Cambridge Analytica e a manipulação descontrolada de dados

Vazamento expõe mais de 100 mil documentos referentes ao trabalho de consultoria em 68 países; empresa foi fundada por ex-estrategista da Casa Branca próximo da família Bolsonaro

Jornal GGN – Dezenas de milhares de documentos da consultoria extinta Cambridge Analytica mostram o funcionamento interno da empresa, fundada pelo ex-estrategista-chefe da Casa Branca Steve Bannon, para a manipulação em massa de eleitores.

Mais de 100 mil documentos relacionados ao trabalho da empresa em 68 países devem ser divulgados ao longo dos próximos meses. Segundo informações do jornal britânico The Guardian, os documentos foram revelados por Brittany Kaiser, ex-funcionária da empresa que participou do documentário The Great Hack, do Netflix.

“É tão claro que nossos sistemas eleitorais estão sujeitos a abusos”, disse Brittany. “Estou com muito medo do que acontecerá nas eleições dos Estados Unidos ainda este ano, e acho que uma das poucas maneiras de nos protegermos é obter o máximo de informações possível”.

O lançamento dos documentos começou no dia de Ano Novo em uma conta do Twitter denominada @HindsightFiles, com links para material sobre eleições na Malásia, Quênia e Brasil.

No Brasil, a empresa fundada por Robert Mercer e Steve Bannon realizou testes de whatsapp no Amapá em 2016 – segundo a sócia brasileira da empresa, o teste havia sido um sucesso e serviria de base para o disparo maciço de propaganda por Whatsapp, uma das principais ferramentas utilizadas pela campanha do agora presidente Jair Bolsonaro. Também foram citadas negociações entre a consultoria e entes políticos como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) e o MBL (Movimento Brasil Livre).

Os documentos em questão foram recuperados das contas de e-mail e discos rígidos de Brittany e, embora tenha encaminhado material para as autoridades em abril de 2018, ela disse que existiam muito mais informações que mostravam uma “amplitude e profundidade do trabalho” que iam além do que a opinião pública pensa sobre o “escândalo da Cambridge Analytica”.

Por exemplo: existem e-mails entre os principais doadores da campanha de Donald Trump para a eleição à presidência dos Estados Unidos, e os debates envolviam formas de ocultar a fonte de suas doações por meio de diferentes veículos financeiros. E as mesmas pessoas estão desenvolvendo técnicas semelhantes para as eleições de 2020.

Redação

9 Comentários

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  1. Em algumas matérias no final do ano passado Nassif relativisou a iniciativa do PT e da CUT, com relação ao uso de ferramentas de informações , tipo Cambridge Analitics, contrapondo o fato de que o PT e a CUT já possuem uma base de militância e que só faltaria a infraestrutura para maximizar as ações desta militância. Concordo com Nassif quanto ao melhor aproveitamento desta militância, mas a diferença na disputa, como foi explicitado no documentário Privacidade Hackeada, está em atingir os passíveis de mudança de opinião e neutralizar aqueles que votariam contra. Foi o que aconteceu no Brasil com a abstenção gigantesca. A mesma estratégia foi usada em Trindade e Tobago, onde parte da maioria de eleitores negros foram convencidos a não votarem, levando a vitória do partido formado por descendentes de indianos.
    A esquerda precisa aprender com isso para conseguir vencer o adversário, caso contrário, as forças das trevas vencerão novamente.

    1. Compare a abstenção da última eleição com a de eleições anteriores. Um pouco para lá, um pouco para cá, os números são próximos. Não houve nada escandaloso nesse sentido.

      O que existiu – e existe – é um predomínio direitistas nas redes, que hoje valem mais que a imprensa. E não me refiro aqui a robôs pagos, que todos usam, mas a cidadãos normais. Enquanto a esquerda se fecha em sites próprios e foge de opiniões contrárias através do que a Rosana Pinheiro-Machado chamou de “cultura do cancelamento”, a direita age quase sozinha nos canais abertos a todos.

      Dou como exemplo um comentário que vi esses dias, em que um rapaz dizia que seu condomínio de classe média baixa tem um grupo de WhatsApp que fala muito de política. E é ele e mais um de esquerda contra mais de cem de direita. Imagine que mais algumas centenas devem apenas ler as mensagens para ter ideia do que ocorre.

      1. Lamento, degas, mas discordo: a “direita” é, antes de tudo, preguiçosa. É mt mais fácil dissipar mentira e desinformação com o rabo sentado na cadeira que se expor ao debate em universidades, sindicatos, centros culturais, escolas, ONGs e outras associações. As redes possibilitaram uma LEGIÃO DE MENTECAPTOS escreverem e propagarem qq coisa, sem embasamentos, sem fatos, sem estatisticas. Umberto Eco, antes de falecer, já havia citado a idiotia das redes. Democracia DÁ TRABALHO e os direitistas não querem trabalhar…

        1. Claro que é mais fácil postar uma mensagem curta do que participar de uma conferência. Mas o que você diz não anula o que eu disse. Se a direita não se expõe nas universidades, a esquerda não se expõe nas redes.

          Acontece que, em termos de efeito sobre o eleitorado (que é o tema de fundo), os 700 moradores do condomínio do nosso amigo não sabem e não querem saber o que está acontecendo na universidade, mas leem as suas trinta mensagens diárias no WhatsApp. Ou seja, gostemos ou não, este tende a pesar muito mais numa eleição.

          1. Do ponto de vista pragmático, concordo: as esquedas devem melhorar a comunicação política. Isso no curto prazo. E a longo prazo?? O PT construiu escolas técnicas, universidades. Será q nossa educação melhorou?? Quem a estudantina ouve mais?? Os professores ou os pastores?? Outro caminho é o voto FACULTATIVO.

          2. Outra: além de preguiçosa, a direita nao frequenta debates, não se expoe, não dá a cara p bater. Por quê?? Pq é COVARDE. Sob o anonimato das redes, ela podem censurar, xingar, ofender, manipular, mentir. Ou seja, é A DIREITA que está nas bolhas, não a esquerda. AS REDES FORMAM BOLHAS. O que podemos começar a fazer é uma estratégia de DIFAMAÇÃO E DESQUALIFICAÇÃO das redes como veículo de debate público, e são as esquerdas que devem começar a fazê-lo.

    2. A esquerda brasileira sempre foi acusada de agir de forma truculenta, como era o caso do MST e ações de grevistas. A imprensa incutiu medo na população. A esquerda cedeu e se tornou “boazinha”. As centrais sindicais pelegas foram criadas oferecendo um caminho de “diálogo” com o empresariado. O resultado foi a perda de sua militância e a direita entrou com tudo com sua truculência hoje justificada pela mídia.

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