Brasil deixou de ser pária para ser ameaça mundial, afirma Jamil Chade ao GGN

Em entrevista exclusiva, o jornalista e correspondente internacional faz uma análise da imagem do Brasil no exterior – e as perspectivas não são otimistas

Imagem: Reprodução

Jornal GGN – O jornalista Jamil Chade se tornou uma referência no acompanhamento da diplomacia e política internacional, e vem analisando a forma como a imagem brasileira mudou no curto prazo. E, basicamente, o Brasil deixou de ser um pária internacional para ser visto como uma ameaça.

Apesar do desmonte das instituições internacionais, iniciado pelo então presidente dos Estados Unidos Donald Trump e que contou com a cumplicidade de Jair Bolsonaro, o jornalista destaca outro ponto: a criação de uma imagem do país de ser um país mais do que complicado, irresponsável.

“Aí vamos ser muito claros: pária não é mais a palavra para o Brasil. A palavra é ameaça. Ele é uma ameaça sanitária, ele é uma ameaça ambiental e ele é uma ameaça em termos de estabilidade política para a região”, afirma o jornalista, em entrevista exclusiva para Luis Nassif no canal do Jornal GGN no YouTube. “Outro dia, um negociador na guerra da Síria me dizia ‘olha, o mundo não tem mais como se dar ao luxo de ter mais uma região caindo em uma situação de colapso institucional, não tem mais espaço para lidar com mais uma crise dessa pelo tamanho”.

Embora o Brasil hoje seja praticamente irrelevante no cenário internacional, Jamil Chade afirma que o país tem um peso gigantesco na América do Sul e, por isso, a palavra pária não é mais a realidade para o que o país representa. “Era a realidade quando o governo é inaugurado, quando simplesmente rompe consensos absolutamente estabelecidos, ele se transforma em um pária. Mas depois do pária ele ganhou um novo patamar, que é esse patamar muito complicado”.

Política externa é política pública

Quando diversas instituições internacionais – como OCDE, OMS e Unesco, dentre outras – estabelecendo um consenso de que a situação brasileira é inaceitável, essa opinião se transforma em prejuízos ou ganhos econômicos.

“Não é apenas ‘ah, eu quero ser brasileiro e andar de cabeça erguida quando eu for para Paris da próxima vez’. Não é isso. Política externa não é isso. Política externa é política pública. Política externa não é embaixador fazendo brinde com champanhe. Política externa é um braço do acesso à vacina, é um braço do acesso a crédito, é um braço do desenvolvimento social de um país”, lembra Chade. “Então, quando você não tem esse braço, porque esse braço foi cortado por você mesmo, é uma parte da política pública que é minada”.

E o jornalista ressalta que as sanções ao Brasil já ocorrem, mas não de forma política – e sim econômica. “O prejuízo imediato, como aconteceu agora com o fundo soberano norueguês, é dizer ‘vamos reduzir nossa exposição naquele país’ (…) Não vai ter sanção contra o Brasil, a sanção já existe – quando eu vejo os colegas dos meus filhos, ou talvez um pouco mais velhos, que dizem ‘olha, eu não compro produto brasileiro’, ‘mas por quê? ‘, ‘você sabe de onde vem?’, ‘não, eu não sei’, mas tanto faz. A imagem é essa”, diz Jamil Chade.

“Já perdemos essa guerra, (os brasileiros) já foram derrotados. Por isso, a sanção ela não é só no Conselho de Segurança e depois no voto dos membros permanentes. A sanção é da comunidade internacional, é de cada garoto que vai ao supermercado comprar o churrasco dele do fim de semana com euro, é um voto, e aquele voto ele fala ‘não, carne brasileira eu não compro’. Então, para mim, essa é a nova realidade”.

Confira abaixo a íntegra da entrevista exclusiva de Jamil Chade

Redação

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