Bobagens sobre Lula, por Wilson Ramos Filho Xixo

O que quer que Lula venha dizer daqui em diante, alguns jornalistas vão se prestar a tentar minar sua credibilidade e autoridade

Foto: Francisco Proner Ramos

Bobagens sobre Lula

por Wilson Ramos Filho Xixo

Durante os próximos cinco meses o Lula dirá mais de cem bobagens. A cada dia os jornalistas escolherão algo que ele disse e transformarão sua frase em uma enorme e peluda bobagem.

E se ele não disser nada, farão questão de enfatizar o silêncio suspeito, sinalizador de desejos escondidos. Há alguns dias fizeram isso: Lula não teria dito nada a respeito do indulto imoral concedido pelo jaguara ao fascista.

Se falar da guerra está errado. Se não falar da guerra está equivocado. O que quer que ele diga será apropriado por jornalistas canalhas que se prestarão ao serviço de tentar minar a credibilidade e a autoridade moral de um dos dez mais importantes líderes de esquerda no mundo atual.

Meus argutos leitores terão percebido que não falei da “mídia” ou dos “meios de comunicação”. Aludi aos jornalistas. Já não dá mais para indultar as condutas criminosas dos jornalistas de carne e osso pondo a culpa nos empregadores deles.

Se até na Globo se vê, aqui e ali, comentários decentes por parte de alguns jornalistas é porque quem opta pela indignidade, pela mentira, pela escrotice o faz por desejo próprio. Basta de despersonalizar e diluir as responsabilidades com a utilização de sujeitos substitutivos. A fase atual da luta de classes e da luta ideológica no Brasil nos obriga a dar nome aos bois, a identificar as vacas, a nominar a boiada.

Como qualquer um de nós, durante a campanha, Lula dirá frases inadequadas, cometerá simplificações equivocadas, fará comentários desnecessários. Ele, embora pareça divindade, é humano. Errará como humano. Mas, se tivermos um pouquinho de honestidade intelectual, haveremos de reconhecer que ele erra muito menos que qualquer um de nós erra em nosso dia a dia.

Na semana passada tive uma discussão com um intelectual, meu amigo há quarenta anos. Ele estufou o peito para, com aquela soberba típica da pequena-burguesia funcionária pública, listar as “bobagens” do Lula e prelecionar o que parecia a ele ser o mais acertado. Alertei meu interlocutor de que sua postura poderia ser considerada arrogante. Não adiantou. Ele prosseguiu, professoral. Perguntei-lhe, então, se ele se considerava mais arguto, mais inteligente e mais preparado que o Lula para ser candidato à presidência. Para quê? Ficou irascível.

Provoquei: quem foi libelu (corrente política trotskista da época da fundação do PT) não consegue deixar de ser chato. Ele seguiu e fundamentou em Gramsci seu direito à chatice exercendo a crítica interna. Tive que lhe dizer que ele estava com excesso de autoestima e que se ele fosse tão bom analista político como se considera, as pessoas já teriam percebido nele esse talento especial. Há verdades que, às vezes, precisam ser ditas.

Esses chatos de esquerda são muito, muito, chatos. É uma chatice profunda, nascida do preconceito quanto à real possibilidade lógica de um operário sequelado por acidente laboral ser realmente capaz de vencer essa eleição sem a ilustrada ajuda dos intelectuais. Esse preconceito aflora quando um desses imbecis diz que “o Lula está mal assessorado neste tema”. Óbvio: como aquele operário inculto é incapaz, precisa de assessores para cada assunto. Como se o Lula não fosse ele mesmo um refinado intelectual, forjado na vida. Meu nojo desses acadêmicos sabidos que ficam apenas nas redes sociais ditando regras e julgando condutas alheias aumenta a cada dia. São uns inúteis.

Voltando à vaca fria: a cada dia esses chatos bem intencionados e alguns jornalistas de mau caráter encontrarão uma “grande bobagem” dita pelo Lula. Ou algum “silêncio suspeito” em sua campanha. Se o PT lançar um detalhado programa de governo, os chatos e os jornalistas a soldo terão muito material para criticar e para identificar bobagens. Se não apresentá-lo em detalhes, Lula e o PT serão criticados por não terem um real plano de governo, mas apenas ideias vagas.

Seja como for, certo é que o Lula e o PT estão pautando o debate público. Quem quer prejudicar o PT. destacando as “bobagens” ditas pelo Lula, acaba, sem querer, ajudando na nossa campanha. Quando um desses críticos posta algo, falando da bobagem do momento, está nos colocando no centro do debate, impedindo que cresça uma dessas horrorosas candidaturas da terceira via. Esse comportamento de manada, de criticar as bobagens do Lula e do PT, acaba nos beneficiando em nossa luta para derrotar o fascismo.

Mesmo no brilhante discurso de ontem, lido, com cada palavra pensada, com frases cuidadosamente construídas pelo próprio presidente Lula, os chatos e os jornalistas de má-vontade conseguirão encontrar o que criticar. Será assim pelos próximos cinco meses.

Não há nada a fazer em relação aos jornalistas e aos seus empregadores. Fazem parte do jogo democrático. Liberdade de imprensa. Mas em relação aos “críticos” que se consideram “de esquerda” podemos e devemos enfaticamente dizer-lhes, em curitibanês, “larguem mão de ser chatos” ou, de modo menos brutal, sugerir-lhes polidamente que busquem evitar continuar a colocar azeitonas na empada dos inimigos de classe e a turbinar as campanhas de nossos adversários eleitorais. Deixem de bobagem.

Xixo, 08 de maio de 2022

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Redação

2 Comentários

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  1. Concordo com esse artigo. Se vc é melhor colque teu nome na roda!? Lula até falou isso na entrevista para blogueiros. Ainda tenho amigos inteligentes que esculacham tudo que o PT e Lula fazem e acham que em absoluto tudo que Ciro faz genial e de impolutez sem teto. O que dá calma é que esse nível de fritura chega apenas em alguns letrados e alguns opositores. Para 60% da classe trabalhadora assalariada o diálogo é com a coisa do mercado.

  2. O adversário já falou/aceitou que a vacina dá cancer e a terra é plana – MAIORES BESTEIRAS DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DA HUMANIDADE. E esses mesmíssimos jornalistas não falam NADA.

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