Diplomata exonerado relata ao GGN o caos fundamentalista do Itamarati

Em entrevista ao GGN Paulo Roberto de Almeida, que foi cotado para assumir ministério das Relações Exteriores antes de Ernesto, mostra que decisão de afastá-lo está ligado às críticas que vem fazendo desde antes de Bolsonaro tomar posse. Ele conta que procurou orientar a equipe durante a campanha.

Jornal GGN – “Não é surpresa [que a minha demissão aconteceria], mas é surpresa no sentido de cair em uma segunda-feira de carnaval pela manhã”, ironiza o embaixador Paulo Roberto de Almeida, exonerado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, do cargo de presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipre), dia 4 de fevereiro.

Em entrevista ao jornalista Luis Nassif, do GGN, o diplomata e também escritor ressalta que sempre manteve um posicionamento crítico aos governos, desde que iniciou sua carreira diplomática. Como anti-petista, chegou a “ficar na geladeira” do Itamaraty entre os anos 2003 e 2016, até que o ex-presidente Michel Temer lhe deu o cargo no Ipre.

Ainda em 2018, Almeida foi convidado pela equipe que formava o governo Bolsonaro para assumir o ministério das Relações Exteriores. “Recusei de imediato muitos meses antes que o chanceler olavista [Ernesto Araújo] fosse sequer cogitado”. Na ocasião, as tratativas estavam sendo feitas com a equipe econômica do atual governo e Almeida explicou que não era eleitor de Bolsonaro por considerá-lo “um candidato fraco”. Ele votou em João Amoedo.

Almeida conta ainda que chegou a mandar materiais para nortear a proposta de política externa do governo Bolsonaro. Mas quando leu o programa final, publicado entre agosto e setembro, considerou a proposta para política externa “um horror, sem fim”. “Muito medíocre. Critiquei isso e eles não gostaram. E nunca mais falaram comigo”, relembra.

Assim, mesmo sendo anti-petista e crítico às política econômicas keynesianas, Almeida não se aproximou dos grupos “bolsonaristas” e, antes das eleições de 2018, já considerava o “olavismo” (termo que remete às ideias do escritor Olavo de Carvalho), nocivo à política externa brasileira.

“Eu o conheço [Olavo de Carvalho] desde os anos 90, como polemista, um opositor ferrenho do petismo, marxismo vulgar, gramscismo acadêmico, dos filósofos da USP, todo aquele progressivismo dos nossos ‘intelectuais’ de academia, que ele desenhava (…) Mas eu não tinha nenhuma atividade com essa pessoa que julgava apenas um polemista oposto ao petismo”, destaca. Até que um dia foi convidado para uma entrevista-debate com a participação do escritor.

“Eles [entrevistadores] tinham definido os temas que estão na berlinda: globalismo e globalização. Eu disse o que eu pensava da globalização, o que é, digamos, o common sense [senso comum] entre os acadêmicos bem informados, e disse todo o mal que pensava dessa imbecilidade, dessa estupidez do globalismo, que é um monstro metafísico alimentado por illuminates e adeptos das teorias da conspiração que juntam George Soros com a esquerda”, pontua.

Após bater de frente com Olavo de Carvalho, ridicularizando sua principal teoria, Almeida tornou-se mais um desafeto do escritor.

“Hoje mesmo o Olavo de Carvalho disse que provou que eu era ignorante em matéria de globalismo. Isso ficou mais na opinião dele, evidentemente, não com base em nenhuma evidência empírica”, sorri.

O filósofo das massas de direita emplacou, pelo menos, dios ministros no governo Bolsonaro: além de Ernesto Araújo, Ricardo Vélez Rodríguez na pasta da Educação – o ministro que ganhou destaque recente por mais um escândalo do governo ao enviar para as escolas um e-mail pedindo vídeos de alunos e funcionários cantando o Hino Nacional, junto a leitura de uma mensagem, escrita por ele, finalizada com a frase “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”. Após a repercussão negativa, Vélez Rodríguez voltou atrás.

Já Ernesto Araújo é conhecido entre seus pares do Itamaraty como um crítico ferrenho do globalismo e do PT. Algumas das frases publicadas em seu blog, antes de assumir o novo cargo, causaram preocupação internacional como essa: “Ao longo do tempo […] a esquerda sequestrou a causa ambiental e a perverteu até chegar ao paroxismo, nos últimos 20 anos, com a ideologia da mudança climática, o climatismo”.

