Claudio Lottenberg, os pecados da vaidade e a imagem do hospital Albert Einstein

A inacreditável explicação de Cláudio Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein, para o endosso público de empresários a Jair Bolsonaro, repete apenas um padrão descuidado em relação à imagem da instituição que preside. Segundo ele, tudo aquilo – o jantar, os aplausos – foi apenas uma manifestação de educação de empresários em relação ao presidente da República.

Seu histórico de ambições políticas não sugere isso.

Pelo seu Instagram, percebe-se uma pessoa com especial apreço pela própria imagem.

Junto à colônia israelita, agia com moderação. Quando a Hebraica, do Rio de Janeiro, convidou e hipotecou apoio a Jair Bolsonaro, na condição de presidente da CONIB (Confederação Israelita do Brasil), Lottenberg defendeu o debate político, desde que “tenha critérios e seja pautado, sempre, pelo equilíbrio e pela pluralidade. Nossa comunidade abriga uma grande diversidade de pensamento, e os dirigentes comunitários precisam ter isso claro para bem cumprirem seu papel”. Nessa época, a eleição de Bolsonaro era apenas uma hipótese, não uma certeza.

Do mesmo modo, desautorizou seu patrício, Meyer Negri, fundador da Tecnisa, quando afirmou que “90% da comunidade judaica é a favor de Bolsonaro”.

Mesmo assim, a ambição política de Lottenberg o induz a escorregões seguidos. Modestamente, aceitou a indicação de seu nome como vice da suposta candidatura de Joyce Hasselman – um espantalho político germinado no interior do bolsonarismo – em plena 50a Convenção Nacional da Confederação Israelita do Brasil, presidida pelo próprio Lottenberg. Ou quando levou a Conib a apoiar o candidato José Serra, de quem se tornou Secretário da Saúde..

Nem se diga de seu oferecimento para ser Ministro, em uma live organizada pelo Fórum da Liberdade: “ “Se eu for convidado, pretendo aceitar”. E disse mais: “O presidente Bolsonaro tem desempenhado seu melhores esforços pra reunir pessoas técnicas e competentes e um convite de um presidente, não é um convite, é uma convocação”.

Segundo informações, seu nome recebeu o apoio das principais estrelas do bolsonarismo, Ministro Dias Toffoli, Silas Malafaia e Edir Macedo. Perdeu a indicação para Nelson Teich pela infausta decisão de ter caído no canto de sereia de Joice e se filiado ao DEM.

Meu primeiro contato com Lottenberg foi em um episódio igualmente polêmico, que manchou o nome do Albert Einstein.

Houve a internação da modelo Cláudia Liz, após um choque anafilático em uma cirurgia estética. Foi atendida no Einstein pelo neurocirurgião Jorge Pagura, que deu diversas entrevistas à imprensa prevendo cegueira e lesões cerebrais para a modelo. Para sair como milagroso dias depois, quando a modelo se recuperou plenamente.

Na época, na Folha, mostrei que Pagura havia montado um engodo. Liz nunca esteve em coma profundo, foi bem cuidada pela clínica, após o choque anafilático, jamais correu risco algum. Tempo depois, denunciei outra manobra de Pagura, apresentando-se como salvador do radialista Osmar Santos, tentando desqualificar a Santa Casa de Lins, que efetivamente salvou-o da morte. Baseado em conversas com neurologistas sérios, mostrei que tudo não passava de um trabalho de assessoria de imprensa, confiando na ignorância da mídia e no fato de Pagura se apresentar como médico do Einstein. 

Em 19.01.1997 escrevi o artigo “Cláudia Liz e a ética médica” e em 2.02.1997, “Osmar Santos e o marketing da saúde”. 

Lottenberg me chamou para explicar que Pagura nunca fez parte do corpo clínico do Hospital. Apenas alugava uma sala para seu consultório. No entanto, permitiu que, por semanas, Pagura – e o Einstein – fossem apresentados como centros de milagre neurológico.

Como resultado das reportagens, Lottenberg acabou denunciando o contrato de aluguel de Pagura. Mas não desfez a má impressão que jogou sobre a imagem do Einstein.

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