às primárias, que incluiu, entre outras ações, o aumento do salário mínimo, congelamento do preço da gasolina, bônus para algumas categorias de trabalhadores. Alguns desses anúncios ainda não foram oficializados.
Na Argentina vista a partir do último 28 de agosto, esse país que seguirá provavelmente instável até o resultado das eleições presidenciais, a palavra “default”, ou qual é o estado de “default” em que a Argentina entrou, não define o que é o país às vésperas do pleito. Os protestos de rua não deixam o país ser resumido a tudo o que gira em torno à palavra “default”, porque as suas ruas resistentes, sempre, exigem paridade de poder e protagonismo.
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Vendo daqui a sensação que tenho é que a Argentina está numa situação em que nao há alguma uma receita econômica que possa fazer o país crescer – ao contrário do Brasil em que não se aplica providências já testadas por decisão política de fazer daqui uma mistura de paraíso fiscal e mero vendedor de commodities. A Argentina tem inflação alta, moeda super desvalorizada, falta de dólares numa economia em que o dólar é muito usado no dia a dia, desindustrialização avançada e um empobrecimento assustador . Como sair duma situação dessa? Por onde começar? Não faço ideia.
Outro problema que se avizinha de nossos “hermanos” é que naquele país as pessoas físicas podem ter contas em dólares e estas contas em 27 dias perderam 9,9% dos seus depósitos, ou seja, os argentinos estão guardando dólares debaixo do colchão e isto reduz a quantidade de dólares do BC argentino. Como as reservas argentinas (contando com os dólares do FMI) nos mesmos 27 dias caíram de 67,67 bilhões de dólares para 56,95 bilhões, os depósitos particulares restantes de 29,33 bilhões, se sofrerem uma retirada significativa diminuem ainda mais as reservas.
Resumo da ópera: De default seletivo, tem tudo para em muito breve passar para default sem adjetivo.
O pior de tudo é que “após demissão, Cintra diz que CPMF dá ‘excelentes resultados’ na Argentina”.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/09/apos-demissao-cintra-diz-que-cpmf-da-excelentes-resultados-na-argentina.shtml