Redação

13 Comentários

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  1. Conheço o Paulo Roberto de Almeida. Não possuo o mesmo rol de ideias que o PRA, enquanto uns preferem Celso Furtado o ex-presidente do IPRI parece ser afeto ao Roberto Campos..
    Porém, em que pese sua crítica acerba à PE dos governos Lula (não vou falar do Governo Dilma, ela sempre pareceu nutrir um desprezo que chegava às raias do vexatório ao MRE), ele é um dos quadros da era em que quando se necessitava de um ministro, ou de alguém para os altos escalões do BB, ou para alguma estatal importante o Estado valia-se dos egressos do Itamaraty.

    Agora é de estranhar a razão de não ter entregado o cargo assim que a Adm. do capitão assumiu , tendo em vista que declinou, conforme declaração , do convite previamente feito…

    Primeiro levaram os comunistas,
    Mas não falei, por não ser comunista.

    Depois, perseguiram os judeus,
    Nada disse então, por não ser judeu,

    Em seguida, castigaram os sindicalistas
    Decidi não falar, porque não sou sindicalista.

    Mais tarde, foi a vez dos católicos,
    Também me calei, por ser protestante.

    Então, um dia, vieram buscar-me.
    Nessa altura, já não restava nenhuma voz,
    Que, em meu nome, se fizesse ouvir.

    Martin Niemöller

  2. Será que a consciência lhe pesa? Afinal, este senhor vem há anos cevando o anti-petismo mais canhestro, alinhado a tudo de pior que existe no Brasil e no mundo. Amamentou o ódio ao PT e a Lula junto com Reinaldo Azevedo e, em sua história reescrita, a política externa brasileira salta direto de FHC para Ernesto Araújo. Para ele não houve nem Amorim, nem Patriota e nem Serra ou Aloysio, do seu querido PSDB. Não há linha contínua nem ruptura. Inexiste… E em seu blog, cansou de atacar a obra e a memória de Paulo Freire, apesar de pouco ou nada conhecer do campo da Pedagogia, como revelam suas diatribes primárias contra um dos mais reconhecidos pensadores da Educação no mundo. Agora, finalmente o escorpião voltou para lhe dar a picada mortal. Que afunde junto com a corja que sabujamente adulou rumo à irrelevância.

  3. paulo roberto é tão ou mais aloprado que o ernesto e acho uma roubada os blogues progressistas entrarem na onda dele.
    paulo roberto chegou ao ipri não por ser competente mas porque ele é tucano. simples assim.
    pelas mãos do golpe, que ele defendeu ardorosamente em seu blogue, ele se fez diretor do ipri.
    todo o resto é fantasia
    paulo roberto é um antipetista padrão carluxo. durante os governos petistas se recusou a cumprir seu dever como embaixador e se fixou em brasília, com gabinete e sala refrigerada conspirando dia e noite contra o governo e contra os interesses nacionais.
    ademais, ele pensa como o olavão na maioria dos assuntos. isso dito por ele, em entrevista por email pro jamil chade. lá ele diz sobre o olavão: “Ele teve um papel importante na denúncia do Foro de São Paulo e o marxismo vulgar das nossas academias”. ora esse são exatamente os 2 pontos mais alucinados, mais doidivanas, mais bizarros do olavão e seu afilhado araújo.

    pelamordedeus, não sejamos ingênuos, o inimigo do meu inimigo não é necessariamente meu amigo.
    paulo roberto é pior, muito pior que o ernesto.

    sugiro que o ggn leia o blogue dele antes de dar espaço pra ele. é coisa de bolsominion, de deep web.
    http://diplomatizzando.blogspot.com/

  4. Também leio o site “diplomatizando!:um amontoado de citações pretensiosamente eruditas, com objetivo principal de, a uma, atacar o PT e a duas, atacar o marxismo. Isso e só isso. Foi demitido pelo “Arnesto”, mas tenho para mim que é lobo comendo lobo.

  5. que sujeito exageradamente pedante… e lá no itamaraty parece q alguns se acham meio ‘téléktual’… e o PSDB é cheio de esquerdistas poucos convictos que mudaram de lado…

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