Delfim é indiciado por fraude a favor do Estado brasileiro, por Luis Nassif

Anos atrás Jerson Kelman – uma das maiores autoridades brasileiras em água – foi indicado para a presidência da ANA (Agência Nacional de Águas) e submetido a uma sabatina no Senado.

Lá, uma brava senadora do PT gaúcho, Maria Emília, sacou de um papel e começou a lançar, em tom acusatório, uma série de informações sobre ele:

– O senhor confirma que estudou em tal instituição, que foi membro de tal organização?

E ele:

– Minha senhora, a senhora está lendo o meu currículo.

Alguém passou o currículo à senadora, dizendo que era de uma denúncia.

É bem provável que o bravo procurador que solicitou busca e apreensão no escritório e na casa do ex-Ministro Antônio Delfim Netto tenha sido vítima de trote semelhante.

A operação se baseou em um depoimento de José Carlos Bumlai. Delfim recebeu dinheiro do consórcio que construiu Belo Monte. Afirmou ter feito trabalho de consultoria. Baseado no relato de Bumlai, o procurador Athayde Ribeiro Costa afirmou que a consultoria, na verdade, “constituiu uma fraude ao leilão”.

No depoimento de Bumlai, ele diz que a tal “fraude ao leilão”, na verdade, consistiu na formação de um terceiro consórcio que livrou o governo do braço de ferro com as empreiteiras – que pretendiam dobrar o valor de Belo Monte, de R$ 15 bi para R$ 30 bi. Impedir a jogada, na douta opinião do procurador Athayde Ribeiro Costa e do juiz Sérgio Moro, foi uma fraude ao leilão.

Vamos rever o depoimento de Bumlai:

Diz ele que existiam dois ou três consórcios formados para a construção. O terceiro desistiu. Liderado pela Construtora Norberto Odebrecht, dizia ser necessário dobrar o orçamento da obra – de R$ 15 bi para R$ 30 bi – para ser exequível.

Delfim lhe teria dito, em reunião no Maksoud Hotel, que o governo tinha interesse em um novo consórcio que permitisse sustentar o preço. Aliás, na época Dilma Rousseff atritou-se com as empreiteiras, justamente devido ao embate em torno do preço de Belo Monte. A formação do novo consórcio visaria, justamente, manter os R$ 15 bi, vencendo a guerra de braço com as empreiteiras.

Segundo palavras de Bumlai, “DELFIM disse que teria ele sido procurado para montar o segundo consórcio e que este tentaria economizar R$ 15.000.000.000,00 para a obra”.

Como havia diversos aspectos técnicos na constituição de um consórcio, Delfim disse que mandaria um técnico conversar com Bumlai, para entender as especificidades da obra. Bumlai foi contatado, segundo ele, devido à sua experiência com energia hidráulica.

Segundo Bumlai, a comissão foi paga porque, com o consórcio, teria conseguido economizar R$ 15 bilhões no custo da obra.

“Nada mais disse e nem lhe foi perguntado. Determinou a autoridade o encerramento do presente que, lido e achado conforme”.

Aliás, o grande escândalo de Belo Monte foi a compra de debêntures da Andrade Gutierrez pela Cemig, sob influência do senador Aécio Neves. Essa história permanece inédita, e Aécio permanece intocado.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • Surrealismo
    A gente não sabe se ri ou se chora!
    Nem um Gabriel Garcia Marquez nem Jorge Amado com seu mirabolante Realismo Fantástico , nem um Salvador Dali em suas viagens oníricas pelo Surrealismo superam tal realidade absurda descrita por Nassif .
    É a realidade superando a imaginação mais absurda !

    • Você tem razão. Mas o "escândalo" saiu no JN da globo, não?

      E ainda envolvendo Belo Monte...

      Novela garantida com um bocado de capitulos, culminando quem sabe com o fim desse "crime ambiental".

  • País dos concurseiros analfabetos

    Desde 2002, todo filho de reacionário deve ter prometido aos seus progenitores fazer concurso e salvar o Brasil do comunismo, do bolivarianismo, do marxismo, do sindicalismo, feminismo e de qualquer coisa que remeta à luta por liberdade. Decoreba de apostilas e códigos penais não resolve o analfabetismo político destas bestas.

    • Lá vem...

      A hora que o consórcio PMDB/PSDB/DEM começar a ler esses comentários vão propor a extinção do concurso público, e a esquerda festivamente os apoiará. Agora Moro e Dallagnol estão lutando contra o país porque fizeram concurso público, e não por terem estudado nos EUA e estarem a serviço do capital internacional. Foi o concurso público que fez de Moro esse direitista neoliberal, e não a estória familiar ele, já contada aqui pelo Nassif. Foi-me concurso público que transformou Dallagnol nesse religioso messiânico, e não a estória de vida dele...

