Debate na Globo: A aula de Lula sobre inclusão à elite brasileira

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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"Lei de Cotas é pagamento de uma dívida que o Brasil tem de 350 anos de escravidão", diz Lula na Globo

Foto: Reprodução do debate presidencial na TV Globo

O tema era “cotas raciais”, e o candidato Felipe D’Avila (Novo) decidiu chamar Lula (PT) para a pergunta, contorcionando para atacá-lo com a pecha corrupção, no último debate presidencial. A estratégia de D’Ávila teve o efeito contrário, garantindo a Lula desmentir a corrupção e uma aula sobre racismo e inclusão social, na mesma resposta.

“Presidente Lula, no seu governo 120 bilhões de reais se perderam na corrupção, e isso afetou muito a questão de cotas. (…) Eu gostaria que o senhor explicasse um pouco para o povo brasileiro, como o senhor, se eleito presidente, vai governar o país?”, perguntou o candidato do Novo.

A fonte? E a Lei de Cotas

“Felipe, você pode pelo menos me dar a fonte sua? Porque eu to vendo aqui uma citação de números sem nenhuma fonte, me dê uma fonte”, introduziu, delicadamente, Lula.

De forma mais firme, continuou: “Deixe eu lhe falar uma coisa, Felipe, e eu quero que você preste a atenção. De vez em quando, as pessoas vêm aqui e falam com uma facilidade de números, etc, sem nenhuma experiência concreta de saber o que é uma máquina pública, o que é gerir uma máquina pública.”

Pausadamente, mas desta vez com rigor visível, Lula prosseguiu a explicar a D’Ávila: “Eu queria que você, apenas, compreendesse que a Lei de Cotas é o pagamento de uma dívida que o Brasil tem de 350 anos de escravidão.”

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“A Lei de Cotas, ela permite que a gente recupera a possibilidade de enfrentar o racismo, de enfrentar o preconceito, de enfrentar a marginalização, de dar ao povo periférico a oportunidade de estudar, de ter direito nesse país.”

“Você não sabe o orgulho que eu tenho de que meninas da periferia, negras, filhas de empregada doméstica, de faxineiro, de lixeiro ter filho fazendo Engenharia, Medicina, Diplomacia. Isso é coisa importante que temos que fazer, dar às pessoas durante tanto tempo não tiveram direito o direito de ganhar cidadania. Nós fizemos isso. E eu quero que você me dê a fonte”, devolveu.

O povo brasileiro está com saudade

O candidato do Novo falou, então, em números divergentes: “300 milhões de reais”, “110 milhões de reais”, “120 milhões” e “120 bilhões de reais”, sem se decidir nos números, sendo irozinado por Lula.

E voltando à temática de cotas e inclusão racial e social, Lula dirigiu-se a Felipe D’Ávila como o candidato da elite brasileira.

“O problema de pessoas como você que querem entrar na política e aparecem como as pessoas que vão salvar o mundo nunca deram certo nesse país. Você está diante de uma pessoa, que eu quero que você olhe, que é o presidente que mais teve preocupação com a inclusão social nesse país e é por isso que eu vou voltar. Eu vou voltar porque o povo brasileiro quer que eu volte.”

“Eu vou voltar porque o povo brasileiro está com saudade.”

Brasil que vocês nunca construíram

“Está com saudade de ter emprego, de ter aumento no salário mínimo, de ter mais saúde, de ter Farmácia Popular, de ter Brasil Sorridente, de ter o SAMU funcionando melhor, de ter acesso a especialistas nesse país. É por isso que o povo quer que eu volte. Sabe por que? Porque eu não sou boquirroto”, disse Lula.

“Eu gosto de cuidar do povo, eu não gosto de governar do povo. Eu gosto de cuidar, quero que as crianças possam comer, tomar café, almoçar, jantar, ir para a escola bem vestida, decentemente, que as pessoas possam trabalhar e ser respeitadas, que a empregada doméstica tenha registro em carteira, acesso a jornada de trabalho, que ela tenha horário de almoço, que ela não seja tratada como se fosse uma cidadã de segunda categoria. É esse Brasil que eu aprendi a construir que vocês nunca construíram. É esse país que o operário deu ao povo brasileiro e que a elite nunca conseguiu dar.”

Veja o momento:

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. O doloroso nisso tudo é que os candidatos, talvez por não a terem, não percebem a dimensão humana do Lula. O Lula pensa no povo, os candidatos, no poder sobre o povo.

  2. O Partido Novo já nasceu velho. A ideia de um estado mínimo é tão antiga que nos remete a é poca em que não havia o cuidado do estado para com as necessidades do seu povo e sua principal função era policial; com o intuito de reprimir as revoltas. Portanto, ESTADO MÍNIMO, significa: ESTADO DE REPRESSÃO.

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