      Aliás, meu desafio permanece: se acha que é só decorar apostilas passe num concurso pra uma carreira de Estado então, eu desafio. Se fosse fácil assim todo mundo passava. Nem em aulinha de inglês mais a gente passa na prova com decoreba. Essa postura raivosa e esse discurso ressentido e ofensivo contra servidor público não ajuda em nada a esquerda, só isola ainda mais o Lula. Tem servidor público de esquerda também, ofendê-los não ajuda em nada.

      • Os funcionarios publicos
        Os funcionarios publicos concursados nao vestem a carapuça. A critica eh dirigida a concurseiros analfabetos politicos e quem nem sabem o que eh defesa do interesse nacional pq so tem na cabeca o decoreba da lei seca e por isso se tornaram presas faceis da rapinagem.

        • Não são "presas fáceis"

          Eles SÃO a rapinagem.

          Não se tornaram rapineiros porque fizeram concurso e são analfabetos políticos, são previamente alfabetizados segundo a escola política do capital, e ingressaram nas carreiras para deliberadamente servir a esse capital.

          E isso que você não está entendendo. Você está tomando o efeito pela causa.

      • Por partes

        Alan veja o perfil dos aprovados! Ou muda o processo de clivagem (como e para quem é dirigido os processos seletivos. Exemplo clássico o sistemas de entrevistas muito comum no Judiciário), ou continuaremos neste mangue. Não sou contra o concurso, mas como são conduzidos!

        • Não são entrevistas

          É prova oral, baseada em pontos do programa do concurso que são sorteados com 24 horas de antecedência. Existem critérios de correção da prova oral, explícitos no edital do concurso. Não é uma entrevista na qual se avalie a ideologia do candidato. Vocês precisam entender que não é o concurso público que é feito pra selecionar direitistas como Moro e Dallagnol. Esses caras é que se dedicam ao ingresso nessas carreiras pra exercer seu direitismo. E como o Judiciário e o MP são poderes conservadores e anti-esqiuerdistas, esse tipo de cara costuma ser acolhido e ter sucesso e proeminência na carreira.

  • salário de procurador é dinheiro fácil e garantido...

    não precisa pensar um dia sequer do mês, certos de que o salário não faltará

    por isto pensam que os outros, seus supeitos, ganham da mesma forma, dinheiro fácil

    robóticos politiqueiros, desconhecem o valor monetário, ou preço, de uma ideia

    • foi por isso que em comentário recente falei de capital de risco

      muitos, pela presença ativa desses de inteligência limitada apenas à presença, deixaram de investir no país

      a não ser que seja com os lucros certos ou garantidos pelos golpistas traidores no governo e na Globo

      estes não investem, compram

    • E daí?
       
      Qualquer pessoa pode

      E daí?

       

      Qualquer pessoa pode ter maus momenos em sua vida.

      Qualquer pessoa pode ter bons momentos em sua vida.

       

      Aqui falamos de uma usina, não da ditadura de 1964.

    • Pense: Se Delfim cometeu

      Pense: Se Delfim cometeu algum crime na Ditadura, provavelmente, e infelizmente, ele estaria prescrito. E se estão fazendo o que fazem com Delfim Netto o que não farão com jose adailton v ribeiro ? O que está sendo discutido aqui não é a ditadura de 64, felizmente coisa do passado. O foco é a ditadura presente, do Judiciário, que não está "facio" de saber até onde chegará.

  • Bem, ele nem poderia ser

    Bem, ele nem poderia ser acusado disso já que é crime próprio e ele não é funcionário público, mas em um estado de exceção....

  • De arrepiar!

    Parece que  esta turma bebe mais que eu!  Eu bebo para esquecer do que vejo desses justiceiros de araque. Pobre Brasil da ""justissa morista""; 50 anos de retrocesso em 5. E O SALARIO VITALÍCIO DESSA TURMA  OHHHHHH! 

  • De arrepiar!

    Parece que  esta turma bebe mais que eu!  Eu bebo para esquecer do que vejo desses justiceiros de araque. Pobre Brasil da ""justissa morista""; 50 anos de retrocesso em 5. E O SALARIO VITALÍCIO DESSA TURMA  OHHHHHH! 

  • Poeminha pior que o golpe II

    Não vai sobrar nada

    Nem Delfim nem Luiz

    Está tudo por um triz

    Lá vem a lava-jato

    Força motriz

    De um golpe que o povo quis

    Sem ter como reagir

    Deixo aqui meu desabo

    Por que de resto o pato

    Dorme feliz

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